Um certo “Eles Ninguém” que aposta na crise, sobre discurso de Dilma

Publicado em 05/06/2012 19:40 e atualizado em 21/08/2013 14:57
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

Goste-se ou não do governo Dilma, uma coisa é fato: ela tem um estilo menos falastrão do que o do antecessor, e isso é uma coisa boa em si, ainda que a gestão seja fraca. Mas sabem como é a tentação… Nesta terça, a presidente fez um discurso na cerimônia que comemorou o Dia Mundial do Meio Ambiente. Lá pelas tantas, saiu-se com esta:

“Quem aposta na crise, como alguns apostaram há quatro anos atrás, vai perder de novo. Enfrentaremos novas dificuldades com transparência, sem esconder problemas, mas com metódica e cuidadosa ação governamental. Vamos continuar crescendo, incluindo, protegendo e conservando o meio ambiente”.

Algumas coisas, bem poucas, me dão sono. Uma é “filme de arte”; outra é discurso contra o que chamo “Eles Ninguém”. A presidente poderia renunciar a esta péssima herança deixada por Lula: atribuir dificuldades objetivas enfrentadas pelo governo a uma espécie de urucubaca ou de macumba feita pelos “inimigos”. Quem são “eles”, soberana? Quem, afinal, “aposta na crise” ou, sei lá, torce contra o Brasil?

Dilma está pressionada. Cresce a percepção no mundo de que está em curso uma reversão de expectativas no Brasil. O recente pacote de incentivo ao consumo encontra uma sociedade endividada, e é pouco provável que produza os efeitos esperados. No começo do ano, o governo falava em um crescimento de 4%. Hoje, são poucos os que apostam que possa chegar a 3%.

O governo é gastador, e isso não é segredo para ninguém. Embora a carga tributária bata sucessivos recordes (mesmo com expansão modesta da economia), as despesas se expandem sempre mais. Dilma não mudou a perspectiva meramente defensiva em relação a essa questão: “Não adianta defender políticas de ajuste, e nós sabemos disso porque sofremos isso na nossa própria pele, sem que o país cresça”. A questão, e Dilma sabe disso, não está em gastar menos ou mais, mas na qualidade desse gasto.

Por Reinaldo Azevedo

 

05/06/2012 às 17:07

O fim do voto secreto no Congresso, a voz das ruas e a vontade do Executivo

Há três PECs (Propostas de Emenda Constitucional) no Senado que acabam com o voto secreto no Congresso. Duas ajudam a aprimorar a democracia; uma terceira, de Paulo Paim (PT-RS), ajuda a degredá-la. E é preciso chamar joio de “joio” e trigo de “trigo”. O presidente do Senado, José Sarney, decidiu colocá-las na pauta de votação no dia 13. Vamos ver.

Duas das PECs acabam com o voto secreto no caso de cassação de mandato de parlamentares. É claro que isso expõe o Congressista à pressão da opinião pública. Mas e daí? Legislativo é assim mesmo. Um juiz tem de se ater aos autos e não pode se deixar influenciar pelas ruas. Já o Poder Legislativo é aquele que, por excelência, está sujeito à tal “voz do povo”. De todo modo, o parlamentar conserva o seu direito de dizer “sim” ou “não”; pode ceder à pressão ou resistir a ela. O que não é aceitável é que alguns tantos façam verdadeiros manifestos em defesa da moralidade e, no escurinho do voto, ajudem a preservar o mandato de malandros.

Já o projeto de Paim é ruim. Ele põe fim ao voto secreto em qualquer circunstância. Aí se dá o contrário: em vez de o parlamentar ficar exposto à pressão da opinião pública, o que é legítimo, ele fica à mercê da vontade do Executivo, o que é ilegítimo A votação de um veto presidencial ou a aprovação de uma autoridade indicada se dão por voto secreto. O parlamentar precisa ter a prerrogativa de dizer “não” ao governo sem ss expor a retaliações.

A votação do pedido certo de cassação de Demóstenes Torres, que será encaminhado pelo Conselho de Ética, se dará ainda por voto secreto. Ela acontece até o fim de junho. Uma PEC precisa de quatro votações para ser aprovada: duas em cada uma das Casas, Câmara e Senado. Ainda que a proposta obtenha os três quintos necessários, não haverá tempo para aplicá-la no caso do senador.

Por Reinaldo Azevedo

 

05/06/2012 às 16:07

Greve nas universidades federais: a notícia ausente. Ou: E se os professores decidissem puxar um fumo para chamar a atenção da imprensa?

Se os professores das universidades federais querem que seus movimentos reivindicatórios sejam notícia, devem migrar para as universidades estaduais de São Paulo — USP, Unicamp e Unesp. Ao menos enquanto o PT estiver no poder. Não sei se entenderam a ironia da coisa…

Há 46 universidades federais e dois institutos técnicos em greve. A maioria está parada há 49 dias. Os profissionais reivindicam a apresentação de um plano de carreira. Em algumas unidades, reclamam da falta de condições adequadas de trabalho.

Na USP, por exemplo, tudo é notícia. Há dias, um grupelho de maconheiros se reuniu para queimar mato na universidade. Havia uma multidão de… 20 pessoas (!!!), num universo de mais de 80 mil alunos. A turma ganhou alto de página nos jornais. Alguns cronistas resolveram fazer digressões sobre o caráter, digamos, “progressista” daquela manifestação.

A greve nas federais e as péssimas condições de trabalho em muitos campi são praticamente ignoradas pela quase totalidade da imprensa nacional. É como se não existissem. Há cursos funcionando em barracões. Há esgoto a céu aberto. Faltam laboratórios. E, no entanto, um grande silêncio.

Quando uma informação ou outra chegam aos jornais, não se toca no nome daquele que comandou a área durante seis anos: Fernando Haddad. É o autor do modelo que está aí, que faz dele, segundo Lula no programa do Ratinho, “o maior ministro da Educação que este país já teve”. Talvez os professores das federais devam queimar um fuminho no campus. Maconha é sempre uma pauta muito influente…

Só para arrematar:  no ano passado, boa parte das federais ficou em greve por quatro meses. Ninguém deu a menor pelota. Se a greve não serve para desgastar tucanos, então não é notícia.

Por Reinaldo Azevedo

 

05/06/2012 às 15:21

Empresário diz que pagou com dinheiro a casa que comprou de Perillo, não com cheques

Por Gabriel Castro e Laryssa Borges, na VEJA Online:
O empresário Walter Paulo Santiago disse nesta terça-feira à CPI do Cachoeira ter pago em dinheiro vivo 1,4 milhão de reais pela casa que pertencia ao governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). A Polícia Federal concluiu que o valor foi pago por meio de três cheques assinados por Leonardo Almeida Ramos, sobrinho do contraventor Carlinhos Cachoeira. Santiago nega: “Não conheço esta pessoa, nunca a vi, até o nome nunca ouvi”, afirmou. “Não paguei com cheque, paguei em dinheiro, em moeda corrente, notas de 50 e de 100″.

Em depoimento à CPI do Cachoeira, Santiago entrou em diversas contradições. Ao tentar explicar a origem dos recursos que foram aplicados na compra da mansão, disse num primeiro momento que não sabia de onde teria saído o dinheiro - informação que só seu contador poderia dar. Depois, declarou que o caixa foi formado recolhendo recursos de diversas de suas empresas. Por fim, afirmou que o montante foi retirado exclusivamente da Faculdade Padrão, da qual é dono.

Walter Paulo Santiago negou que tenha feito doações de campanha para o governador Marconi Perillo ou para o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). Também rejeitou a hipótese de ter mantido qualquer sociedade com o bicheiro. “Almocei com Cachoeira cinco vezes durante toda a minha vida”, disse.

Apesar de ter informado não ser dono da Mestra Administração e Participações, que oficialmente é dona da casa, disse ser administrador da empresa, embora não recebesse nada por isso. “Queria manter funcionários do nível do engenheiro Écio [o único sócio remanescente da Mestra]. Simplesmente estava ajudando ele e outras pessoas” relatou.

Cartório - No depoimento, o dono da Faculdade Padrão não deu detalhes claros sobre por que não registrou a casa em seu nome, mas sim em nome da Mestra. “Comprei a casa como administrador dessa empresa. Sou responsável por qualquer erro ou acerto”, disse. Ele também não apresentou razões que explicassem por que o imóvel foi registrado no município de Trindade, e não em Goiânia, onde está localizada a casa. O Tabelionato Augusto Costa, em Trindade, é de propriedade de um antigo apoiador do PSDB, José Augusto Costa. A escrevente do cartório, Terezinha Alves Rodrigues, é cunhada do deputado estadual Jânio Darrot, pré-candidato à prefeitura de Trindade.

“Nunca fui nesse cartório”, afirmou. “Não conheço o cartório. Simplesmente o interesse para mim é que a documentação chegasse assinada e registrada”.

Walter Paulo também confirmou ter pago 100 000 reais de comissão a Wladimir Garcez, que teria intermediado o negócio. Garcez também foi preso na Operação Monte Carlo por seu envolvimento com o grupo de Cachoeira. O empresário negou qualquer irregularidade na compra do imóvel e disse que não manteve contato com o governador durante a transação. A negociação teria sido feita com Lúcio Fiúza, assessor de Perillo. “O negócio foi feito de forma legal, sempre intermediado pelo senhor Wladimir Garcez, sendo que para efetuar o pagamento exigi que fosse feito diretamente ao proprietário do imóvel ou a seu representante”, disse.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

05/06/2012 às 14:57

Lula foi longe demais na defesa dos mensaleiros; mais um documento evidencia o ódio cego e o ataque às instituições

VEJA Online já revelou que o PT tinha redigido um documento estabelecendo aqueles que eram os alvos do partido na CPI do Cachoeira. Os patriotas queriam deixar os bandidos de lado — até porque alguns são aliados, não?, companheiros dos companheiros — para atacar o Judiciário, a Procuradoria-Geral da República e a imprensa. Agora, um novo documento sai das catacumbas: O PT CHEGOU A REDIGIR A REPRESENTAÇÃO CRIMINAL CONTRA ROBERTO GURGEL, PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA. Um dos dois assessores que redigiram o texto trabalha para Jilmar Tatto (SP), líder do PT na Câmara; o outro, para o deputado Odair Cunha (PT-MG), relator da CPI, que tem como tarefa principal na condução dos trabalhos a isenção. Leiam reportagem de Daniel Pereira e Gabriel Castro.

*
Desde que os integrantes da CPI do Cachoeira decidiram rejeitar a convocação do procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, em 15 de maio, arrefeceu a ofensiva petista contra o chefe do Ministério Público. A convocação do procurador era, na verdade, uma manobra de radicais para comprometer o responsável por defender a condenação dos mensaleiros no julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. A ofensiva se apoiava em críticas sobre a atuação de Gurgel diante dos dados obtidos pela Operação Vegas da Polícia Federal, que investigou a quadrilha de Cachoeira. E contou com o apoio de ninguém menos do que Fernando Collor para tentar desmoralizar o chefe do MP. Documentos obtidos pelo site de VEJA deixam claro até onde os petistas chefiados por Lula e José Dirceu - justamente o chefe da quadrilha do mensalão - estavam dispostos a chegar: pedir a investigação criminal contra Gurgel. O texto, que fala em “crime de responsabilidade”, tem data de 13 de maio e traz o indelével DNA do PT.

A assinatura digital do documento revela os autores da representação: o assessor jurídico Alberto Moreira Rodrigues, lotado na liderança do PT na Câmara - subordinado, portanto, ao líder Jilmar Tatto - e Rebeca Albuquerque, chefe de gabinete do deputado Odair Cunha (PT-SP), relator da CPI do Cachoeira. Rodrigues também já trabalhou no escritório de Claudismar Zupiroli, advogado eleitoral do PT.

Foram redigidos dois documentos: uma nota técnica, para consumo interno, e a representação propriamente dita. Esta é direcionada ao presidente do Senado, José Sarney. Legalmente, a Casa tem a prerrogativa de investigar o procurador-geral da República. “Além de omitir-se no cumprimento de seus misteres constitucionais, o chefe do Ministério Público ou sua subprocuradora-geral retiveram o inquérito nos escaninhos do Ministério Público, impedindo que a Polícia Federal desse continuidade às investigações e abortasse, num tempo mais reduzido, a sangria que a organização criminosa promovia contra os cidadãos e as instituições da República”, diz o documento, mencionando também a subprocuradora Cláudia Sampaio, mulher de Gurgel.

A conclusão radical é clara: “Face ao exposto e tendo-se demonstrado que o procurador-Geral da República, ora representado, omitiu-se no desempenho de seus misteres constitucionais (…), é a presente representação para que o Senado Federal, nos limites da sua competência constitucional, proceda à abertura do competente procedimento de apuração das responsabilidades acima denunciadas e, ao final, aplique ao representado as penalidades compatíveis com a omissão legal e constitucional aqui delineada”.

Recuo
No lugar da assinatura, há apenas: “Sicrano de Tal, deputado federal - PT/… ou Sicrano de Tal, senador da República - PT/…”. Dois dias depois da elaboração do documento, entretanto, a CPI do Cachoeira rejeitou a convocação do procurador-geral, aprovando apenas o pedido de explicações por escrito. O clima demonstrou-se contrário aos ataques ao procurador. A ofensiva petista, ou pelo menos o braço visível dela, foi abortada.

A liderança do PT na Câmara confirma a existência do documento. O líder Jilmar Tatto está em viagem oficial à China. O líder em exercício do PT na Câmara, Elvino Bohn Gass (RS), justificou a elaboração do material: “Os documentos da bancada são os assinados pelo líder. Se o assessor escreve, é um documento qualquer e só tem valor depois que é assinado pelo líder”, tergiversa. “Não houve nenhuma orientação política a esse respeito”.

O PT e a CPI - Reportagem de VEJA desta semana revela a existência de um documento preparado por petistas para guiar as ações dos companheiros que integram a CPI do Cachoeira. Consta do roteiro uma lista de alvos preferenciais do PT, entre eles Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), e Roberto Gurgel, procurador-geral da República.

O guia de ação produzido pela liderança petista, ao qual VEJA teve acesso, não deixa dúvida sobre as reais intenções do grupo mais umbilicalmente ligado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os alvos são os oposicionistas, a imprensa e membros do Judiciário que, de alguma forma, contribuíram ou ainda podem contribuir para que o mensalão seja julgado e passe, portanto, a existir oficialmente como um dos grandes eventos de corrupção da história brasileira - e, sem dúvida, o maior da República.

Trecho da representação que o PT preparou contra o procurador-geral da República

Trecho da representação que o PT preparou contra o procurador-geral da República

Por Reinaldo Azevedo

 

05/06/2012 às 6:35

Petistas tentam negar a criação dos “Protocolos dos Sábios do PT”, mas são miseravelmente desmentidos pelos fatos! Mais uma trapalhada estrelada por Lula, o Guia “Jenial” do partido do Jilmar Tatto. Ou: matando a cobra e mostrando o pau… e a cobra!

Flagrados numa conspirata óbvia, petistas tentam negar as digitais num documento que evidencia a intenção deliberada de criminalizar o Judiciário, a Procuradoria-Geral da República e a imprensa. Mas vocês estão aí para espalhar a verdade dos fatos. Nada além da verdade!

Na edição da VEJA desta semana, reportagem de Daniel Pereira demonstra que a cúpula do PT preparou um documento com aqueles que eram seus alvos do partido na CPI do Cachoeira: além de políticos da oposição (é de rigor!), estão na lista a imprensa, o Judiciário — na pessoa do ministro Gilmar Mendes, do STF — e o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Desde o primeiro momento, pois, os petistas estavam pouco se lixando se iam ou não caçar alguns corruptos que atuavam na administração federal e nos estados. O objetivo nunca foi esse! Até porque, convenha-se, eles já demonstraram que não têm nenhuma dificuldade de princípio em conviver com pessoas de, como posso chamar?, “moral não-contabilizada”. Ao contrário até!

Tudo aquilo que aos outros pode ser condenável ou indecente assume a condição de novo farol dos costumes quando praticado por um “companheiro”. Escolham os crimes contra o erário e a administração pública, de A a Z, e será possível encontrar companheiros praticando-os alegremente. Como são quem são, enquanto afrontam artigos em penca do Código Penal, saem acusando seus adversários de corruptos. Não é que estes não possam eventualmente ser gente de má índole — às vezes, são mesmo. O diabo é que, como diria uma das personagens citadas por Padre Vieira no “Sermão do Bom Ladrão”, certos petistas parecem querer acabar com todos os ladrões do mundo para roubar sozinhos…

É um escárnio! Uma banda — ou um bando — do petismo, sob a inspiração de Lula, quis usar a CPI do Cachoeira — isso está documentado e ficará, podem apostar, tudo ainda mais claro! — para dar um rapa nas instituições e, assim, proteger mensaleiros. Isso chegou a ser uma interpretação deste escriba tão logo o movimento se desenhou, lá no comecinho. Mas, depois, tornou-se uma confissão de Rui Falcão, presidente do PT, em vídeo já tornado célebre. O que não se tinha claro e provado até a edição de VEJA desta semana é que a farsa tinha sido meticulosamente preparada. Bem, minhas caras, meus caros, a gente tem de reconhecer mérito a quem tem méritos, certo? O PT É PROFISSIONAL NAQUELAS ARTES EM QUE COLLOR E PC FARIAS ERAM MEROS AMADORES!

Ontem, a canalha da rede financiada com dinheiro público tentava desesperadamente negar a evidência dos fatos. Reportagem do mesmo Daniel Pereira, em parceria com Gabriel Castro, encarregou-se de recolocar as coisas no seu devido lugar. Vocês sabem: ladrões de dinheiro público roubam também a reputação alheia e até os pingos dos “is”. Mas a gente vai e põe de volta. Desta feita, quem resolver exercer seu “lado Jobim” foi Jilmar Tatto (SP), o líder do PT na Câmara. Pois é… Aí é preciso matar a cobra e mostrar o pau… e a cobra! Informam os repórteres o que segue.

Num esboço de reação à reportagem, o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), resolveu negar os fatos: “VEJA fala de um documento do PT, mas não está assinado, é apócrifo”, disse ele à Folha de S.Paulo. Tatto mentiu. E quem prova isso? Jilmar Tatto.

Ouvido por VEJA antes da publicação da matéria, ele confirmou que o material havia sido produzido para o uso dos parlamentares petistas na Comissão Parlamentar de Inquérito. “Todos os servidores da liderança do PT na Câmara e dos gabinetes dos 84 deputados estão à disposição do partido na CPI”, disse.

O registro eletrônico do documento mostra, de forma incontornável, os responsáveis pela elaboração do manual: Luiz Fernando Liñares e Rebeca Albuquerque. Os registros oficiais confirmam que ele trabalha na liderança do PT no Senado e ela é a chefe de gabinete de Odair Cunha, o deputado petista que é relator da CPI do Cachoeira. Tatto sabia de onde veio o documento que oficializou a estratégia malsucedida do partido na CPI. Mas preferiu mentir. Ficam, então, reestabelecidos os fatos.

No destaque, janela do sistema operacional mostra os nomes dos autores do arquivo que instrumentaliza a CPI do Cachoeira

No destaque, janela do sistema operacional mostra os nomes dos autores do arquivo que instrumentaliza a CPI do Cachoeira

Procurada nesta segunda-feira, a assessoria de Jilmar Tatto reafirmou as declarações dadas por ele à Folha de S.Paulo. Mas adotou uma interpretação diferente, segundo a qual o petista apenas desmentiu, ao jornal, ter ordenado pessoalmente a produção do documento. O líder do PT está em viagem à China, incomunicável.

Manual
O guia de ação produzido pela liderança petista, ao qual VEJA teve acesso, não deixa dúvida sobre as reais intenções do grupo mais umbilicalmente ligado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os alvos são os oposicionistas, a imprensa, o Ministério Público e membros do Judiciário que, de alguma forma, contribuíram ou ainda podem contribuir para que o mensalão seja julgado e passe, portanto, a existir oficialmente como um dos grandes eventos de corrupção da história brasileira.

O documento foca em especial Gilmar Mendes, que Lula tentou constranger, sem sucesso, em sua cruzada para adiar o julgamento do mensalão, conforme mostrou reportagem de VEJA da semana passada. São dedicados a Mendes quatro tópicos: ‘O processo da Celg no STF’, ‘Satiagraha, Fundos de Pensão, Protógenes’, ‘Filha de Gilmar Mendes’ e ‘Viagem a Berlim’. São todas questões já levantadas pelos mensaleiros e seus defensores e que, uma vez esclarecidas, se mostraram fruto apenas do  desejo de desqualificar um integrante do STF que os petistas consideram um possível voto contra os réus do mensalão.

Reproduções de páginas do Senado confirmam: Luiz Fernando Liñares é funcionário da liderança do PT no Senado e Rebeca Albuquerque, do gabinete do deputado petista Odir Cunha, relator da CPI

Reproduções de páginas do Senado confirmam: Luiz Fernando Liñares é funcionário da liderança do PT no Senado e Rebeca Albuquerque, do gabinete do deputado petista Odir Cunha, relator da CPI

Encerro
Algumas pardalocas esvoaçantes saíram por aí a declarar: “Esse documento não existe! Esse documento não existe”. Pois é… Existe! Ô revista incômoda esta, não? Que mania de estar obsessivamente a serviço do país e dos leitores! Na semana passada, as lambanças de Lula, tentando intimidar o Supremo; nesta, a evidência de que estava tudo nos “protocolos”. Aonde o Brasil vai parar assim?

Ainda acabará virando uma… República!!!

Texto originalmente publicado às 5h01

Por Reinaldo Azevedo

 

05/06/2012 às 6:15

A “Operação Esmaga-Marta” mostra à senadora o que é ser alvo do petismo e ter a reputação moída

A senadora Marta Suplicy (PT-SP) está vendo de perto o que é ser alvo da máquina de moer reputações do petismo. Ela só conhecia o outro lado, o de quem ataca. E toma pancada de todo lado, como quem tivesse jogado pedra na cruz. A Folha de hoje publica um artigo estupefaciente de Cláudio Gonçalves Couto, que é “cientista político, professor do curso de Administração Pública da FGV-SP”, segundo o pé biográfico que aparece no jornal. Segue o seu texto em vermelho. Lá vou em azul.

Se tudo der errado na campanha de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo, culminando em sua derrota, o PT já sabe sobre quem descarregar a culpa.
Se tudo der certo e Haddad for eleito prefeito, o PT também já sabe a quem espezinhar. Nos dois casos, essa pessoa é Marta Suplicy.

Marta tinha uma única saída para não se dar mal: apoiar Haddad com entusiasmo, como quer Lula.  

É evidente o inconformismo da ex-prefeita com seu preterimento na escolha da candidatura petista, para a qual se via como uma escolha natural — tal qual a de Aécio Neves para o PSDB, no pleito presidencial, na visão de Fernando Henrique.
Marta, contudo, assemelha-se pouco a Aécio, no que concerne a esta “naturalidade”. Está para a Prefeitura de São Paulo e para o PT mais ou menos como o ex-governador José Serra está para a Presidência e o PSDB.
Em ambos os casos, os postulantes veem-se como o nome óbvio, não reconhecem correligionários à sua altura e pensam mais em seu projeto pessoal do que no do partido.

Com o devido respeito a Couto, que deve ser um homem honesto, o pensamento é vigarista. Fica por provar, além do opinionismo, por que Aécio é um candidato natural (tese que ele adota) e por que Serra e Marta não seriam. Como está a buscar paralelos, entende-se que a naturalidade, no caso do PT, estaria, então, com Fernando Haddad. A gente percebe que ele não tem simpatia pelos dois nomes “não naturais”. Com quais categorias intelectuais opera? Com as da futrica e da fofoca, dando relevo aos supostos maus bofes dos dois políticos: “não reconhecem correligionários à sua altura e pensam mais em seu projeto pessoal do que no do partido”. Suponho que, nessa formulação, Haddad e Aécio são destituídos de ambições pessoais e só pensam no projeto partidário, certo?  

A semelhança, porém, acaba por aí. Não só porque se trata de disputas de tamanho distinto, mas também porque PT e PSDB são muito diferentes.
A semelhança não acaba aí porque nunca começou.

Se no PSDB o serrismo conseguiu impor-se à máquina partidária para mais um malogro em 2010 (e continua a alentar nova aventura para 2014), no PT o peso da organização partidária se fez sentir na definição da disputa.
Couto não gosta de Serra, a gente vê. Num texto destinado a analisar o embate no PT, ele ataca o político tucano. A afirmação de que “continua a alentar nova aventura em 2014″ é obviamente mentirosa, peça de propaganda do petismo ou de coisa ainda pior. Não sei qual é a dele. Sei que não se sustenta. Mas atenção para o triplo salto carpado hermenêutico-dialético que vem agora.

Alguém replicará que é o peso do caciquismo lulista. Há um erro em tal avaliação.
Embora a unção de Lula tenha sido crucial na opção do PT por Haddad, ela opera em contexto organizacional e com significado muito distintos daqueles do PSDB. O PT é um partido em que a lógica da organização tende a prevalecer sobre caciquismos.
A unção de Lula funciona na indicação do candidato porque se coaduna com os interesses mais amplos e de longo prazo da organização.

Que coisa! Serra se fez candidato em 2010, sem prévias, porque Aécio Neves desistiu da corrida. Qualquer pessoa um pouquinho mais bem informada do que Couto sabe que o agora senador mineiro não era candidato pra valer à Presidência. E, a depender do andar da carruagem, é bom o tucanato ir pensando num nome alternativo — que não é Serra obviamente. Na disputa de agora, na cidade de São Paulo, os tucanos realizaram prévias. E prévias de verdade, como se viu. Mas “caciquista”, segundo este iluminado pensador, é o PSDB, não o PT!!!

E por que não? Ele dá a resposta: “A unção de Lula funciona na indicação do candidato porque se coaduna com os interesses mais amplos e de longo prazo da organização.” Entenderam? Lula é o grande “intérprete” da organização, conhece as suas vontades, sabe a forma do futuro, tem domínio sobre os seus “interesses mais amplos e de longo prazo”. Couto não é mesmo um gramsciano, que entendia ser o partido o “moderno príncipe”. Nada disso! O príncipe, para este pensador, é o demiurgo!

Assim, no triplo salto carpado hermenêutico-dialético deste gigante, o PSDB foi caciquista ao não sê-lo, e o PT, ao sê-lo, não o foi, compreenderam? Ao realizar prévias, o PSDB foi autoritário e caciquista. Ao atropelá-las, o PT demonstrou aquela vocação democrática resumida tão bem pela… vontade de Lula!!! Acompanhar as suas aulas deve ser mesmo uma grande aventura intelectual.

Coisa idêntica ele deve pensar sobre o PT de Recife. Por lá, as prévias chegaram a ser realizadas, o atual prefeito, João da Costa, venceu, mas Lula não aceita e quer Humberto Costa como candidato. E ele pode, certo, Couto? Afinal, “o contexto organizacional” permite qualquer coisa.

Em tal cenário, o beicinho de Marta, se mantido, tenderá a lhe causar um ostracismo interno. Organizações tão densas não costumam deixar barato esse individualismo.
Couto acha o PT uma “organização densa” e ameaça Marta com o “ostracismo” porque ela fez “beicinho”. Pior de tudo: teria cometido um pecado terrível! Foi muito “individualista”, coisa que, sabem vocês, não fica bem no petismo, esse partido de homens coletivistas…

A Folha chame quem quiser para escrever artigos. Não tenho nada com isso. Como leitor, digo se gostei ou não. Eu entendo que jornais e revistas devem recorrer a colaborações de “pensadores” e “cientistas políticos” quando estes produzem uma reflexão que opera com categorias e modelos de precisão que podem, eventualmente, estar além do instrumental manejado habitualmente pelos profissionais da redação (jornalistas formados ou não). Muito melhor na própria Folha eu já encontrei mais de cem, como naquele iê-iê-iê.

Agora vocês me dão licença que ficarei aqui a refletir sobre o caciquismo que não é porque é e é porque não é…

Por Reinaldo Azevedo

 

05/06/2012 às 3:57

Delta entra com pedido de recuperação judicial em tribunal do Rio

Na VEJA Online:
A construtora Delta entrou nesta segunda-feira com pedido de recuperação judicial no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro para evitar falência. Na proposta de recuperação do processo, a ser aprovada por uma assembleia de credores , está a renegociação do valor das dívidas e também dos prazos para pagamento. Segundo a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, uma assembleia de credores terá de aprovar o pedido de recuperação judicial da empresa.

A Delta é suspeita de ter como sócio oculto o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso desde fevereiro acusado de comandar uma rede de jogos ilegais. A empresa serviria para lavar dinheiro obtido por Cachoeira com a exploração de jogos ilícitos, de acordo com investigações da Polícia Federal. A Delta, a empresa que mais tem contratos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), corre o risco de ser declarada inidônea pela Controladoria Geral da União (CGU), o que a deixaria impedida de assinar contratos com a administração pública.

Venda
Na semana passada, a holding J&F, que controla o frigorífico JBS, que estava em negociação para a compra da empresa, desistiu da operação. A holding alegou que “o prolongamento da crise de confiança sobre a Delta tem deteriorado o cenário econômico-financeiro da construtora, gerando um fluxo financeiro negativo e alterando substancialmente as condições inicialmente verificadas”.

Por Reinaldo Azevedo

 

05/06/2012 às 3:45

STF confirma quebra nacional de sigilos bancário, fiscal e telefônico da Delta

Por Mariângela Galluci, no Estadão Online:
Em sua primeira decisão individual sobre um tema polêmico, a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitou na noite desta segunda-feira, 4, um pedido da Delta Construções para que fosse suspensa a quebra nacional dos sigilos bancário, fiscal e telefônico da empresa. A quebra dos sigilos havia sido decretada pela CPI do Cachoeira.

O despacho de Rosa Weber, negando uma liminar à Delta, é um péssima notícia para a empresa, que nesta segunda protocolou um pedido de recuperação judicial. A íntegra da decisão da ministra, que tomou posse no Supremo em dezembro do ano passado, não foi divulgada até o fechamento desta edição. Mas no sistema de acompanhamento processual do STF foi incluída a informação de que a liminar foi indeferida. Na ação protocolada na semana passada no STF, a Delta argumentou que a decisão da CPI do Cachoeira não foi devidamente fundamentada. Segundo a defesa, a CPI investiga fatos relacionados à atuação da Delta na região Centro Oeste. Por esse motivo, de acordo com os advogados, a quebra de sigilo não deveria atingir toda a empresa, que atua em mais de 20 Estados. A defesa também alegou que a quebra de sigilos envolveu um período muito longo, de janeiro de 2002 a março deste ano.

Por Reinaldo Azevedo

 

05/06/2012 às 3:43

Irmão de Demóstenes é investigado por conselho

Por Alana Rizzo, no Estadão:
O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) vai investigar o envolvimento do procurador-geral de Goiás, Benedito Torres, irmão do senador Demóstenes Torres (ex-DEM, sem partido-GO), com o grupo comandado por Carlinhos Cachoeira.

A portaria foi publicada no último dia 29. O corregedor nacional do MP, Jeferson Luiz Pereira Coelho, entendeu, após analisar a reclamação disciplinar, que havia elementos suficientes para instaurar uma sindicância e aprofundar as apurações. Segundo o CNMP, a investigação apura se houve tráfico de influência.

Coelho também vai acompanhar os desdobramentos da representação encaminhada por promotores à Corregedoria do MP goiano sobre um suposto esquema de espionagem montado no órgão. Conforme revelou ontem o Estado, membros do Ministério Público denunciaram que um programa de computador oculto permitia acesso livre e irrestritos às máquinas.

Promotores que atuam no combate ao crime organizado e nas investigações relacionadas à Delta Construções em Goiás foram alvo do software espião.

Membros da CPI vão cobrar explicações de Torres sobre o programa espião. O deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP) vai apresentar requerimento para que o procurador de Goiás explique, por ofício, o funcionamento do software e como foi usado. “Os membros do MP são resguardados pela autonomia funcional. Não tem sentido esse tipo de bisbilhotice”, defende o parlamentar.

Autor da convocação de Torres, o deputado Rubens Bueno (PPS-PR) pediu aos técnicos do partido uma análise sobre o software. “Queremos saber quais as intenções para entrar e acompanhar o trabalho dos promotores. É uma denúncia muito grave, ainda mais porque alguns promotores estão investigando a Delta.” O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) vai sugerir que os promotores deponham.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

04/06/2012 às 18:31

Dados o atraso de Lewandowski e o ritmo escolhido para julgamento, Peluso deve deixar tribunal antes de conclusão de julgamento, como quer Lula. E aí?

A demora do ministro Ricardo Lewandowski na entrega da revisão do processo do mensalão — ele dispensou ajuda oferecida pelo presidente do STF, Ayres Britto, e ainda se abespinhou — vai produzir ao menos um efeito certo. Se ele concluir mesmo o seu trabalho na segunda semana de junho e dado o ritmo de trabalho acordado pela maioria dos ministros, o caso se arrastará setembro afora, e Cezar Peluso certamente terá de deixar o tribunal antes da conclusão. Ele pode antecipar o seu voto? Pode, sim! Mas não sei se vai fazê-lo. Se não o fizer, serão dez votos em vez de 11. Como Lula quer Peluso fora, a demora terá rendido ao menos um fruto positivo. Mais: número par no tribunal pode levar a uma situação embaraçosa: um empate em cinco a cinco, hipótese em que o presidente vota duas vezes. A praxe, nesses casos, é que esse voto qualificado seja sempre em benefício do réu.

Por Reinaldo Azevedo

 

04/06/2012 às 17:45

MP do Código Florestal recebeu 700 emendas

Da Agência Brasil:
A discussão de um novo Código Florestal para o Brasil foi retomada nesta terça-feira no Congresso, com a escolha do senador Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC) para assumir a relatoria na comissão especial mista destinada a analisar a viabilidade constitucional, jurídica e admissional da matéria.  O futuro relator se mostra otimista e considera que já na comissão especial será possível construir um texto de consenso entre Senado e Câmara, apesar das divergências entre ambientalistas, ruralistas e governo.

Ele destacou que o alto número de emendas já apresentadas não representa problemas. “Acredito muito na capacidade criativa dos parlamentares. Quem sabe por meio de uma dessas emendas a gente encontre motivo de superação das divergências”, disse o parlamentar.

Para ele, os pontos “mais traumáticos” foram resolvidos quando o projeto de lei do Código Florestal tramitou no Senado e pela MP. Luiz Henrique ressaltou que a presidente Dilma Rousseff preservou, na medida provisória, a maior parte do texto aprovado pelos senadores o que, necessariamente não significa qualquer facilidade. Ao contrário, a matéria foi praticamente toda alterada pelos deputados quando retornou à Câmara para que fosse revista.

A flexibilização do código em vigor aos pequenos produtores e agricultores, inclusive familiares, pode ser uma dessas vantagens na negociação parlamentar. Dilma Rousseff, lembrou o senador, definiu que essas pessoas terão que recompor apenas 5 metros da área ripária (matas ciliares), quando as propriedades tiverem até 1 módulo fiscal. Já nos imóveis de 1 a 2 módulos essa recomposição será de 8 metros e de 15 metros para os que tenham de 2 a 4 módulos.
(…)

Voltei
As coisas não são como parecem. Postos os números em percentagens, problemas de milhares de pessoas podem desaparecer nas estatísticas. A recomposição de vegetação às margens de rios em pequenas propriedades pode inviabilizar o negócio. Reportagem de Felipe Bächtold, na Folha de hoje, traz exemplos concretos. Relembro trecho:

As normas do novo Código Florestal já levam incerteza e preocupação à afastada comunidade rural da Ilha da Paciência, no interior gaúcho. Formado por pequenas propriedades de até 50 hectares, o local precisará ter margens de rios recompostas com vegetação, conforme estabelece a nova lei. Os produtores afirmam que as terras foram desmatadas no início do século 20, época de seus bisavós, e que vão ter que pagar uma conta alheia. Acessível apenas por balsas, a comunidade, na cidade de Triunfo (75 km de Porto Alegre), é uma ilha fluvial com dezenas de pequenas lavouras de arroz e milho e pastos de criação de animais.
Um dos proprietários é Sílvio de Azevedo, 47, que possui cerca de 12,5 hectares. Algumas de suas áreas nas imediações do rio praticamente não têm vegetação. “Se fizerem as margens que estão querendo, daqui a pouco o país vai ter que importar comida. Essas contas eles não chegaram a fazer”, diz o agricultor, ecoando argumento da bancada ruralista no Congresso. Apesar de ter obtido financiamento do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), Azevedo diz que suas lavouras quase não dão lucro. “Se tirar 30 ou 40 metros [nas margens], vão tirar 30% das terras que planto.”
A opinião é recorrente entre os vizinhos. Para Azevedo, que diz não “entender muita coisa” do debate técnico sobre o Código, os governos estão “se lixando” para quem vive no campo. Pela modificação do Código assinada pela presidente Dilma Rousseff na semana passada, pequenos proprietários devem recompor uma faixa de cinco a 20 metros ao longo dos leitos dos rios.
(…)

Retomo
Qualquer código florestal que obrigue a recompor mata em áreas destinadas à produção agropecuária há já uma centena de anos é coisa de aloprados. Fosse o Brasil um país escalpelado, vá lá. Mas este é um país que conserva mais de 60% de sua vegetação original preservadas. Quem no mundo exibe tal marca? Mais: este é um país que decidiu que não vai mais ampliar a sua área plantada. Quem do mundo fez ou faria algo remotamente parecido? Só aqueles que já não têm para onde expandir…

Por Reinaldo Azevedo

 

04/06/2012 às 16:45

Lula e as mulheres que ele esmagou no PT

Lula, na condição de assessor de imprensa de Fernando Haddad, garantiu nesta segunda que a ex-prefeita e senadora Marta Suplicy vai participar da campanha de Fernando Haddad (PT) à Prefeitura porque ela não é de falhar. Aproveitou para anunciar também o engajamento da deputada Luíza Erundina (PSB-SP), ex-petista que já foi prefeita da cidade, obrigada a deixar o partido quando aceitou ser ministra da Administração do governo Itamar Franco. É que ele achava que Itamar não era gente séria o bastante, entenderam? Já Sarney e Collor…

Curioso: Lula, o chefe, que faz e desfaz candidatos no dedaço, anuncia o apoio de duas mulheres que ele ajudou a esmagar dentro do partido.

Por Reinaldo Azevedo

 

04/06/2012 às 16:12

PT terá presidência e relatoria da CPI por uma semana

Por uma semana, a CPI do Cachoeira terá presidente (deputado Paulo Teixeira-SP) e relator (deputado Odair Cunha-MG) do PT. É que o senador Vital do Rego (PMDB-PB) teve de se submeter a um cateterismo na sexta e ficará cinco dias de licença. Na vice-presidência, Teixeira jamais escondeu o intento de transformar a comissão num instrumento para atingir os supostos “inimigos” do seu partido. Vamos ver como se comportará na interinidade.

Por Reinaldo Azevedo

 

04/06/2012 às 14:58

Convocados por Dilma, ministros discutem “PIBinho”

Antes de receber para um almoço oficial o rei da Espanha, Juan Carlos I, a presidente Dilma Rousseff reuniu-se nesta segunda-feira de manhã com ministros para discutir o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Na sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) anunciou um tímido avanço de 0,2% no PIB no primeiro trimestre, abaixo do esperado pelo mercado.

Com isso, acendeu o sinal vermelho do governo: Dilma quer saber o que é esperado para a atividade econômica nos próximos meses. A reunião, que levou uma hora e meia, não fazia parte da agenda do Planalto. A assessoria de comunicação do Palácio confirmou a realização da reunião, mas não deu detalhes sobre o que foi discutido.

Estavam presentes os ministros Guido Mantega (Fazenda), Fernando Pimentel (Desenvolvimento), Miriam Belchior (Planejamento), Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho.

Economistas ouvidos pelo Banco Central (BC) reduziram sua previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, de 2,99% para 2,72%, segundo relatório Focus divulgado no dia. No relatório da semana passada, analistas falaram pela primeira vez em PIB abaixo de 3% no ano.

Solidariedade
Horas depois, a presidente Dilma Rousseff defendeu uma “ação solidária” entre as nações, mas disse que não podem recair sobre os países emergentes o peso da indisciplina fiscal e do descontrole das contas públicas dos governos da Europa. “A retomada do crescimento no nível global não pode depender apenas de medidas adotadas pelos países emergentes”, disse a presidente, que recebeu em Brasília o rei Juan Carlos I, da Espanha.

Às vésperas da Cúpula do G-20, que reunirá nos dias 18 e 19 as principais economias do planeta, Dilma observou que “em momento de crise é fundamental insistir em uma ação coordenada e solidária entre todos os grandes atores da economia mundial, em especial uma ação coordenada e solidária entre os próprios países da Europa”.

Defensor da moeda única na zona do euro, o rei Juan Carlos I afirmou que “a Espanha trabalha com parceiros europeus para estabilizar os mercados, diminuir a dívida pública e fortalecer o projeto do euro”. “O mundo passa por uma crise econômica e financeira que afeta e golpeia com força a União Europeia”, resumiu.

Brasileiros na Espanha
Diante do rei, a presidente Dilma disse ainda que o país tem discutido “soluções reais” para a situação dos brasileiros barrados em aeroportos da Espanha. “Atribuo importância ao fato de que estejamos avançando no encaminhamento de soluções reais para os nossos problemas, por exemplo, para os problemas enfrentados por viajantes brasileiros na Espanha”, informou ela.

Por Reinaldo Azevedo

 

04/06/2012 às 14:29

PR deixa Haddad de lado e vai apoiar Serra em SP

O PR decidiu apoiar em São Paulo a candidatura do tucano José Serra à Prefeitura de São Paulo. Trata-se de uma dificuldade adicional para o petista Fernando Haddad, que vai vendo minadas as possibilidades de coligação. Gabriel Chalita, do PMDB, também estava de olho no partido. A aliança deve acrescentar algo em torno de 1min30s ao tempo do tucano na TV.  Serra já conta com o apoio do PSD e do DEM e com a provável adesão do PP. Os petistas tentam ainda fechar com o PSB e com o PC do B.

Lula, que agora atua também como porta-voz da candidatura de Haddad, saiu-se com esta: “É um pouco estranho porque o PR está no governo federal e, agora, me parece que entrou no governo estadual”. O que há de “estranho” nisso? Vários partidos que apoiam Dilma também apoiam Alckmin em São Paulo. Um caso notório é o PSB. A legenda integra o governo do estado, tem secretaria e tudo, mas deve acabar apoiando Haddad. É bem verdade que será na base da imposição. O partido, em São Paulo, quer Serra, mas Eduardo Campos, governador de Pernambuco e mandachuva do partido, deve impor a aliança com o PT.

Por Reinaldo Azevedo

 

04/06/2012 às 13:55

Gilberto Dimenstein, a Mãe Lucinda das ONGs, resolve massacrar Marta em lugar do PT para forçá-la a entrar na campanha de Haddad

mae-lucinda-e-seus-filhos-em-avenida-brasil

Volta e meia Gilberto Dimenstein gosta de se apresentar como um colunista isento, só preocupado com o bem do próximo, daí ser uma espécie, assim, de Mãe Lucinda de certo tipo de ONGs. Mas pode, eventualmente, agir em parceria com Nilo, o malvadão do lixão, papel que parece ter sido desempenhado a vida inteira por José de Abreu, dada a verossimilhança com que empresta dimensão moral à personagem. A Mãe Lucinda do colunismo produziu um dos mais impressionantes, vá lá, artigos de sua carreira, que reproduzo abaixo, em vermelho. Leiam. Volto em seguida.

Marta é a nova estrela do PSDB?

A pergunta do título é uma das principais questões eleitorais na cidade de São Paulo, especialmente depois que ela recusou comparecer à convenção que formalizou a candidatura de Fernando Haddad. Temos aqui algumas possibilidades.

Marta continua Marta, comandada muitas vezes mais pelas emoções do que pela razão. Ela tinha tudo para se reeleger (afinal, contava a seu favor com boa popularidade e ações positivas em sua administração), mas perdeu, em boa parte, pela sua baixa inteligência emocional. Estaria ela agindo apenas pelo ressentimento de ter sido preterida?

Ela previu que a escolha de Haddad seria o melhor caminho para a derrota. Será que ela não quer desmontar sua previsão?

Outra possibilidade é um cálculo político. Essa é uma eleição dura, Marta tem força na periferia. Sem seu apoio, Haddad, que, por enquanto, é 100% “lula-dependente”, teria ainda mais dificuldades. Será que ela está barganhando um cargo federal, talvez um Ministério, ou a candidatura ao governo de São Paulo?

Seja lá o que for, até esse momento ela conseguiu virar uma estrela do PSDB.

Voltei
Os “Nilos” do lixão estão excitados já desde o título. Ao associar Marta ao Belzebu do petismo, ainda que de forma interrogativa, ele busca forçar a senadora a entrar na campanha de Fernando Haddad. Afinal, petistas já se juntaram e se juntam ao que pode haver de pior na política brasileira (escolham!), mas tucano??? Ah, isso nunca. Vejam o caso de ex-presidentes. Lula acha FHC uma figura desprezível; o Babalorixá só disputaria a Presidência, disse, se fosse para impedir que um tucano voltasse a governar o país. Já Sarney e Collor são aliados de valor…

Dimenstein, a Mãe Lucinda do onguismo,  é um notório apologista de Marta, como sabem leitores e ouvintes. Admite, vejam ali, que ela “tinha tudo para se reeleger” (a palavra nem cabe porque só se fala em “reeleição” em caso de mandatos consecutivos). Ocorre que não é candidata. E por que não é? No melhor estilo stalinista, Dimentein conta assim a história: porque é “comandada muitas vezes mais pela emoção do que pela razão” e porque “tem baixa inteligência emocional”.

Notem que, em nenhum momento, ele lembra que a senadora foi atropelada por Lula. Omite que lhe puxaram o tapete, que Lula entrou pessoalmente na disputa em São Paulo para lhe tirar os apoios que tinha, deixando-a a falar sozinha. A tão proclamada “democracia interna” do partido foi para o diabo. Em Recife, o processo é ainda mais bruto: o prefeito João da Costa venceu as prévias, mas Lula quer que o candidato seja Humberto Costa. Foi o que o Babalorixá vendeu ao governador Eduardo Campos (PSB), que exige essa mercadoria para apoiar Haddad em São Paulo.

Nada disso está no psicologismo barato da Mãe Lucinda da CBN. No último parágrafo, lembra que Haddad ainda é “100% lula-dependente” e que precisa de Marta. Precisa? E a trata como velharia ultrapassada num programa popularesco?

“E você? Virou defensor da Marta”?
“Como assim, Reinaldo? O Dimenstein, um martófilo convicto, agora a critica, e você se tornou defensor da ex-prefeita?” Não! Faz três ou quatro dias, eu a critiquei duramente aqui por causa de uma bobagem que ela disse sobre o caso Gilmar Mendes-Lula. Até fiz uma brincadeira, convidando-a a debater Maquiavel. Não mudei meu ponto de vista a respeito da senadora. Ela não passou a ser uma política do meu gosto porque faltou à festa de Haddad — até porque acho que ela acabará não resistindo às pressões do partido e das Mães Lucindas de certa área da imprensa.

Mas a obrigação de um analista, ainda que seja do tipo que opina, é destrinchar os fatos em vez de omiti-los. Dimenstein não diz em nenhum momento por que Marta teve a reação que teve. Trata-a apenas como aquela que teve um chilique, um ataque de frescura, uma reação destemperada. E psicologiza a reação: teria agido com a emoção, sem inteligência emocional. Só faltou chamá-la de “mulherzinha” e de “dondoca”.

Vocês viram quanto tempo demorou para que Marta passasse a virar saco de pancada da turma “deles”? O recado é simples: “Quer voltar a ser uma de nós? Então faça a coisa certa!”

Por Reinaldo Azevedo

 

Aos meus leitores, que me ensinaram a ser uma pessoa melhor!

Ainda na manhã desta segunda, este texto fica no alto, a pedido de vocês. Abaixo dele, os posts novos.

*
O pão nosso da alegria

Neste mês, o blog que mantenho na VEJA Online completa seis anos. A página é acessada entre 100 000 e 150 000 vezes por dia — com um pico de 234.640. Nesse tempo, já foram ao ar quase 35 000 posts e 1,8 milhão de comentários. Acusam-me algumas pessoas  de obsessivo, e os números não as deixam mentir. Tornei-me dependente do diálogo cotidiano que mantenho com milhares de leitores Brasil afora — e um bom tanto espalhado aí por esse mundão. Se não posso, a exemplo de Mário de Andrade, compor um “Lundu do Escritor Difícil”, sei que não sou muito fácil, especialmente porque gosto de escrever textos longos, de intercalar frases, de coordenar orações subordinadas que se distanciam perigosamente da principal, de explorar recursos já emperrados da sintaxe, de brincar com o meu apreço pela ordem.

Diziam-me nos primórdios: “Assim você não vai longe; internautas não têm tempo e paciência para esse estilo”. Sou grato pela confiança até dos que odeiam a minha página com comovente dedicação. Não raro, o amor pode se distrair e cair presa, ainda que por um lapso, de outros encantos. Mas o ódio é fiel porque dedicado escravo do ressentimento. O amor é altivo e, liberto, esquiva-se às vezes para ser reconquistado. O ódio se oferece todos os dias ao desprezo para se nutrir do bem que não pode alcançar. Aos que amam, tenho de lhes fazer todos os dias a corte com textos novos e primícias, como o enamorado cativo. Os que odeiam me pedem bem menos: basta que eu exista para que tenham razão de ser.

Os que amam não buscam apenas a minha luta cotidiana com as palavras, que o poeta Carlos Drummond de Andrade já chamou de “a luta mais vã”. Também se alimentam da minha paixão, que é a deles, pela divergência, pelo debate, pelo contraditório. E o amor pode ser flamejante e se fazer fogo que arde pra se ver, sim! E recorre a paradoxos para expor todos os relevos de seu contentamento descontente. Escrevo páginas para os que têm sede de justiça e para os que apreciam a lógica com método. Conquistei — digo-o com um orgulho maior do que possa abrigar — leitores que me pegam pelo braço, que são os meus Virgílios nos círculos do inferno e os anjos que me livram de diabólicos ardis, como a alma de Fausto, resgatada pelos céus na hora final. Os meus leitores me ensinaram a ser uma pessoa melhor.

É possível que outro veículo pudesse abrigar o blog ou este texto, mas é a VEJA que faz uma coisa e outra. Nestes seis anos, ainda que a vanguarda do retrocesso tentasse avançar e vencer, clamando, como a Rainha de Copas, “cortem-lhe a cabeça, cortem-lhe a cabeça”, constatei que, nesta revista, a liberdade de pensamento não é mera dama de companhia da história: presente, mas servil; educada, mas obediente; altiva, mas com autonomia não mais do que derivada. Os fundamentos do estado democrático e de direito é que têm a tutela de nossos pensamentos, de nossas utopias, de nossas prefigurações.

Nada excita mais a fúria dos vampiros morais do stalinismo e do fascismo que a liberdade que se exerce sem pedir licença a aiatolás da ideologia. Uns estão convictos de que sua leitura de mundo foi alçada à condição de uma teologia que não pode ser confrontada. Outros entendem que ganharam nas urnas o direito de solapar os fundamentos daquilo mesmo que lhes deu expressão: as garantias democráticas. Satanizam, então, a divergência e a convicção alheia como expressões do sectarismo, do preconceito e do ódio. Atribuem a seus adversários aquilo que eles próprios prodigalizam. Quantas vezes já não fui acusado de “intolerante” não porque excitasse a fúria de eventuais algozes de meus adversários de pensamento, mas porque, ao discordar de uma falsidade influente vendida como verdade, desafinei o coro dos contentes.

Escrevi em 2006 um artigo para o Globo em que citava uma epígrafe que está na edição inglesa (Penguin Books)  do livro “The Captive Mind”, do poeta polonês Czeslaw Milosz, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1980. Relembro-a aqui. É um ditado ou, talvez, um aforismo espichado, atribuído a um velho judeu da Galícia: “Quando alguém está 55% certo, isso é muito bom e não há discussão. Se alguém está 60% certo, isso é maravilhoso, é uma grande sorte, ele que agradeça a Deus. Mas o que dizer sobre estar 75% certo? Os prudentes já acham isso suspeito. Bem, e sobre estar 100% certo? Quem quer que diga estar 100% é um fanático, um facínora, o pior tipo de velhaco”.

Os que se arvoram em donos do pensamento tentam nos fazer duvidar de nossas convicções não porque tenham os melhores argumentos ou porque dotados de uma razão científica superior, que desmoraliza nossos preconceitos ou nossas impressões, mas porque dominam o que chamo “aparelhos sindicais do pensamento”. Ainda que os fatos e a verdade da ciência possam estar do nosso lado, tentam se impor porque supostamente mais humanistas do que nós, mais justos do que nós, mais sonhadores do que nós, mais bondosos do que nós, mais “amigos do povo” do que nós.

Há quase três meses, as harpias do oficialismo mais subserviente, da imoralidade mais chã, da prepotência mais rastaquera têm exibido as suas garras financiadas para tentar intimidar o jornalismo independente, que não deve vassalagem aos donos do poder, que está comprometido com os fatos, que busca a verdade, anseio de milhões de pessoas, ainda que uns poucos não queiram. São prestadores de serviço que se disfarçam de jornalistas; amantes do dinheiro vivo que se alimentam de ideias mortas; reputações que encontram no limo a justa recompensa moral por sua vileza intelectual, pelo baixo propósito de seus anseios, pela estupidez falastrona de suas predições. Trata-se, em suma, de uma variante do poder arbitrário formada por gente paga pelo erário para assediar moralmente o jornalismo e os jornalistas que estão comprometidos com os fatos e com o conjunto de valores que definem o estado democrático e de direito.

É claro que meu blog não poderia escapar ao radar desses seres trevosos. Na periferia do pensamento, não raro ignorados pela relevância, esmagados pela própria pequenez, gritam, sem que possam apontar um só texto que justifique a sua inútil histeria: “Vejam como ele odeia em vez de debater! Cortem-lhe a cabeça!”. Fazem-no sem contestar uma só das teses ou das evidências que apresento, exibindo uma assombrosa ignorância e excitando, eles sim, uma súcia de outros ignorantes e truculentos, que tentam transformar a vulgaridade, o baixo calão, a ignomínia e a ofensa em categorias de pensamento. São os zumbis de um passado que tenta não passar. Mas sabem que já morreram.

Em outubro de 2008, a Editora Record convidou-me para lançar um livro com uma coletânea de artigos do blog, que resultou em “O País dos Petralhas”, que vendeu mais de 50 000 exemplares. Em 2010, foi a vez de “Máximas de Um País Mínimo”, um livrinho de frases, que chegou à marca dos 20 000. Acabo de assinar um contrato para fazer “O País dos Petralhas II”. Ainda não sei se o subtítulo será “A Luta Continua” ou “O Inimigo agora é o Mesmo”, parafraseando, pelo avesso, o  “Tropa de Elite II”. Nos mais de 400 (!) artigos do Volume I — e assim será no II —, o debate de ideias, o exercício da divergência, o prazer da discordância.

Quero dizer à vanguarda do atraso que ela nem avança nem vence. É de Rosa Luxemburgo, uma socialista intelectualmente honesta dentro do seu equívoco — e isso quer dizer “ingênua” —, uma das frases que tomo como divisa: “Liberdade é, apenas e exclusivamente, a liberdade dos que pensam de modo diferente”. Rosa Luxemburgo esfregou a frase nas fuças de Lênin e Trotsky ao perceber que o primeiro ato dos facinorosos travestidos de libertários seria golpear a Assembleia Constituinte.

Não, não, caras e caros! Não tomei borrachada nas ruas em defesa da democracia nem me expus tão cedo a riscos consideráveis para que agora intolerantes viessem a cobrar caro por aquilo que a Constituição (que eles se negaram a homologar) me dá de graça: o direito à divergência e à verdade. A verdade que quero não é patrocinada pelo estado nem definida por comissário com atestado de pureza ideológica.

Quero a verdade precária do suceder dos dias.
Quero a verdade eterna reforçada pelas verdades novas.
Quero a verdade que nasce do exercício da liberdade.
A liberdade é o “Pai Nosso” do civilismo, o pão nosso da alegria!

Por Reinaldo Azevedo

 

da coluna  Direto ao Ponto, de Augusto Nunes:

Os milagreiros que prometeram ao sertão as águas do São Francisco só apressaram a transposição da seca para as cidades

Em março de 2004, no comício de lançamento da campanha Cresce, Nordeste, o presidente Lula prometeu inaugurar em meados de 2006 a transposição das águas do Rio São Francisco. “Muitas vezes a coisa pública foi tratada no Brasil como se fosse uma coisa de amigos, um clube de amigos, e não uma coisa pública de verdade”, desandou na discurseira o enviado pela Divina Providência para materializar o sonho de D. Pedro II e acabar com a seca nos sertões.

Em dezembro de 2010, depois de incontáveis adiamentos, o maior dos governantes desde Tomé de Souza jurou que as obras só não ficariam prontas em 2012 se ocorresse uma reedição do dilúvio. A chuvarada bíblica que não veio decerto teria produzido menos estragos que a ação conjunta de governantes ineptos, empreiteiros insaciáveis e intermediários corruptos. Na imagem de Nelson Rodrigues, a imensa constelação de canteiros abandonados tem a aridez de três desertos.

Em fevereiro de 2012, a presidente Dilma Rousseff informou que a inauguração prometida para este ano terá de esperar mais dois. Em 2014, pedirá mais paciência aos brasileiros e empurrará para o fim da década, ou do século, o colossal embuste que vem devorando bilhões de reais desde 2003. Mas o comício não pode parar. “Essa obra vai garantir água para todo o Nordeste”, recitou durante oito anos o candidato a D. Pedro III. “A seca vai acabar”, declama Dilma há 18 meses.

O cinismo dos pais-da-pátria só não é maior que a estupidez das plateias que continuam aplaudindo promessas que não descerão do palanque, registrou a coluna em fevereiro. Nesta segunda-feira, a grande tapeação foi escancarada pela manchete na primeira página da Folha de S. Paulo:NORDESTE SOFRE COM FALTA DE ÁGUA EM ÁREA URBANA.

Como comprova a reportagem de Júlia Rodrigues na seção O País quer Saber, quase todas as prefeituras da região da seca já se renderam ao racionamento. A chuva ainda vai demorar. A sobrevivência de milhões de brasileiros depende de uma frota de caminhões-pipa.

“O sertão vai virar mar”, garantiu Lula em 2005. Passados sete anos, as cidades vão virando sertão.

(por Augusto Nunes)

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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