A imprensa avestruz e Lula superando Chávez…

Publicado em 22/01/2013 09:15 e atualizado em 20/05/2013 14:27
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

É evidente que o avestruz não enfia a cara no chão para não ver a realidade quando em perigo. Fosse assim, não haveria mais avestruzes no mundo, não é mesmo? A ave faz o que todos fazem quando percebem que a coisa tá feia: tenta dar no pé. Mas ficou a metáfora.

Parte da imprensa acha que, caso se comporte como avestruz no caso do golpe que Lula está tentando dar no governo Dilma, a realidade muda. Dadas as falas absurdas de assessores do Apedeuta naquele seminário, destacam-se as afirmações de que Lula não será candidato em 2014, que o nome do partido é mesmo Dilma… Ora, não brinquem! Isso não tem a menor importância!

O relevante, e muito!, é que foram dois bate-paus do lulismo que anunciaram que será ele a coordenar a base de apoio da presidente — para, dizem, colaborar com a sua reeleição. Uma ova!

Como Dilma decidiu disputar o segundo mandato — e o Babalorixá tinha a esperança de que ela declinasse do desafio —, o homem, reitero, meteu o pé na porta e resolveu dividir com ela o governo. E sem pedir licença. Anunciou a tomada justamente da coordenação política. Caso isso se efetive, Dilma já era, ainda que venha a ser reeleita. Corrupto nunca mais será demitido. O “coordenador político” dará um jeito de acomodar os larápios que forem pegos com a boca na botija. Lula quis deixar claro quem manda. Não quer mais essa história de “Dilma isso, Dilma aquilo…” Mais de uma vez, ele insinuou que a imprensa é simpática a Dilma só para provocá-lo… 

Algo dessa magnitude precisa de comunicação oficial, feita pelo governo. Até porque existe uma ministra das Relações  Institucionais — é Ideli Salvatti; existe uma chefe da Casa Civil — é Gleisi Hoffmann. Não houve nada disso. Desde quando, senhores, é corriqueiro que se anuncie uma decisão desse porte num seminário, ao arrepio do Palácio do Planalto?

A imprensa avestruz acha que, se esconder isso dos leitores, diminui a influência de Lula ou o agravo feito ao governo Dilma. O caso é bem mais sério do que parece. Chávez se manteve no poder contra a letra da lei, mas, vá lá, houve ao menos uma eleição por lá… Lula tomou um naco do poder de Dilma sem ter sido eleito por ninguém.

Por Reinaldo Azevedo

 

Lula mete o pé na porta de Dilma e anuncia golpe; chefão do PT exige o controle da base aliada e quer presidente como mera gerentona de novo. Ela vai aceitar o papel subalterno?

Um prepotente desocupado num ambiente doméstico ruim é a morada do capeta. O sujeito começa a cultivar ideias estranhas. É o caso de Luiz Inácio Lula da Silva, que deve andar tomando umas sovas de pau de macarrão de Marisa Letícia desde que explodiu o “Rosegate”. Consta que a ex-primeira-dama, e parece bastante razoável, não gostou de tudo o que a imprensa andou publicando a respeito das relações do marido com a ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, Rosemary Nóvoa Noronha. E parece que gostou menos ainda do que a imprensa não andou publicando… O caso, com todos os seus aspectos, vamos dizer, fesceninos, é um emblema da arrogância de Lula e da sem-cerimônia com que ele mete os pés pelas mãos, não reconhecendo fronteiras entre o público e o privado, o decoroso e o indecoroso, o devido e o indevido para um, então, presidente da República. E ele não se emenda. E ele não aprende. Ontem, o Babalorixá de Banânia liderou um seminário sobre integração latino-americana, a que compareceram expoentes do governo Dilma, como o ministro megalonanico Celso Amorim (Defesa) e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Já seria despropósito bastante não fosse Lula quem é. A turma foi além e anunciou, sem nenhuma cerimônia, que Dilma, eleita pelo povo, foi expropriada de algumas de suas funções. Lula, o desocupado, decidiu inaugurar um novo regime de governo no país, que a gente poderia chamar de “Lulismo mitigado”.

Em que consistiria esse regime, ao menos segundo o que foi anunciado nesta segunda, como se fosse coisa corriqueira? Lula seria o coordenador político da base aliada e quem se encarregaria de todas as negociações com o Congresso. Na prática, passaria a ser o verdadeiro presidente da República, uma vez que as prioridades de um governo se definem é nesse ambiente. Dilma voltaria a ser, assim, apenas a gerentona, aquela que se encarrega das tarefas executivas. O noticiário político, mais uma vez, voltaria a girar em torno do “homem”, do “mito”…

O “anúncio” foi feito sem nenhuma cerimônia por Paulo Vannuchi, ex-ministro dos Direitos Humanos e um dos chefões do Instituto Lula: “Lula vai jogar toda sua energia para a manutenção e a consolidação da aliança. Fazer uma agenda de conversas, ver quais são as questões, onde estão as disputas, como fazer para compor as forças”. Ora, algo com essa importância requereria uma comunicação formal da própria Presidência da República; teria de ser feito necessariamente no ambiente do próprio governo, não num seminário liderado por um chefe de facção, ainda que estivessem presentes expoentes do primeiro escalão.

Entendam bem o que está em curso, ainda que a própria Dilma venha a público, a reboque dos fatos, para negá-lo: Lula está usando a força do seu partido e as interlocuções que mantém na base aliada para usurpar uma parcela de poder de Dilma. Luiz Dulci, outro ex-ministro e diretor do instituto emendou: “Ele [Lula] tem um papel político a cumprir na constituição da nossa base política e social para 2014″. Eis o homem que anunciou que seria um ex-presidente como nunca se viu na história destepaiz…

Lula não se conforma com a condição de ex-presidente da República. Só sabe ser chefe. Estava certo de que Dilma declinaria da disputa pela reeleição em seu favor. Achava e acha que ela lhe deve isso; que o protagonismo exercido até aqui já está de bom tamanho. Mais dois anos, e seria a hora da volta triunfal do Senhor das Esferas… Mas ela tomou gosto pela cadeira, conta com a aprovação da maioria dos brasileiros (e pouco importa se isso é justificado ou não) e é franca favorita na disputa de 2014. Tudo como Lula NÃO queria.

“Pô, Reinaldo, esse não pode ser um movimento combinado com Dilma?” Se esse absurdo prosperar, restará a ela dizer que sim, mas a resposta certa é uma só: “É claro que não houve combinação nenhuma”, ou o anúncio teria se dado de outra forma. O que os lulistas fizeram ontem foi meter o pé da porta de Dilma e dar um chega pra lá. Já que ela não abre mão da reeleição, terá de devolver a Lula o controle político do país.

É um momento delicado pra Dilma. É certo que ela governou nestes dois anos atendendo a muitos dos pleitos petistas. Mantém no governo alguns espiões de Lula e está ciente disso. Embora não seja uma figura importante ou querida no partido, comunga das ideias gerais do petismo e coisa e tal. É, sim, fiel a Lula, mas não foi mero títere do antecessor. Governou também com ideias próprias, não necessariamente boas — mas esses são outros quinhentos.

Lula se cansou dessa realidade e quer de volta o que acha que é seu por merecimento e direito divino: o comando político do país. A reivindicação atende a demandas rasas e profundas do seu caráter. Não concebe o país com outro governante que não ele próprio, enquanto vivo for. Considera-se, de fato, um iluminado e um evento único na história da humanidade. Essa é a dimensão profunda. Nas questões mais à flor da pele, está o seu inconformismo com o Rosegate, que já o fez dormir no sofá algumas vezes — e não no de sua casa… Ele acha que Dilma fez muito pouco para preservá-lo do que considera a maior fonte de desgaste pessoal desde que faz política. O que esperava? Não sei! Não custa lembrar que ele se opôs pessoalmente à demissão de todos os ministros flagrados com a boca na botija.

Dilma enfrenta a partir de agora o momento mais difícil de seu governo. Conforme o previsto, quem a está deixando em maus lençóis não é a oposição, mas Lula, talhado, desde sempre, para ser o maior desafio da presidente.

Dilma pode mobilizar a sua turma nessa terça e fazer esse troço recuar, jogando tudo na conta de um mal-entendido. A imprensa, como de hábito, pode ser acusada de distorcer as falas dos petistas e coisa e tal. Mas Dilma também pode se intimidar e deixar a coisa fluir por medo do PT. Nesse caso, seu governo começou a acabar ontem. Ainda que seja reeleita em 2014, ficará mais quatro anos sendo apenas tolerada na gerência.

Texto publicado originalmente às 5h38

Por Reinaldo Azevedo

 

Petistas deliram e já discutem a sucessão de 2018… Com Lula!

Pois é… Lula ocupa de tal modo a cena política, e com tanta sofreguidão, que os petistas se veem obrigados a fazer certos avisos. Leiam o que informa Marina Timóteo, no Globo. Volto depois:

O diretor-presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, negou nesta segunda-feira boatos de uma suposta volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao cenário eleitoral, já que o petista percorrerá, em breve, o Brasil em caravanas. Mais tarde, o ex-ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, acrescentou que Lula não será candidato a governador de São Paulo e nem a presidente em 2014, mas não descartou uma eventual candidatura de Lula em 2018. “Se houver acirramento das contradições ou uma crise nacional”, disse Vanucchi, amigo pessoal de Lula e um dos diretores do Instituto Lula.

Lula participa da reunião com intelectuais e autoridades latino-americanas em um hotel na Zona Sul de São Paulo. Sobre a oposição, Vannuchi disse ainda que Aécio Neves (PSDB) não é candidato presidencial para valer em 2014. “Vocês jornalistas sabem, ele é candidato para 2018. Agora toda a construção é para ele virar figura de proa, disputar para perder evidentemente e contar como uma evolução, já que a Dilma não será mais candidata por razões constitucionais”.

Segundo Vanucchi, Lula disse estar “aprendendo a ser ex-presidente”, e, que por enquanto, descarta concorrer a qualquer cargo público. E que proibiu qualquer pessoa da equipe de cogitar seu nome para disputar as eleições para governador em 2014. “Ele me disse que não quer, que não faz parte do plano dele. O Lula quer ser isso que ele é agora, se reunindo com lideranças latinas, com povo, empresários, sindicalistas, bancadas, sociedade civil. Ele quer criar novas lideranças. Ser uma liderança política livre”.

O ex-ministro justificou desta maneira o fato de Lula estar trabalhando para não ser mais candidato, nem ao governo de São Paulo e nem a presidente. “Mas não digo que não será em hipótese alguma em 2018, porque se houver acirramento das contradições, uma crise nacional e depois (Lula) despontar como um polo de consenso para reaglutinar o país ou um conjunto grande de força política, aí ele se dispõe, como se dispôs em 1998, mesmo absolutamente convencido que não deveria”, disse, em referência à reeleição praticamente certa de Fernando Henrique Cardoso.
(…)

Voltei
Bem… Até os petistas admitem que o comportamento de Lula dá margem a especulações sobre quem será o candidato do PT à Presidência em 2014. Mais do que isso: pelas palavras de Vanucchi, Lula ainda não sabe ser “ex-presidente”… Que cabeça dura! O Apedeuta, com efeito, parece ter uma dificuldade imensa para aprender coisas novas. Só sabe ser chefe…

O mais espantoso nessa história é estarem debatendo já a sucessão de… 2018! Apelando ao vocabulário leninista, Vanucchi diz que Lula disputará, sim, a sucessão de Dilma daqui a seis (!!!) anos se houver um “acirramento das contradições”…. Huuummm… Entre quem e quem? Que forças estariam do outro lado do petismo?

Não serão os banqueiros, que nunca viram motivo para isso. Não serão os potentados da indústria financiados pelo BNDES, que nunca viram motivo para isso. Não serão os reacionários das elites tradicionais à moda Sarney e companhia, que nunca viram motivo para isso. Só me resta concluir que Vanucchi imagina o popularíssimo Lula disputando a eleição em 2018 ou contra… o povo.

Estupefaciente!

PS – O PT vendeu, e boa parte da imprensa comprou, a pauta da “renovação”, lembram-se? Ignorava-se que o partido “da renovação” era aquele que teve um mesmo candidato à Presidência em cinco disputas seguidas… Não tem jeito: quando o jornalismo quer escrever besteira, é imbatível. Vejam aí… Como Lula tem dificuldade de ser “ex”, já se fala nele para 2018. Dilma, a malvada e ingrata, não quis abrir mão da prerrogativa.

Por Reinaldo Azevedo

 

Calígula dava ordens à Lua e lhe fazia ameaças; Lula redesenha a Terra. Ou: O Apedeuta, como Saturno, decidiu engolir a própria cria

Publiquei este texto às 21h28 desta terça. Decide mantê-lo aqui no ato. Abaixo dele, posts escritos na madrugada.

Vejam esta imagem.

É Saturno engolindo uma de suas crias, na versão terrificante de Goya. Por que está aqui? Vamos lá.

Lula é um logólatra. Mas não é fissurado num “logos” qualquer. Ele também é um “Lulólatra”. É apaixonado pelo som da própria voz. Às vezes, a gente nota, ele se deixa encantar pela complexidade do próprio pensamento, que alcança sempre altitudes ignotas. Foi assim, por exemplo, quando refletiu sobre a conveniência de a Terra ser quadrada, não redonda. Vale a pena rever.

Num programa da VEJA.com, lembrei essa diatribe astrometafísica de Lula e uma outra frase sua não menos sensacional, quando demonstrou certa invejinha de Dilma porque ela teria tido a sorte de suceder a alguém como ele…

Já identifiquei a doença de Lula, que o citado Freud não teve tempo de diagnosticar. É a SIPP (Síndrome da Inveja do Próprio Pênis). Lula se ama de tal sorte que adoraria ser… Lula, como Narciso que mergulha em busca da própria imagem. Certos governantes têm dessas coisas.

Lembrei aqui certa feita como Suetônio caracterizou o imperador Calígula em “Os Doze Césares”. Leiam um trechinho que traduzi (em azul). Vale a pena:
(…)
Mas lhe disseram que era superior a todos os príncipes e reis da Terra, e então começou a atribuir a si mesmo a divina majestade. Fez trazer da Grécia as estátuas dos deuses mais famosos (…) entre elas a de Júpiter Olímpico, da qual cortou a cabeça para substituir pela sua própria. Estendeu até o Fórum uma ala de seu palácio e transformou o templo de Castor e Pólux num pátio, sentando entre os dois irmãos, oferecendo-se à adoração da multidão. Alguns o saudavam como Júpiter Latino. Teve, para a sua divinização, o seu próprio templo, sacerdotes e as oferendas mais raras. Nesse templo, podia-se contemplar sua estátua de ouro (…). As vítimas sacrificadas a este deus eram flamingos, pavões, codornas, galinhas da Numídia, galinhas d’angola, faisões — a cada dia uma espécie diferente.
À noite, quando a Lua estava cheia, ele a convidava a vir receber o seu abraço e a compartilhar seu leito. Durante o dia, mantinha conversações secretas com Júpiter Capitolino, falando-lhe algumas vezes ao ouvido (…). Em outras, falava ao deus com arrogância e em voz alta. Certa vez, ouviram-no dizer a Júpiter em tom de ameaça: “Prove o seu poder ou tema o meu!”
(…)

Como não ver, assim, o ímpeto de Calígula no homem que resolve meter os pés na porta do governo e roubar da presidente a coordenação política? Cortou a cabeça dela; pôs a dele no lugar. Ele é assim.

60 dias calado
Pois é… O ególatra, logólatra e lulólatra, desta feita, está mudo — mas não parado. Há 60 dias, observa Jean-Philip Struck na  VEJA.com não diz uma palavra sobre o Rosegate, por exemplo, aquele rumoroso caso que pôs Rosemary Nóvoa Noronha, a sua “amiga íntima”, no centro de um azeitado esquema de corrupção instalado na… Presidência da República. Não fala a respeito, mas tem ouvido muito, especialmente no ambiente doméstico, o que é compreensível.

O homem que já fez digressões sobre as vantagens de a Terra ser um quadrilátero se dedica agora a criar um novo regime político no Brasil: o “Lulismo Mitigado”. Ele até topa dividir o poder com Dilma: ela fica com a parte chata — ver se o governo desempaca —, e ele, com a coordenação política. Lula não gosta mais da criatura que gerou e decidiu, como Saturno, engoli-la. Como no mito, teme que que surja alguém mais forte que ele. Haverá alguém de peito para fazê-lo engolir uma pedra? Não sei.

Uma coisa é evidente e certa: Lula decidiu tomar à força o governo de Dilma Rousseff. Deixa claro, assim, que nem mesmo a legitimidade popular que ela tem — eleita que foi — e que pode ser referendada pelo povo, se reeleita, supera a autoridade natural daquele que, a exemplo de Calígula, se sente com força para interferir nas esferas celestes.

Lula deixa claro, assim, o apreço que tem pelo mandato popular. Convenham: isso não é estranho à sua trajetória. Passou 16 anos — oito como oposição e oito como governo — tentando destruir a reputação de FHC, que tinha sido, afinal, eleito pelo povo.

Saturno, como Carcará, pega, mata e come.

Por Reinaldo Azevedo

 

A internação involuntária e o jornalismo no manicômio ideológico. Ou: Mais jornalismo e “menas” militância, por favor!

O lobby moral — acabo de inventar essa designação — dos que se consideram só consumidores recreativos de drogas (eu também sou consumidor recreativo de Hollywood) é, acredito, o mais forte do país, especialmente na imprensa. É impressionante o esforço que se vem fazendo, em quase todos os veículos, para atacar o programa de internação forçada ou involuntária de dependentes químicos em São Paulo. A abordagem perdeu qualquer senso de responsabilidade e noção de objetividade.

Hora dessas publico algumas pérolas que andei colecionando dos coleguinhas solidários com a desgraça, mas não com os desgraçados. É asqueroso! Ontem, em vários sites noticiosos e até na TV, reclamava-se, ora vejam!, da demora para a internação. Em alguns casos, “quase 24 horas…” Imaginem se fosse esse o tempo do SUS, Brasil afora, para internar pacientes em estado grave em leitos especializados. Talvez o Brasil fosse a Suécia! Mas quem liga para os miseráveis que definham nas filas do Sistema Único de Saúde? Os cancerosos, os tuberculosos, os diabéticos, os cardíacos, essa gente toda é doente de segunda categoria. Com um drogado, é diferente! Ele é visto como alguém numa área cinzenta entre a vítima, o mártir e o herói.

Alertava-se ainda para o risco da eventual falta de vagas, uma vez que, informava-se, a procura foi maior do que se esperava. Embora o programa se destine à internação involuntária, também os que desejam se tratar buscaram o serviço. Familiares foram buscar ajuda para encontrar parentes desaparecidos. Ao longo dos dias, dos meses, dos anos, é evidente que o benefício terá de ir se ajustando. Até pelo pioneirismo, não se conhece exatamente o tamanho do problema. É patético perceber jornalistas que visivelmente se opõem à internação a acusar a suposta demora no atendimento…

A origem do mal-estar
Por que esse mal-estar contido — às vezes, explícito mesmo — e a má-vontade com o programa? Fatores diversos se somam. Em primeiro lugar, há a questão que se poderia chamar ideológica, ainda que essa palavra precise ser rebaixada para se encaixar ao caso em espécie. Estivessem no comando da ação os “petistas progressistas”, os não menos petistas e não menos progressistas do jornalismo dispensariam ao caso outro tratamento. Como vem de um governo tucano e como parece que as chefias de redação decidiram deixar a moçada à vontade para a militância, as delinquências intelectuais vão se acumulando.

Em segundo lugar, mas não menos importante, note-se: há uma discordância de fundo com o programa. Defender a legalização das drogas é parte do “kit do bom progressista”, assim como ser favorável à legalização do aborto, pregar a proibição da venda legal de armas, apoiar a invasão de propriedades rurais e urbanas pelos sem-isso e sem-aquilo, exigir ciclovias até nos morros de Perdizes e da Vila Madalena etc. Se o sujeito não adere a essa pauta, acaba sendo tratado como um reacionário “jeca de Oklahoma” (cá estou eu provocando o meu amigo Caio Blinder).

Ora, é evidente que a internação involuntária de viciados vai na contramão, no que concerne ao debate de valores, do lobby em favor da legalização ou descriminação das drogas, a exemplo daquela absurda campanha É Preciso Mudar, orientada por Pedro Abromovay, ex-secretário de Justiça do governo petista, que já defendeu que “pequenos traficantes” não sejam presos. Também está claro que a internação involuntária reforça o repúdio que a esmagadora maioria dos brasileiros têm das drogas, chamando a atenção para seu caráter deletério, para seu potencial destrutivo. E parcela expressiva dos “coleguinhas” não pode aceitar isso. Basta ver como foram tratados os maconheiros marchadores: parecia que Schopenhauer, Kant e Bertrand Russel gritavam em coro: “Ei, polícia, maconha é uma delícia”.

Como essa gente não perdeu inteiramente o senso de ridículo e como há leitores do outro lado, muitos deles capazes de pensar de modo lógico, fica difícil agredir na essência um programa que, se bem aplicado, salva vidas e tem o concurso de médicos, juízes, promotores e advogados. Assim, para manter a veia crítica, ignora-se o principal para tentar desmoralizar o programa em razão de aspectos periféricos: “a internação está demorado, é possível que faltem leitos, a filha dopou o pai para interná-lo…” Um programa de redução de danos que ministrasse doses controladas de droga a viciados seria certamente mais bem-recebido pelos “progressistas”.

Chegou a hora de alguns diretores de redação cobrarem mais jornalismo e “menas” (para ficar no espírito da era…) militância”

Texto publicado originalmente às 4h02

Por Reinaldo Azevedo

 

A mistura do Movimento Antimanicomial com a Teologia da Crueldade. Quem se ferra é o miserável!

Entidades as mais diversas, sob o guarda-chuva de um conceito, o “Movimento Antimanicomial”, conseguiram acabar com os hospitais psiquiátricos para pobres no Brasil. Essa é mais uma razão por que os desgraçados ficam vagando por aí. Mas os discípulos de Foucault estão com a consciência tranquila. Julgam ter aplicado tudo o que aprenderam ao ler “O Nascimento da Clínica” e “Vigiar e Punir”. Foucault, ele mesmo, coitado!, não conseguia controlar nem seus impulsos mais primitivos… Sim, meus caros, os ricos continuaram a ter direito a atendimento e internação em clínicas privadas. Note-se: é claro que os hospitais psiquiátricos eram verdadeiras casas de horror, como são muitos dos presídios. Fazer o quê? Extingui-los também? Em vez de se exigir que os hospitais psiquiátricos tratassem adequadamente os pacientes, pregou-se pura e simplesmente a sua extinção em nome da “cidadania” e dos “direitos” do doente mental.

Reitero: essa gente obteve uma vitória política e não perguntou, em seguida, o que a dona Maria do Capão Redondo ou de Guaianazes faria com o seu doente. Essa mesma turma se mobiliza agora contra a internação involuntária de viciados e é a inspiração de uma carta absurda enviada ao governador Geraldo Alckmin no dia 11 deste mês. São seus signatários, atenção!, as seguintes entidades:

1. Núcleo do Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores de Materiais Recicláveis do Estado de São Paulo;
2. Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores de Materiais Recicláveis – CNDDH;
3. Pastoral Nacional do Povo da Rua da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB;
4. Movimento Nacional da População em Situação de Rua – MNPSR;
5. Pastoral do Menor Nacional – Organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil –CNBB.

Vejam ali a gloriosa Igreja Católica sendo aparelhadas por aloprados por intermédio de duas pastorais. Escrevi num post de ontem que, no Brasil, moradores de rua — ou “em situação de rua”, para empregar a língua estranha que essa gente fala — haviam se transformado, no Brasil, numa “categoria social”. Noto, dada a carta enviada a Alckmin, que se transformaram também numa categoria de pensamento e numa espécie de corporação sindical. É o fim da picada!

Percebam, que existe um Centro Nacional de Defesa e um Movimento Nacional, ambos de “população em situação de rua”. O que pergunta o meu coração, como naquele poema de Drummond, é por que gente assim teve a expertise necessária para fundar movimentos nacionais, mas não para, afinal, sair da rua! É claro que o verdadeiro pobre, o verdadeiro desgraçado que não tem teto, este não está organizado em movimento nenhum.

A carta
Pois bem. Essa gente mandou uma carta ao governador, opondo-se à internação involuntária, afirmando preciosidades como as que se leem abaixo em vermelho. Comento em azul:

4.- Nós, enquanto entidades e  movimentos que atuam na defesa dos Direitos Humanos desta População, trazemos ao Exmo. Governador nosso total desacordo com tal operação, tendo em vista que as pessoas a serem “…encarceradas…” serão em sua grande maioria População em Situação de Rua, que não precisam de internação, mas sim de implementação de políticas eficazes garantidoras de direitos como saúde, moradia, trabalho, apoio familiar, dentre outras.

Como garantir saúde, moradia e trabalho a quem já rompeu todos os vínculos com a realidade, inclusive os familiares, e não vive senão para alimentar o próprio vício?

6.- Destacamos ainda o Princípio da legalidade da lei maior: O art. 5°, inciso II da CF/88 garante: “ninguém poderá ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei”. Deste modo, a privação de liberdade sem motivo justificável e sem autorização judicial, sem a anuência ou vontade própria afronta o princípio da legalidade e configura violação ao direito a liberdade de ir e vir.

A internação, como é público e notório, se dá com autorização judicial e acompanhamento do Ministério Público e da OAB. Mais: A internação involuntária e a compulsória já estão previstas na Lei 10.216, de 2001, no Artigo 6º, Incisos I e II. A saber:
Art. 6º A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos. Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica:
I – internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário;
II -internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e
III – internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.

Logo, o Artigo V da Constituição está sendo seguido à risca por São Paulo, e a gritaria dos sedizentes representantes da “população em situação de rua” não se justifica. Agora veja o que pede a tal carta:

b) Que seja criado um grupo multidisciplinar, com a presença de profissionais de áreas afins ao uso de entorpecentes, e principalmente com a presença das entidades e movimentos que esta subscreve, sobretudo, o núcleo do Centro Nacional de Defesa de Direitos Humanos da População em Situação de Rua de São Paulo que, conjuntamente com o Centro Nacional, atuam como legítimos defensores dos direitos da população em situação de rua, principais atingidos por tais operações.

Até parece que a “população em situação de rua” elegeu esses valentes em pleito livre e direto. Com que autoridade ou legitimidade estes senhores se dizem “representantes” de todas as pessoas que moram na rua e reivindicam participar da definição de uma política pública? São, quando muito, porta-vozes dos próprios preconceitos e da própria ignorância.

Um movimento ligado a moradores de rua só faz sentido se for para… tirar as pessoas da rua. Nos tempos em que a UNE ao menos não era pelega e não usava dinheiro público para comprar cachaça, o CPC levava ao palco peças de teatro que cantavam coisas como “feio não é bonito/o morro existe,/ mas pede para se acabar”.

Hoje em dia, o feio virou bonito. Alguns padrecos e os sindicalistas dos “moradores em situação de rua” transformaram os miseráveis numa clientela.

É a soma do Movimento Antimanicomial com a Teologia da Crueldade.

Texto publicado originalmente às 5h22

Por Reinaldo Azevedo

 

Há tempos Laura Capriglione não despertava a minha atenção, mas aconteceu de novo, com o caso da filha que “dopa pai”…

Um texto na Folha, oriundo do jornal “Agora”, assinado por minha musa, Laura Capriglione (e mais três pessoas), despertou-me a atenção. Na primeira página: “Filha dopa pai para tentar internação compulsória em SP”. O autor do título conseguiu superar em qualidade boa parte dos poemas concretos: “Filha dopa pai/ Filha do papai…”. Terá sido intencional? Na página interna, isto: “Por internação à força, filha leva pai dopado para centro de saúde”.

Teve início ontem — escrevi dois textos a respeito — o programa do governo de São Paulo para a internação involuntária de dependentes químicos. Estão envolvidos na operação, permitida por lei, médicos, juízes, Ministério Público e OAB. Alguns são contra — acho que estão estupidamente errados; outros, a exemplo deste escriba, a favor. Uma ideia certa ou errada no mérito pode ter bons e maus argumentos. É possível ser honesto no equívoco. A boa-fé não é monopólio das pessoas que fazem as melhores escolhas.

Decidi ler a reportagem da Folha, que tem todo o direito de se opor à medida — e quanto mais clara for num editorial a respeito, por exemplo, melhor. O que se faz nessa reportagem, no entanto, não me parece intelectualmente decente.

O texto, é verdade, se encarregou de informar as circunstâncias em que “a filha dopa pai”. Leiam (em vermelho):
A mulher, que recolheu o pai da rua dizendo que o levaria ao médico, precisou colocar um calmante num copo de suco para conseguir levá-lo. “Ele já usa crack há dez anos, já foi internado voluntariamente duas vezes, mas quis sair. Não quero que ele morra. Não saio daqui sem a internação”, dizia a filha.

A filha que “dopa pai” era mesmo a “filha do papai”. Praticou, na verdade, um gesto de amor, a um custo psicológico que não deve ter sido pequeno — e entendo que as pessoas, ATÉ AS QUE NÃO CONSOMEM DROGAS!!! — merecem um pouco mais de respeito.

Vocês já viram em que estado ficam os viciados em crack quando estão em surto? Podem ser, como sabe todo médico, extremamente violentos. Pais e mães certamente sofrem terrivelmente ao buscar um filho na rua para tentar interná-lo… Mas fico cá pensando no desamparo psíquico em que cai uma pessoa, por mais madura que seja, quando é obrigada a resgatar o pai da sarjeta.

Essa pobre mulher nem estava tentando se livrar de um problema doméstico. Seu pai já estava perdido para o mundo dos vivos. A morte precoce era seu destino fatal. E ela recorreu a uma estratégia — um calmante — para conseguir levá-lo ao médico.

Laura Capriglione e os demais viram na espetacularização do drama privado um “gancho interessante” e crítico para abordar o programa, que não conta com a simpatia dos “progressistas”, ainda que ele seja, até agora, a única alternativa razoável para os viciados. Mais: está cercado de todos os cuidados, vigiado por várias instituições, para que se evitem eventuais abusos.

Não, dona Laura, a filha não “dopou” o pai! Respeite essa mulher corajosa! Ela estava procurando, e imagino com que dor, tentando salvá-lo de um fim certamente trágico se nada for feito. Não vou ficar aqui arbitrando sobre intenções porque não sou juiz da consciência alheia. Pouco me importa o que Laura e os outros pretenderam. Uma coisa é certa: o texto é moralmente doloso.

O fim da reportagem dá o que pensar (em vermelho):
Entre os que fugiram do tratamento estava um jovem. De passagem pela rua Prates, onde funciona o Cratod, ele parou após ver os militantes da luta antimanicomial.
Enviado para o serviço de “orientação”, em uma hora, seria atendido. “Não vou aguentar”, gritava.
Acabou aproveitando a comoção que tomou conta dos repórteres, recolheu R$ 6,50 (que disse serem para comprar um prato feito) e saiu.

Encerro
Não entendi se o dinheiro foi dado pelos “repórteres comovidos” ou por outros. Seja como for, já houve um tempo em que jornalistas eram pagos para pensar e relatar o que viam. Apenas. Digamos, no entanto, que, nos dias de hoje, também lhes seja permitido entrar em “comoção”. Acho que é o caso de seus respectivos chefes lhes recomendarem que se comovam também com os que não consomem drogas…

A Folha deve desculpas àquela mulher.

Por Reinaldo Azevedo

 

Um monumento ético – Renan turbina Minha Casa em Alagoas, e “empreiteira amiga” fatura R$ 70 milhões

Escrevi ontem um post explicando por que tenho muita pena “duzamicânu”. Eles não contam com um Renan Calheiros, por exemplo. Barack Obama, que pecado!, não dispõe de um PMDB para a “governabilidade”. Leiam o que informa Alana Rizzo, no Estadão:

A combinação de influência na Caixa Econômica Federal (CEF) e o comando político de 80% dos municípios fez do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), favorito para assumir o controle do Senado, o “midas” do Minha Casa, Minha Vida em Alagoas com pelo menos um resultado notável: a Construtora Uchôa, do irmão de Tito Uchôa, apontado como laranja do peemedebista, faturou mais de R$ 70 milhões no programa nos últimos dois anos.

Empresário versátil, Tito Uchôa é sócio do filho do senador, o deputado federal Renan Filho (PMDB), em uma gráfica e em duas rádios. Também é proprietário de uma agência de viagens, uma empresa de locação de carros e um supermercado. A mulher dele, Vânia Uchôa, era funcionária do gabinete do senador Renan Calheiros.

Uma engenharia financeira peculiar do programa Minha Casa, Minha Vida valoriza os atributos do candidato à Presidência do Senado e abre espaço para a ingerência política. As contratações – sem processo de licitação – são feitas diretamente pela Caixa, área de influência de Renan e do PMDB no Estado e com ramificações em Brasília, a partir de propostas apresentadas por prefeitos e empreiteiras ao banco.

Das 26 prefeituras de Alagoas incluídas no programa, apenas duas não são comandadas por aliados de Renan ou partidos coligados com o PMDB. O peemedebista garante ter nas mãos 80% dos 102 municípios alagoanos. “Elegemos diretamente 25 prefeitos em todas as regiões e em aliança com os partidos coligados ganhamos em mais de 80% dos municípios”, vangloriou-se Renan, em convenção do PMDB em dezembro passado.

O programa de moradias populares é uma das principais bandeiras da presidente Dilma Rousseff. O Minha Casa, Minha Vida é uma das armas do senador para aumentar seu capital político nas próximas eleições. Alagoas está, proporcionalmente, entre os maiores contratantes do Minha Casa, superando outros Estados do Nordeste e até a meta do próprio governo, que era construir 13 mil unidades no Estado.

Hoje, mais de 26,8 mil unidades habitacionais já foram contratadas e o volume de recursos públicos investido ultrapassa a marca de R$ 1 bilhão. Para se ter ideia, Sergipe, administrado pelo petista Marcelo Déda, com perfil populacional e área semelhantes aos de Alagoas, registra R$ 200 milhões em contratos.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Pedro Taques confirma candidatura contra Renan

Leiam o que informam Marcela Mattos e Gabriel Castro, na VEJA.com. Volto ao assunto mais tarde para perguntar o que farão as oposições, em especial o PSDB.

A eleição para a Presidência do Senado, marcada para o dia 1º de fevereiro, deverá ter três candidatos. O senador Pedro Taques (PDT-MT) confirmou nesta terça-feira ao site de VEJA que entrará na disputa. O parlamentar afirmou que, com a recusa de Pedro Simon (PMDB-RS) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) em concorrer ao cargo, decidiu agir. “Gostaria que um desses dois do PMDB  pudesse ser candidato. Eles têm decência, têm experiência, mas parece que não vão aceitar. Coloquei meu nome à disposição. O que não pode é haver um candidato só”, disse o pedetista.

A confirmação de Pedro Taques na corrida deve unificar o grupo que se opõe ao retorno de Renan Calheiros (PMDB-AL) ao comando da Casa. O líder do PSOL, Randolfe Rodrigues, foi o primeiro a entrar na briga, mas seu nome enfrenta resistência nas bancadas do PSDB e do DEM.

Após uma conversa na manhã desta terça-feira, Pedro Taques e Randolfe Randolfe Rodrigues decidiram tornar-se adversários – ao menos no papel. “Randolfe é meu irmão de causa. Não vou brigar com ele por causa disso. Acho que é bom termos mais candidaturas”, disseTaques. Ele lembra que, como o regimento da Casa prevê segundo turno, a fragmentação das candidaturas não significa necessariamente um problema. Randolfe também confirma a harmonia na ala independente. Para ele, a candidatura de Taques significaria uma união de forças contra Renan. “Entre e ele, não há oposição”, argumentou.

A entrada de Taques na corrida atende a um desejo do PSDB, que não se empolgou com a candidatura de Randolfe. Entre os dois, a preferência dos tucanos sempre foi pelo senador do PDT. Nas últimas semanas, o  líder tucano, Alvaro Dias (PR), tentou convencer peemedebistas “independentes” a participarem da eleição. Um a um, eles rejeitaram o convite. Pedro Simon foi o último a dizer não: “A minha candidatura seria de protesto. Defendo um entendimento, mas eu não represento isso”, afirmou o senador gaúcho. Ele diz ter consciência da antipatia e da restrição que demais parlamentares têm por ele.

As costuras dos parlamentares independentes com o PSDB não devem ser suficientes, no entanto, para ameaçar o amplo favoritismo de Renan Calheiros, que tem o apoio da maioria dos parlamentares e o aval do Palácio do Planalto.

Por Reinaldo Azevedo

 

Eu tenho muita pena duzamericânu. Nóis ainda ensina pra eles como se pega us peixe

Coitados dos EUA!
Coitado de Barack Obama!
Coitados daqueles que a esquerda xexelenta brasileira chama “estadunidenses”!
Um dia eles terão samba no pé!

Um dia eles terão ziriguidum, balacobaco, telecoteco!
Um dia eles terão PMDB!
Um dia eles terão algo parecido com Medida Provisória — de caráter permanente — em sua legislação!
Um dia eles terão Lula (estão quase lá…)!
Um dia eles terão um sujeito que não foi eleito por ninguém cuidando da articulação do governo no Congresso.

Um dia eles terão o terceiro povo “mais feliz” do mundo: os butaneses continuarão em primeiro lugar; os bananeses nos manteremos em segundo, e aí virão os estadunidenses…

Se Obama conseguir concluir a sua obra, os EUA ainda cumprirão o seu ideal, e teremos um continente americano quase todo unido pela estupidez. Talvez o Canadá se salve por causa da Polícia Montada… “Como assim, Reinaldo?” Sei lá… Um povo que tem Polícia Montada me parece determinado a manter suas singularidades… Por que isso tudo?

O PSDB e o DEM recorreram ao Supremo contra a Medida Provisória que libera recursos do Orçamento de 2013: nada menos de R$ 42 bilhões. Por quê? Em razão da barafunda criada pela tentativa de derrubar os vetos da presidente Dilma à lei dos royalties do petróleo, o Congresso encerrou 2012 sem votar a peça orçamentária. Seria a versão cabocla (o conteúdo é bastante diferente) do abismo fiscal dos EUA. E é nesse ponto que eu tenho pena duzamericânu e da sua falta de ginga. Uzamericânu é tudo troxa; nóis sabe como se pega us peixe.

Por lá, se o Congresso não autoriza a elevação do limite do endividamento e a liberação de recursos, fim de papo: acaba o dinheiro. Daí aquela correria e a negociação frenética. Os bobalhões ainda estão nessa de que Poderes têm prerrogativas que não podem ser usurpadas. São mesmo um império em decadência. Vejam a beleza da China, hoje tão admirada por esquerdistas e por ditos liberais pragmáticos: o Congresso se reúne duas vezes por ano para homologar as decisões do Comitê Central do Partido — na verdade, aquele é apenas uma divisão deste. Ao longo do ano, o Poder Legislativo é apenas cartorial.

Uzamericânu é tão idiota que não dispõem nem do estatuto da Medida Provisória, que é aquele mecanismo que permite ao Executivo, no Brasil, governar sozinho. Como é que um povo assim pode aspirar à grandeza? São práticas como a independência entre os Poderes que permitem a emergência de gente como os republicanos. Só porque esses caras foram eleitos pelo povo, acham que podem debater a agenda do país com Barack Obama.

O Brasil não tem essas frescuras, razão por que uzamericânu são quem são — um povo infeliz, sem ziriguidum, balacobaco e telecoteco — e nós somos quem somos. Além da manemolência e do samba no pé, só não somos mais felizes do que os butaneses… A gente também não costuma dar tiro em escola, essas coisas detestáveis. Por aqui, mata-se quase seis vezes mais, mas é tudo a céu aberto mesmo…

A imprensa vai demonizar a oposição também?
Devo contar as horas para que setores da imprensa brasileira comecem a demonizar também as oposições brasileiras, que decidiram recorrer ao Supremo? Espero que Jabor não vá à TV dizer que o PSDB e o DEM só estão cobrando o respeito à Constituição porque Dilma é mulher — assim como, segundo ele, os republicanos só combatem Obama porque ele é “negão”… Afinal, caso consigam uma liminar — o que eu duvido —, o repasse de dinheiro teria de ser suspenso.

Ou não! Em Banânia, com a sua compulsão para a felicidade e para o jeitinho, a Justiça determina uma coisa, e o governo faz o contrário. Vejam o caso do Fundo de Participação dos Estados. O Supremo decidiu que, na sua forma atual, ele é inconstitucional e deu prazo ao Congresso de TRINTA E CINCO MESES para votar uma nova lei. Ninguém votou zorra nenhuma! Mesmo assim, o Executivo manteve os repasses.

Como diz uma música breganeja, “nóis é jeca, mais nóis é jóia”. Em Banânia, um chefe partidário, um líder de facção, anuncia que vai passar a comandar a articulação do governo no Congresso, e boa parte da imprensa noticia isso como quem dissesse: “Hoje é terça-feira, 22 de janeiro…”

Assim, eu tenho de ter muita pena dessezamericânu bunda-mole, que não percebem que o grande defeito da democracia está, como vou dizer?, em ser democrática. Obama, é bem verdade, está fazendo um esforço danado — e com apoio de setores importantes da imprensa americana — para apressar a marcha dos EUA rumo à descoberta da felicidade terceiro-mundista, esse mundo, como notou Pero de Magalhães Gândavo, sem fé, sem lei nem rei… Quer dizer, fé e lei andam em baixa… Mas estamos bem perto na monarquia, só que do tipo absolutista (que é como vale a penas ser monarca, é claro!).

Uzamericâno ainda vão descobrir quer o preço da governabilidade é o desrespeito contínuo e contumaz à lei. Sem isso, não se fabrica esse atraso orgulhoso de si, convicto e, como é sabido, feliz. Uma dia a gente ainda toma o lugar do Butão. É uma questão de tempo.

Por Reinaldo Azevedo

 

Vejam o que a democracia da conciliação, do Brasil, tem a ensinar ao mundo: Conab emprega filho de Renan e ex-mulher de Henrique Alves

Por Evandro Éboli, no Globo:
Conhecido feudo do PMDB, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) abriga em seus quadros gente muito próxima dos favoritos para comandar o Congresso Nacional a partir de fevereiro. Rodrigo Rodrigues Calheiros, um dos filhos do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), candidato a presidir o Senado, recebe R$ 10,5 mil mensais como assessor de Contratos Especiais da presidência do órgão. Mônica Infante Azambuja, ex-mulher do deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que pleiteia a presidência da Câmara, tem salário de R$ 10,1 mil como assessora de diretoria.

Rodrigo, de 28 anos, está na companhia desde abril de 2011, mas não é assíduo no trabalho, segundo servidores. Ontem à tarde, a secretária da Diretoria de Gestão de Pessoas, onde Rodrigo deveria despachar, informou que o servidor não estava: “Não sei se ele está de férias. Não está vindo nesses dias”.

Mas no site oficial da Conab, no relatório onde aparece a situação funcional dos servidores, Rodrigo aparece como “trabalhando”.

Mônica é designer gráfica e chegou à Conab em julho de 2011. Ambos ingressaram no órgão quando o ministro da Agricultura, pasta a qual a Conab é subordinada, era Wagner Rossi, um político do PMDB, com vínculos com o vice-presidente da República, Michel Temer. Denúncias de irregularidades afastaram Rossi da pasta.

Em 2002, quando Alves surgiu como vice de José Serra (PSDB) na coligação que disputaria a Presidência, Mônica acusou o ex-marido de ter dinheiro depositado em paraísos fiscais. O caso derrubou Alves da dobradinha com Serra. Foi substituído por Rita Camata (PMDB-ES). Mônica passou pela Infraero e entrou numa lista de demissionários da empresa. Alves brigou para mantê-la no cargo.

Rodrigo é lotado na presidência da Conab, mas sua mesa está instalada na diretoria de Gestão de Pessoas, cujo diretor é Rogério Abdalla, homem do PMDB, que está na companhia pelas mãos de Wagner Rossi. Abdalla é ligado à cúpula do PMDB. Foi ele quem se encarregou de levar Mônica e Rodrigo à Conab. Mônica trabalha na diretoria de Operações e Abastecimento, cujo diretor é Marcelo de Araújo Melo, candidato derrotado em Goiás como vice de Iris Rezende. Mônica chegou a ser assessora da presidência, na gestão de Evangevaldo dos Santos, ligado ao PTB, mas que obedecia aos pedidos do PMDB.
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Por Reinaldo Azevedo

 

A perversão da religião – A estupidez de dois padres

Leio no Globo que o padre Julio Lancelotti — e um outro que pretende, pelo visto, disputar com ele o bastão — protestou contra o programa do governo de São Paulo que permite a internação compulsória de viciados em crack, com a autorização da família ou a determinação de um juiz. O Ministério Público, a Justiça de São Paulo e a OAB acompanham a ação.

Leiam o que informa Gustavo Uribe. Volto mais tarde para perguntar em que altar se ajoelha esse tal Lancelloti. E não adianta ele me demonizar por aí porque não dou a mínima. Não acredito em praga de padre.

O programa de internações involuntárias de dependentes químicos em São Paulo começou com protestos, nesta segunda-feira. Com cartazes que traziam inscrições como “somos contra políticas higienistas” e “usuário não se prende”, um grupo de 40 pessoas, ligados a movimentos sociais e entidades religiosas, fizeram uma manifestação em frente ao Centro de Referência em Álcool, Tabaco e outras Drogas (Cratod), no centro da capital.

Os manifestantes cobram do governo de São Paulo uma política humanitária no combate às drogas e avaliam que a internação compulsória não é eficaz no tratamento de dependentes químicos.

O padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua, considera que a iniciativa do governo estadual é “drástica” e não eficaz. Segundo ele, o governo de São paulo deveria colocar assistentes sociais e psiquiatras nas periferias de São Paulo, e não concentrar o atendimento em um único centro de referência.

“Há uma carência de atendimento social na cidade. Essa é uma medida drástica e bombástica, que quer facilitar algo que é ineficaz”, criticou o padre.

O padre Raniel, da Fraternidade do Caminho, considera que a medida é opressora e atenta contra a dignidade do dependente químico e o seu livre arbítrio. Para ele, é necessário dar o poder de escolha ao dependente químico.

“A igreja quer respeitar a dignidade do ser humano. Que ele tenha o poder de escolha, que ele possa se recuperar da dependência química”, afirmou o padre Raniel.
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Por Reinaldo Azevedo

 

Mais uma contradança com meu amigo Caio Blinder — “mexeu com ele, mexeu comigo”

Meu amigo Caio Blinder — “Mexeu com ele, mexeu comigo” — envia um comentário ao post que fiz, em que comento um texto seu. Ele escreve o que segue em vermelho. Respondo em azul.

Amigo Reinaldo, um prazer ter um texto seu criticando o meu. Sou cívico, como mostra o vibrante debate entre meus leitores.
Alguns pontos rápidos:
1) os republicanos estão, sim, perdendo, capital político. Perderam cinco das últimas eleições presidenciais no voto popular. E caso continuem no atual rumo, será o abismo eleitoral. A gente reconversa sobre isto em 2016, hehehe.
Perder no voto popular, dada a forma como se dá eleição americana, não quer dizer grande coisa, e você sabe disso. Nos EUA, não há grandes lavadas nesse quesito, ainda que um candidato consiga esmagar o outro no colégio, a exemplo do Reagan da reeleição.

De resto, querido Caio, vamos botar as coisas no seu devido lugar: pensando o que penso, eu poderia estar mais chateado do que você se essa perda dos republicanos fosse real — acho que não é. Por mais que eu admire meu amigo Caio Blinder (e admiro demais!), não o imagino dando dicas para que os republicanos se recuperem, hehe… Acho que, se eles fizessem o que Caio acha que deveriam fazer, ficariam bem parecidos com os democratas. Como democratas já os há, amigo Caio, o eleitorado certamente preferiria o original à cópia.

Cotejo a atuação dos republicanos nos EUA com a dos tucanos no Brasil. Quem está mais perto do poder? Com todos os “erros” que a metafísica influente democrata viu nos republicanos, o fato é que eles conseguiram ter um candidato competitivo contra o homem, o mito, o símbolo, a legenda. A oposição, no Brasil, tudo o mais constante, não conseguirá competir com Dilma Rousseff, cavalgando o Pégaso do crescimento de 1%. Uma coisa é questionar a pauta republicana; outra, distinta, e é este é cuidado que se tem de tomar, é questionar o direito de haver uma oposição.

2) falar em branco, negro, latino, judeu, católico, roxo, marciano no jogo político americano é parte do jogo, não se trata de ação afirmativa, mas do papel dos blocos raciais e étnicos em uma corrida eleitoral e no perfil dos partidos. E é isso mesmo: os alertas sobre o partido se tornar um enclave de brancos sulistas e rancorosos parte inclusive de republicanos (obviamente sem usar o termo rancoroso). O alerta é marcante entre eventuais candidatos presidenciais.
Sim, é parte do jogo, e eu seria a última pessoa a reclamar disso porque gosto de clareza no jogo político. Mas me parece desonesto intelectualmente — e não estou dizendo que Caio faça isto; sustento que há uma metafisica influente que o faz — que se exijam provas negativas dos republicanos: “Provem que vocês não estão fazendo o que fazem só porque Obama é preto”. Eis a prova impossível, não é mesmo, Caio?, já que o presidente não pode deixar de ser preto — na verdade, mestiço — por algum tempo enquanto se verificam a moral profunda e a pureza das ideias republicanas.

O sistema não delegou ao Congresso a última palavra sobre o Orçamento prevendo que a questão pudesse ganhar uma coloração racial, Caio. O que veio depois não pode ser causa do que veio antes.

3) Curioso seu espanto com a expressão “jeca”, era típica do seu querido Paulo Francis, ao se referir ao casal Clinton, de Arkansas, das bandas de Okhaloma.
Sim, Caio, o meu querido Paulo Francis. Seu também, certo?

E, de fato, acho um atraso que setores de um dos dois grandes partidos ainda estejam discutindo teoria da evolução, aquecimento global (que não vejo desmentido no seu artigo) e variadas teorias conspiratórias (desde o nascimento queniano de Obama ao fascismo-comunismo de organizações multilaterais)
Abração, amigo Reinaldo, e beije minha querida São Paulo por mim, Caio

Eu não tenho competência técnica para desmentir o aquecimento global. Comecei a me interessar pelo assunto quando percebi que as previsões repetiam o Apocalipse de São João. Há gente muito mais competente do que eu que demonstrou a falência dos modelos teóricos, o que levou o “pensador de Gaia”, James Lovelock, a fazer o seu “erramos”.

Caio sabe que não entendo nada de aquecimento global, mas também sabe que Richard Lindzen entende muito. É professor de Meteorologia do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e já publicou mais de 200 livros e artigos científicos. Foi o líder do capítulo científico do Terceiro Relatório de Avaliação do IPCC, de 2001. Resumiu tudo numa frase que me parece emblema destes tempos: “Al Gore acredita no aquecimento global porque as pessoas acreditam, e as pessoas acreditam porque Al Gore acredita”. Já escrevi alguns posts sobre ele. Aqui, há uma longa aula em que caracteriza devidamente a histeria. Lindzen não é de Oklahoma. Nasceu em Webster, em Massachusetts. Não sei se é republicano ou se era eleitor de Mitt Romney. Sua ciência não parece partidária.

Há republicanos que debatem a origem queniana de Obama e outros que defendem o ensino do criacionismo? Há, sim. De saída, não dá para confundir isso com críticos sensatos das teorias do aquecimento global. Mas noto que não faltam esquisitices e particularismos também aos democratas, não é? A questão é saber se ficamos no mérito ou na caricatura.

Eu acho que o regime democrático está mais seguro com republicanos vigiando democratas (e vice-versa quando for o caso) e fazendo valer a sua maioria na Câmara para negociar, sem espaços para cooptação — ainda bem que não há Calheiros e Alves por lá. O fato de haver republicanos que defendem que se substitua Darwin por Adão e Eva — há democratas que acreditam nas virtudes criativas da maconha, e nem por isso são caracterizados como um bando de maconheiros — não muda as prerrogativas do Congresso.

O que eu estou sustentando é que, numa sociedade aberta, com a qual alguns obamistas parecem não se conformar (não é o caso de Caio), os antagonistas se entendem na defesa do regime. E só se pode ser um democrata realmente convicto porque há republicanos convictos.  O que repudio, meu amigo Caio, é que se tenha começado a considerar um defeito o que é uma virtude da política americana. Vício é o PMDB. Vício é uma oposição incapaz de dizer se é bola ou bule.

Tomo sempre cuidado para que não fique parecendo que os americanos têm o que aprender com Brasil em matéria de conciliação política. O Brasil só vai sair da lama quando aprender um pouquinho com os americanos o valor da convicção. Ou, daqui a pouco, vamos começar a achar que José Sarney e Renan Calheiros são, de fato, importantes para o Brasil.

E eles não são. Qualquer “jeca” de Oklahoma defendendo o criacionismo faz menos mal à política americana do que Sarney defendendo Darwin…

Por Reinaldo Azevedo

 

Petistas deliram e já discutem a sucessão de 2018… Com Lula!

Pois é… Lula ocupa de tal modo a cena política, e com tanta sofreguidão, que os petistas se veem obrigados a fazer certos avisos. Leiam o que informa Marina Timóteo, no Globo. Volto depois:

O diretor-presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, negou nesta segunda-feira boatos de uma suposta volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao cenário eleitoral, já que o petista percorrerá, em breve, o Brasil em caravanas. Mais tarde, o ex-ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, acrescentou que Lula não será candidato a governador de São Paulo e nem a presidente em 2014, mas não descartou uma eventual candidatura de Lula em 2018. “Se houver acirramento das contradições ou uma crise nacional”, disse Vanucchi, amigo pessoal de Lula e um dos diretores do Instituto Lula.

Lula participa da reunião com intelectuais e autoridades latino-americanas em um hotel na Zona Sul de São Paulo. Sobre a oposição, Vannuchi disse ainda que Aécio Neves (PSDB) não é candidato presidencial para valer em 2014. “Vocês jornalistas sabem, ele é candidato para 2018. Agora toda a construção é para ele virar figura de proa, disputar para perder evidentemente e contar como uma evolução, já que a Dilma não será mais candidata por razões constitucionais”.

Segundo Vanucchi, Lula disse estar “aprendendo a ser ex-presidente”, e, que por enquanto, descarta concorrer a qualquer cargo público. E que proibiu qualquer pessoa da equipe de cogitar seu nome para disputar as eleições para governador em 2014. “Ele me disse que não quer, que não faz parte do plano dele. O Lula quer ser isso que ele é agora, se reunindo com lideranças latinas, com povo, empresários, sindicalistas, bancadas, sociedade civil. Ele quer criar novas lideranças. Ser uma liderança política livre”.

O ex-ministro justificou desta maneira o fato de Lula estar trabalhando para não ser mais candidato, nem ao governo de São Paulo e nem a presidente. “Mas não digo que não será em hipótese alguma em 2018, porque se houver acirramento das contradições, uma crise nacional e depois (Lula) despontar como um polo de consenso para reaglutinar o país ou um conjunto grande de força política, aí ele se dispõe, como se dispôs em 1998, mesmo absolutamente convencido que não deveria”, disse, em referência à reeleição praticamente certa de Fernando Henrique Cardoso.
(…)

Voltei
Bem… Até os petistas admitem que o comportamento de Lula dá margem a especulações sobre quem será o candidato do PT à Presidência em 2014. Mais do que isso: pelas palavras de Vanucchi, Lula ainda não sabe ser “ex-presidente”… Que cabeça dura! O Apedeuta, com efeito, parece ter uma dificuldade imensa para aprender coisas novas. Só sabe ser chefe…

O mais espantoso nessa história é estarem debatendo já a sucessão de… 2018! Apelando ao vocabulário leninista, Vanucchi diz que Lula disputará, sim, a sucessão de Dilma daqui a seis (!!!) anos se houver um “acirramento das contradições”…. Huuummm… Entre quem e quem? Que forças estariam do outro lado do petismo?

Não serão os banqueiros, que nunca viram motivo para isso. Não serão os potentados da indústria financiados pelo BNDES, que nunca viram motivo para isso. Não serão os reacionários das elites tradicionais à moda Sarney e companhia, que nunca viram motivo para isso. Só me resta concluir que Vanucchi imagina o popularíssimo Lula disputando a eleição em 2018 ou contra… o povo.

Estupefaciente!

PS – O PT vendeu, e boa parte da imprensa comprou, a pauta da “renovação”, lembram-se? Ignorava-se que o partido “da renovação” era aquele que teve um mesmo candidato à Presidência em cinco disputas seguidas… Não tem jeito: quando o jornalismo quer escrever besteira, é imbatível. Vejam aí… Como Lula tem dificuldade de ser “ex”, já se fala nele para 2018. Dilma, a malvada e ingrata, não quis abrir mão da prerrogativa.

Por Reinaldo Azevedo

 

Chega de discordar de inimigos. Chegou a hora de discordar de Caio Blinder

Caio Blinder é meu amigo, e, mexeu com ele, mexeu comigo… Mas eu discordo dos meus amigos às vezes. Às vezes, faço isso quase sempre, hehe… Caio escreve, como de hábito, um instigante, informado e sempre estimulante artigo sobre o segundo mandato de Barack Obama.

Escreve o meu amigo Caio:
“Os republicanos estão perdendo capital político e se tornaram basicamente obstrucionistas. Eles correm o risco de se petrificarem como o partido de brancos sulistas e rancorosos, especialmente homens. No entanto, eles existem. Ademais, uma parcela do país não é alinhada a nenhum dos dois grandes partidos e nunca se deixou enfeitiçar pela magia Obama. O presidente democrata não pode simplesmente passar ao largo de um partido que tem maioria na Câmara e se dirigir diretamente à nação para fazer pressão para concretizar sua agenda.”

Por que eu discordo de Caio? Porque falta a série histórica, não é?, que ainda não aconteceu. Sem que os republicanos sejam derrotados também em 2016, parece-me precipitado sustentar a “perda de capital político”. E acho que o resultado das urnas não endossa a tese.

Quanto ao partido de brancos, rancorosos, sulistas… Noto, fazendo um aceno amistoso ao meu amigo Caio, que isso parece coincidir com a caricatura que os democratas fazem do partido adversário. Ainda que assim não fosse, parece-me perigoso supor que a morenice possa se confundir com uma categoria de pensamento.

Por tautológico que pareça, se republicanos concordassem com democratas, e também o contrário, um seria o outro, e o outro seria um. E, juntos, eles seriam o PMDB de Renan Calheiros, Henrique Alves e José Sarney. Tenho certa dificuldade de considerar, como faz Caio, que seja este o espírito dos republicanos: “para salvar a aldeia, é preciso destruí-la”. Corre-se o risco de achar que um lado tem o monopólio das boas intenções.

Caio escreve ainda sobre um senador republicano que decidiu se entender com Obama:
“Mas há outro republicano muito corajoso que rompeu com a ortodoxia partidária. Tom Coburn é senador pelo Oklahoma, um daqueles estados mais associados ao atraso republicano, de gente jeca, que questiona a teoria da evolução, duvida do aquecimento global e acha que ‘os helicópteros pretos’ da ONU estão chegando.”

Caio certamente não quis dizer que todo morador de Oklahoma seja assim; tampouco quis referendar um preconceito ao escrever “estados mais associados ao atraso republicano”, porque isso implicaria explicitar: associados por quem?” Também não está sustentando, estou certo, que “atraso” e “republicano” formem uma unidade, de sorte a constituir uma regra, sendo um republicano não atrasado uma exceção. Fosse assim, com efeito, os republicanos estariam além dos males necessários da democracia; eles seriam um mal a ser combatido, superado e extinto, hipótese em que a plena democracia só se realizaria com a sua extinção.

Noto, finalmente, mandando um abraço ao meu amigo, que há sólidas e respeitáveis reputações, que nada têm de reacionário, que combatem as teses centrais do aquecimento global — e, hoje, a ciência está mais com elas do que com os crentes de Al Gore. James Lovelock, velho demais para aderir ao reacionarismo, pai espiritual da tese, já reconheceu: era tudo alarmismo. Ainda que possa haver algum aquecimento, não se dá mais como certo que esteja ligado à ação humana.

Até admito a possibilidade, embora não creia nela, de que todo jeca ou estúpido duvide do aquecimento global, mas é absolutamente certo que nem todo mundo que duvida dos termos em que se dá esse debate seja jeca ou estúpido.

Abraço, Caio. Como disse Cícero a um amigo que visitava Atenas, beije Nova York por mim.

Por Reinaldo Azevedo

 

As drogas e os ditos “progressistas”

A internação involuntária de viciados em crack expõe o fundo falso da tese daqueles que defendem a legalização — ou descriminação; nesse caso, tanto faz — das drogas. A questão é simples e objetiva: se se considera que o que chamam “liberdade de escolha” é o melhor caminho no caso da maconha, por exemplo, por que seria diferente com o crack? Os que vão às ruas marchar em defesa da erva poderiam tentar responder à questão. Mas não vão porque ficam com preguiça, acho…

Os defensores da maconha sempre foram muito hábeis no esforço de converter o seu vício ou o seu gosto num, sei lá como chamar, “direito fundamental” ou “exercício da liberdade individual”.

Ora, ninguém lhes tira o direito de consumir substâncias que podem lhes trazer danos. Continuam livres para isso — e há centenas de substâncias legais potencialmente danosas. No caso das drogas ilícitas, a sociedade escolheu um caminho que considera, atenção para isto!, mais seguro para ela, não para os consumidores individuais disso ou daquilo. “Mas a repressão também gera dificuldades…” Eu sei. Não há escolha que se possa fazer sem efeitos colaterais indesejados — nesse assunto ou em qualquer outro. O mundo sem óbices e dificuldades, leitor, é aquele dos seus devaneios; é um exercício solitário e incompartilhável.

O crack, porque se transformou na droga dos miseráveis, foi, na prática, legalizado. Seu consumo, na maioria das cidades brasileiras, se dá a céu aberto e sem repressão. Chegamos ao que se vê por aí. E assim é mesmo havendo uma forte interdição que é mais de caráter social e moral do que propriamente policial. Dá para imaginar como seria uma sociedade em que o consumo fosse livre. Aí um poeta ou outro do absurdo imagina: “É preciso descriminar o consumo, mas reprimir o tráfico…”. Entendo: querem liberar a demanda, mas restringir a oferta. No máximo, vão provocar inflação no setor…

Os ditos progressistas submeteram essa questão a uma inversão moral, coisa em que são especialistas. O drogado se tornou um “agente de direitos” como drogado. Ora, é claro que o assistem as garantias de que gozam os demais homens, mas não como membro de uma categoria apartada da sociedade. Um programa como a internação involuntária ou compulsória já implica um custo adicional para os demais indivíduos. Será sustentado com recursos púbicos, oriundos dos impostos dos que trabalham e produzem. A sociedade lhe dá, pois, suplementarmente a chance de se tratar, mas não está obrigada a ceder a reivindicações que potencialmente a destroem. “Mas destroem mesmo?” A resposta está nas áreas das cidades brasileiras que foram privatizadas pelo crack.

Código Penal
A questão das drogas, desafortunadamente, se transformou num dos modos, deixem-me ver como escrever, da “luta contra o estado burguês” e “contra o império americano” (que estaria na origem da atual política de combate ao tráfico), embora seja uma causa levada adiante, no mais das vezes, por beneficiários do “estado burguês”… Ou alguém já viu um movimento de mães da periferia de São Paulo ou das favelas do Rio (em carioquês, diz-se “comunidade”…) em defesa da descriminação das drogas? Ora… Passeatas com esse conteúdo se fazem na Avenida Paulista e em Copacabana, não no Capão Redondo ou em Duque de Caxias…

Há, assim, uma mistura de exacerbação do discurso da liberdade individual com um eco, santo Deus!, da luta de classes e do combate ao imperialismo. Trata-se de uma salada aloprada de conceitos. Já sou velho. Tenho 51 anos. Sou do tempo em que as esquerdas combatiam as drogas porque entorpeciam a consciência… Ainda que parecesse improvável ou impossível, as esquerdas pioraram muito…

Na era, no entanto, em que cada minoria acredita que pode impor aos outros as suas necessidades, reivindicando direitos especiais e reparações, também as drogas viraram objeto de militância. E esses militantes conseguiram vender a sua tese vagabunda. Aquela comissão de juristas que elaborou a estúpida proposta de reforma do Código Penal que está no Senado não fez por menos: além de propor a descriminação do consumo DE QUALQUER SUBSTÂNCIA, resolveu estabelecer um limite a partir do qual estaria caracterizado o tráfico. Quem portasse o suficiente para cinco dias de uso próprio não seria importunado pela polícia. Ora, para tanto, seria preciso definir a unidade, certo?, quanto se considera normal consumir em um dia… Quanto? Ah, não sei! Aí, creio, seria preciso criar uma nova estatal: uma Drogobras ou uma Anardroga (Agência Nacional de Regulação das Drogas). Depois de se indicarem uns “companheiros” para cargos de confiança, chegar-se-ia a esse quantum…

Bem, tudo muito compreensível. É a mesma turma (seus absurdos estão aqui) que decidiu que abandonar um cachorro é pior do que abandonar uma criança…

Por Reinaldo Azevedo

 

Crack e internação involuntária: SP avança contra a imprensa do miolo mole, o PT e setores ideologizados do Ministério Público e da Defensoria

Teve início nesta segunda, em São Paulo, o processo de internação involuntária ou compulsória dos viciados em crack. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) deu consequência a uma lei que já existe. E fez a coisa a certa: chamou a Justiça, o Ministério Público e a OAB para participar do processo. É claro que a questão é delicada. Leiam o que informa a VEJA.com. Volto em seguida.

*
Começa nesta segunda-feira em São Paulo a internação compulsória de usuários de drogas. Um plantão judiciário será instalado na região apelidada de Cracolândia, no centro da capital paulista. A junta jurídica será responsável por analisar casos de internação involuntária (com consentimento da família) ou compulsória (sem necessidade de autorização de parentes) de dependentes químicos que forem levados ao Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), na Rua Prates, no centro. O atendimento será das 9h às 13h.

Segundo o governador Geraldo Alckmin (PSDB), o objetivo da medida é proporcionar o tratamento dos casos mais graves de dependência química. “É um trabalho de internação involuntária para casos mais graves, que comprometem a vida e a saúde das pessoas. Já vai ter no Cratod o juiz, o promotor e o advogado. Acho que estamos avançando (no combate ao crack)”, disse Alckmin no início deste mês.

O acordo entre governo do estado, Tribunal de Justiça, Ministério Público e Ordem dos Advogados do Brasil foi firmado no dia 11 de janeiro. O programa vale apenas para dependentes químicos com estado de saúde considerado grave e sem consciência de seus atos atestada por psiquiatra. “Não é um projeto higienista nem de internação em massa”?, disse a secretária Eloísa de Souza Arruda, na assinatura dos convênios.

Voltei
Opor-se à internação involuntária ou compulsória dos viciados é uma espécie de exercício da crueldade que enverga as vestes do discurso da liberdade. Ainda que se concorde com Camus, no livro “O Mito de Sísifo”, que o suicídio é a única questão filosófica relevante — e que, pois, reconheçamos o direito que todo homem tem de se matar (ainda que não deva; é bom lembrar que o filósofo recusa essa saída) —, cumpre perguntar: os viciados em crack que estarão sujeitos a esses procedimentos podem escolher?

Atenção, meus caros! Essas pessoas perderam até mesmo a condição de escolher a morte. Não estão se matando precocemente porque querem; morrem de um modo patético, consumindo-se em praça pública, porque nada lhes restou de seu: foram-se os pertences e também a dignidade, a escolha, a liberdade, o senso de individualidade e de justiça. Todos aqueles valores subjetivos que fazem de um homem um homem se perderam na fumaça do crack.

Fazer o quê? São, antes de mais nada, um risco para si mesmas, mas também representam um risco para terceiros, à medida que compõem comunidades que, de fato, são hordas de zumbis com um único propósito: conseguir ainda mais droga.

Ideologia e canalhice moral
Chega-se ao processo de internação involuntária — no Rio, aplica-se só para crianças — depois de Prefeitura e governo de São Paulo terem tido a coragem de intervir na Cracolância. Teve início, então, um debate nacional. Embora, por óbvio, a esmagadora maioria dos paulistas e paulistanos tenha sido favorável à medida, ela foi posta em prática contra a militância de setores da imprensa, da Defensoria Pública e do Ministério Público. E, era fatal!, os petistas também fizeram um grande escarcéu. Compareceu ao debate, entre outros, aquele que não poderia faltar: padre Júlio Lancelotti, com o que chamo a “Teologia da Miséria Moral” convertida em redenção dos oprimidos.

Há dias, ao assumir a pasta dos Direitos Humanos na Prefeitura, Rogério Sotilli ainda aproveitou para fazer proselitismo contra a internação, no que foi seguido pelo Coxinha, o prefeito Fernando Haddad. Há, sim, um fundo ideológico nisso, mas é certo que os petistas são contra a ação porque, afinal, é “coisa dos tucanos”. Não custa lembrar que o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, já defendeu o procedimento.

Há mais: a internação mexe também com um dos lobbies mais fortes e organizados no Brasil: o daquela minoria que defende a legalização das drogas. Mas trato disso no próximo post.

Que a internação involuntária ou compulsória realmente funcione em São Paulo. Para salvar vidas e para melhorar as cidades. Não custa lembrar que o programa de combate ao crack é mais um dos tiros n’água do governo Dilma. A promessa solene feita pela então candidata mal saiu, ou vai sair, do papel. Haverá uma meia dúzia de convênios só para provar aos empiristas empedernidos que o programa existe.

Por Reinaldo Azevedo

 

De joelhos para o Apedeuta

Depois de Luiz Inácio Lula da Silva submeter Fernando Haddad, o prefeito Coxinha de São Paulo, a uma humilhação, dando-lhe uma aula, e a seus secretários, de governança, chegou a vez de o Apedeuta dizer a Dilma Rousseff como se dança o baião. E ele faz isso hoje, num seminário promovido pelo instituto que leva o seu nome. O Apedeuta comanda um encontro sobre política externa que reúne, entre outros, o ministro da Defesa, Celso Amorim; o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Os intelectuais petistas, este delicioso oximoro, estarão no gargarejo. Há ainda alguns convidados estrangeiros. A grande estrela do evento, e nem poderia ser diferente, é o próprio Lula.

É evidente que se trata de mais um despropósito deste senhor. Não por acaso, um dos destaques do encontro deve ser Amorim, que agora está na Defesa, depois de liderar o Itamaraty nos oito anos de governo do Babalorixá de Banânia. Tornou-se um lulista fanático. O antes diplomata de carreira fez-se político e acabou se filiando ao PT. Nas conversas que mantém, também ele gosta de exaltar sua origem humilde. Não para emular com o chefe, que isso não pode!, mas para ser digno…

Amorim é o principal responsável por uma das políticas externas mais asquerosas de nossa história. Sob sua gestão, o estado brasileiro evitou condenar na ONU alguns notórios carniceiros, mas votou sistematicamente contra Israel, por exemplo, que é uma democracia — sob ataque cotidiano, destaque-se.  Foi sob o seu comando que o governo brasileiro tentou aquele estupefaciente acordo com o Irã, lembram-se? A coisa foi tão patética que até os iranianos tiveram de vir a público para anunciar que não existia entendimento nos termos alardeados pelo Itamaraty. Não! O Ministério das Relações Exteriores não mudou muito com a saída de Amorim. Em muitos aspectos, até piorou. É que se instituiu por lá uma cultura…

Pois bem: agora titular da Defesa, Amorim vai para o seminário para receber algumas instruções do Iluminado. Lula até poderia fazê-lo privadamente, mas isso não deixaria claro, como ele pretende, quem, afinal de contas, está no comando da máquina partidária, que vai tocar a campanha de Dilma à reeleição. Amorim pode não saber a diferença entre um tanque de guerra e um punho de renda, mas é o ministro da Defesa. Formalmente, é o chefe dos comandantes militares. Isso significa render nada menos do que as Forças Armadas a um líder de facção.

Alguém pode imaginar o Secretário de Defesa dos EUA, por exemplo, a participar de um seminário, como aprendiz, de um chefete partidário? Não nos damos conta do absurdo da situação — desta ou do evento ocorrido em São Paulo — porque ele já começa a fazer parte da rotina, já começa a ser um nosso conviva.

Não menos intrigante é a presença de Luciano Coutinho, presidente do BNDES, num encontro dessa natureza. Por quê? Coutinho é o hoje o todo-poderoso de uma instituição que tem sido o esteio do, como chamarei?, “modo de produção petista”. Se a Petrobras já foi a grande caixa-preta do país — não quer dizer que tenha se tornado mais transparente —, o BNDES lhe tomou o lugar. O banco tem sido usado não como fonte de fomento do desenvolvimento, mas como instrumento de gestão. E com o resultado — péssimo! — conhecido. Não é preciso ser muito bidu para constatar que o banco é ambém um instrumento de cooptação daquilo que Lula chamava antigamente “a Dona Zelite”.

Conspiração?
Estaria eu aqui a sugerir alguma conspiração entre Lula, Amorim, Coutinho e outros que vão lá babar na gravata? Besteira! A questão é de outra natureza. Trata-se de saber quem governa o país: as instituições ou um ente de razão que se situa acima das leis e à margem do estado. Se o BNDES e, na prática, as Forças Armadas vão lá prestar vassalagem a Lula, quem não vai?

A busílis, obviamente, é político e cobra, como tantos outros, uma resposta da oposição — daqueles que falam em seu nome. Mas também isso será deixado de lado, como todo o resto. “Que mal há em participar de uma seminário, afinal de contas?”, vão se indagar alguns. A oposição, como vocês sabem, se prepara para atuar na hora certa, que é… quando mesmo???

Por Reinaldo Azevedo

 

O terror no Norte da África e o primeiro dia do segundo mandato de Obama: o mundo está menos seguro do que há quatro anos

Quarenta e oito reféns mortos em circunstâncias que ainda não estão claras — 25 deles carbonizados — e trinta e dois terroristas. É o saldo, até agora, do confronto entre extremistas islâmicos e as forças especiais da Argélia no campo de exploração de gás da cidade de In Amenas, no norte do país, quase na fronteira com a Líbia. Inicialmente, mais de 600 pessoas haviam ficado à mercê dos facinorosos. A repercussão, embora grande, só não é maior porque o desastre se deu num país muçulmano, ainda que a maioria dos mortos possa ser estrangeira — não se sabe ao certo até agora.

O presidente dos EUA, Barack Obama, tomou posse ontem de seu segundo mandato. Faz hoje o juramento no Congresso. Está às voltas com problemas domésticos, como o Orçamento. Mas um mundo bem mais complicado o aguarda do que há quatro anos. E, em muitos aspectos, por mais que se tente fazer de conta que não — estou cada vez mais convicto de que o “obamismo” é um das formas de ser da negação da realidade —, suas escolhas respondem por essa complicação.

A que me refiro? Embora a imprensa mundial não tenha feito alarde, preferindo jogar a questão para os baixos de página e áreas periféricas, a dita “revolução” líbia foi uma coprodução do jihadismo islâmico com a Otan. A maior máquina de guerra do planeta (já que a Otan é braço dos EUA, certo?) se juntava com os extremistas de Alá. Nunca existiram os “libertadores” de Benghazi. Era pura fantasia aquela história das forças democratizantes que avançavam do Leste para ao Oeste. Ao cair nessa esparrela, Obama — com a preciosa ajuda de David Cameron e Nicolas Sarkozy — estavam arregaçando (literalmente…) as porteiras do Norte da África para os extremistas.

Minha crítica não é nova. Alguns textos da época estão aqui:

 25/02/2011

Quando Kadafi se for, falar com quem?

09/03/2011
Rasgando a fantasia – A crise na Líbia expõe o governo patético de Barack Obama

03/04/2011
Como dar um apoio entusiasmado àquilo que nos destrói. Ou: Não contem para o Jabor!

03/04/2011
É para estes civis que Barack Obama, que veio nos livrar das garras de Bush, quer fornecer armas!!!

05/04/2011
O fatal tem uma característica muito chata: sempre acontece!

27/08/2011
Os leitores deste blog não estão surpresos, certo? Opositores líbios têm elos com Al-Qaeda, diz jornal

Retomo
No Estadão de ontem, Andrei Neto entrevista o cientista político Kader Abderahim, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris) e do Instituto de Estudos Políticos (Sciences Po), de Paris. Para ele, informa o jornal, “a força dos movimentos islamistas armados que desafiam a França e o Ocidente na África vem ‘da miséria e da falta de democracia no Mali e em toda a região’.”

Notável! Digam aí uma coisa ruim — incluindo terremoto, tsunami e unha encravada — que a miséria e a falta de democracia não tornem ainda pior. Até aí, como se diz lá em Dois Córregos, morreu um burro. Andrei Neto faz a seguinte pergunta a Abderahim, que dá a resposta que segue:

Muito se fala do papel da Primavera Árabe no Mali e na Argélia. Qual a sua opinião?
Não creio que a Primavera Árabe tenha tido algum impacto sobre o que ocorre na Argélia. As autoridades argelinas conseguiram controlar a Primavera Árabe com repressão e muito dinheiro, colocando recursos na mesa para aliviar a pressão social. Quanto ao Mali, mesmo que o país tenha fronteiras com duas ou três nações árabes, é um país de outra natureza, da África negra, não árabe. Talvez nosso erro tenha sido analisar e entender a Primavera Árabe como revoluções e não como movimentos populares, o que me parece mais justo.

Ou ele não entendeu ou fez de conta que não entendeu. Terroristas não querem saber, por definição, de “Primaveras”. A questão é saber qual foi o elemento que criou todas as facilidades para que os terroristas islâmicos se espalhassem pelo Norte da África. Ok. Os malineses não são árabes… E daí? A esmagadora maioria é muçulmana. EUA, França e Grã-Bretanha aceitaram de bom grado a colaboração de terroristas islâmicos na luta para derrubar Muamar Kadafi. Muitos se deslocaram da fronteira do Paquistão com o Afeganistão com o propósito de tomar um país. Os bombardeios aéreos da Otan lhes abriam o caminho. Quando o então embaixador americano na Líbia Jay Christopher Stevens foi assassinado, em setembro, Obama tentou negar o caráter terrorista da ação. Foi obrigado, depois, a ceder à realidade.

O ponto é
É evidente que Kadafi era um tirano asqueroso. A questão era saber até onde se poderia ir para derrubá-lo e com quem. Peguemos agora o caso da Síria. Há alguma maneira de defender o carniceiro Bashar Al Assad? Desconheço. O povo sírio merece a democracia? Estou entre aqueles que confundem esse merecimento com um direito natural do homem. Mas é inegável que a Al Qaeda constitui hoje a força mais organizada de combate ao ditador. Vale a pena pagar esse preço?

“E fazer o quê? Ficar com Kadafi, com Assad, com esses monstros?” Vênia máxima, a pergunta está errada. De uma coisa, estou convicto: não vale a pena fazer nenhuma forma de acordo com os terroristas, especialmente quando não se tem nada planejado para a etapa seguinte.

Kadafi, depois de ter deixado de praticar, ele próprio, atos terroristas, mantinha a cachorrada da Al Qaeda na coleira. Ninguém precisava chamá-lo de “amigo e irmão”, como fez Lula. O que não é aceitável é que aquelas vastas solidões da Líbia, da Argélia, de Níger, do Mali, do Chade tenham se convertido em área de livre trânsito do terror.

Os obamistas e sua determinação de ver o mundo como ele não é digam o que quiserem. O fato é que Obama começou o seu mandato, em 2008, com o Oriente Médio e adjacências conflagrados. Quatro anos depois, o status da região não mudou — em muitos aspectos, piorou, porque ainda mais hostil ao Ocidente e a Israel —, e agora é o Norte da África que se vê às voltas com as milícias assassinas que já eram rotina no Sudão. Com uma diferença, no entanto: as de agora estão ligadas à “rede”.

Ah, sim: desta vez, “Jorjibúxi” e os republicanos não têm nada com isso. Não adianta o Jabor insistir…

Por Reinaldo Azevedo

 

Lula vence troféu “Algemas de Ouro” como o “mais corrupto”. Aliás, tentaram corromper a votação…

Por Renato Onofre, no Globo:

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começou 2013 vencendo mais uma eleição. Entre as personalidades mais corruptas de 2012, Lula ganhou com 65,69% dos 14.547 votos válidos o Troféu Algemas de Ouro. Em segundo lugar, com 21,82%, ficou o ex-senador Demóstenes Torres (sem partido) seguido pelo governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB), com 4,55%. Ironicamente, a segunda edição da premiação organizada pelo Movimento 31 de Julho foi marcada pela fraude. Os organizadores detectaram a utilização de um programa de votação automática que criou perfis falsos no Facebook, que direcionou 38% do total de votos (23.557) para candidatos ligados ao PSDB e ao DEM.

A premiação, que aconteceu na tarde deste domingo no Leblon, Zona Sul do Rio, foi marcada pela descontração. Em clima de carnaval, com máscaras representando os candidatos que disputaram o Algemas de Ouro 2012, os manifestantes elogiaram a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) na condução do julgamento do mensalão e lembraram os feitos “históricos” de cada concorrente. Além de Lula, Demóstenes e Cabral, estavam no pleito o senador Jader Barbalho (PMDB-PA); os deputados federais Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e Paulo Maluf (PP-SP); o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, e sua ex-companheira de Esplanada, Erenice Guerra; o ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido); e o empresário Fernando Cavendish.

“Depois de eleger poste, o ex-presidente Lula mostra que ainda tem fôlego para ganhar mais eleições daqui para frente. Foram três candidatos que fizeram jus à premiação. Todos eles se destacaram nas páginas do jornal, mas o ex-presidente se sobressaiu. No ano passado, ele foi responsável por um dos momentos mais lamentáveis da história brasileira ao tentar chantagear um ministro do Supremo. Acho que por sua atuação em 2012, e nem quero lembrar de Valérios e Rosemarys, ele mereceu esse troféu e o cheque simbólico de R$ 153 milhões”, afirmou Marcelo Medeiros, coordenador do Movimento 31 de Julho.

No último dia 9, os organizadores comunicaram à imprensa e à rede social Facebook — plataforma utilizada para computar os votos — a tentativa de fraude. A denúncia partiu dos próprios eleitores da enquete que perceberam que parte das escolhas foram feitas por perfis falsos, recém-criados no ambiente virtual.

“Não é militância. Se fossem militantes, era válido. O que detectamos foi uma organização criada para fraudar a disputa. Coincidentemente, os votos sempre eram para candidatos da oposição do governo petista e Cabral”,  explicou Medeiros, que prometeu mudanças na plataforma de computação dos votos na próxima eleição.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Uma boa notícia – Especialistas não veem chavismo sem Chávez

Cecília Araújo e Gabriela Loureiro, na VEJA.com:

Ao longo de seus 14 anos no poder, Hugo Chávez se esforçou para ampliar o alcance de sua ‘revolução bolivariana’ para outros países da América Latina. O processo de convencimento foi financiado pelos petrodólares e barris de petróleo distribuídos pela Venezuela a países aliados. Alguns dos que se alinharam à cartilha do caudilho se apresentam como herdeiros de seu legado, mas não têm as características que tornaram Chávez a tradução do movimento.

“Não há um líder latino-americano com a visão, o carisma, a capacidade de liderança e os recursos financeiros necessários para efetivamente substituir Chávez. Os remanescentes do movimento bolivariano podem continuar a viver, mas a morte de Chávez significa a morte efetiva do movimento bolivariano como uma força de destaque na região”, avalia Mark Jones, professor de ciências políticas da Universidade Rice, no Texas.

A combinação do carisma de Chávez com a distribuição de benesses, expropriação de empresas, perseguição a dissidentes e sufocamento da imprensa independente pavimentaram o caminho do bolivarianismo pela América Latina. Chávez instituiu um sistema na Venezuela que promove eleições diretas, mas usa indiscriminadamente a máquina a favor do chavismo e ignora resultados desfavoráveis, com manobras para revertê-los a favor do governo.

Entre os seguidores mais proeminentes estão Rafael Correa, do Equador, e Evo Morales, da Bolívia. A proximidade entre Chávez e os irmãos Fidel e Raúl Castro também é notável e justificável pelo financiamento venezuelano a Cuba – enquanto o socialismo da ilha serve de inspiração declarada para o caudilho. Nenhum dos aliados deve ter força para dar sequência à campanha pró-bolivarianismo na região. “Assim como Chávez, Correa é um crítico ferrenho dos Estados Unidos e defensor descarado do governo castrista em Cuba. No entanto, sua figura está longe de ter o mesmo impacto que a de Chávez na região, enquanto os irmãos Castro estão muito ocupados com a transição cubana”, diz Eric Farnsworth, vice-presidente da Washington Office of Americas Society/Council of the Americas.

Obstáculos internos
Se regionalmente não há uma figura que atenda aos requisitos necessários para manter o legado da ‘revolução bolivariana’, o sucessor de Chávez na Venezuela também terá dificuldades de dar continuidade ao modelo imposto pelo coronel. Um dos entraves deverá ser a economia, que demandará mais atenção internamente do que os repasses aos aliados regionais. “Provavelmente, a assistência estrangeira ilimitada para os países amigos terá que acabar ou pelo menos ser abrandada. E isso fará com que seja mais difícil para esses aliados seguirem a Venezuela de forma acrítica, como vêm fazendo”, avalia Farnsworth.

Para Mark Jones, mesmo os problemas de saúde de Chávez já vinham enfraquecendo o movimento bolivariano na América Latina. “A necessidade de Chávez de concentrar sua energia e atenção em sua própria saúde, ao mesmo tempo em que a economia venezuelana se enfraquece mais e mais, reduziu significativamente a sua capacidade de apoiar o movimento bolivariano para além das fronteiras da Venezuela”.

Discurso fantasma
Outro problema é a ausência física de Chávez na Venezuela, que obriga o vice, Nicolás Maduro, a sempre pontuar que o comando ainda está nas mãos do coronel, mesmo a distância – uma tentativa de convencer o mundo e, principalmente, os venezuelanos. A celebração do “juramento simbólico” em Caracas, no dia 10, começou com uma gravação da voz do ditador cantando o hino nacional. Presidentes amigos, como foram classificados por Maduro, acompanharam o evento: Morales, Daniel Ortega, da Nicarágua, e José Mujica, do Uruguai. Por enquanto (e não se sabe por quanto tempo), o chavismo tenta passar a impressão de que Chávez está atento a tudo, a par de tudo, mesmo internado em Havana, enfrentando um complicado período pós-operatório depois de submeter-se a quarta cirurgia para combater um câncer. 

Para os possíveis sucessores, imitar o estilo de Chávez é muito difícil. O professor Ricardo Gualda, estudioso da estratégia de comunicação do coronel, destaca que Chávez construiu um discurso radical antielitista muito didático e muito emotivo, direcionado a grupos específicos. Essa fórmula foi repetida incessantemente ao longo dos anos. “O Chávez aparece muito. Ele entra em cadeia nacional o tempo inteiro e fala durante horas, tem uma estratégia de comunicação bastante presente na vida das pessoas. Ele entende muito bem o público dele”.

Manter o doutrinamento da população sem a onipresença do mandatário será mais um desafio para seus sucessores. Mas, apesar da tese da “continuidade administrativa” defendida pelo Supremo Tribunal de Justiça para dispensar a posse de Chávez, prevista na Constituição para o dia 10 de janeiro, os sucessores estão despreparados para a “continuidade do discurso” chavista. “Chávez se rodeou de pessoas muito fracas. Criou uma burocracia pouco preparada, pouco efetiva e incapaz, mas com pessoas muito leais”.

Gualdo aponta limitações também para o discurso oposicionista, neste momento de incertezas sobre o real estado de saúde do mandatário. “A oposição está numa saia justa, pois tem que mostrar solidariedade e se mostrar sincera. Eles (opositores) estão certos em falar em constitucionalidade, mas ter essa briga enquanto o outro está agonizando é muito difícil. Como você fala isso para as pessoas que estão fazendo vigília nas ruas?”

Por Reinaldo Azevedo

 

Custos do mau planejamento

Leia editorial do Estadão sobre setor elétrico:

Por falhas de planejamento, ineficiência de estatais e crônica incapacidade do governo de reagir com presteza aos problemas, empreendimentos privados que deveriam ser vitais para regularizar o fornecimento de energia elétrica – sobretudo em períodos de incertezas sobre a geração hidrelétrica, como o atual – não produzem o resultado desejado e ainda impõem ônus financeiros aos consumidores. Chegou-se à situação absurda na qual, quanto maior o êxito desses empreendimentos, maiores as perdas para o País em termos energéticos e maiores os custos para a população.

É o que mostra a situação dos parques eólicos concluídos desde meados do ano passado e dos que serão concluídos em 2013. No Rio Grande do Norte e na Bahia estão prontos 26 parques, com potência instalada de 622 megawatts (MW) e há outros seis em fase de conclusão no Ceará, com potência de 186 MW. Mas nada se produz, porque não há como transmitir a energia para os centros consumidores.

O problema ficará ainda mais grave ao longo de 2013. Está prevista a conclusão, neste ano, de mais 50 projetos de geração eólica, com potência de 1,4 mil MW. Isso representa 16% da capacidade instalada prevista para entrar em operação em 2013, de 9 mil MW (incluindo todas as formas de geração). Também essa energia não será gerada pelos parques eólicos porque, como a que podia estar sendo gerada desde o ano passado, não tem como ser levada aos consumidores.

O descasamento dos cronogramas das obras das usinas geradoras e das linhas de transmissão, já notório no sistema hidrelétrico – a Usina de Santo Antônio, no Rio Madeira, ficou pronta para operar cinco meses antes do prazo, mas sua produção não chega aos centros de consumo, porque as linhas de transmissão só ficarão prontas neste ano -, é particularmente grave no caso da energia eólica.

Por todas as suas vantagens ambientais – utiliza fonte renovável, não polui e tem pouquíssimo impacto sobre o meio ambiente -, a energia eólica vem sendo apontada como a mais adequada para o abastecimento no futuro e sua utilização tem crescido no mundo. No Brasil, empresas nacionais e estrangeiras têm feito grandes investimentos no setor, e os resultados só não são mais notáveis porque parte do que se produz, ou se poderia produzir, não tem como chegar aos centros de consumo.

Neste período em que os reservatórios das usinas hidrelétricas estão com o nível muito baixo, forçando a utilização das usinas termoelétricas – de custo operacional bem mais alto e impacto ambiental maior do que o de outras fontes -, a energia gerada pelas eólicas do Nordeste, se já contasse com as linhas de transmissão, seria muito bem-vinda pelos gestores do sistema elétrico nacional e, sobretudo, pelos consumidores.

Ironicamente, a potência das eólicas paradas é equivalente à da usina termoelétrica de Uruguaiana, de 639 MW, que o governo às pressas tenta recolocar em operação – estava desativada desde abril de 2009 – para compensar a redução das operações das hidrelétricas devido ao baixo nível dos reservatórios. Também por ironia, a tentativa do governo de acionar essa termoelétrica esbarra em sua incompetência: por problemas de planejamento e de burocracia, não está conseguindo fazer chegar o combustível à usina – o gás natural liquefeito procedente da Argentina.

O que impede o pleno funcionamento das eólicas também é mau planejamento. Um programa adequadamente planejado decerto não resultaria no descompasso entre a obra de geração e a de transmissão. A empresa que venceu a licitação das linhas de transmissão alega questões ambientais e de proteção do patrimônio para justificar o atraso. Como previsível, trata-se de uma estatal, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), controlada pela Eletrobrás. Algumas linhas estão com seu cronograma atrasado em 6 meses; outros, em até 17 meses.

Contratualmente, as empresas geradoras são remuneradas desde o momento em que estão aptas a gerar energia, independentemente de ela estar sendo gerada ou não. Assim, paga-se por uma energia que não chega ao consumo. E neste ano se pagará mais, pois mais energia deixará de ser transmitida.

Por Reinaldo Azevedo

 

Se Dilma pode ignorar o STF, por que o Fulano de Almeida não faria xixi na rua? Ou: Eu lhes apresento o Babão de Gravata e a Babona de Tailleur

A cada vez que vejo um colunista ou uma colunista brasileiros babando na gravata ou no tailleur contra o Partido Republicano, dos EUA, constato a que distância estamos de uma democracia de direito, que respeite a independência entre os Poderes e as leis. Todos nos habituamos a ler e a ouvir esses sábios — que, infelizmente, pontificam em veículos da grande imprensa — a lamentar as supostas ações de “sabotagem” contra o governo Obama.

Eleitos pelos americanos, assim como foram os democratas, os republicanos discordam das propostas do presidente de seu país para o Orçamento e de suas prioridades. Vejam que coisa: nos EUA, deputados eleitos por um partido costumam ser fiéis à pauta desse partido. Que coisa exótica! Por lá, o presidente não dispõe de 25 mil cargos federais e de mais uma penca de autarquias e estatais para acomodar pilantras. Não tem como comprar o apoio de ninguém. Que coisa pitoresca! Naquelas terras, o eventual descumprimento de uma decisão da Suprema Corte rende cadeia, e, flagrado, não resta ao vivente outra saída que não a renúncia. Ou o sujeito é banido do mundo dos vivos. A imprensa o trata como lixo. No Brasil, corruptores e formadores de quadrilha são colunistas.

“Ah, mas e o risco do abismo fiscal?” O risco do abismo fiscal, senhor Babão de Gravata, senhora Babona de Tailleur, decorre do fato de aquele ser um país que se pauta pelas leis. O abismo é evitado porque o Executivo, no caso de não ter maioria nas duas Casas, se vê obrigado a negociar. Os babões no Brasil dizem que os republicanos só fazem isso porque são reacionários, racistas e não suportam o “governo do negão”. Errado! Eles defendem a sua pauta porque respeitam aqueles que os elegeram.

Um desses colunistas do regime, aqui no Brasil, descobriu, quando se prenunciou o risco de abismo fiscal no fim de 2011, o que faltava a Obama: segundo disse, o presidente americano não tinha a sorte de contar com um PMDB (o PSD ainda não existia….). Isto mesmo: segundo o preclaro, Obama precisava ter um Henrique Alves para chamar de seu, que não fosse nem democrata nem republicano. Precisava de um Renan Calheiros no Senado, que fosse governista, sim, mas apenas sob certas condições.

Todos costumamos dizer que a democracia tem um preço ou, se quiserem, um custo. Trata-se de uma metáfora de virtuosa compreensão: isso quer dizer que, nesse regime, ninguém faz tudo o que quer, como quer. É preciso negociar. Em Banânia, a noção de preço e de custo foi tomada na sua literalidade. Se Obama tivesse um PMDB com que conversar, como especulou aquele, bastar-lhe-ia meter a mão no caixa e comprar o apoio. O Babão de Gravata e a Babona de Tailleur, que vertem a sua gosma antirrepublicana — et pour cause, antidemocrática — se acostumaram ao modo brasileiro de fazer as coisas. Mas, claro!, não se diga que não defendem a ética na política. Só não gostam de ver tal ética aplicada na prática.

O FPE
Vejam, agora, o caso do FPE, o Fundo de Participação do Estados (ler post anterior). O Supremo, a nossa Suprema Corte, já decidiu que, na forma como está, ele é inconstitucional. Isso se deu em 2010. Concedeu um prazo longo para o ajuste: 35 meses. O Congresso não se mexeu. A base de apoio não se mexeu. A oposição também não se deu conta do risco, preocupada que está em… Bem, sei lá em quê!

E o governo faz o quê? Para evitar o “abismo fiscal” à moda cabocla — que, de fato, criaria dificuldades a alguns estados —, o governo federal opera os repasses ao arrepio do que decidiu a Justiça. Ah!!! Isso, sim, é que democracia digna de respeito. Isso, sim, é que é coisa de país progressista. Por aqui, felizmente, não existem aqueles republicanos horrorosos, que fazem questão de exercer as suas prerrogativas e de respeitar a vontade daqueles que os elegeram. Por aqui, nós sabemos como fazer, nós damos um jeitinho, nós evitamos os extremismos. Tudo é muito simples e se resume a uma ação corriqueira: desrespeitar a lei e a decisão da Justiça. E o melhor: isso se faz sem consequências. Por aqui, “dura lex, sed lex” virou, no máximo, rima para produto cosmético: “no cabelo, só Gumex” — necessariamente tingidos, como os de Edison Lobão…

Republicanos americanos, dizem o Babão de Gravata e a Babona de Tailleur, ainda não perceberam os valores da nova ordem, do novo tempo, da nova aurora. Ainda estão naquela coisa de cultura do individualismo, entenderam?, que não se preocupa com o coletivo. Têm muito a aprender com a democracia brasileira. Em Banânia, caso minorias influentes considerem que o cumprimento da lei é ruim para a sua causa — logo transformada por setores da imprensa em um imperativo da maioria —, prega-se abertamente o desrespeito ao que está escrito.

E depois…
Pois é… Não obstante o ódio essencial à democracia, essa gente se espanta quando os Alves e os Calheiros se apresentam para o serviço, contando com o apoio de boa parte das lideranças políticas. Ora, é o nosso “jeitinho” de fazer democracia, não é? Estão reclamando do quê? Se os EUA tivessem um PMDB (e congêneres), não haveria risco de abismo fiscal por lá. A América seria um Brasilzão de 300 milhões de habitantes e mazelas proporcionais.

Passivismo congressual
Frequentemente se reclama do ativismo do Poder Judiciário no Brasil. Eu mesmo já critiquei o Poder por exercer papéis que cabem ao Congresso. No mérito, minha crítica está certa, mas começo a considerar a necessidade de revisá-la na espécie. Vejam aí: no caso do FPE, o STF não decidiu — deu um prazo de 35 meses para que o Congresso cumprisse a sua função. Não aconteceu nada!

O Babão e a Babona atacam a Câmara dos EUA, de maioria republicana, porque a Casa decide exercitar suas prerrogativas. Bom mesmo é o Congresso brasileiro e seu “passivismo”, sempre a reboque do Executivo, não importa qual seja o tema.

A síntese é a seguinte: ao efetuar o repasse para os Estados, ao arrepio da decisão judicial, o governo federal decidiu descumprir deliberadamente a lei. Temos um Poder dando um pé no traseiro do outro. Agora o Babão de Gravata e a Babona de Tailleur tentem convencer o Fulano de Almeida a não estacionar sobre a calçada, a não fechar o cruzamento, a não fazer xixi na rua, a não violar o taxímetro, a não jogar lixo na rua…

Se Dilma Rousseff não precisa cumprir uma determinação do Supremo, por que o Fulano de Almeida se sentiria obrigado a cumprir algumas regras do decoro?

Por Reinaldo Azevedo

 

Foi-se a esperança de Lula e dos lulistas: Dilma confirma que disputa a reeleição em 2014. Quanta ingratidão!!!

Pois é… Lá se foram as últimas esperanças dos lulistas. A presidente Dilma Rousseff confirmou que vai mesmo disputar a reeleição em 2014. Bem, nunca duvidei disso. Os fanáticos do lulocentrismo é que mantinham as esperanças. Há no partido quem veja isso como uma espécie de ingratidão. Pode até ser que um oposicionista ou outro fizesse votos de que Dilma quebrasse a cara, mas fiquem certo de uma coisa: ninguém mais do que Lula torcia, e torce ainda, por isso… Não virá nenhum grande sacolejo até 2014. Se a oposição não demonstrar que pode ser melhor do que ela e se não transformar em linguagem política as ruindades do governo, Dilma fica até 2018.

Lula terá de se contentar com o PT. Há a banda que torce para que dispute o governo de São Paulo. Imbatível? Sei lá. Ele nunca venceu uma eleição no colégio eleitoral do estado. Vai que dispute e perca… O Demiurgo encontraria um fim melancólico. Não creio que ceda à tentação, mas nunca se sabe…

Escrevi ontem um longo texto a respeito. Consta que, em fevereiro, ele começa a percorrer o país, numa reedição de suas caravanas. Os seus fanáticos dizem que vai defender “seu legado”. Imaginei que Dilma já o fizesse…  Leiam o que informa Fernando Krakovics no Globo.

Em sua terceira conversa desde o início de novembro com o presidente do PSB e pré-candidato à Presidência da República em 2014, governador Eduardo Campos (PE), na última segunda-feira, a presidente Dilma Rousseff afirmou categoricamente que é candidata à reeleição. O socialista, que tenta viabilizar sua própria candidatura, mas continua na base de apoio ao governo, não se posicionou em relação ao eventual apoio à reeleição de Dilma. Comprometeu-se apenas a ajudá-la a fazer uma boa administração neste ano de 2013.

Setores do PT gostariam que o ex-presidente Lula fosse candidato em 2014, já que Dilma mantém uma relação mais distante com o partido. Essa opção também funciona como uma espécie de garantia caso algo vá mal no governo. Já a presidente tem evitado falar publicamente sobre o assunto porque não quer antecipar o debate eleitoral, o que poderia prejudicar sua administração.

Integrantes do PSB e interlocutores de Eduardo Campos contaram que, na conversa de segunda-feira, no Palácio do Planalto, Dilma afirmou que será candidata à reeleição e pediu apoio do presidente do partido para atravessar 2013, principalmente por causa da crise econômica e da necessidade de retomar o crescimento do país. A informação foi divulgada pela agência Reuters, e confirmada pelo GLOBO.

“O PSB é fundamental para nós (governo). Se você é candidato ou não, não altera”, teria dito a presidente para Campos, de acordo com interlocutores do pernambucano. “Eu vou para a reeleição”, teria afirmado a presidente, sem ter de volta o compromisso de apoio de Eduardo Campos.

O tom da conversa foi uma saia-justa para Campos. Ele ainda não sabe se realmente será candidato, porque, para isso, precisa costurar apoios e analisar o cenário político e econômico, para ver se tem alguma chance. O presidente do PSB não quer entrar em uma aventura, mas também não quer excluir seu nome do processo.

Enquanto isso, os socialistas continuam no governo Dilma, ocupando dois ministérios, Integração Nacional e Portos. “Nossa estratégia hoje é que o Eduardo não pode dizer que é candidato e também não tem como dizer que não é. E ele também não quer se expor”, disse uma pessoa próxima de Campos.

Depois da conversa de quase duas horas, o presidente do PSB deixou o Planalto repetindo o discurso de apoio ao governo federal, mas sem se comprometer com as eleições de 2014. Ele disse que antecipar o debate eleitoral não interessa ao desenvolvimento do país.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Marina Silva é candidata a “caudilha” do Brasil. Ou: Como não deixar o país refém de São Pedro, dos bagres, dos sapos e das pererecas?

Que preguicinha… Mas vamos lá. Marina Silva é, se me permitem a variação de gênero, candidata a “caudilha” do Brasil. Ela entrou no PV para disputar a Presidência da República. Teve 20 milhões de votos — um desempenho sem dúvida expressivo. Julgou que poderia, então, dar um golpe no partido e tomar a sua direção. Foi malsucedida no empreendimento e deixou a legenda. Criou-se, então, atenção!, um movimento intitulado “Nova Política”, composto de… seus seguidores! São os “marineiros”. Prestem atenção ao noticiário: a palavra já é escrita sem aspas, como um dado da realidade referencial mesmo.

Uau! Reparem: nem Luiz Inácio Apedeuta da Silva, do alto de sua monumental arrogância, ousou fundar um movimento de “lulistas” ou, sei lá, “luleiros”. As referências ao “lulismo” na pena dos analistas costumam ser críticas. Há, sim, os “petistas”, que são, na maioria, fanaticamente lulistas, mas não recorrem a essa palavra como uma senha de identificação.

O movimento se chama “Nova Política” e é composto de pessoas que se dizem “marineiros”??? E por que esse sufixo “eiro” colado ao nome da ex-senadora? Um ferreiro produz, cuida, negocia ou lida com ferro; um cozinheiro, com a cozinha; um doceiro, com os doces. Um “marineiro” faz o quê? Cuida da Marina? Lida com as ideias da Marina? Divulga o pensamento de Marina? Propaga as visões místicas de Marina? Isso a que se chama “nova política” é constituído de seguidores de uma profetisa? “Eiros” que seguem profetas são uma novidade… pré-bíblica!

Como novidade pouca é bobagem, Marina está empenhada agora em criar uma nova legenda para… se candidatar de novo. Que coisa surpreendente!

Leio na Folha que serão os “marineiros” a definir o nome da nova legenda — ou quase isso. Pessoas previamente inscritas podem votar em uma das 40 alternativas. Os nomes mais cotados são “Semear” (Sustentabilidade, Educação, Meio ambiente, Ética e Renovação) e “Movimento Sustentabilidade e Cidadania”. Coisa de gente que quer o bem da humanidade, estou certo. Os três mais votados serão enviados à Profetisa, e ela, então decidirá.

Tudo isso é feito no mundo virtual, o que demonstra a modernidade da “caudilha”. Marina quer, em suma, mobilizar pessoas que tenham bom coração. O que nunca fica claro — mas isso não é coisa que se pergunte a alguém que está a um passo da santidade — é quem financia o “marineirismo”; quem, em suma, sustenta a sustentabilidade.

Com que proposta?
O que há de novo numa liderança política que busca ou funda partidos com o propósito de se candidatar, sem a preocupação nem mesmo de deixar claro o que pensa? Sim, Marina é uma pessoa que só quer o nosso bem, a gente sabe… Mas isso basta?

E mesmo esse “bem” tem de ser questionado, não é? Uma das razões da crise no setor energético, por exemplo, nasce do triunfo da irracionalidade dos ecologistas sobre o bom senso. Em nome da preservação do meio ambiente, o Brasil passou a construir usinas hidrelétricas a fio d’água, sem reservatórios. Isso diminui, dizem os sábios verdes, os impactos sobre o meio ambiente. É cascata!

Sem reservatórios, a capacidade de geração de energia cai dramaticamente nos períodos de seca, o que obriga o país a ligar as poluentes e caras termelétricas. É o conservantismo burro. Os debates sobre Belo Monte demonstraram a que níveis de tolice essa gente pode descer.

Pois bem! Santa Marina Silva é a patronesse dessa turma. Eis um bom momento para ela falar. Se o Brasil passasse a crescer 5% ao ano, com o atual regime de chuvas, haveria fatalmente apagão. E aí? Marina, a mulher que sempre tem soluções complexas e erradas para problemas fáceis (é diferente de Lula, que tem soluções simples e erradas para problemas difíceis), poderia apontar o caminho. Durante a campanha eleitoral, ela dizia que faltava planejamento. Certo! Então vamos planejar com Marina. Continuaremos a fazer usinas a fio d’água e devemos evitar as termelétricas poluidoras… Para suprir a demanda de curto e médio prazo do país, o que devemos fazer? Engarrafar o vento?

Não! Não estou acusando Marina pela crise de energia. Cobro dela uma resposta porque é ela que se apresenta como a sacerdotisa da energia alternativa. Se vai disputar de novo a Presidência da República, certamente tem uma solução que não deixe os brasileiros reféns de São Pedro — e dos bagres, sapos e pererecas que compõem a nossa identidade, ou algo assim… Se ela tiver alguma resposta, publico. Mas peço um favor: que seja possível encontrar ao menos os objetos diretos no texto.

Por Reinaldo Azevedo

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Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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2 comentários

  • normando costantini Campinas - SP

    Edison Holz: A Marina só quer prejudicar o agronegocio,ela é contratada pela Green Peace.Lembra quando vazou aquele poço no golfo do mexico?foi o maior já acontecido.Ela era candidata a presidente e ficou calada-sabe porquê?ela recebe dinheiro da British Petroleum.Não merece confiança e suas opiniões são para quem nunca calçou uma botina.

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  • Edison tarcisio holz Terra Roxa - PR

    essa marina tem que ir pro meio do mato que é o lugar de macaca e vai viver de comer banana pois é contra tudo de bom que a agricultura produs com a sustentabilidade de dar inveja ao resto do mundo macaca

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