Armínio Fraga e André Esteves alertam que o Brasil precisa dar condições de competitividade ao setor rural

Publicado em 27/11/2011 09:49
O maior erro que o Brasil poderia cometer, diante do seu potencial de produção agropecuária, seria não dar condições de competitividade ao setor produtivo rural. Com essas palavras, o presidente do banco BTG Pactual, André Esteves, encerrou os debates do painel “Os desafios do Brasil como 5ª potência mundial e o papel do agronegócio”, no seminário que marca as comemorações dos 60 anos da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e os 20 anos do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), nesta quarta-feira (23), em Brasília. 

O ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Gávea Investimentos, Armínio Fraga, que também participou do painel, alertou que o Brasil, por dispor de um setor agropecuário com o maior potencial de crescimento no mundo, não pode “descansar”. “Esse seria o maior erro”, afirmou Fraga.

Os debates do painel, mediado pelo jornalista William Waack, da TV Globo, giraram em torno dos caminhos que o Brasil deve tomar rumo à posição de 5ª potência mundial, num contexto de crise econômica que atinge os países de economias “maduras”, principalmente, os da Europa. Armínio Fraga lembrou que o Brasil, na década de 1980, sofreu muito com os efeitos da crise do endividamento externo e a alta inflação do período. 

“Aos poucos, fomos encontrando essa trajetória gloriosa que estamos vivendo e, hoje, os brasileiros sabem que qualquer confusão macroeconômica dói”, lembrou o fundador da Gávea Investimentos. Segundo o economista, apesar do bom desempenho da economia brasileira dos últimos anos, o Brasil precisa evoluir em outras questões para alcançar o rol dos países desenvolvidos. 

Fraga citou como exemplo a renda per capita brasileira, que ainda é 20% da renda dos cidadãos norte-americanos. “Nós precisamos crescer não só em Produto Interno Bruto (PIB), mas em renda per capita também”, defendeu.

Esteves, por sua vez, elencou três desafios que o Brasil precisa enfrentar para estar entre as cinco maiores economias do planeta. O primeiro e mais importante seria resolver o problema tributário. “A questão do câmbio é um problema que atinge outros países também, mas o nosso sistema tributário é um problema só nosso”, afirmou o presidente do BTG Pactual. 

Em segundo lugar, André Esteves citou a precária infraestrutura, que tira a competitividade do agronegócio brasileiro no mercado internacional. Lembrou, no entanto, que ao mesmo tempo em que a falta de infraestrutura é um problema, é também uma oportunidade para o País. Por último, falou da questão da educação. “Se nós quisermos seguir uma trajetória de crescimento, como a que os Estados Unidos (EUA) tiveram no século passado, precisamos investir em educação”, defendeu Esteves. 

O presidente do BTG Pactual explicou que o problema da falta de educação só poder ser resolvido a longo prazo e depende de planejamento. Por isso, é também um dos grandes desafios que Brasil tem para superar. 

William Waack lembrou que a soja brasileira é mais barata “dentro da porteira” do que a produzida nos EUA, mas, por questões tributárias e de infraestrutura precária, os norte-americanos conseguem exportar a um preço mais baixo. E provocou: “esses problemas inviabilizam o agronegócio brasileiro?”. 

Para Armínio Fraga, essas questões não chegam a inviabilizar, mas “com toda certeza são um entrave”. Além disso, Fraga também lembrou do alto custo do capital no Brasil para financiar o setor produtivo. “A taxa de juros está caindo, mas ainda há um longo caminho para cair mais”, disse, ao se referir à taxa básica de juros da economia, a Selic. Esteves voltou a falar do sistema tributário brasileiro e insistiu que “esse é um problema nosso e só depende de nós para se resolver. Vivemos num ambiente democrático, de instabilidade institucional, está na hora de buscar eficiência e levar essa eficiência para o setor produtivo”.

Crise internacional 
Ao serem perguntados sobre como o Brasil pode ser atingido pela crise econômica dos países desenvolvidos, os dois debatedores afirmaram que, de alguma forma, os efeitos vão chegar ao País. “O Brasil está bem preparado, mas é impossível não sofrer com algum tipo de conseqüência”, disse Armínio Fraga. De acordo com o fundador da Gávea Investimentos, uma das formas da crise chegar ao País seria pela diminuição do “espírito empreendedor” dos empresários brasileiros, que acabam postergando ou mesmo deixando de fazer investimentos que aumentam a produção e geram empregos.

Para André Esteves, a aversão dos investidores ao risco seria o principal canal por onde a economia brasileira seria afetada pela crise internacional. “Se houver uma crise profunda, e tudo indica que ela é gravíssima, o impacto seria observado na produção industrial brasileira e no empreendedorismo”. A aversão ao risco é um sentimento de incerteza que leva os investidores a não realizar aplicações financeiras e, com isso, as fontes de crédito para investimento do setor produtivo são prejudicadas (CNA, 23/11/11)
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Fonte:
Valor Econômico

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