Brasil, EUA e Austrália tentam aproveitar brecha no algodão
O Estado do Mato Grosso é o maior produtor de plumas do País, enquanto a Bahia assegura a segunda posição do ranking brasileiro. Para Glison Ferrúcio Pinesso, presidente da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), o cenário é temporário e, por enquanto, o Brasil não tem condições de suprir a lacuna deixada pelos indianos. "A safra brasileira não vai ser grande neste ano e, por isso, faltará algodão para fornecer [aos novos compradores]", afirmou Pinesso. E completa: "Logicamente, gostamos disso porque faz com que mercados procurem mais o Brasil. No entanto, teremos que aumentar a produção para conquistar outros compradores", disse.
A falta de força brasileira pode estar atribuída à área plantada de algodão. Em 2008, foram plantados 1 milhão e 200 mil hectares de algodão em plumas, enquanto 2010 ficou abaixo: 1 milhão e 30 mil hectares de área. "A ideia é aumentar o plantio para a safra 2010/2011, e assim retomar o crescimento", explicou. A fibra será plantada em dezembro deste ano e janeiro de 2011.
No último ano, o estado mato-grossense exportou entre 500 mil a 550 mil toneladas de pluma - média anual -, conforme atestou o presidente. Neste ano, 450 mil toneladas da fibra já foram comercializadas para o exterior, quantidade menor em virtude da baixa receita advinda da cultura de algodão frente às culturas de soja e milho em 2009. Segundo dados do Imea, de abril, houve redução na receita, que passou de US$ 95,2 milhões no primeiro trimestre de 2009 para US$ 58,4 milhões em 2010, queda de 39%. Mesmo com esta queda nos números, o estado ainda foi responsável por 47% das embarcações da pluma brasileira.
A Bahia apresenta um potencial de exportação abaixo do Mato Grosso. Neste ano, o estado mandará para fora do País 200 mil toneladas em plumas de algodão, 50% de sua produção total - 400 mil toneladas. "Para a próxima safra [2010/2011], prevemos um acréscimo de 20% na área plantada do Brasil", contou João Carlos Jacobsen, presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão. Em 2009, a Bahia comercializou 140 mil toneladas de algodão com o exterior. Segundo Jacobsen, a oportunidade deixada pela Índia serve para que o Brasil fique atento a situações futuras (e parecidas), principalmente na logística a ser melhorada pelo governo. "Com certeza o País pode suprir, mas precisa rever as situações dos portos, como ampliá-los, por exemplo". O presidente, no entanto, destacou a importante participação do órgão governamental à comercialização.
Os principais compradores do algodão brasileiro são: Indonésia, Coréia do Sul Paquistão. De acordo com Pinesso, Austrália e Estados Unidos têm mais condições do que o Brasil para ampliar suas comercializações. "O problema da Austrália é a falta de água. O algodão deles é irrigado, e eles têm essa limitação. Quase que 100% da fibra daqui [Brasil] é plantado sem irrigação", falou.
Mato Grosso
Em 1998, o estado passou a ter visibilidade pela extensão da área dedicada à cotonicultura. A partir disso, o Mato Grosso obteve participação decisiva na produção nacional da pluma de algodão. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a participação da pluma mato-grossense na produção brasileira deverá se manter na média das três últimas safras: 51% da produção brasileira da fibra será proveniente das lavouras do estado.
"A qualidade do algodão se deve à região do Cerrado, enquanto o clima, que é bem definido, dá a oportunidade para os produtores anteverem o período de chuvas e seca. São fatores que tornam a qualidade da fibra superior a de outros estados", contou Tiago Mattosinho, gerente do departamento técnico da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato). Perguntado se o Mato Grosso tem potencial para acompanhar EUA e Austrália na corrida por mercados, o gerente afirmou: "Um fator que pode pesar é o custo de produção. O preço da fibra está alto, fato que pode atrapalhar o desenvolvimento do mercado", disse.
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