Especialista em clima defende confinamento de gado

Publicado em 14/11/2011 07:52
Se a pecuária brasileira continuar sendo desenvolvida em sistema extensivo, ela pode vir a se tornar a maior responsável pelas emissões nacionais de gases do efeito estufa na atmosfera nos próximos anos, superando o desmatamento e os combustíveis fósseis. A tese é do especialista em mudanças climáticas Cláudio Clemente Cerri, professor da Esalq/Usp, que defende o remanejamento das técnicas de criação de gado no Brasil.

“Precisamos aplicar novas técnicas de manejo, mudar as práticas para não transformarmos a nossa valiosa pecuária em atividade poluidora”, ressaltou. Cerri participou do Curso “Como o agronegócio está preparando para a Rio+20″, em São Paulo (SP), organizado pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleo Vegetais (Abiove) e pela Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso do Sul (Aprosoja), direcionado exclusivamente a jornalistas do setor.

De acordo com dados da Esalq/Usp, a pecuária aparece como terceiro maior emissor de gases do efeito estufa, responsável por 12% do total. Antes dela, aparecem o desmatamento (52%) e o uso dos combustíveis fósseis (16%) e, depois, o setor de fertilizantes, que seria responsável por 10% das emissões. “Mas o Brasil está trabalhando intensamente para reduzir os índices de desmatamento e a indústria automobilística e o setor de agroenergia, através da produção dos carros flex e o uso de etanol e de biodiesel, para diminuir as emissões de gases na atmosfera”, compara o professor, alertando que agora, é a pecuária que precisa ser remanejada para também diminuir a produção dos gases metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O), os mais agressivos ao clima, provenientes das fezes e da urina do gado, respectivamente. “A boa da vez é tornar a pecuária uma atividade sustentável”, alerta.

Pecuária responsável

As mudanças nas técnicas de manejo mais indicadas para a pecuária, segundo o professor, seriam o confinamento do gado, a inclusão de sistemas de integração de lavoura, pecuária e florestas (ILPF), o plantio direto na palha e a utilização de dejetos animais para a produção de biogas. “O boi transforma o gás bom em gás ruim porque, no sistema extensivo, ele só se alimenta de gramíneas, que é celulose e lignina. Quando estes alimentos fermentam no rúmen bovino, geram metano e óxido nitroso no organismo do animal, que os libera mais tarde através das atividades fisiológicas”, explica. “Quando confinados, eles passam a ter outras fontes de alimentação, como as proteínas, e produzem menos gases”.

Um estudo realizado pela Associação dos Criadores de Gado do Mato Grosso (Acrimat), em 2010, aponta que, no sistema extensivo seriam produzidos 15 quilos de CO2 por quilo de carne produzida, enquanto no confinamento, a produção de dióxido de carbono cai para 5 quilos por quilo de carne produzida. Cerri ainda destaca que, no confinamento, é possível utilizar os dejetos, sobretudo as fezes, para gerar biogás e bioeletricidade.

O pesquisador João Kluthcouski, da Embrapa Arroz e Feijão, de Goiás, diz que aplicar a técnica de ILPF para recuperar pastagens degradadas devolve aos solos os níveis de nitrogênio originais e a formação de lavouras diretamente na palha (que é quando a terra permanece coberta pela palha seca da cultura anterior) agrega uma elevada quantidade de matéria orgânica. “Revolver o solo para limpa-lo é retirar dele suas propriedades. Deixá-lo coberto com a palha evita a perda de água, de nutrientes e forma uma barreira natural para a erosão e pragas afirma.

Segundo Cerri, somente a adoção do sistema de plantio direto na palha equivaleria a uma redução de 300 milhões de toneladas de gases prejudiciais na atmosfera por ano. “Reduzindo o espaço da pecuária em confinamentos e aproveitando as pastagens para produzir alimentos, não precisaríamos desmatar novas áreas”.

Apesar da pecuária ser apontada como a grande produtora de metano, as plantações de arroz localizadas na Ásia são, de longe, os maiores emissores de metano na atmosfera. Cláudio Cerri explica que, quando o solo é coberto artificialmente com água para a produção do cereal, a reação química gera o gás. “O mundo todo tem que tratar o solo com mais carinho”. O estudo da Esalq/Usp aponta que a agricultura mundial é responsável por 20% das emissões de gases do efeito estufa no planeta, enquanto 66% destes gases vêm da indústria e 14% do desmatamento.

Confira a íntegra da notícia no Agora MS

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Agora MS

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4 comentários

  • Celso de Almeida Gaudencio Londrina - PR

    O posicionamento do Prof. Cerri reflete o que esta acontecendo no momento.... de passagem...fica o registro.... alinhado abaixo.

    Catalisador da bovinocultura de corte brasileira

    A bovinocultura depende de vetores de fora da porteira, acima de qualquer reação catalisadora, que descrevam o momento atual das forças contrárias aos pastos.

    As vertentes que se opõe à pecuária produtora de carne bovina se ramificam no seio do povo, abalando a racionalidade produtiva, no propósito de cercear a continuidade do negócio. Há necessidade de muita união para defender a produção diante desse somatório de vetores, aceitando o revés como trégua, cedendo espaço para agricultura ou trocando o pasto de braquiária (Brachiaria spp.) por eucalipto.

    O futuro incerto necessita de um posicionamento do produtor rural, direcionando o caminho a tomar, para que este não sucumba ao ataque de agentes fortes e que impõe toda a sua energia contra a pecuária e as pastagens brasileiras. Os grilhões dessa imposição certamente derrubarão cercas e sonhos - tamanha a volúpia.

    O vulto dessa ameaça se cristaliza na formulação da Lei do Código Florestal, onde as pastagens se transmudam em riscos ambientais, onde o timoneiro é a chamada pastagem degradada, esquecendo que as gramíneas, no foco da biodiversidade, se constituem nos agentes biológicos mais fortes, quando adubados, na reconstituição dos solos improdutivos e no controle da erosão. É erro de interpretação não considerar as gramíneas na biodiversidade ambiental. Mas há uma luz no fundo do túnel com a crescente e louvável adoção dos Sistemas de “Integração Agropecuária”, “Misto Lavoura-Pasto” e/ou “Silvipastoril”, todos podendo estar associados à lavoura de soja, pois esta cultura necessita das gramíneas para produzir. Desde onde se iniciou sua expansão, nos campos nativos do Sul, foi na garupa do trigo que a cultura da soja galopou com tanta rapidez.

    Nessa reação, o único fator que não se altera, já há décadas, é o empreendorismo do pecuarista, catalisador da construção do enorme rebanho bovino a campo, quer na ocupação territorial cobiçado por muitos, quer na adoção crescente de tecnologia, abrindo frentes para outras atividades, tão importantes quanto ela mesma, para o desenvolvimento econômico brasileiro.

    O preço da arroba do boi gordo, em plena entressafra, na época seca ou atingida por fortes geadas, como ocorreu no segundo quadrimestre de 2011, mostra que o plantel deve se ampliar. Como tática, é somente no aumento quantitativo e qualitativo de vacas matrizes (sem excessos, para não aumentar, além da conta, a oferta futura) que se constitui a única arma do pecuarista. Mas, passado o efeito da seca ou de geada e se os preços refluírem, opções estratégicas serão arrendar partes das terras para o cultivo de lavouras anuais, por um curto período de tempo, ou então para o cultivo de cana-de-açúcar e/ou plantio de eucalipto no lugar do pasto.

    As recentes restrições externas ao produto brasileiro e o fechamento de frigoríficos, devido ao desalinhamento e à burocracia dos encargos, exigem cautela no modo de terminação de bois para o ultimo quadrimestre do ano.

    A pecuária a pasto deve permanecer, é claro que não em demasia, com avanços zootécnicos no desfrute, já que a intensificação está sendo atendida pela pecuária de cocho, exportadora de carne de forma profissional. Desta forma, a bovinocultura continua sendo catalisada, preponderantemente, pela produção com qualidade natural a pasto

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  • Celso de Almeida Gaudencio Londrina - PR

    O Professor Dr. Cerri, esqueceu de informar quanto a pastagem capta de gás carbônico, por estar em processo contínuo de crescimento e, através da fotossíntese, pelo acúmulo de material orgânico nos tecidos. Não sei se considerou que no sistema extensivo a carga animal é baixa, muito pasto e pouco animais. Será que a tese é colocar as vacas matrizes em gestação, com bezerro ao pé e solteiras em regime de confinamento. A Douta explicação é incompleta, a Índia que o diga... ou...

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  • Marcos de Souza Dias Maringá - PR

    Mais um "especialista" vem excretar sua "contribuição". Esse, pelo jeito, mais retardado - demorou 20 anos para descobrir a existencia do plantio direto, e não cita uma vantagem comoda, que é a economia de diesel. Repetindo a cantilena, essa jóia do pensamento ecohistérico PARTE do principio que é no campo que estão os motivos dos delírios destes novos monges medievais. De dentro de suas imundas cidades, alagados até o pescoço em seus próprios dejetos, sufocados pela fumaceira ácida de seus veículos e chaminés, esses procto sábios levantam o braço sobre o lodo para apontar o dedinho para a vaca, achando que a geladeira vai continuar produzindo leite todas as manhãs e o supermercado da esquina vai continuar lhe fornecendo seus repolhos a custo cada vez menor, só por causa de suas nubladas razões. Porque não se dedicam a lutar pela limpeza de seus próprios confinamentos é para mim ainda um mistério.

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  • Telmo Heinen Formosa - GO

    Aproveitando a sua linha de raciocínio, quero informar a todos que anualmente o planeta Terra produz entre 160 a 240 bilhões de t de CO2. Cerca de 6,0 bilhões de t são de responsabilidade do homem. Fazer um enorme esforço para reduzir em 20% esta parcela de seis bilhões, produz resultados insignificantes. Desde quando estes cientistas 'concluiram' que a flatulência (puns) e a eructação (arrôtos) do nosso gado produzem mais poluição do que todos os motores de combustão interna no Brasil, perderam a credibilidade. Então deveriam calcular também a emissão de gases pelos humanos, não deveriam?

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