Seguro tropeça na hora H

Publicado em 31/08/2011 08:29
A contratação de seguro rural está levando, em plena temporada de assinatura dos financiamentos de custeio da safra 2011/12, um segundo tombo, depois de ter recuado 32% no ano passado. Conforme os bancos e os representantes dos produtores, acabaram os recursos públicos do programa nacional de subvenção, que vem determinando o número de contratos desde sua implantação, em 2005.

Do orçamento de R$ 406 milhões, apenas R$ 132 teriam sido liberados, informa o setor. O novo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Mendes Ribeiro, que assumiu o cargo uma semana atrás, informa estar angariando mais recursos. Desde o início do mês é aguardado o posicionamento do Ministério da Fazenda sobre um pedido de suplementação de R$ 174 milhões.

Segundo a Federação da Agricultura do Paraná (Faep), o programa está prestes a ser paralisado e, se isso ocorrer, a contratação de seguro cairá drasticamente, aumentando a exposição do setor produtivo aos riscos climáticos. “Sem subvenção, o produtor vai ter que pagar prêmio cheio. O problema é que o custo dos contratos ainda é muito alto. Vínhamos evoluindo bem até 2009 na estruturação do seguro rural, mas desde o ano passado falta sensibilidade para o problema”, afirma o economista e especialista no assunto Pedro Loyola, da Faep.

Na avaliação do próprio Ministério da Agricultura, Pe­­­cuá­­­ria e Abastecimento (Mapa), o sistema brasileiro de seguro rural ainda engatinha e depende do apoio do governo. Uma série de seminários foi realizada nos últimos anos num esforço público-privado para se encontrar formas de ampliar as garantias de produtores e bancos e, assim, reduzir o risco de endividamento agrícola. A queda nas contratações, no entanto, representa um desvio desse projeto.

A subvenção paga pelo governo varia de 40% a 70% do prêmio (preço do contrato). O programa nacional é complementado com programas estaduais, que também barateiam o seguro.

“O seguro fica inviável sem o apoio do governo”, sustenta o produtor Roberto Hasse, de Pato Branco (Sudoeste). Ele conseguiu recursos públicos para cobrir 50% do custo de um contrato que financiou o cultivo de 95 hectares de soja. Neste momento, não sabe se terá o mesmo benefício para assegurar 170 hectares de milho. O plantio começa dentro de três semanas.

Em sua avaliação, o que está em risco é a própria sustentabilidade do negócio. “O produtor não sabe se vai enfrentar seca, chuva, granizo, geada. Com seguro, não tem sua renda garantida, mas pelo menos não fica endividado. O ideal é não plantar nenhum pé de soja sem seguro”, defende. Ele conta que nunca recebeu indenização por quebra climática.

As seguradoras indenizam de 50% a 80% da produtividade estabelecida para o agricultor, dependendo do contrato assinado. Os produtores não são obrigados a contratar seguro na hora em que pedem financiamento, mas, quando já têm seu crédito parcialmente compromentido, dificilmente conseguem recursos do Plano Agrí­­cola e Pecuário (PAP) sem essa garantia.

Contratos “sem fundo” podem elevar custo de produção
Segundo o Banco do Brasil – que concentra mais da metade dos financiamentos de custeio e investimento do crédito rural –, os produtores continuam assinando contratos de seguro mesmo sem garantia de subvenção. Se o orçamento do programa nacional for executado, eles pagarão prêmio com desconto. Se isso não ocorrer, terão os custos ampliados. No caso de um produtor que assegura a produção de milho e espera gastar com isso 3% do valor do financiamento, a despesa pode chegar a R$ 6 mil para cada R$ 100 mil financiado.

“O recurso (do programa de subvenção ao seguro rural) já terminou. Estou diariamente falando com o secretário do Tesouro Nacional (Arno Augustin), o ministro da Fazenda (Guido Mantega). Do orçamento para 2011, foi empenhado menos de um terço”, afirma o vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil, o ex-senador Osmar Dias. Ele acredita que existe possibilidade de um novo repasse ainda nesta semana.

Em sua avaliação, houve um retrocesso. “O governo, ao fazer corte nos gastos, incluiu o seguro rural. Não se pode acabar com um programa que precisa ser aperfeiçoado”, defende.

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Fonte:
Gazeta do Povo

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