Café: Cooparaiso avisa que estiagem poderá prejudicar a safra cafeeira

Publicado em 29/11/2011 19:42
Análise realizada pelo Prof. Dr.José Donizeti Alves, Doutor em Fisiologia Vegetal pela Universidade Federal de Lavras (UFLA).
“O Departamento Técnico da Cooparaiso está em fase final de levantamento da previsão de safra. De acordo com o engenheiro agrônomo, Marcelo Almeida, a produção 2012 será menor que a de 2010. As causas: além do período de seca e baixas temperaturas, as altas umidades favoreceram o aparecimento de doenças”.
 
Neste ano, as lavouras sofreram um déficit hídrico bastante acentuado. Tal como previsto, a seca causou uma desfolha bastante acentuada. Quando as chuvas retornaram, tardiamente em outubro, diga-se de passagem, as lavouras estavam na sua grande maioria, desfolhadas. Qual a leitura, a luz da fisiologia do cafeeiro, que se faz desses eventos?
 
1- Durante o período da seca, o cafeeiro parou de fotossintetizar ao mesmo tempo em que passou a sintetizar um hormônio chamado etlieno. Como consequência desses dois eventos, respectivamente, as plantas ao mesmo tempo pararam de crescer perderam muitas folhas. E por que pararam de crescer? Não cresceram porque e através da fotossíntese que as plantas absorvem carbono que a exemplo de tijolos em uma construção que faz subir as paredes, eles fazem as plantas crescerem. E porque perderam as folhas? Porque a seca faz com que o cafeeiro produza etileno e este hormônio se aloja nos pecíolos das folhas criando ali uma zona de fraqueza ou fissura/rachadura, imperceptível ao olho humano. Neste caso, basta um pequeno vento para derrubar as folhas. E qual seria as opções para se evitar esses eventos negativos. A única opção seria irrigação ou naturalmente a chuva. Portanto, pouca coisa tinha que se fazer. Na seca, adubar não resolve nada. Portanto o prejuízo à lavoura é certo.
 
2- Retomada das chuvas. As chuvas voltaram muito tarde e em bastante quantidade. E isso, ao contrario de ser motivo de alegria pode ter sido motivo de tristeza. Explico. Com a retomada das chuvas houve uma grande florada, que se transformou em frutos. Ai é que residiu o problema. Chuvas muito pesadas causam no solo um ambiente de baixo teor de oxigênio (hipoxia) que também dispara na planta a produção de etileno. Esses frutos, a exemplo das folhas, também sofreram a influencia do etileno. No caso dos frutos esse hormônio se alojou no pedúnculo (região que liga o fruto ao ramo) ocasionando ali também, aquela região de fraqueza já mencionada. Como isso acontece? Dados obtidos pelo meu grupo de pesquisa mostram que a seca estimulou a síntese de etileno e este agiu na região do pedúnculo ativando enzimas de degradação de parede celular criando ali, uma zona de abscissao, ou seja, um enfraquecimento celular. Com a retomada das chuvas, houve, em muitas regiões uma queda acentuada de chumbinhos (que tinham em seu pedúnculo esta zona de abscissão) em virtude da forte pressão exercida pela súbita entrada de água nos frutos. Tal fato poderá voltar a ocorrer durante a fase de expansão rápida dos frutos, notadamente naqueles que possuem esta zona de abscissão e que por alguma razão não cairam quando estavam na fase de chumbinho. Nas lavouras desfolhadas, o déficit de carboidratos também acentuará o problema.
 
A queda de frutos na fase de expansão rápida pode não acontecer se algumas desses eventos acontecer. 1. Todos os frutos que tinham que cair já cairam. Isso ninguém sabe. 2. Crescimento rápido das folhas. Para isso é necessário adubar rapidamente a lavoura sem se esquecer da pulverização com micronutrientes notadamente o zinco, cobre e cálcio. Algumas pesquisas mostram que o cálcio cimenta aquela fissura existente no pedúnculo promovendo uma espécie de "solda" e com isso evita-se a queda dos frutos em desenvolvimento.
 
Mais detalhes sobre esses eventos que ocorrem na e após a seca podem ser encontrados no capitulo que escrevi em parceria com o prof. Ruben Guimarães denominado "Sintomas de desordens fisiológicas em cafeeiro, paginas 169 a 215 no livro SEMIOLOGIA DO CAFEEIRO editado pela UFLA no ano passado.
 
* Prof. Dr.José Donizeti Alves é Doutor em Fisiologia Vegetal pela Universidade Federal de Lavras (UFLA).
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Fonte:
DeCom Cooparaiso

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