Lula, o câncer, o SUS e o Sírio, por ELIO GASPARI

Publicado em 02/11/2011 05:53 e atualizado em 02/11/2011 18:58
artigo publicado na edição desta quarta-feira, dia 2 de novembro, da Folha de S. Paulo



O Brasil de Nosso Guia está a 33 quilômetros da "perfeição no tratamento de saúde"

AS PESSOAS que estão reclamando porque Lula não foi tratar seu câncer no SUS dividem-se em dois grupos: um foi atrás da piada fácil, e ruim; o outro, movido a ódio, quer que ele se ferre. Na rede pública de saúde, em 1971, Lula perdeu a primeira mulher e um filho. Em 1998, o metalúrgico tornou-se candidato à Presidência da República e pegou pesado: "Eu não sei se o Fernando Henrique ou algum governador confiaria na saúde pública para se tratar". Nessa época acusava o governo de desossar o SUS, estimulando a migração para os planos privados. Quando Lula chegou ao Planalto, havia 31,2 milhões de brasileiros no mercado de planos particulares. Ao deixá-lo, essa clientela era de 45,6 milhões, e ele não tocava mais no assunto.
Em 2010, Lula inaugurou uma Unidade de Pronto Atendimento do SUS no Recife dizendo que "ela está tão bem localizada, tão bem estruturada, que dá até vontade de ficar doente para ser atendido". Horas depois, teve uma crise de hipertensão e internou-se num hospital privado.
Lula percorreu todo o arco da malversação do debate da saúde pública. Foi de vítima a denunciante, passou da denúncia à marquetagem oficialista e acabou aninhado no Sírio-Libanês, um dos melhores e mais caros hospitais do país. Melhor para ele. (No andar do SUS, uma pessoa que teve dor de ouvido e sentiu algo esquisito na garganta leva uns 30 dias para ser examinada corretamente, outros 76, na média, para começar um tratamento quimioterápico, 113 dias se precisar de radioterapia. No andar de Lula, é possível chegar-se ao diagnóstico numa sexta e à químio, na segunda. A conta fica em algo como R$ 50 mil.)
Lula, Dilma Rousseff e José Alencar trataram seus tumores no Sírio. Lá, Dilma recebeu uma droga que não era oferecida à patuleia do SUS. Deve-se a ela a inclusão do rituximab na lista de medicamentos da saúde pública.
Os companheiros descobriram as virtudes da medicina privada, mas, em nove anos de poder, pouco fizeram pelos pacientes da rede pública. Melhoraram o acesso aos diagnósticos, mas os tratamentos continuam arruinados. Fora isso, alteraram o nome do Instituto Nacional do Câncer, acrescentando-lhe uma homenagem a José Alencar, que lá nunca pôs os pés. Depois de oito anos: 1 em cada 5 pacientes de câncer dos planos de saúde era mandado para a rede pública. Já o tucanato, tendo criado em São Paulo um centro de excelência, o Instituto do Câncer Octavio Frias de Oliveira, por pouco não entregou 25% dos seus leitos à privataria. (A iniciativa, do governador Geraldo Alckmin, foi derrubada pelo Judiciário paulista.)
A luta de José Alencar contra "o insidioso mal" serviu para retirar o estigma da doença. Se o câncer de Lula servir para responsabilizar burocratas que compram mamógrafos e não os desencaixotam (as comissões vêm por fora) e médicos que não comparecem ao local de trabalho, as filas do SUS poderão diminuir. Poderá servir também para acabar com a política de duplas portas, pelas quais os clientes de planos privados têm atendimento expedito nos hospitais públicos.
Lula soube cuidar de si. Delirou ao tratar da saúde dos outros quando, em 2006, disse que "o Brasil não está longe de atingir a perfeição no tratamento de saúde". Está precisamente a 33 quilômetros, a distância entre seu apartamento de São Bernardo e o Sírio.

(Sobre a internação de Lula no Sirio-Libanês, leia os mais recentes comentários de Reinaldo Azevedo):

Ah, não! É muito ruim!!!

Sugerem-me aí contestar certo blogueiro oficialista de pouco brilho. Até me vi tentado. Eu adoro uma briga. Por curiosidade, botei o nome do bicho no Google para saber quais são as primeiras referências que aparecem sobre seu “trabalho”. E descobri o quê? Uma das principais é justamente um pau que dei nele. Entenderam? Há uns coitados que contam comigo para aparecer. Não vale a pena.

Fosse ainda um pensamento algo requintado, que eu repudiasse, mas que trouxesse alguma inteligência, alguma referência interessante, uma análise aguda… Mas aquilo??? De vez em quando, até faço os tais vermelhos-e-azuis. Não deixam de ser uma forma de reconhecimento ao vivente.

Modéstia às favas, o meu texto de hoje sobre “Lula e o SUS” permanece “irrespondido” e, não sei, não, acho que é irrespondível. Não porque eu seja o máximo (em truco, eu sou!!!), mas porque a lógica é o mínimo com que um bípede sem bicos e sem pêlos deve operar. Se alguém ainda tem algo a dizer nessa área, tem de contestá-lo.

Assim, queridos, vou poupar os leitores daquela bobajada. Não merece contestação porque está abaixo do que pode produzir qualquer petista pé-de-chinelo. Petralhas já enviaram para cá argumentação melhor. A tese, quando fraca demais, desqualifica até o oponente.

Mereço adversários melhores.

Por Reinaldo Azevedo

A internação é livre, a mentira é tributada pela verdade

“Integrante da reduzidíssima elite de brasileiros providos de muito dinheiro e plano de saúde cinco estrelas, Lula tem o direito de recorrer aos serviços dos melhores hospitais da rede privada. Ao consumar tal opção, contudo, confere a todos os pagadores de impostos o direito de exigir que pare de tentar enganá-los com bravatas, lorotas ou mentiras deslavadas sobre o sistema de saúde. Há bons hospitais e profissionais admiráveis, mas até as golas dos jalecos sabem que os deslumbramentos celebrados por Lula só existem no Brasil Maravilha registrado em cartório. No país real, a busca de socorro na rede pública acaba, com desoladora frequência, na morte sem atendimento.”

É o que escreve Augusto Nunes no post “Lula pode internar-se onde quiser desde que pare de mentir sobre o sistema de saúde”.

Nas moscas!

Por Reinaldo Azevedo

Vão patrulhar a Coréia do Norte que os pariu!

No sábado, como vocês sabem, morreu um amigão meu, o Cotó, um cachorro.Escrevi a respeito. Fiquei realmente muito triste. Volta e meia, pego o celular para ver algumas fotos. Fico ainda emocionado, com um nó na garganta. Eu sou assim, ué. Esta é uma página que trata principalmente de política, mas é, como todo blog, uma página pessoal. Às vezes, divido com os meus parceiros, vocês!, algumas aflições. O número de comentários e a acolhida do post  Internet afora demonstram que falei a muita gente.

Pois acreditem: recebi e recebo ainda dezenas de ofensas, vindas de uma gente estúpida, obscurantista, burra, asquerosa, afirmando que eu estava dando “uma indireta” no Lula. Como e por quê, confesso, não entendi até agora. Outros ainda sustentam que eu estava sugerindo que preferia sofrer por causa de um cachorro a me condoer com a doença do ex-presidente. Um imbecil, escrevendo com certo sotaque acadêmico (ou pseudo-acadêmico), resolveu caçar no meu texto supostas alusões ao chefão do PT. Uma coisa verdadeiramente assustadora! Deve ser daquela laia que acredita que super-heróis americanos são racistas “estadunidenses”…

“Isso está realmente acontecendo?”, perguntei a Dona Reinalda, não menos triste do que eu com a morte de Cotó. Sim, chegamos, finalmente, à Coréia do Norte! Lula, definitivamente, é o nosso Kim Jong-Il. Se ele sofre, a nação sofre. E todas as dores privadas são menores, mesquinhas, indecorosas. Ou, então, Lula é o nosso Alá. Teremos sempre de evocá-lo.

Nem nas minhas piores antevisões sobre o triunfo do petismo achei que se poderia chegar tão longe. A corrente que tentaram fazer contra o meu texto sobre o… Cotó (Santo Deus!), associando-o a uma suposta crítica velada a Lula, é coisa não de sociedades abertas, onde tudo pode ser dito, mas de sociedades totalitárias. Os sentimentos particulares, as intimidades, as dores de todos nós, tudo isso perde sentido diante de uma causa. Pior: na prática, alguns ditos “colunistas” de jornais — a safra nunca foi tão miserável (essa gente não lê nem bula de remédio!), com as exceções de sempre — engrossam esse caldo de cultura ao chamarem de “ataque” toda e qualquer crítica a Lula. Que dias estes! Fazer o quê? O ódio que esses vagabundos têm ao pensamento só pode ser combatido com mais pensamento. Então vamos lá.

O PT tem vocação para partido único. Está na sua origem e na sua história. Denuncio isso há muito tempo. Não, os petistas não pretendem dar um golpe ou coisa assim. Não há mais lugar no mundo para essas viradas de mesa ou para a luta armada. A tática hoje em dia, e já é assim há bastante tempo, é outra. Os grupos que querem romper “com a velha ordem” aprenderam a usar os instrumentos da democracia contra ela própria. Há sólida teoria a respeito. O que os petistas querem? Socialismo? Não! Pretendem um país que esteja sob o seu comando. E sem oposição. Quando e se lograrem o seu intento, já avançaram bastante, a primeira vítima será a liberdade.

Os mais jovens não sabem, mas é fato: o país já foi mais livre, meus queridos! Acreditem! O debate era mais divertido no começo e meados da década de 80, estendendo-se ao período pós-Constituinte. Os petistas estavam na oposição e, vejam só!, eram ardorosos defensores da liberdade de imprensa. Os jornais estavam coalhados de ex-militantes de esquerda que tinham se cansado um tantinho da ortodoxia ou daquelas caricaturas criadas pelos “companheiros” e “camaradas” para “mobilizar as massas”, e tanto “a direita” como “a esquerda” mereciam um tratamento crítico, meio debochado às vezes, mas quase sempre inteligente.

A chegada do PT ao poder marcou uma virada. Houve um movimento geral de emburrecimento. Não porque petistas sejam burros. Ao contrário: eles são até bastante espertos. É que eles conservaram, mesmo no comando do estado, o charme da “resistência”, e a imprensa, na média, perdeu o saudável “espírito de porco”. Em seu lugar, vão me desculpar o trocadilho até óbvio, entrou o “espírito de corpo”. Muita gente decidiu “colaborar” com “a construção de um novo país”, abandonando alguns fundamentos da sociedade democrática. O direito à crítica é um deles. E, é evidente, muitagente que estava à venda foi comprada.

Ainda que eu antevisse tempos nada bons quando “eles” chegassem ao poder, confesso que até eu me surpreendo. A quantidade de textos que li sugerindo simplesmente censura aos críticos de Lula é uma coisa espantosa. Ainda que, visivelmente, use a sua doença para fazer política, essa passa a ser mais uma licença especial que se lhe concede.

Não, bando de cretinos! O meu texto sobre Cotó passava a léguas de Lula. Eu tenho outros assuntos com os quais me ocupar. Falo sobre o que eu bem entender, emociono-me com o que me der na telha, choro por aquilo que eu quiser. Se decidir me comover porque uma linha reta se transforma, de repente, numa curva, o que é vocês têm com isso? Vão lá pressionar os colunistas impressionáveis, que adoram fazer o joguinho nem-nem. Mais vocês esperneiam, mais me sinto fazendo a coisa certa.

Vão patrulhar a Coréia do Norte que os pariu, salafrários!

coto-um

Por Reinaldo Azevedo
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Fonte:
FSP/blog Reinaldo Azevedo

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