Wagner Rossi pede demissão do Ministério da Agricultura

Publicado em 17/08/2011 19:20 e atualizado em 17/08/2011 21:57
A carta está no site do Ministério da Agricultura. A saída de Wagner Rossi é o 4.o ministro a deixar o Governo Dilma. A vaga do Ministério é da cota do PMDB.
Eis a carta de demissão do ministro, na íntegra:
 
Brasília, 17 de agosto de 2011
 
Neste ano e meio na condição de ministro da Agricultura do Brasil, consegui importantes conquistas. O presidente Lula fez tanto pela agricultura e a presidenta Dilma continuou esse apoio integralmente.
 
Fiz o acordo da citricultura, anseio de mais de 40 anos de pequenos e médios produtores de laranja, a quem foi garantido um preço mínimo por sua produção.

Construí o consenso na cadeia produtiva do café, setor onde antes os vários agentes sequer se sentavam à mesma mesa, com ganhos para todos, em especial os produtores.

Lancei novos financiamentos para a pecuária, recuperação de pastagens, aquisição e retenção de matrizes e para renovação de canaviais.

Aumentei o volume de financiamento agrícola a números jamais pensados e também os limites por produtor, protegendo o médio agricultor sempre tão esquecido.
Criei e implantei o Programa ABC, Agricultura de Baixo Carbono, primeiro programa mundial que combina o aumento de produção de alimentos a preservação do meio ambiente, numa antecipação do que será a agricultura do futuro.

Apoiei os produtores de milho, soja, algodão e outras culturas que hoje desfrutam de excelentes condições em prol do Brasil.

Lutei por nossos criadores e produtores de carne bovina, suína e de aves que são protagonistas do mercado internacional.

Melhorei a atenção a fruticultura, a apicultura e a produtos regionais, extrativistas e outras culturas.
 
Apoiei os grandes, os médios e os pequenos produtores da agricultura familiar, mostrando que no Brasil há espaço para todos. 
 
 Deus me permitiu estar no comando do Ministério da Agricultura neste momento mágico da agropecuária brasileira.
 
Mas, durante os últimos 30 dias, tenho enfrentado diariamente uma saraivada de acusações falsas, sem qualquer prova, nenhuma delas indicando um só ato meu que pudesse ser acoimado de ilegal ou impróprio no trato com a coisa pública.
 
Respondi a cada acusação. Com documentos comprobatórios que a imprensa solenemente ignorou. Mesmo rebatida cabalmente, cada acusação era repetida nas notícias dos dias seguintes como se fossem verdades comprovadas. As provas exibidas de sua falsidade nem sequer eram lembradas.
 
Nada achando contra mim e no desespero de terem que confessar seu fracasso, alguns órgãos de imprensa partiram para a tentativa de achincalhe moral: faziam um enorme número de pretensas “denúncias” para que o leitor tivesse a falsa impressão de escândalo, de descontrole administrativo, de descalabro. Chegou-se à capa infame da “Veja”.
 
Tudo falso, tudo rebatido. Mas a campanha insidiosa não parava.
 
Usaram para me acusar, sem qualquer prova, pessoas a quem tive de afastar de suas funções por atos irregulares ou insinuações de que tinham atuado com interesses menos republicanos nas funções ocupadas. O principal suspeito de má conduta no setor de licitações passou a ser o acusador de seus pares. Deram voz até a figuras abomináveis que minha cidade já relegou ao sítio dos derrotados e dos invejosos crônicos. Alguns deles não passariam por um simples exame de sanidade.
 
Ainda assim nada conseguiram contra mim. Aí tentaram chantagear meus colaboradores dizendo que contra eles tinham revelações terríveis a fazer, mas que não as publicariam se fizessem uma só acusação contra mim. Torpeza rejeitada.
 
Finalmente começam a atacar inocentes, sejam amigos meus, sejam familiares. Todos me estimularam a continuar sendo o primeiro ministro a, com destemor e armado apenas da verdade, enfrentar essa campanha indecente voltada apenas para objetivos políticos, em especial a destituição da aliança de apoio à presidenta Dilma e ao vice-presidente Michel Temer, passando pelas eleições de São Paulo onde, já perceberam, não mais poderão colocar o PMDB a reboque de seus desígnios.
 
Embora me mova a vontade de confrontá-los, não os temo, nem a essa parte podre da imprensa brasileira, mas não posso fazer da minha coragem pessoal um instrumento de que esses covardes se utilizem para atingir meus amigos ou meus familiares.
 
Contra mim nem uma só acusação conseguiram provar. Mas me fizeram sofrer e aos meus. Não será por qualquer vaidade ou soberba minha que permitirei que levem sofrimento a inocentes.
 
Hoje, minha esposa e meus filhos me fizeram carinhosamente um ultimato para que deixasse essa minha luta estóica mas inglória contra forças muito maiores do que eu possa ter. Minha única força é a verdade. Foi o elemento final da minha decisão irrevogável.
 
Deixo o governo, agradecendo a confiança da presidenta Dilma, do vice-presidente Michel Temer, do presidente Lula e dos líderes, deputados, senadores e companheiros do PMDB e de todos os partidos que tanto respaldo me deram.
 
Agradeço também a todos os leais colaboradores do Ministério da Agricultura, da Conab, da Embrapa e de todos os órgãos afins. Penso assim ajudar o governo a continuar seu importante trabalho, retomando a normalidade na agricultura.
 
Finalmente, reafirmo: continuo na luta pela agropecuária brasileira que tanto tem feito pelo bem de nosso Brasil. Agradeço as inúmeras manifestações de apoio incondicional da parte dos líderes maiores do agronegócio e de suas entidades e também aos simples produtores que nos enviaram sua solidariedade.
 
Deus proteja o produtor rural e tantos quanto lutem na terra para produzir alimentos para o mundo. Deus permita que tenham a segurança jurídica necessária a seu trabalho que o Congresso há de lhes garantir. Lutei pela reforma do Código Florestal. É importante para o Brasil. Outros, talvez mais capazes, haverão de continuar essa luta até a vitória.
 
Confio que o governo da querida presidenta Dilma Rousseff supere essa campanha sórdida e possa continuar a fazer tanto bem ao nosso país.
 
Sei de onde partiu a campanha contra mim. Só um político brasileiro tem capacidade de pautar “Veja” e “Folha” e de acumular tantas maldades fazendo com que reiterem e requentem mentiras e matérias que não se sustentam por tantos dias.
 
Mas minha família é meu limite. Aos amigos tudo, menos a honra.
 
Wagner Rossi
 
Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

No G1: 

Saiba mais sobre a saída de Wagner Rossi do ministério da Agricultura

O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, pediu demissão na noite desta quarta-feira (17) após denúncias de irregularidades na pasta.

Horas antes, nesta quarta, a Polícia Federal anunciou ter aberto um inquérito para investigar supostas irregularidades na pasta. São elas:

Irregularidades na Conab
Demitido da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) após supostas irregularidades, Oscar Jucá Neto, o Jucazinho, irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), afirma, em entrevista à “Veja”, que há fraudes e supostos acertos com empresas envolvendo o ministério e o ministro. Wagner Rossi vai à Câmara se defender, nega as fraudes e afirma que Jucá Neto criou "caso político" após ser demitido por ter cometido irregularidades.

Lobby
Reportagem da revista "Veja" afirmou que o lobista Júlio Fróes atuaria em uma sala no prédio do ministério e intermediaria negócios com empresas. De acordo com a revista, o suposto lobista teria um "escritório clandestino" dentro do ministério no qual prepararia editais, analisaria processos de licitação e defenderia os interesses de empresas nesses processos. Segundo a revista, o secretário-executivo da pasta, Milton Ortolan, atuaria junto com o lobista.
Rossi disse que houve um “descuido”, mas que não pode assumir a responsabilidade pelo caso. Milton Ortolan pede demissão e Rossi anuncia uma “faxina” no ministério.

Licitação
Nova reportagem de "Veja" trouxe o depoimento de Israel Batista dizendo que Rossi pode ter recebido propina em uma licitação. Em nota oficial, o ministro negou as denúncias.

Jatinho
Reportagem do ”Correio Braziliense” afirma que o ministro usou algumas vezes um jatinho da Ourofino Agronegócios, empresa do ramo agropecuário que recebeu autorizações do ministério para produzir medicamento contra a febre aftosa. Rossi negou que a empresa tenha recebido "privilégios ou tratamento especial".
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Fonte:
Min. Agricultura + G1

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3 comentários

  • Almanakut Brasil Ribeirão Preto - SP

    VEJA, obrigado!

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  • Telmo Heinen Formosa - GO

    Uma das coisas mais defenestráveis que temos no Brasil é a Liberdade de Imprensa SEM responsabilidade. Contra tudo se pode entrar no PROCON, menos contra jornalistas mentirosos. Mentirosos sim, porque fazem acusações baseadas em "meias verdades". Para técnicos como eu, meia verdade é sempre uma mentira inteira. O "sistema" brasileiro provoca coisas que ate Deus duvida. Gente, vamos discutir as causas e não os efeitos.... Causa principal: Usamos conceitos anglo-saxônicos, germânicos etc... e justiça romana. Defeito? Sim o defeito está que na Justiça Romana o rito processual é mais importante do que o mérito da questão. Querem que o rabo abane o cachorro...

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  • Petronilha Batista Muzambinho - MG

    quem perde é o PAIS, MAIS UMA VEZ PERDEMOS OS PRODUTORES.

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