Grécia forma governo de coalizão, 1º ministro Papandreou não comanda mais

Publicado em 06/11/2011 18:16 e atualizado em 07/11/2011 06:26
Primeiro-ministro George Papandreou não ficará à frente de novo governo. Negociações aconteceram neste domingo com o presidente Papoulias.

O primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, e o líder da oposição, Antonis Samaras, chegaram a um acordo para um governo de coalização na tarde deste domingo (6), após uma reunião com o presidente Karolos Papoulias, diz um comunicado oficial da Presidência. Na negociação, foi decidido que o premiê não ficará à frente do novo governo.

O comunicado não menciona de qual seria a duração do governo interino.

Papandreou chega para uma reunião de gabinete neste domingo (6) no Parlamento, em Atenas (Foto: Kostas Tsironis/AP)Papandreou chega para uma reunião de gabinete neste domingo (6) no Parlamento, em Atenas (Foto: Kostas Tsironis/AP)

As conversas iniciaram às 16h30 (no horário de Brasília ou às 18h30 GMT) deste domingo e terminaram aproximadamente uma hora depois.

Papandreou solicitou a “conversa a três” com o intuito de quebrar o impasse político no país e chegar a um acordo para um governo de coalizão.

O comunicado presidencial diz que o presidente convocou Papandreou, Samaras e líderes dos partidos políticos para uma nova reunião na segunda-feira (7) para discutir quem comandará o novo governo.

A União Europeia deu à Grécia 24 horas no domingo para explicar como formará um governo de unidade que permita a execução de um pacote de ajuda financeira ao país.

Pacote de resgate

A formação de um novo governo na Grécia é importante para garantir a aprovação de um pacote de medidas antes de novas eleições. O objetivo é tentar salvar a economia do país e evitar o contágio da Zona do Euro.

Papandreou está sob críticas em casa e no exterior por causa de seu plano, rapidamente abandonado, de convocar um referendo sobre o resgate da zona do euro. Ele sobreviveu por pequena margem a um voto de confiança no Parlamento, mas legisladores do partido dele pediram que ele renunciasse.

Renúncia
Neste domingo, o governo havia afirmado que o premiê socialista renunciaria apenas se fosse firmado um "acordo interpartidário" para formar um gabinete de coalizão, que designaria um novo primeiro-ministro.

O objetivo seria evitar um "vazio de poder" no país em crise financeira e política.

Mais cedo neste domingo, Samaras voltou a pressionar pela saída de Papandreou.

A União Europeia também aumentou neste domingo a pressão para que a Grécia estabeleça rapidamente um governo de unidade nacional, afirmando que o status grego de membro da Zona do Euro está em jogo.

O comissário europeu de Assuntos Econômicos e Monetários, Olli Rehn, disse à Reuters que o governo de coalizão é a única "maneira convincente" de restaurar a confiança no país.

Entenda a crise da Grécia 


País tem pesadas dívidas e vem recebendo ajuda externa.
Papandreou chegou a pedir referendo sobre ajuda financeira, mas recuou.


Grécia tem enfrentado dificuldades para refinanciar suas dívidas e despertado preocupação entre investidores de todo o mundo sobre sua situação econômica. Mesmo com seguidos pacotes de ajuste e ajuda financeira externa, o futuro da Grécia ainda é incerto.

O país tem hoje uma dívida equivalente a cerca de 142% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, a maior relação entre os países da zona do euro. O volume de dívida supera, em muito, o limite de 60% do PIB estabelecido pelo pacto de estabilidade assinado pelo país para fazer parte do euro.

A Grécia gastou bem mais do que podia na última década, pedindo empréstimos pesados e deixando sua economia refém da crescente dívida. Nesse período, os gastos públicos foram às alturas, e os salários do funcionalismo praticamente dobraram.

Parlamento grego (Foto: AP)Parlamento grego aprovou medidas de contenção de gastos (Foto: AP)

Enquanto os cofres públicos eram esvaziados pelos gastos, a receita era afetada pela evasão de impostos – deixando o país totalmente vulnerável quando o mundo foi afetado pela crise de crédito de 2008.

O montante da dívida deixou investidores relutantes em emprestar mais dinheiro ao país. Hoje, eles exigem juros bem mais altos para novos empréstimos que refinanciem sua dívida.

Ajuda e protestos
Em abril de 2010, após intensa pressão externa, o governo grego aceitou um primeiro pacote de ajuda dos países europeus e do Fundo Monetário Internacional (FMI), de 110 bilhões de euros ao longo de três anos.

Em contrapartida, o governo grego aprova um plano de austeridade fiscal que inclui alta no imposto de valor agregado (IVA), um aumento de 10% nos impostos de combustíveis, álcool e tabaco, além de uma redução de salários no setor público, o que sofre forte rejeição da população.

Apesar da ajuda, a Grécia segue com problemas. Em meados de 2011, foi aprovado um segundo pacote de ajuda, de cerca de 109 bilhões de euros, em recursos da União Europeia, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do setor privado. A contribuição do setor privado foi estimada em 37 bilhões de euros. Um programa de recompra de dívidas deve somar outros 12,6 bilhões de euros vindos do setor privado, chegando a cerca de 50 bilhões de euros.

Em outubro, ainda com o país à beira do colapso financeiro, os líderes da zona do euro alcançaram um acordo com os bancos credores, que reduz em 50% a dívida da Grécia, eliminando o último obstáculo para um ambicioso plano de resposta à crise. Com o plano, a dívida grega terá um alívio de 100 bilhões de euros após a aceitação, pela maior parte dos bancos, de uma redução superior a 50% do valor dos títulos da dívida.

No mesmo mês, o país enfrentou violentos protestos nas ruas. A população se revoltou contra um novo plano de cortes, previdência e mais impostos, demissões de funcionários públicos e redução de salários no setor privado, pré-requisito estabelecido pela União Europeia e pelo FMI para liberar uma nova parcela do plano de resgate, de 8 bilhões de euros.

Manifestantes entram em confronto com a polícia em Atenas, nesta sexta (Foto: Reuters)Manifestantes entram em confronto com a polícia em Atenas (Foto: Reuters)

Muitos servidores públicos acreditam que a crise foi criada por forças externas, como especuladores internacionais e banqueiros da Europa central. Os dois maiores sindicatos do país classificaram as medidas de austeridade como “antipopulares” e “bárbaras”.

Plebiscito e turbulências no mercado
Em 1º de novembro, o primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, provocou novas turbulências nos mercados e na zona do euro ao anunciar que convocaria um referendo sobre o novo pacote de ajuda da União Europeia, perguntando aos eleitores se querem adotá-lo ou não.

A expectativa do premiê era que o plebiscito “validasse” as medidas de austeridade necessárias para receber a ajuda financeira. Uma pesquisa, no entanto, mostrou que aproximadamente 60% dos gregos enxergam a cúpula dos líderes europeus, que acertaram um novo pacote de ajuda de 130 bilhões de euros, como negativa ou provavelmente negativa.

A convocação de plebiscito enfrentou rejeição da oposição e dos membros do próprio partido de Papandreou. Com isso, o governo ficou enfraquecido, e a oposição já pede eleições antecipadas e a formação de um governo de transição para garantir a aprovação do plano.

Os líderes das duas maiores economias da zona do euro, a alemã Angela Merkel e o francês Nicolas Sarkozy, pressionam o governo grego e condicionam a ajuda à adoção das medidas de austeridade.

Nesta sexta-feira (4), a Grécia desistiu de realizar o referendo, que poderia levar a zona do euro a uma crise pior, informou, em comunicado, o ministro das Finanças Evangelos Venizelos.

'Voto de confiança'
No capítulo mais recente do imbróglio grego, o Parlamento do país aprovou nesta sexta-feira (4), por 153 votos a 145, a moção de confiança ao abalado governo do primeiro-ministro George Papandreou.

Antes do resultado, no entanto, Papandreou já havia afirmado que buscaria formar um governo de coalizão para apoiar o plano de resgate acordado com a Europa e o Fundo Monetário Internacional (FMI), o que pode significar sua saída do cargo. Falando ao Parlamento antes da votação, Papandreou afirmou não se importar com a posição.

“Eu peço por um governo de cooperação. A última coisa com que me importo é o cargo. Não me importo se nunca mais for eleito”, afirmou. “Vou encontrar com o presidente (Carolos Papulias) amanhã e explicar a ele que vou conversar com todos os partidos para formar um governo de ampla cooperação”.

Calote
Como membro da zona do euro, a Grécia enfrenta pressão dos demais membros para colocar suas contas em ordem e evitar a declaração de moratória – o que significaria deixar de pagar os juros das dívidas ou pressionar os credores a aceitar pagamentos menores e perdoar parte da dívida.

No caso da Grécia, isso traria enormes dificuldades. As taxas de juros pagas pelos governos da zona do euro têm sido mantidas baixas ante a presunção de que a UE e o Banco Central Europeu proveriam assistência a países da região, justamente para evitar calotes.

Uma moratória grega, além de estimular países como Irlanda e Portugal a fazerem o mesmo, significaria um aumento de custos para empréstimos tomados pelos países menores da UE, sendo que alguns deles já sofrem para manter seus pagamentos em dia.

Se Irlanda e Portugal seguissem o caminho do calote, os bancos que lhes emprestaram dinheiro seriam afetados, o que elevaria a demanda por fundos do Banco Central Europeu.

Um calote grego pode fazer com que investidores questionem se a Irlanda e Portugal não seguirão o mesmo caminho. O problema real diz respeito ao que acontecerá com a Espanha, que só tem conseguido obter dinheiro no mercado a custos crescentes.

A economia espanhola equivale à soma das economias grega, irlandesa e portuguesa. Seria muito mais difícil para a UE estruturar, caso seja necessário, um pacote de resgate para um país dessa dimensão.

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Fonte:
G1

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