Mercado de café: RISCO-SISTÊMICO E DIMINUIÇÃO DE CONTRATOS
Em primeiro lugar gostaria de agradecer aos e-mails e ligações de leitores desejando melhoras da pneumonia que tive. Muito obrigado!
Desde meu último comentário, do dia 12 de novembro, experimentamos uma queda de ativos de risco e um fortalecimento do dólar americano.
Os motivos por trás do movimento, que entre os dias 1 e 22 de novembro varreu 3.3 trilhões de dólares nos mercados acionários ao redor do mundo, giraram em torno dos problemas das dívidas soberanas na Europa e nos Estados Unidos. Vale notar que até mesmo a Alemanha, economia mais forte do bloco europeu, teve dificuldades em vender seus bonds nesta semana (apenas 65% da oferta encontrou compradores).
Os problemas do sul da Europa continuam incomodando a todos, sendo que agora a Espanha está com uma taxa de risco maior do que da Grécia e de Portugal.
Para constar, os principais índices acionários caíram entre 7% e 10% em duas semanas, enquanto o CRB, DJUBS e SPGSCI cederam em torno de 4.5%.
O café em Nova Iorque ensaiou uma alta na semana do feriado brasileiro, mas não conseguiu sustentar e com isso tem se mantido dentro do mesmo intervalo de preço de algum tempo. Londres tem encontrado algum suporte nas quedas, e São Paulo sofreu um pouco mais a influência do enfraquecimento do Real.
No mercado físico a longa espera dos torradores por diferenciais mais baixos tem feito com que alguns se vejam forçados a pagar os preços atuais sob o risco de ficarem com uma cobertura menor do que o mínimo aceitável. Foram reportados negócios com volumes razoáveis para embarque de agora até o final de 2012. É verdade dizer que os diferenciais já estiveram mais caros, principalmente se olharmos para os cafés não-brasileiros, de forma que a estratégia não foi totalmente errada.
A procura um pouco melhor, que em teoria poderia puxar os preços, não está provocando um encarecimento do terminal e do físico em função do dólar estar subindo.
As exportações brasileiras do mês de novembro caminham para um total de 3 milhões de sacas, corroborando para a teoria de que a firmeza do mercado interno no Brasil também tinha uma relação com a necessidade de cobertura de quem estava vendido.
O relatório semianual do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) sobre o Brasil, divulgado recentemente, apontou que a safra 11/12 deve ser de 49.2 milhões de sacas, ou 5.3 milhões de sacas a menos do que a safra 10/11. As exportações do país para o ciclo corrente são estimadas em 29 milhões de sacas. Segundo o órgão os estoques de passagem em julho último estavam em 3.38 milhões de sacas, e o custo de produção em 2010 (apurado dia 30 de novembro) na região de Guaxupé foi de R$ 309.38 por saca (considerando uma produtividade de 30 sacas por hectare).
Novos relatórios sobre outras origens serão divulgados, mas enquanto isto fontes colombianas confirmam a expectativa do mercado de que Colômbia não produza mais de 8.5 milhões de sacas no ano-safra 11/12. Por outro lado um dos destaques de crescimento de produção é Honduras, que deve produzir um recorde de 4.6 milhões de sacas neste ano.
De volta ao mercado futuro, o número de contratos em aberto está no menor patamar desde o final de 2009, com um total de 98,272 lotes na última quinta-feira.
Creio que os motivos para isto são os seguintes (não necessariamente nesta ordem): a volatilidade alta da bolsa; o descolamento dos diferenciais de arábica; a composição do estoque certificado e as re-certificações observadas; e finalmente uma desconfiança no sistema depois da concordata da MF Global que tornou indisponível o dinheiro de vários participantes que supostamente deveriam estar protegidos.
Um dos maiores atrativos de se usar contratos em bolsa é não ter risco de contraparte tendo a garantia da segregação das margens depositadas. Infelizmente o episódio da bancarrota da MF provou que há uma falha séria do sistema, o que fez inclusive com que alguns participantes tenham sido obrigados a fechar as portas e não pagar fornecedores por terem visto desaparecer seu dinheiro usado para gerenciar suas posições de hedge. É lamentável.
Uma continuação da firmeza da moeda americana pode empurrar as cotações mais para baixo, sendo que continuo crendo em um suporte forte próximo dos US$ 220 centavos por libra na ICE.
Uma ótima semana e muito bons negócios para todos,
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting