EUA ameaçam contrarretaliação ao Brasil
Publicado em 05/02/2010 13:11
Novo embaixador americano desaconselha retaliação aos EUA em R$ 1,5 bi após vitória na OMC contra subsídios ao algodão. Diplomatas brasileiros se disseram "perplexos"; OMC concedeu ao país direito de retaliar EUA em áreas como propriedade intelectual
O novo embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, defendeu ontem uma melhora nas relações comerciais entre os dois países e desaconselhou Brasília a retaliar Washington em uma disputa comercial sobre o algodão americano com uma insinuação, senão ameaça: "Retaliação sempre provoca uma contrarretaliação".
"Podemos trabalhar juntos com o Brasil para melhorar nossas relações comerciais e evitar uma ação retaliadora", pregou Shannon, em português, depois de receber credenciais do presidente Lula.
Diplomatas brasileiros se disseram "perplexos" com a possibilidade de contrarretaliação. O Brasil, defendem, está reagindo ao fato de os EUA terem violado as regras da Organização Mundial do Comércio com seu programa de subsídios ao algodão. Após sete anos, a OMC concedeu em agosto a Brasília o direito de aplicar sanções em bens e propriedade intelectual, que inclui patentes.
O tema é caro aos EUA. Shannon afirmou que os dois governos conversam intensamente para evitar a retaliação. "O trabalho da diplomacia não é acirrar os pontos de divergência. É detectá-los de maneira a não prejudicar os pontos de convergência, que, neste momento, são muitos entre o Brasil e os EUA", disse ele em sua primeira entrevista no Brasil. Mas, segundo o Itamaraty, os contatos são incipientes.
O embaixador na OMC, Roberto Azevedo, confirmou à Folha ter sido procurado pelos americanos, mas não definiu a fase atual como negociação: "Até o momento não foi feito nenhum tipo de proposta concreta".
A declaração de Shannon vem às vésperas da reunião da Camex (Câmara de Comércio Exterior) para definir os produtos alvo das sanções, marcada para terça. A elaboração da lista está atrasada. Com mais de cem itens, atrai interesses políticos e econômicos.
A eventual "contrarretaliação" não ocorreria no âmbito da OMC, onde a decisão é final. Novas barreiras tarifárias poderiam, por sua vez, acarretar novo processo. A opção americana seria, então, travar negociações em curso para abrir mais seu mercado a produtos brasileiros, como o etanol.
Na conta do Itamaraty, as sanções somariam pouco mais de R$ 1,5 bilhão, mas o cálculo depende de dados dos EUA, em aberto. Pouco menos da metade é em "retaliação cruzada" (em outro setor que não o alvo da disputa, como patentes). O Brasil precisa decidir se lançará seu maior trunfo já.
Uma ideia que ganha força é que o país imponha primeiro as sanções sobre bens, para fazer andar a negociação. Recurso final, a possibilidade de sanções em patentes opõe dois dos mais poderosos lobbies do Congresso americano, e o setor farmacêutico já começou a pressionar com cartas por um recuo nos subsídios agrícolas.
"Podemos trabalhar juntos com o Brasil para melhorar nossas relações comerciais e evitar uma ação retaliadora", pregou Shannon, em português, depois de receber credenciais do presidente Lula.
Diplomatas brasileiros se disseram "perplexos" com a possibilidade de contrarretaliação. O Brasil, defendem, está reagindo ao fato de os EUA terem violado as regras da Organização Mundial do Comércio com seu programa de subsídios ao algodão. Após sete anos, a OMC concedeu em agosto a Brasília o direito de aplicar sanções em bens e propriedade intelectual, que inclui patentes.
O tema é caro aos EUA. Shannon afirmou que os dois governos conversam intensamente para evitar a retaliação. "O trabalho da diplomacia não é acirrar os pontos de divergência. É detectá-los de maneira a não prejudicar os pontos de convergência, que, neste momento, são muitos entre o Brasil e os EUA", disse ele em sua primeira entrevista no Brasil. Mas, segundo o Itamaraty, os contatos são incipientes.
O embaixador na OMC, Roberto Azevedo, confirmou à Folha ter sido procurado pelos americanos, mas não definiu a fase atual como negociação: "Até o momento não foi feito nenhum tipo de proposta concreta".
A declaração de Shannon vem às vésperas da reunião da Camex (Câmara de Comércio Exterior) para definir os produtos alvo das sanções, marcada para terça. A elaboração da lista está atrasada. Com mais de cem itens, atrai interesses políticos e econômicos.
A eventual "contrarretaliação" não ocorreria no âmbito da OMC, onde a decisão é final. Novas barreiras tarifárias poderiam, por sua vez, acarretar novo processo. A opção americana seria, então, travar negociações em curso para abrir mais seu mercado a produtos brasileiros, como o etanol.
Na conta do Itamaraty, as sanções somariam pouco mais de R$ 1,5 bilhão, mas o cálculo depende de dados dos EUA, em aberto. Pouco menos da metade é em "retaliação cruzada" (em outro setor que não o alvo da disputa, como patentes). O Brasil precisa decidir se lançará seu maior trunfo já.
Uma ideia que ganha força é que o país imponha primeiro as sanções sobre bens, para fazer andar a negociação. Recurso final, a possibilidade de sanções em patentes opõe dois dos mais poderosos lobbies do Congresso americano, e o setor farmacêutico já começou a pressionar com cartas por um recuo nos subsídios agrícolas.
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Fonte:
Folha de SP
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