Partidos de oposição estranham “silêncio ensurdecedor” de Lula sobre acusações de Valério

Publicado em 18/09/2012 21:35 e atualizado em 06/03/2020 08:38
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

Por Gabriel Castro, na VEJA.com:

Os presidentes dos três principais partidos de oposição divulgaram nota nesta terça-feira cobrando explicações imediatas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva depois de VEJA revelar que Marcos Valério, o operador do mensalão, aponta o petista como chefe do esquema. “Estranhamos o silêncio ensurdecedor do ex-presidente Lula, que deveria ser o maior interessado em prestar esclarecimentos sobre fatos que o envolvem diretamente”, diz a nota.

Sérgio Guerra (PSDB), José Agripino Maia (DEM) e Roberto Freire (PPS) se reuniram nesta terça-feira para discutir a reação da oposição após as revelações de VEJA. Em um trecho da nota, o trio exige resposta do petista: ”O ex-presidente já não está mais no comando do país, mas nem por isso pode se eximir das responsabilidades dos oito anos em que governou o Brasil, ainda mais quando há suspeitas que pesam sobre o seu comportamento no maior escândalo de corrupção da história da República”.

Os três partidos prometem ir ao Ministério Público Federal para pedir que a suposta atuação de Lula no mensalão seja investigada. Mas só após o fim do julgamento no STF: “A oposição fará a sua parte e, encerrado o julgamento em curso no STF, cobrará a investigação dos fatos ao Ministério Público”, diz o texto.

A reportagem de capa de VEJA desta semana mostra como o publicitário Marcos Valério atribuiu a Lula o papel de chefe do esquema. O operador do esquema afirma ainda que o caixa do mensalão era o triplo do conhecido até hoje; segundo Valério, o valor movimentado chegou a 350 milhões de reais.

Por Reinaldo Azevedo

 

Mensalão: Banco Rural pagou “cala-boca” a ex-funcionário

Por Hugo Marques e Gabriel Castro, na VEJA.com:
O Banco Rural pagou por dois anos um “cala-boca” para que seu ex-superintendente Lucas da Siva Roque não revelasse fraudes na agência da instituição em Brasília, central de repasses de recursos do mensalão. Roque, que também falou à edição desta semana de VEJA, tinha uma função institucional no banco: a de captação de clientes de grande porte. Até que ficou sabendo de detalhes do esquema e colaborou com a Justiça.

O site de VEJA teve acesso a uma ação que Lucas impetrou na Justiça Trabalhista, em Belo Horizonte, em que ele denuncia sua dispensa “simulada” do banco, sem justa causa, em 2010. Roque disse que, após a demissão, passou a receber 70% do salário em espécie. No cargo, ganhava 23 000 mensais. O “cala-boca” correspondia a 16 000 por mês. 

Roque é o personagem que ajudou a PF a desbaratar o esquema do Rural, apontando para a Polícia Federal onde estavam as caixas de documentos com os saques da SMP&B de Marcos Valério. Segundo a ação impetrada pelos advogados do ex-superintendente, o pagamento de parte do salário e do plano de saúde até junho último foi uma “tentativa de encobrir o arquivo vivo que se tornou o reclamante, um ‘cala-boca’”.

Como prova de que continuou recebendo benefícios do Banco Rural, Lucas exibiu ao site de VEJA um cartão do plano de saúde do banco, que expirou em 30 de junho desse ano. Ele pede na Justiça do Trabalho a imediata reintegração ao emprego antigo e o pagamento de diferenças salariais mês a mês, corrigidas, além de gratificações relativas ao cargo. O ex-superintendente diz que o pagamento era feito mensalmente pela cúpula do Rural. Roque diz que, além de pagar o “cala-boca”, a diretoria do banco tentou forçá-lo a mudar seu depoimento na Justiça. 

Em 2005, ao apontar onde estavam as caixas de documentos, durante a operação de busca e apreensão, ele ajudou a implodir o esquema. “Eles tentaram me orientar, por um freio. Eu falei: ‘Não preciso de orientação de vocês, eu sei o que vou falar’”, diz Lucas. Na Justiça e na PF, no entanto, ele diz que se limitou a responder somente o que as autoridades perguntavam. “Eu não queria ser taxado de dedo-duro e tinha uma certa convicção de que o Ministério Público, o Supremo Tribunal Federal e a Polícia Federal teriam competência de chegar onde chegaram sem eu ter que dedurar”, diz Roque.

O ex-superintendente foi enviado para Brasília em 2003 pelo então presidente do Rural, José Augusto Dumont, que morreu em 2004. Lucas também quer indenização por perdas e danos. Ele diz que nunca se envolveu com o esquema do mensalão, nunca assinou nenhum documento do banco relacionado ao escândalo, mas que toda a sua família sofreu muito, com perdas materiais e sentimentais. “Se eu não tivesse personalidade, teria me suicidado. Com os vexames, as humilhações, eu tinha entrado em depressão. As pessoas gritavam: “Mensaleiro, está rico?’”. 

Resposta
O Banco Rural nega o pagamento dissimulado ao ex-funcionário e diz que nunca tentou comprar o silêncio de Lucas Roque. A instituição afirma ainda que a manutenção do benefício do plano de saúde após a demissão é comum e segue os termos da convenção coletiva de trabalho. 

Por Reinaldo Azevedo

 

da coluna Direto ao Ponto, de Augusto Nunes:

O São Jorge de bordel nem desconfia que farra foi longe demais e a casa pode cair

Em agosto de 2005, num texto publicado no Jornal do Brasil, lembrei que a vida de adolescente em cidade pequena era bem menos divertida antes da revolução dos costumes desencadeada no fim dos anos 60. As moças se casavam virgens, motel só aparecia em filme americano, drive-in era coisa da capital. A esfregação nunca ia muito longe. E também os moços pouco ou nada saberiam de sexo se não houvesse, em qualquer município com mais de 10 mil habitantes, uma zona.

Ninguém chamava pelo nome completo ─ zona do meretrício ─ aquele punhado de casas com uma luz vermelha na varanda, plantadas no difuso território onde a cidade já acabou sem que o campo tenha começado. O mobiliário se limitava à mesa com cinco ou seis cadeiras, um sofá, três ou quatro poltronas e uma vitrola antiga. Às vezes, nem isso. Só não podiam faltar a cama de casal em cada quarto e o quadro de São Jorge na parede da sala.

Bonito, aquilo. As vestes de guerreiro, o corcel colérico, a lança em riste, o dragão subjugado, as imagens beligerantes contrastavam esplendidamente com a expressão beatífica. Todo santo de retrato é sereno, mas nenhum se mete com monstros que soltam fogo pelas ventas. Só um São Jorge de bordel poderia arrostar tamanho perigo com aquela fisionomia plácida  que sublinhava o espetáculo da coragem.

Concentrado no duelo tremendo, o exterminador de dragões não prestava a menor atenção no que acontecia fora do retrato. Na sala, mulheres e fregueses negociavam o acerto que os levaria a algum dos quartos escurecidos pela meia-luz que eternizava o crepúsculo. Deles não paravam de chegar sons muito suspeitos, mas o santo guerreiro nada ouvia. Estava na parede para proteger a zona do meretrício, não para vigiá-la nem convertê-la em convento. Quem luta com dragões não perde tempo com batalhas de alcova.

São Jorge de bordel era chamado naquele tempo todo homem que mantinha a cara de paisagem enquanto desfilavam a um palmo do nariz iniqüidades, bandalheiras, delinqüências e safadezas domésticas. O filho abandonara os estudos e voltava da rua com mais dinheiro, a filha se apaixonara pelo cafajeste do bairro e exagerava na pintura no rosto, a mulher vivia arrastando vizinhos para o quarto do casal, o sobrinho furtava as economias da avó ─ e a tudo seguia indiferente o chefe de família. Como um São Jorge de bordel.

Como um São Jorge de bordel sempre agiu Luiz Inácio Lula da Silva. O advogado Roberto Teixeira nunca lhe cobrou aluguel pela casa onde viveu durante oito anos. O inquilino fez de conta que nem notou. Em 2002, sobrou o dinheiro que faltara a todas as campanhas anteriores. O beneficiário não quis saber como se dera o milagre. Tampouco perguntou quem financiara a milionária festa da vitória na Avenida Paulista.

Instalado no gabinete presidencial, não enxergou as agudas mudanças na paisagem. Bons parceiros como Djalma Bom estacavam na secretária do ajudante de ordens. Entravam sem bater na sala presidencial aliados como Pedro Correia ou Valdemar Costa Neto. Fundadores do PT eram expulsos do partido. Roberto Jefferson ganhava cheques em branco. Contratos milionários engordavam a base alugada. Lula nem conferia rubricas, assinaturas e endossos.

Sílvio Pereira e Delúbio Soares se tornaram clientes assíduos dos palácios, ganharam salas para negociar com a freguesia, assimilaram hábitos de novo-rico. O dono da casa não enxergou o entra-e-sai, não ouviu o ronco do Land Rover de Silvinho, muito menos a barulheira dos jatinhos de Delúbio. Não percebeu que sindicalistas promovidos a diretores de banco agora usavam gravata borboleta, fumavam charuto e davam gorjetas do tamanho dos salários dos tempos difíceis.

Despertado pelo ruído provocado por Waldomiro Diniz, Lula voltou a dormir depois das explicações sussurradas por José Dirceu. Não ouviu o governador de Goiás, Marconi Perillo, assombrado com a desenvoltura dos trambiqueiros aliados que tentavam comprar mais deputados. Não quis ouvir a mesma denúncia repetida por Roberto Jefferson. Não enxergou a expansão do pântano. Não viu as marcas de lama nos tapetes do Planalto.

Numa zona de antigamente, a figura protetora desceria da parede para botar ordem na casa. Num Brasil em decomposição moral, o São Jorge de bordel só quebra o silêncio para berrar improvisos insensatos. Que os outros santos nos protejam.

Passados sete anos, o São Jorge de São Bernardo faz de conta que nem sabe direito o que se passa no Supremo Tribunal Federal. Jura que, em vez de acompanhar o resgate da roubalheira de verdade, prefere gastar o cérebro baldio seguindo as bandalheiras inventadas pela novela das nove. A fila dos condenados aumenta, mas Lula continua fingindo que nada viu, nada ouviu e de nada soube.

Marcos Valério começou a abrir a medonha caixa preta. Pela primeira vez, como registra o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, uma alta patente da quadrilha confirmou que falta alguém no banco dos réus do Supremo. Nem assim o chefe da seita se anima a falar em mensalão. Acha que vai ficar até o fim dos tempos pendurado no retrato na parede.

Não percebeu que a farra na zona foi longe demais e descambou para o terreno da pouca vergonha. Nem desconfia que a casa vai cair.

(por Augusto Nunes)

 

FHC diz que Serra é a “recuperação moral” da política

Por Daniela Lima, na Folha:
Em ato nesta terça-feira (18) com artistas e intelectuais, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) fez um discurso repleto de ataques velados ao mensalão e à corrupção no Brasil para defender a candidatura de José Serra (PSDB) à Prefeitura de São Paulo como sinônimo de “recuperação da moral” na política. ”Serra é o candidato que representa um reencontro do Brasil com a sua história de luta pela democracia. Uma democracia que não é para favorecer a corrupção, mas para favorecer a cidadania”, disse o ex-presidente. Participaram do encontro, em uma sala de cinema na avenida Paulista, reitores de universidades, atores, historiadores e integrantes do governo FHC.

“Não é difícil perceber que vivemos hoje um desses momentos de densidade histórica. Depois de vários anos que o Brasil conquistou a democracia, conseguiu avanços econômicos e avanços socias, essa mesma democracia começa a ser minada por dentro pela falta de crença nela”, afirmou o ex-presidente, no início de sua fala. “E a falta de crença advém da decepção que existe no país de práticas correntes e recorrentes na política. Não preciso me referir a quais”, completou. “O momento vai além do banal, além do usual. Mas nós temos, ao mesmo tempo, uma possibilidade de recuperação. É também o momento da recuperação moral. Isso tem que ser dito”, concluiu.

FHC chamou os participantes a “irem a luta” pela eleição de Serra. O candidato tucano falou depois do ex-presidente. Apresentou um relato do que fez como prefeito e governador e enfatizou que “infelizmente as outras opções [de candidatos] com viabilidade que se apresentam são opções da desarrumação da cidade de uma maneira dramática”. ”Em grande medida, minha decisão [de ser candidato] foi tomada pela responsabilidade. E também por gosto, por prazer. E quanto mais difícil as coisas são, mais tentação eu tenho”, afirmou.
(…) 

Por Reinaldo Azevedo

 

Caio Blinder escreve sobre “O País dos Petralhas II”

Reproduzo post publicado no blog de Caio Blinder sobre “O País dos Petralhas II”:

Primeira Impressão (O País dos Petralhas II)

Antes de tudo, Reinaldo Azevedo é meu amigo. Falar bem ou mal de amigo em público me constrange. E, depois de tudo, eu poderia sair ferrado se me atrevesse a um duelo com o Reinaldo. Ele é muito bom polemista, excelente. Melhor o ferro do Reinaldo naquela gente no poder no Brasil nada varonil e na esgotoesfera e não contra mim, Aquela gente merece, e ainda bem que temos o Reinaldo pontiagudo na tropa de choque.

Não tenho medo de brigas e tenho minhas brigas por aí, mas não sou fanático por briga. Não endosso todas as brigas do Reinaldo brigador (aborto, gays, política americana, “inverno” na primavera árabe e Corinthians), mas endosso sua independência intelectual, sua integridade ética (e falo isto com integral conhecimento de causa, pois ele foi meu chefe na querida, saudosa e finada revista Primeira Leitura) e brilho jornalístico. Eu endosso “O País dos Petralhas II”, a obra que reúne seus textos publicados entre 2009 e 2011 no blog supercampeão e na edição impressa de VEJA.

Também com conhecimento de causa, eu posso assegurar que Reinaldo não tem clones. Ele é capaz daquela inesgotável produção que faz os “coleguinhas” ficarem com inveja ou raiva. Sei, é claro, de muita gente que tem raiva do Reinaldo pela qualidade do que ele escreve e não pelo mero número de linhas. Mas como ter raiva do essencial do Reinaldo? É aquilo que ele destaca na introdução do livro: ”A defesa dos fundamentos da democracia política, das liberdades individuais e da economia de mercado”.

Eu estou um pouco distante, confesso, em termos geográficos e emocionais das desgraças brasileiras, como o petralhismo. Mas o Reinaldo diminui o meu distanciamento e alarga minha raiva. Quero terminar destacando algo muito próximo de mim e que me aproxima intimamente do Reinaldo: a denúncia sem tréguas do antissemitismo e a defesa do estado de Israel (aliás, estamos na virada do ano judaico; que 5773 seja um bom ano!).

Portanto, leitores, ótima releitura do Reinaldo e, para quem não conhece (será que existe esta pessoa no site?), uma primeira leitura essencial.

Por Reinaldo Azevedo

 

Barbosa e Lewandowski, os senhores do tempo. Ou: Dirceu, Genoino e Delúbio e a aposentadoria de Ayres Britto

Não! Joaquim Barbosa não termina a leitura do seu voto nem nesta quarta-feira. Precisará também da quinta — no mínimo. Isso significa que Ricardo Lewandowski deve ocupar toda a semana seguinte. E lá terá ido o mês de setembro. Ayres Britto, que se aposenta obrigatoriamente no dia 18 de novembro porque faz 70 anos, tem, a partir de outubro, mais 21 sessões pela frente.

Então vamos ver.

Não há como José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares não serem julgados por corrupção ativa antes que ele deixe o tribunal. Imaginar que o STF possa usar o resto de setembro, as 14 sessões de outubro e mais as sete de novembro (de que Britto pode participar) só com o Capítulo VI é uma sandice. Não vejo ninguém por ali, nem os suspeitos de sempre, dispostos a se cobrir de tal ridículo.

Esse Capítulo VI (o quarto que está sendo julgado) é o maior da denúncia, segundo a íntegra da ementa publicada. Com ele, 60% pelo menos, indo para 70%, do processo terão caminhado. A rigor, ficam faltando três capítulos.

Mesmo que Joaquim tome mesmo mais duas sessões, e Lewandowski, as três seguintes, há quem assegure haver tempo para concluir a votação em outubro. Ficam faltando a dosimetria e a redação do acórdão. Existe o risco de que o tempo atropele Ayres Britto? É claro que sim!

Acho que Joaquim Barbosa se lembra de que é o próximo presidente do Supremo. Seria impossível conciliar a função com a de relator de um processo com essa complexidade. Caso se licenciasse, o substituto natural seria o vice, Ricardo Lewandowski, que vem a ser o revisor. 

Por Reinaldo Azevedo

 

O Brasil investe em educação um percentual do PIB de Primeiro Mundo e colhe um resultado de Terceiro. É dinheiro que falta? Não! É competência mesmo! Mas não se diga isso na era petista…

Ainda ontem, com o rosto — e, possivelmente, o pensamento — paralisado pelo botox, Carlos Giannazi, candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PSOL (o partido em que Caetano & Chico vão votar no Rio), defendia, num debate, que o governo passe a investir 10% do PIB em educação… É uma boçalidade! As coisas são simples assim: esse dinheiro não existe. Se existisse, dada a atual estrutura, seria o mesmo que jogá-lo pela janela. Aliás, é bem provável que, nessa hipótese, ele fosse mais bem aproveitado.

O Brasil é a sétima economia do mundo e investe na área 5,7% do PIB. É muito dinheiro. Só que é mal aproveitado, e o resultado é pífio. Entre outras razões, há um permanente boicote a todo e qualquer esforço feito em favor da qualidade. Em São Paulo, o então governador José Serra instituiu um sistema de promoção de professores por mérito e de qualificação dos profissionais. A Apeoesp, comandada pelo PT, foi à greve. Opôs-se até mesmo à definição de um currículo mínimo para as escolas. Livros foram queimados em praça pública. Os esquerdopatas querem mais salário, mas recusam qualquer programa que avalie seu desempenho. Os prejudicados são os alunos.

Aí aparecem, então, as soluções miraculosas — as “chalitices” e “mercadantices” da vida, como “escola em tempo integral”, “escola da família”, “escola com tablet”… Só não se fala numa escola com professor capacitado e submetido a uma avaliação constante do seu trabalho, que premie a competência e puna a incompetência, como em qualquer área da vida. Os sindicatos, tomados por petistas e esquerdistas ainda piores, não deixam.

Pois bem. Reproduzo abaixo uma nota publicada na Exame.com. Em relação à porcentagem do PIB, o Brasil investe em educação mais do que muitos países superdesenvolvidos. Mas está lá atrás na fila da qualidade. Leiam.
*
Tramita no Congresso Nacional uma proposta para fazer o volume de recursos para a educação chegar a 10% do PIB nacional. Hoje, o Brasil investe 5,7% — um dos índices mais altos entre os 42 países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a frente de Reino Unido, Canadá e Alemanha, por exemplo. Na semana passada, a organização lançou um relatório sobre os gastos em educação de várias nações. Investir um décimo de toda a riqueza produzida no país deixaria o Brasil em primeiro lugar no ranking, acima da Islândia, que investe assombrosos 7,8% do PIB em educação hoje.

Esse número considera, além dos investimentos nas instituições de ensino, gastos governamentais com bolsas e programas de apoio aos alunos. Apesar do investimento brasileiro ser próximo da média dos países da OCDE, o país se encontra somente em 53º lugar — de um total de 65 — no Pisa, um programa de avaliação da qualidade da educação da mesma organização.

Ou seja, maiores investimentos não necessariamente acompanham, na mesma proporção, uma melhora no desempenho dos estudantes. O Brasil é o 15º que mais investe o PIB na área na lista da OCDE. Os lanternas no ranking foram Indonésia (investimento de 3% do PIB), Índia (investimento de 3,5%), Japão (3,8%), Eslováquia (4,1%) e República Tcheca (4,4%).

Os investimentos em educação de 20 países

 

Por Reinaldo Azevedo

 

“A Queda”, de Diogo: 100 mil exemplares no Brasil e versão italiana em curso

Reproduzo nota da página “Radar”, de Lauro Jardim. Volto em seguida.

Menos de um mês depois de ter sido lançado no Brasil, A Queda, de Diogo Mainardi, começa a fazer carreira internacional. Mainardi vendeu ontem os direitos de sua publicação para a Itália, para a editora Giulio Einaudi. Lá, A Queda sai em 2013. Aqui, já vendeu 100 000 exemplares.

 

Tito com Diogo: a grande obra da vida vivida

Voltei
O Brasil ainda respira. O livro é das melhores coisas publicadas no país em muitos anos. Da vida vivida, Diogo fez uma obra-prima. Ainda devo a vocês um texto mais alentado e cuidadoso sobre “A Queda”.

Poderia ser só a história de uma superação, e o livro já estaria eticamente justificado. Mas é provável que Diogo não o tivesse escrito porque ele é pudoroso demais para se apresentar como um bom exemplo. “A Queda” trata do amor incondicional que humaniza a razão e da razão que instrui o afeto.

Por Reinaldo Azevedo

 

Se José Genoino não parar de tentar me comover, eu ainda acabo chorando de emoção… Ele precisa estudar Aristóteles! Ou: Lágrimas para o tribunal!

Há coisas que são mesmo do balacobaco. José Genoino, que era presidente do PT quando veio à luz o escândalo do mensalão, resolveu trilhar o caminho oposto ao de José Dirceu, apontado pela Procuradoria Geral da República como o “chefe da quadrilha”. O Zé, como a gente sabe, faz o estilo “É preciso endurecer sem perder a dureza”: convoca as forças militantes, quer o povo na rua, encarrega-se ele próprio de vazar suas movimentações de bastidores, embora, em tese, esteja recluso em Vinhedo, só ouvindo o canto dos pássaros. Genoino escolheu outro estilo.

Ainda me lembro de sua entrevista no programa Roda Viva, em 2005. Negou de pés juntos que houvesse algo de errado com o partido — não admitiu nem mesmo a existência de caixa dois. Sim, ao falar de seu passado — foi preso na guerrilha do Araguaia —, chorou.  Ele endurece, mas não perde a ternura.

Agora, leio na Folha que ele se prepara para a prisão. Reproduzo trecho da reportagem de Catia Seabra.

Numa demonstração de que não descarta a hipótese de condenação e até prisão, o ex-presidente do PT José Genoino pediu que sua assessoria jurídica deixasse pronta uma procuração para que sua mulher, Rioco Kayano, pudesse administrar suas contas em caso de detenção. Assessor especial do Ministério da Defesa, Genoino tem direito a aposentadoria pela Câmara de Deputados. Ele afirmou a aliados que tem que se preparar para a possibilidade de prisão em caso de condenação pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão.

Genoino só não fez a procuração porque foi desaconselhado por seu advogado, Luiz Fernando Pacheco. “Essa procuração não foi feita porque eu disse que, se necessário, haveria um momento certo”, disse o advogado. O abatimento de Genoino é alvo de preocupação entre petistas, que tentam reanimá-lo. Já durante o julgamento no Supremo, ele passou um dia na casa do ex-ministro José Dirceu, em Vinhedo (SP). Dias antes, foi prestigiado num jantar oferecido pela presidente Dilma Rousseff.
(…)

Voltei
Chega! Já está bom! Ai, ai… Quando operei a cabeça, em 2006, também tomei providências legais. O prognóstico não era nada bom — felizmente, não cumprido —, e era preciso ter um mínimo de objetividade. Mas, claro, fiz isso ali na reta final de entrar na faca (ou no serrote). Genoino, pelo visto, é mais previdente. Ainda que ele viesse a ser preso, o que é improvável, isso não aconteceria antes do ano que vem, como deve saber seu advogado.

Deixar uma procuração para a mulher não é um processo, é um ato. O advogado redige o documento, e você assina. Ponto! Não é um estado de espírito, um ânimo, uma decisão que vai sendo tomada aos poucos, um caminhar em direção a algum lugar… Mais: é quase tão íntimo quanto sexo: a pessoa não sai comentando isso por aí. Passada a história, vá lá, a gente redige então as memórias.

Genoino está chorando em público, como chorou no programa Roda Viva. E, possivelmente, com a mesma verdade. Ele é acusado de dois crimes: corrupção ativa e formação de quadrilha. Ainda que condenado, dificilmente vai para a cadeia. Isso tudo, lamento a crueza, é conversa mole para tentar cortar o coração dos ministros do Supremo.

Já vivi o bastante para entender o fundo das narrativas. A ideia é esta: “Oh, Genoino, que foi preso durante a ditadura, corre o risco, agora, de ser preso durante a democracia”. Corolário: democracia e ditadura estão sendo, pois, injustas com esse herói. Fato: Genoino foi preso com arma na mão durante o regime militar. Mesmo as democracias têm a obrigação de fazê-lo. Fato na hipótese: se Genoino fosse preso durante a democracia, teria sido (reparem no tempo de verbo que uso) porque tentou fraudá-la.

Genoino precisa estudar um pouco a mimese aristotélica. O drama, como representação da realidade — é preciso tomar cuidado com a palavra “imitação” —, tem de ser verossímil, crível, não pode desafiar o bom senso. Eu, por exemplo, não levei a sério aquelas suas lágrimas do programa Roda Viva. E, como se vê, eu estava certo.

Por Reinaldo Azevedo

 

No dia em que começa julgamento dos políticos, PT decide convocar a sua “massa”; Dilma leu a nota; espero que se lembre de que é também a presidente da MAIORIA QUE NÃO VOTOU NELA!

No dia em que o Supremo Tribunal Federal começou a julgar o núcleo político do mensalão — aquele em que está a trinca José Dirceu-José Genoino-Delúbio Soares —, o PT reuniu a Executiva do partido para convocar uma “reação” da militância. Essa militância, pois, reacionária está sendo chamada a defender a legenda. O item 3 da nota não poderia ser mais explícito:

“Tendo isto em vista, a Comissão Executiva Nacional do PT convoca a militância petista, nossos filiados e filiadas, nossos simpatizantes e eleitores, nossos parlamentares e governantes, para uma batalha do tamanho do Brasil: em cada cidade, pequena, média ou grande, trata-se de obter grandes votações, elegendo vereadores e vereadoras, prefeitos e prefeitas. E fazendo a defesa de nosso Partido, do ex Presidente Lula, de nossos mandatos e lideranças, bem como do legado dos nossos governos,  que melhoraram as condições de vida e fortaleceram a dignidade do povo brasileiro.”

“Defesa do ex-presidente Lula?” De que ameaça tem de ser protegido o Babalorixá? O único risco que ele corre é ser atropelado pelos fatos. Não é a primeira vez que o partido faz essa escolha. Quando explodiu o escândalo do mensalão, em 2005, o PT ficou meio abestalhado num primeiro momento. Quando percebeu que, do matagal da oposição, não saía tucano, empertigou-se, convocou a militância, e o resultado é conhecido.

Agora tenta repetir a pantomima, mas sem o mesmo ímpeto. Outro também é o momento. Lula ainda é uma figura forte, carismática, popular, mas o mito já começa a ceder à realidade. O desempenho do PT nas capitais lembra uma verdade certamente triste para o próprio Apedeuta: ele não faz milagres. Por enquanto, o partido lidera em apenas uma capital — embora seja cabeça de chapa em 17. Seus aliados estão sendo mais bem-sucedidos. Por isso São Paulo é tão importante para o lulo-petismo — muito mais do que para um eventual e ainda improvável dilmo-petismo. Os fiéis de Lula contam conjurar suas forças na cidade. Impossível não é, mas está difícil.

Rui Falcão, informa o Estadão, ausentou-se por três horas, encontrou-se com Lula e voltou. Submeteu a ele a nota. O mandachuva certamente gostou de ver seu nome transformado em, sei lá como chamar… Categoria de pensamento? Marco histórico? Nova era? O PT fez o diabo para que o mensalão não fosse julgado. A cúpula no partido havia, na verdade, prometido a Marcos Valério que o julgamento não daria em nada, que jamais se chegaria aos dias que agora se veem no tribunal. Por isso mesmo, Lula está furioso. Sente-se traído. O principal alvo de seus vitupérios é Joaquim Barbosa. Lula esperava um submisso grato. Está tendo de se haver com um ministro autônomo, que é como deve atuar um ministro do Supremo. E isso lhe é imperdoável.

O Babalorixá de Banânia faltou à aula sobre Montesquieu. “Lá está o Reinaldo mangando da pouca escolaridade — voluntária!!! — de Lula.” Não estou, não! Então tirem Montesquieu daí. Lula faltou ao curso Massinha I de democracia, em que se ensinou que os Poderes da República são e devem ser independentes, embora harmônicos. Na harmonia, como se sabe, seu governo jamais apostou: um Poder, o Parlamento, eles tentaram comprar; o outro, o Judiciário, tentaram confrontar ou aparelhar.

Defendido do quê?
Lula tem de ser defendido do quê? Na rede petralha, na Al Qaeda eletrônica, vemos o espetáculo de ódio e rancor, por exemplo, contra a reportagem de VEJA desta semana, que traz as declarações de Marcos Valério. É bem verdade que, agora, a turma não quer “a fita”. Prefere repetir uma mentira na qual eles próprios não acreditam: “Ah, Valério não falou com ninguém…”. Não???

Consta que a presidente Dilma também leu a nota da Executiva do PT. Ela a terá aprovado? Até naquele trecho em que os “governantes” são convocados a defender o partido — como se governassem apenas de partidários do PT? Ora, Dilma é “a” governante por excelência — inclusive dos brasileiros que não votaram nela.

Espero que a presidente se lembre de que, mesmo no segundo turno, foi maior o número de eleitores que não escolheram o seu nome do que o dos que o escolheram. O colégio eleitoral brasileiro tinha 124 milhões de eleitores naquele ano. Ela obteve 55.752.529 votos. Isso quer dizer que 68.247.471 não votaram nela. Isso em nada altera a sua legitimidade, já que se fez presidente segundo as regras do jogo. Mas a sua legitimidade está em ser a presidente de todos os brasileiros, inclusive da maioria que não sufragou seu nome.

O PT está em transe e agora deu para combater fantasmas. Isso que parece ser um espectro do mal, senhores petistas, é só a lei democrática vista por olhos que a repudiam.

Lula sabe que só existe o julgamento do mensalão porque o golpe que se tramava contra a democracia falhou.

Por Reinaldo Azevedo

 

A Comissão da Verdade dá um golpe no próprio texto que a criou e já pode ser chamada de Comissão da Mentira. Ou: Antevi cada passo da tramoia

Um dos capítulos de “O País dos Petralhas II – O inimigo agora é o mesmo”, o 7º, chama-se “Photoshop na história”. Reúne justamente textos sobre a tal “Comissão da Verdade” e desmonta os mitos de que o país assistiu, entre 1964 e 1985, à luta do Bem contra o Mal. Errado! Nos seus extremos, era a luta do Mal contra o Mal. Felizmente os democratas de verdade conseguiram operar a transição para um regime de liberdades.

Muito bem! Dilma criou a tal da Comissão da Verdade. Existe uma lei que a embasa. Nela — explico tudo abaixo —, está claro de modo inquestionável, insofismável e irrespondível que a comissão teria de apurar violações dos direitos humanos ocorridas a partir de 1946, pouco importando se seus agentes eram de direita ou de esquerda.

O que foi que Tio Rei escreveu aqui? Que dariam um golpe na comissão; que só seriam apurados eventuais crimes cometidos por agentes do Estado a partir de1964 e que as esquerdas não seriam investigadas. Ao contrário! São as heroínas da democracia. Dito e feito! Na mosca! Batata! Ontem, a comissão mandou o texto legal às favas e decidiu que só serão apurados os crimes cometidos por um dos lados. Entenderam? A Comissão da Verdade, tão apaixonada pela democracia, não respeita uma lei aprovada pelo Congresso!!!

Aqui e ali, leio ignorâncias assim: “Todos os crimes cometidos pelas esquerdas foram apurados pelo Regime Militar, e seus autores foram processados e punidos…”. Mentira! Há gente que jamais respondeu a processo e que, ora vejam!, ainda foi indenizada como perseguida pelo regime! No dia 11 de maio tratei das questões relevantes sobre essa lei. Cumpre destacar que, agora ao menos, a dita-cuja ganha a sua real feição: trata-se de uma “Comissão da Revanche”.  Relembro o essencial daquele artigo.
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Dilma nomeou a tal Comissão da Verdade. Haverá uma solenidade com a presença de todos os ex-presidentes para dar posse ao grupo etc. e tal. A presidente, nesse particular, não imita Lula. Procura dar a certas decisões de governo a inflexão de política de estado e se mostrar menos exclusivista e mais tolerante do que o antecessor. Certamente a sua vaidade não rivaliza com a dele porque a de ninguém rivaliza. Não se esqueçam de que, quando Obama se elegeu nos EUA, o Apedeuta quase deu de ombros e sugeriu que inovação mesmo teria sido aquele país eleger um operário… Não sei se vocês entenderam esse particularíssimo ponto de vista… Mas fiz digressão. Volto. Estão nomeados os sete: José Carlos Dias (ex-ministro da Justiça no governo FHC), Gilson Dipp (ministro do STJ e do TSE), Rosa Maria Cardoso da Cunha (amiga e ex-advogada de Dilma), Cláudio Fonteles (ex-procurador-geral da República no governo Lula), Maria Rita Kehl (psicanalista), José Paulo Cavalcanti Filho (advogado e escritor), Paulo Sérgio Pinheiro (atual presidente da Comissão Internacional Independente de Investigação da ONU para a Síria).

(…)
Qualquer historiador, não importa a corrente que abrace ou a ideologia, se tiver uma mínimo de seriedade e não for mero esbirro de partido ou grupo, repudia o próprio fundamento dessa comissão: COM A DEVIDA VÊNIA, SÓ DITADURAS ESTABELECEM VERDADES OFICIAIS DE ESTADO EM MATÉRIA DE HISTÓRIA! Como o Brasil não é uma ditadura, trata-se de um despropósito conceitual somado a outro despropósito aplicado. O problema dessa comissão é que ela já nasce de uma mentira inserida em sua própria redação, como demonstrei aqui em artigo publicado no dia 6 de março.

Vocês já leram, por acaso, a íntegra da lei que criou a Comissão Nacional da Verdade? Quando quiserem, o texto está aqui. Vocês verão por que é importante fazê-lo caso queiram formar um juízo consequente da realidade. Não se esqueçam. Uma das causas daquela crise que alcançou centenas de militares da reserva foram declarações feitas pela ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos), segundo quem a Comissão da Verdade poderia resultar em processos criminais. Não pode!

No dia 2 de março, podia-se ler no jornal O Globo o que segue em vermelho:
O secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão, que também é presidente da Comissão de Anistia, considera que a Comissão da Verdade terá, como primeira missão, justamente a localização de desaparecidos e a identificação dos responsáveis. Depois, vai investigar as demais violações, como mortes e torturas. Numa outra etapa, vai identificar as estruturas da repressão, a cadeia de comando e a colaboração do setor privado com a ditadura.
“Não cabe investigar as ações da resistência. Estavam no direito legítimo de lutar contra a ordem ilegítima e a opressão. A Comissão da Verdade serve para investigar os crimes de Estado. Aqueles cometidos pelo ente que deveria proteger os cidadãos e não persegui-los”, disse Abrão.

Voltei
Errado! Não é o que está no texto que cria a Comissão, e este é o problema das pessoas que estão lidando com esse assunto: aprovar uma coisa e tentar fazer outra. À diferença de certo jornalismo, não escondo documentos; mostro-os. O que diz a lei?
“Art. 1o É criada, no âmbito da Casa Civil da Presidência da República, a Comissão Nacional da Verdade, com a finalidade de examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas no período fixado no art. 8o do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional.”

Muito bem! Ao remeter para o Artigo 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, a lei estabelece que serão investigados casos de 1946 a 1988. Abrão deixa claro que isso é conversa mole. A comissão vai mesmo é se interessar pelo aconteceu a partir de 1964. Vejamos mais.

No Inciso III do Artigo 3º, consta um dos objetivos da comissão, a saber:
“III – identificar e tornar públicos as estruturas, os locais, as instituições e as circunstâncias relacionados à prática de violações de direitos humanos mencionadas no caput do art. 1o e suas eventuais ramificações nos diversos aparelhos estatais e na sociedade;”

Atenção! A versão de que os crimes cometidos pela esquerda não podem ser investigados é mentirosa! A íntegra da lei está disponível. Podem e devem ser investigadas as transgressões aos direitos humanos cometidas nos “diversos aparelhos estatais e na sociedade“. Mas isso também será ignorado.

Notem como Paulo Abrão não precisa nem mesmo de uma comissão para decretar uma verdade falsa como nota de R$ 13!
“Não cabe investigar as ações da resistência. Estavam no direito legítimo de lutar contra a ordem ilegítima e a opressão. A Comissão da Verdade serve para investigar os crimes de Estado. Aqueles cometidos pelo ente que deveria proteger os cidadãos e não persegui-los”.

Há aí mentiras várias e de várias naturezas. A lei, como visto, não limita a apuração aos crimes do estado. As ações terroristas que mataram quase 120 pessoas não eram “meras ações de resistência” nem objetivavam apenas “combater a ordem ilegítima”. Ora, com que isenção se vai estabelecer a “verdade” se o próprio texto da lei é distorcido com uma mentira escandalosa?

Volto à matéria do Globo. Lá também se lê:
Sobre as declarações do general Luiz Eduardo Rocha Paiva, de que deveriam ser julgados supostos crimes cometidos pela esquerda – onde cita a presidente Dilma – Gilney Viana afirmou que o objetivo da Comissão da Verdade não é esse:
“A comissão terá a finalidade de apurar os crimes cometidos pelos agentes do Estado. Os outros (dos grupos de esquerda) já foram apurados, objetos de inquérito e de processos judiciais. As pessoas cumpriram pena.”

Gilney é coordenador-geral do Projeto Direito à Memória e à Verdade da Secretaria de Direitos Humanos. Rocha Paiva, como sabem, fez tais declarações numa entrevista concedida à jornalista Miriam Leitão, excelente e isenta quando trata de economia.

Só para esclarecer: “julgado” não será ninguém, de lado nenhum. O general defendeu que os casos envolvendo a esquerda também fossem apurados. Não! Não é verdade que todas as pessoas envolvidas com os atos terroristas foram punidas. De todo modo, essa é uma falsa questão, que trai uma intenção: LEVAR AO BANCO DOS RÉUS as “pessoas do lado de lá”, e não apenas restabelecer “a verdade”.

Lei da Anistia
Então vejam:
1- Não é verdade que a lei que criou a Comissão da Verdade limite a apuração aos crimes cometidos a partir de 1964, mas assim será feito — contra o texto;
2- não é verdade que a lei que criou a Comissão da Verdade limite a apuração a crimes cometidos pelo estado, mas assim será feito – contra o texto;
3- não é verdade que a lei que criou a Comissão da Verdade abra brechas para a responsabilização criminal de quem quer que seja, mas é esse o espírito da coisa – contra o texto.
Sobre esse terceiro item, está lá na lei:
“Art. 6o Observadas as disposições da Lei no 6.683, de 28 de agosto de 1979, a Comissão Nacional da Verdade poderá atuar de forma articulada e integrada com os demais órgãos públicos, especialmente com o Arquivo Nacional, a Comissão de Anistia, criada pela Lei no 10.559, de 13 de novembro de 2002, e a Comissão Especial sobre mortos e desaparecidos políticos, criada pela Lei no 9.140, de 4 de dezembro de 1995.”

A Lei nº 6.683 é justamente a Lei da Anistia, cuja plena validade foi declarada pelo Supremo Tribunal Federal.

Eu e muita gente lutamos contra a ditadura para viver num estado democrático e de direito. Os delírios totalitários todos foram derrotados pela democracia. Autoridades do estado, como Maria do Rosário, Paulo Abrão e Gilney Viana não têm o direito, em nome de suas escolhas ideológicas, passadas ou presentes, de aplicar a lei conforme lhes der na telha.

Os nomes
Tenho restrições a duas integrantes da comissão. Sempre que temas dessa natureza vêm à baila, Dilma dá um jeito de confundir a própria história com a história do país, o que não é um bom procedimento. Já fez homenagens a companheiros de luta em solenidades oficiais, ligando-os à construção da democracia, afirmação que nada tem a ver com uma Comissão da Verdade. Eleita e governando segundo o estado democrático de direito, não cumpre à presidente mistificar o próprio passado. Ao nomear aquela que foi a sua advogada para a comissão, é como se fizesse um desagravo a si mesma.

Não entendo o que faz no grupo Maria Rita Kehl, uma psicanalista que, com frequência, põe a razão de lado em nome da militância, nesse grupo. Em recente intervenção no Programa Roda Viva, ela demonstrou um juízo bastante perturbado também sobre o presente. Imagino o que possa fazer com o passado. Afirmou, por exemplo, referindo-se justamente à Comissão da Verdade: “O Brasil é o único país da América Latina que não apurou os crimes da ditadura militar (…)”. Fica parecendo que “ditadura militar” é uma instância única a ter governado o continente, o que é uma besteira. Um dia, dona Maria Rita, será preciso apurar os crimes dos irmãos Castro, de Hugo Chávez, de Rafael Correa, de Evo Morales… A senhora não acha?

Mas entendo… Maria Rita certamente se refere a um país como a Argentina, por exemplo, em que a ditadura não cessa de gerar fatos políticos novos, que servem à pantomima de Cristina Kirchner e seus neofascistas… Países que se negam a transformar história em… história ficam presos ao passado e a candidatos a tiranos do presente. A África do Sul saiu do apartheid sem criar uma comissão para definir a história oficial. Os EUA entraram na era dos direitos civis sem criar um tribunal da história. Já a Argentina, esta sim, criou um instituto só para definir uma versão oficial para os fatos. A Argentina… Aquele país que está indo para o buraco.

quero saber se terão a coragem de apurar os crimes cometidos pelos “aparelhos estatais” e pela “sociedade” — isto é, também os crimes cometidos pela esquerda.

É óbvio que não terão. Afinal, uma “Comissão da Verdade” encontra a sua vocação sendo um “Tribunal da História”. E terá, fatalmente, de mentir. E a maior mentira será trasformar os militantes daqueles grupos de esquerda em herois da democracia — democracia que sempre repudiaram na teoria e na prática.

É incômodo dizer isso? É, sim! Ainda bem que a democracia, que eles nunca quiseram, mo permite!

Por Reinaldo Azevedo

 

O incêndio na favela e a razia jornalística. Ou: Homicida põe fogo em namorado, incendeia favela, mas a culpa é da… Prefeitura!

A imprensa paulistana, já escrevi aqui algumas vezes, fez picadinho da gestão de Gilberto Kassab. É claro que há coisas na Prefeitura que não funcionam bem. Mas outras tantas avançaram bastante. Inútil! Já demonstrei também como essa razia jornalística preparou o caminho de um Celso Russomanno, com sua glossolalia política.

Muito bem! Na favela do Moinho, em São Paulo, o senhor Fidélis Melo de Jesus, de 37 anos, brigou com o namorado, Damião de Melo, de 38. Na luta amorosa dos Melos, quem pagou o pato foram os moradores da favela. Fidélis usou um botijão de gás como maçarico e meteu fogo no companheiro instável, que morreu carbonizado. Só que botou fogo na favela também. Na Folha desta terça, narram Rogério Pagnan, Marina Gama e Pedro Ivo Tomé:

Com apenas três moradores treinados, sem extintores e com hidrantes trancados, o programa da prefeitura para combater incêndios voltou a falhar ontem e não impediu a destruição de cerca de 80 barracos na favela do Moinho, no centro de São Paulo. O fogo, iniciado perto das 7h, deixou um morto, cerca de 300 pessoas desalojadas, paralisou duas linhas de trem da CPTM, interditou o viaduto Engenheiro Orlando Murgel por tempo indeterminado e levou caos ao trânsito. Esse foi o segundo episódio, em menos de 15 dias, em que favelas na capital foram destruídas por incêndios embora tenham o Previn, o plano criado pela prefeitura em 2010. No último dia 3, o fogo destruiu parte da favela Sônia Ribeiro, no Campo Belo (zona sul), berço do programa. A própria Moinho já tinha queimado no final do ano passado. O incêndio de ontem  – o 34º em favelas neste ano – durou quase três horas.
(…)

Voltei
Não há gestão que resista a abordagem assim, dia após dia. Título da reportagem: “Plano da prefeitura volta a falhar e fogo destrói favela”. As palavras fazem sentido. A culpada pelo fogo na favela do Moinho, está claro, é a Prefeitura — de Gilberto Kassab, quem sabe… Fidélis, o que fez torresmo do companheiro, foi apenas a mão que acendeu o maçarico.

Ele, como se vê, não pode ser responsabilizado por nada. A Prefeitura está implementando esses planos de brigadas contra incêndio. Seria interessante saber se há menos ou mais ocorrências agora do que antes. Noto que, se o plano não existisse, então a Prefeitura não poderia ser responsabilizada. Como existe, ela passa imediatamente à condição de culpada. É espantoso! Estupefaciente mesmo! Até porque a Folha só poderia ter estabelecido essa relação de causa e efeito depois de um laudo técnico. Um incêndio naquelas dimensões poderia ter sido evitado com um hidrante ou com uma brigada bem treinada? Especialistas demorariam alguns dias para chegar a uma conclusão. Os três repórteres não precisaram mais do que alguns minutos. Afinal, todos os textos contra Kassab já estão redigidos antes de qualquer ocorrência.  E isso ainda é o de menos.

Há uma nova cultura se plasmando no país — que, não tenham dúvida, nos condena ao atraso eterno. Ninguém é responsável por mais nada. Do Poder Público (lembrem-me, mais tarde, de escrever sobre uma fala de Mitt Romney que está sendo explorada pela turma de Obama) espera-se que dê tudo de graça: casa, transporte, leite, pílula, pílula do dia seguinte, remédio, camisinha, aborto, educação, saúde, cultura, felicidade… A lista só vai aumentando. Em contrapartida, bem…, em contrapartida, nada! Nem mesmo se responsabiliza um maluco que resolve meter fogo no namorado. Afinal, também ele deve ser uma pobre vítima do “plano da Prefeitura” que falhou.

“Ah, o Reinaldo acha que os pobres brasileiros vivem muito bem…” Não! Acho que vivem mal. E continuarão a viver a mal se essa cultura se consolidar. O Poder Público se torna o donatário de benefícios sem fim, e não se cobra dos indivíduos nem mesmo a responsabilidade por seus atos.

É claro que coisas assim prosperam porque há um espírito plasmado nas redações. Essa favela do Moinho — e voltarei ao assunto mais tarde — é, aliás, a evidência do triunfo da demagogia sobre a racionalidade. A Prefeitura tentou removê-la do local. Esquerdopatas das mais variadas tendências se mobilizaram acusando “higienismo”. E agora assistem à tragédia, apontando o dedo acusador para terceiros.

Exploração asquerosa
Ah, sim: os bombeiros ainda realizavam a operação rescaldo, e a equipe de TV de Fernando Haddad já estava lá, explorando a desgraça alheia, como urubus. A conclusão óbvia a que se chega é uma só: o candidato do PT precisa da miséria e da cegueira alheias para crescer. O jornalismo paulistano, com raras exceções, está com ele. Podem aguardar que essa história vai para o horário eleitoral com a chancela da “isenção jornalística”.

Lembram-se de “Domingo no Parque”, de Gilberto Gil? Nestes novos tempos, a coisa seria vista assim: “Polícia de São Paulo falha, e o Zé mata o João”. Os jornalistas ainda mais críticos e independentes, formados na escola moral de Maria Rita Kehl, seriam ainda mais isentos: “Polícia de Alckmin falha, e o Zé mata o João”.

Por Reinaldo Azevedo

 

O DEBATE DESTA SEGUNDA NA VEJA.COM

Por Reinaldo Azevedo

 

Candidatos mentem mais nos debates do que no horário eleitoral, e jornalismo acaba servindo de escada para pilantras e embusteiros. Ou: Os cachinhos de Chalita

Olhem, até tentei assistir ao debate TV Cultura-Estadão para a Prefeitura de São Paulo… Não consegui. Se eu ler alguma coisa interessante a respeito, comento depois. Mas assistir àquilo? Impossível. Liguei a TV no momento em que Celso Russomanno (PRB) fazia uma pergunta a Carlos Giannazi (PSOL) sobre segurança pública, que estaria muito ruim na cidade.

O homem do PSOL não teve dúvida. Com aquela sua cara que parece uma máscara de cera, paralisada pelo botox, afirmou que a segurança estaria um caos, fora do controle etc. e tal. A ironia é que a capital paulista é hoje, consideradas as 27 do país, aquela em que há o menor número de homicídios por 100 mil habitantes.

Se algum outro candidato quisesse prestar esse esclarecimento, não poderia. O jornalismo também está proibido de fazer intervenção. Resultado: os candidatos mentem mais nos debates do que no horário eleitoral. Mais adiante, o mesmo Giannazi afirmou que, se eleito, não vai mais pagar a dívida da cidade com a União porque ela já teria sido paga etc. e tal. E que vai governar com o povo, não com partidos conservadores. Ah, agora entendi…

E não é dia de Zorra Total.

“Esta sugerindo censura, Reinado Azevedo?” Uma ova! Estou sugerindo que o jornalismo não seja refém de pilantras. A forma dos debates precisa mudar. O UOL chegou a ensaiar uma proposta interessante, que consiste em dar aos debatedores um banco de minutos, que eles usariam como lhes parecesse melhor. Russomanno não topou. Na forma atual, o jornalismo acaba servindo de escada para pilantras e embusteiros.

De diferente mesmo no debate só o cabelo meticulosamente desalinhado de Gabriel Chalita, com alguns cachinhos caindo na testa, mas com um gel que lhe confere um brilho muito especial… Deve ter sido coisa de seu “personal populêitor Tabajara”…

As emissoras de TV e jornais que promovem debates têm de decidir até quando vão participar do que virou uma pantomima antijornalística — partindo-se do princípio, claro, de que o jornalismo tem um compromisso com a verdade.

Por Reinaldo Azevedo

 

Mensalão: compra de apoio está comprovada, diz relator

Por Gabriel Castro e Laryssa Borges, na VEJA.com:
O ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), sustentou na sessão desta segunda-feira do julgamento que o esquema de compra de votos foi amplamente comprovado. Segundo ele, “parlamentares comprados” votaram com o governo Lula em troca de dinheiro. 

“Os parlamentares beneficiados pelos pagamentos com dinheiro em espécie eram responsáveis pela condição dos votos de vários correligionários”, disse. “Os pagamentos tiveram o poder de influenciar importantíssimos atos de ofício, formando uma base de apoio alinhado ao PT, que conferiu facilmente maioria favorável aos interesses dos corruptores”, disse o relator.

Barbosa começou a tratar hoje do principal capítulo da acusação: o que trata da compra de apoio político de parlamentares de PP, PL (atual PR), PTB e PMDB. Do outro lado do balcão, os corruptores habitavam a cúpula petista, inclusive José Dirceu, que é acusado de comandar o sistema de cooptação de congressistas.

“Comprovou-se a realização de transferências milionárias de dinheiro – 55 milhões de reais  – por réus ligados ao PT em proveito de vários parlamentares de partidos que, mediante a sua acusação, passaram a compor a chamada base aliada do governo na Câmara dos Deputados”, disse o ministro.

O relator afirmou que, entre os projetos votados sob a nefasta influência do mensalão, estavam a reforma tributária e reforma da Previdência. “Essas reformas receberam o fundamental apoio dos parlamentares comprados pelo PT e das bancadas por ele orientadas ou dirigidas, exatamente no momento em que foram registrados os maiores repasses de dinheiro”, afirmou Barbosa. Ele citou também outro exemplo mencionado na acusação: a votação da Lei de Falências, em 2004.

Para Joaquim Barbosa, todo o esquema de compra de votos no Congresso, base da acusação do Ministério Público Federal no mensalão, foi possível a partir da ligação entre o publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza e altos dirigentes do PT. “O réu Marcos Valério foi o elo entre todos os parlamentares e o PT na pessoa de Delúbio Soares, que determinava os repasses de dinheiro e as pessoas que dele seriam beneficiárias”, disse.

O relator do processo ainda destacou a existência de depoimentos comprovando que, antes mesmo de o caso chegar à imprensa, já se falava em mensalão na Câmara dos Deputados. Joaquim Barbosa lembrou que até o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi informado sobre o esquema. “A compra de apoio político de deputados pelo governo federal não era desconhecida. Ao contrário: desde 2003 o assunto era alvo de comentários na câmara, e as próprias testemunhas arroladas pelas defesas comprovaram isso”, afirmou.

Ao desconstruir a argumentação dos réus, ele ainda desqualificou determinadas testemunhas de defesa dos deputados que venderam votos, afirmando que, em muitos casos, foram arrolados amigos dos réus. Ele destacou que deputados federais não são obrigados a depor para informar atos que aconteceram no exercício da função. Por isso, disse o magistrado, não são de grande valia as negativas de parlamentares sobre a compra de votos no Congresso.

Joaquim Barbosa disse ainda que a tese de que tudo não passou de caixa dois de campanha, ainda que fosse verdade, não é relevante para o julgamento: “Essa versão não interfere na caracterização da tipicidade da conduta”, disse ele. Ou seja: o destino do dinheiro distribuído não faz diferença porque, no fim das contas, continua havendo crime de corrupção.

Ao afastar a principal tese das defesas dos mensaleiros – o crime de caixa dois já está prescrito – Barbosa foi taxativo: “o que ele fizeram com o dinheiro que receberam dessa forma é irrelevante para a configuração do crime de corrupção passiva”.

PP
Depois de confirmar os termos gerais da acusação, o ministro se dedicou a mostrar como o PP se rendeu ao esquema criminoso. Ele lembrou que, em 2003, no início do governo Lula, os petistas não eram alinhados ideologicamente ao PT. Ainda assim, revelou o ministro, o então líder do PP, Pedro Henry, “conduziu durante todo o período de recebimento dos recursos o voto de sua bancada favoravelmente às pretensões de seus corruptores”. Henry e o então presidente pepista, Pedro Corrêa, são réus por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. José Janene, outro parlamentar acusado, morreu em 2010.

“Os deputados federais do PP praticaram atos de ofício sob a influência desses pagamentos, e coube a Pedro Henry orientar o voto de seus correligionários no sentido pretendido por quem pagava, ou seja, os corruptores”, explicou ele.  Barbosa afirmou que, por conta dos mecanismos de ocultação utilizados pelos integrantes do PP para receber os recursos do mensalão, os réus também cometeram o crime de lavagem de dinheiro. Como ainda se associaram para praticar esses ilícitos, o relator indicou que votará pela condenação dos pepistas por formação de quadrilha. “A engrenagem de pagamentos foi mantida em razão do apoio dos parlamentares do PP, não havendo qualquer outra explicação para o interesse do PT transferir recursos milionários para um outro partido”, comentou o ministro.

Conforme relatado por Barbosa, o PP se utilizou de dois expedientes para obter o dinheiro do esquema criminoso: saques no Banco Rural em nome da SMP&B, de Marcos Valério, e pagamentos feitos por meio da corretora Bônus Banval, que recebeu recursos enviados pelo advogado Rogério Tolentino. Tolentino, sócio de Valério, havia feito um empréstimo fraudulento de 10 milhões de reais no BMG, com a intermediação de Marcos Valério.

João Cláudio Genu, ex-assessor de Janene, foi apontado como Barbosa como o principal responsável pela distribuição dos recursos arrecadados – 2,9 milhões de reais. O esquema, disse o relator, possuía “certa sofisticação”. “Os réus receberam milhões de reais em espécie por eles solicitados sem deixar praticamente nenhum rastro no sistema bancário do país”, afirmou. Além de Henry, Corrêa e Genu, foram indicados como sendo culpados os réus Breno Fischberg e Enivaldo Quadrado, sócios da corretora Bônus Banval.

Na próxima quarta-feira, quando o STF voltar a julgar o mensalão, Joaquim Barbosa apresentará seu voto sobre a participação do PL, atual PR, no mensalão. Os réus nessa fatia do processo são o atual deputado Valdemar Costa Neto, o ex-deputado Bispo Rodrigues, o tesoureiro informal da legenda, Jacinto Lamas, e o assessor Antonio Lamas.

Por Reinaldo Azevedo

 

Ao vivo

A partir das 19h30, estamos ao vivo em mais um programa sobre o julgamento do Mensalão. Assista aqui https://veja.abril.com.br/ao-vivo/ e participe pelo twitter @VEJA .

Por Reinaldo Azevedo

 

Denúncia de Valério que envolve Lula tem de ser investigada, diz procurador-geral

Por Laryssa Borges, na VEJA. com:
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse nesta segunda-feira que são “importantes” as revelações feitas pelo publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza sobre o envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no mensalão e de como o petista sabia de cada detalhe do esquema de arrecadação de recursos e de corrupção de parlamentares no Congresso. Conforme revelou VEJA, Valério começou a detalhar nuances do pacto que fez com políticos para tentar garantir penas mais leves no esquema do mensalão.

De acordo com VEJA, o publicitário também projeta que o esquema criminoso movimentou pelo menos 350 milhões de reais. O Ministério Público apontou que o mensalão foi abastecido com 55 milhões de reais de empréstimos dos bancos Rural e BMG e cerca de 74 milhões de reais desviados do Visanet, fundo abastecido com dinheiro público e controlado pelo Banco do Brasil. 

“Marcos Valério é uma pessoa que, ao longo de todo o processo, deixou muito claro que é um jogador. Mas é claro que são declarações importantes que devem ser examinadas”, disse nesta segunda Roberto Gurgel ao chegar para a 24ª sessão plenária convocada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para julgar a ação penal do mensalão.

Para o chefe do Ministério Público, como o ex-presidente Lula não detém mais foro privilegiado, uma eventual investigação deveria ser conduzida em primeira instância. Na hipótese de abertura de um processo a partir das revelações de Valério, Gurgel disse que, em tese, seria possível que o publicitário pudesse costurar um acordo de delação premiada. 

“Delação premiada em novo processo é, digamos, possível. Nesse processo do mensalão, não mais”, afirmou o procurador-geral.

Passaportes
Apesar de ter defendido a prisão imediata dos réus condenados no julgamento do mensalão, Roberto Gurgel evitou afirmar hoje se pretende requisitar a apreensão de passaportes dos 37 réus julgados pela corte para evitar que eles fujam do país.

Por Reinaldo Azevedo

 

Como urubus da sorte alheia, petistas gravam em favela em que houve incêndio

O PT demonstra ignorar, definitivamente, qualquer noção de vergonha, de pudor, de limites. Uma equipe de Fernando Haddad, candidato do partido à Prefeitura de São Paulo, nem esperou os bombeiros concluírem o trabalho de rescaldo no incêndio da favela do Moinho e já estava lá, fazendo proselitismo com a tragédia e o sofrimento alheios. Daqui a pouco saio para o programa da VEJA.com. Na volta, quero lembrar um pouco a história dessa favela. Vou demonstrar como o petismo e suas franjas lutaram contra a remoção de moradores do local. Agora que a desgraça aconteceu, estão lá, como urubus. Leiam o que informa o Estadão:

Por Diego Zanchetta:
Logo após as equipes dos Bombeiros controlarem o incêndio na Favela do Moinho, na zona oeste de São Paulo, uma equipe do candidato Fernando Haddad (PT), com cinegrafista, operador de áudio e dois produtores, pegava depoimentos de famílias desabrigadas. Eram 10h20 quando um dos jornalistas que acompanhava o grupo mandou o câmera focar na desabrigada Joazina Pereira, de 38 anos, que fazia críticas ao bolsa-aluguel da Prefeitura e ao prefeito Gilberto Kassab (PSD).

“Esse Kassab não quer dar moradia para nós, ele quer é deixar a gente na rua, sem nada”, bradava a desabrigada. A equipe que fazia as gravações é da Pólis Produtora, uma das responsáveis por fazer imagens para a campanha do petista. Indagado pela reportagem do Grupo Estado se era de alguma campanha política, o jornalista que estava com o grupo admitiu que fazia imagens para a campanha do PT.

“Sou da produtora do João Santana, vim aqui porque o Haddad tem um trabalho aqui na comunidade”, argumentou o jornalista, que pediu para não ter o nome citado em reportagem. Procurada, a assessoria de imprensa do candidato confirmou que uma equipe foi gravar imagens na favela. “O Haddad já visitou a comunidade e se sensibilizou com a situação dos desabrigados. A equipe esteve no local pela relevância jornalística do fato. Não temos decisão de as imagens serão ou não usadas”, informou a assessoria do candidato.

Os profissionais ligados à campanha do PT estavam entre os primeiros a entrar na favela logo após o incêndio ser controlado, por volta das 9 horas. Eles tentavam fazer depoimentos particulares e tentavam impedir que outros repórteres entrassem na entrevista, para não atrapalhar as imagens. Um fotógrafo e um operador de áudio ajudavam a fazer a “produção”, com perguntas sempre direcionadas para serem respondidas com críticas.

Os produtores também fizeram imagens de barracos destruídos e das famílias desabrigadas que permaneciam acampadas na rua ao lado da favela. Eles também acompanharam o drama da dona de casa Valmira dos Santos, de 36 anos, que perdeu tudo e não tinha para onde ir com o marido e os seis filhos. “Esse bolsa-aluguel do Kassab não resolve nada, nós queremos é moradia”, criticava.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Atenção! Voto é “ato de ofício”, sim. Ou: Por que até um parlamentar que tivesse votado contra o governo poderia ter cometido corrupção passiva

Voto parlamentar é ato de ofício?

Querem os defensores dos mensaleiros que não. Querem o bom senso e a decência que sim. Aliás, poder-se-ia considerar o ato de ofício por excelência. Mas que diabo é isso?

O “ato de ofício” deveria, de saída, mudar de nome. Talvez pudéssemos chamá-lo de “competência de ofício”, “prerrogativa de ofício”, “função de ofício”. Ele define o conjunto de ações praticadas por um servidor público que são inerentes à sua função ou cargo.

Então voltemos a Lei. Como o Artigo 317 do Código Penal define corrupção passiva? Assim:
Art. 317 – Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
§ 1º – A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
§ 2º – Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

Voltemos
Ora, o voto é parte das atribuições de um parlamentar, não é? Está na esfera de suas competências, é prerrogativa exclusiva do cargo; só os senhores deputados e senadores têm tal função.

ATENÇÃO! EXISTE, SIM, CORRESPONDÊNCIA ENTRE TRANSFERÊNCIA DE DINHEIRO A MENSALEIROS E VOTAÇÕES NO CONGRESSO. Mas nem precisaria haver! Basta que nos voltemos para o caput da lei. Tanto o “ato” propriamente — o ter agido com dolo — é desnecessário que um funcionário público pode ser processado por corrupção passiva antes mesmo de tomar posse. Ora, como ele poderia “agir de fato” mesmo fora do cargo?  Basta, reitero, que exista a perspectiva.

Tanto estou certo que lhes proponho aqui uma situação esdrúxula, mas absolutamente possível. Digamos que uma empresa pague para que um deputado ou senador vote uma lei que seja do seu interesse. Já que votar é esfera de competência desse deputado, é claro que se trata de corrupção passiva (o parlamentar) e ativa (a empresa).

Muito bem! Digamos ainda que esse parlamentar seja de tal sorte picareta que trai até os bandidos que o compraram. Assim, ele poderia receber o dinheiro, mas a) votar contra o interesse de quem o comprou (e olhem que isso já aconteceu; é pena eu não poder provar) ou b) ausentar-se da votação.

Terá ou não terá havido, nesse caso, corrupção passiva? É EVIDENTE QUE SIM! A situação se insere perfeitamente no caput do Artigo 317. A comprovação da prática do ato já é um agravante, que está no parágrafo primeiro da lei. Aliás, livrar esse parlamentar da acusação de corrupção passiva seria o mesmo que premiar o larápio espertalhão.

Assim, aquele estudo feito por petistas demonstrando que os votos dos parlamentares independia de pagamento seria absolutamente inócuo ainda que fosse verdadeiro.

Por Reinaldo Azevedo

 

Houve compra de votos, diz Barbosa – e, pois, corrupção passiva. Ou: Ministro que inocentar parlamentares desse crime estará antecipando voto em favor de Dirceu, acusado de corrupção ativa

O relator do processo do mensalão, Joaquim Barbosa, afirmou que houve inequívoca compra de votos. O Capítulo VI da denúncia inclui, por exemplo, parlamentares do PP. Ele lembrou que, à época, o partido não pertencia à base do governo e que seus votos eram importantes para aprovar projetos do Planalto. Contesta, assim, a principal tese dos defensores dos réus, segundo a qual seus clientes não precisavam ter seus votos comprados porque estariam automaticamente alinhados com o governo.

Os ministros reconhecerem ou não a compra do voto vai caracterizar – ou não – a “corrupção passiva”. Caso os parlamentares sejam inocentados desse crime, não haverá como condená-los por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha (ver post das 6h35 desta manhã). Nesse caso, teríamos uma situação realmente interessante: todas as pessoas envolvidas com a dinheirama até que ela chegasse às mãos dos políticos teriam cometido crime – afinal, foram condenadas. Quando, no entanto, a grana bateu no bolso dos parlamentares, ela estaria limpa!

Seria, convenham, uma justiça bastarda!

Tudo está encadeado. Reconhecida a corrupção passiva no caso dos parlamentares, é preciso caracterizar quem praticou a corrupção ativa – e aí se chega a José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares – além, claro, de Marcos Valério e seus sócios.

Assim, fiquem atentos: os ministros que decidirem inocentar os parlamentares do crime de corrupção passiva estarão antecipando um voto em favor de Dirceu — e, pois, assando a pizza para os políticos, depois da severidade com os banqueiros e com o publicitário e seus sócios.

Por Reinaldo Azevedo

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Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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