BNDES: sigilo para Cuba e verba para invasores de terra...

Publicado em 24/02/2014 19:07 e atualizado em 25/04/2014 12:12
por Rodrigo Constantino, de veja.com.br

ComunismoInstituiçõesSocialismo

BNDES: sigilo para Cuba e verba para invasores de terra

O BNDES daqui a pouco vira caso de polícia, e não mais de política. O que o PT fez com o banco é da ordem do horror. Vale lembrar que seu quadro técnico sempre foi um dos melhores do setor público, blindado historicamente da politicagem. Isso até os petistas vislumbrarem, ali, uma fonte de recursos quase infindável para suas estripulias.

O banco virou hospital de empresas, instrumento de malabarismo contábil para o governo maquiar contas públicas, transferência de renda de trabalhadores de classe média para ricos empresários (Bolsa Empresário), instrumento de seleção dos “campeões nacionais” (Grupo X?), etc.

E mais: foi também o grande veículo do empréstimo milionário para Cuba, repleto de sigilo. É isso que agora um senador tucano, dos poucos que fazem oposição de fato, quer investigar:

O senador Alvaro Dias (PSDB/PR) entregou, nesta segunda-feira, ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, um mandado de segurança contra a presidente da República, Dilma Roussef; o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges Lemos; e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, por “ato atentatório à moralidade e transparência pública” em relação a não divulgação dos empréstimos secretos do BNDES a países como Cuba e Angola.

O mandado tenta reverter uma medida do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, que em junho de 2012 tornou secretos os documentos que tratam de financiamentos do Brasil aos governos de Cuba e de Angola. A determinação foi assinada um mês depois da entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação. Com isso, esses documentos só poderão ser revelados em 2027.

Enquanto o BNDES se preocupa em manter sigiloso um mais que estranho e suspeito contrato com a ditadura cubana, resolve, aqui no Brasil, liberar verba para invasores de terra do MST, os mesmos que há poucos dias resolveram tocar o terror em Brasília para ganhar, como prêmio pelas dezenas de policiais feridos, uma reunião com a presidente Dilma:

A Caixa Econômica Federal e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fecharam contratos sem licitação nos valores de 200.000 reais e 350.000 reais, respectivamente, com entidade ligada ao Movimento dos Sem Terra para evento realizado no 6.º Congresso Nacional do MST. O evento aconteceu há duas semanas e terminou em confronto com a Polícia Militar na Praça dos Três Poderes, em Brasília. No quebra-quebra, 32 pessoas ficaram feridas, sendo trinta policiais. Na ocasião, membros do MST tentaram invadir o Supremo Tribunal Federal. As informações foram divulgadas nesta segunda-feira pelo jornal O Estado de S.Paulo. 

A Associação Brasil Popular (Abrapo) recebeu os recursos para a Mostra Nacional de Cultura Camponesa, atividade que serviu de centro de gravidade para os integrantes do congresso do MST. As entidades têm relação próxima. Para se ter uma ideia, a conta corrente da Abrapo no Banco do Brasil aparece no site do MST como destino de depósito para quem deseja assinar publicações do movimento social, como o jornal Sem Terra.

Então ficamos assim: o BNDES empresta nossos recursos escassos para a ditadura comunista de Cuba e para os criminosos socialistas do campo, sendo que, no primeiro caso, sequer aceita divulgar com transparência as condições contratuais.

É o PT destruindo cada instituição herdada em nossa jovem República. O partido age feito cupim, corroendo as estruturas de dentro delas, até que reste somente pó e nada mais. Até quando?

Rodrigo Constantino

 

Vamos fazer do Brasil todo uma grande favela!

O leitor ficou assustado com o título? Entendo, entendo. Mas é a única conclusão lógica que consigo extrair de uma reportagem como esta do Fantástico, afirmando que 92% dos favelados se consideram felizes e que dois terços não gostariam de sair das favelas:

Nossa equipe viajou pelo país pra fazer um retrato de brasileiros movidos à felicidade.

O que há de bom em viver em uma favela? “Eu prefiro ser rico entre os pobres do que pobre entre os ricos”, diz o agente comunitário José Fernandes Junior.

E se chovesse dinheiro? “Não saio não. Vou pra onde? Um milhão eu trabalho e consigo”, diz Adriano Castro. 

Por que nem a juventude quer sair? “Eu falo para os meus amigos que Paraisópolis está parecendo já Las Vegas. É sério. Você vem aqui, pode vir 3 horas da madrugada e vai ver um monte de gente na rua. Aqui não dorme”, explica o motoboy José Lopes da Silva.

Não dorme, não para e não aceita mais ser rotulada. “Ah, mora na favela aquela pessoa pobre. Não. Eu não me sinto assim”, afirma Diego da Lima Silva, de 22 anos.

Que a felicidade não depende necessariamente da conta bancária é fato, e frequentemente ignorado pela própria esquerda. Mas se é indiferente viver na favela ou fora dela, então podemos concluir que se o Brasil fosse todo uma grande favela, não haveria mudança alguma para pior.

Um tanto absurda esta conclusão, não é mesmo? Felicidade é algo subjetivo, difícil ou impossível de se medir. A pesquisa depende do mood na hora da resposta, da forma a qual a pergunta foi feita, etc.

O Butão substituiu o PIB pelo FIB, ou seja, o Produto Interno Bruto, mensurável de forma mais objetiva, pela Felicidade Interna Bruta, um tiro no escuro que aceita qualquer coisa. É fácil entender o motivo: países pobres podem ter governos fracassados que desejam fingir que tudo vai muito bem, obrigado.

A glamourização da miséria é algo típico da esquerda caviar. As “comunidades” se tornam paraísos terrestres, de longe, por causa de sua simplicidade, “autenticidade”. Mas será que viver sob o domínio de traficantes ou milicianos é mesmo tão bom assim? Será que ter ou não ter saneamento decente é algo indiferente em nossa qualidade de vida?

O que uma reportagem como essa faz é vender a ideia de resignação diante da pobreza de nosso país, repleto de favelas. A quem isso interessa? Arrisco dizer que não aos próprios favelados…

Rodrigo Constantino

 

Filosofia política

A direita segundo Claudio Paiva

Na revista O GLOBO de domingo, Claudio Paiva sapecou em uma página inteira a seguinte charge:

Claudio Paiva

A questão que fica martelando em minha cabeça é: trata-se apenas de profunda ignorância ou má-fé mesmo? Porque não creio que exista uma terceira alternativa.

O cartunista não sabe que o nazismo, ou nacional-socialismo, sempre flertou com métodos esquerdistas, que seu programa lançado pelo Partido dos Trabalhadores tinha diversos itens semelhantes ao coletivismo de esquerda e eram anticapitalistas, e que o nazismo sempre foi antiliberal?

Para Paiva, eis a imagem da direita: um brutamontes homofóbico, um cristão (fazendo o que no meio dessa gente?), um membro da Ku Klux Klan e Hitler. Margaret Thatcher como ícone da direita? Nem pensar! Ronald Reagan como símbolo da direita? De jeito nenhum!

Há que se vender uma ideia totalmente distorcida do que seja a direita. Notem que no mesmo dia em que saiu a charge de Claudio Paiva, tivemos a notícia de que Robert Mugabe, ao celebrar seus 90 anos, disse que gays não têm vez em seu Zimbábue. Detalhe que passou despercebido: Mugabe é… socialista!

A esquerda é assim mesmo: mente como método político. Acusa os outros daquilo que é ou faz. Aprendeu com o guru da turma, o ditador assassino Vladimir Lênin. Precisa ridicularizar e demonizar a direita liberal ou conservadora, pois não tem capacidade de enfrentá-la no campo das ideias, nos debates calcados em argumentos e no currículo histórico.

Por isso tenta, de forma pérfida, associá-la a esse bando de fanáticos nazistas ou da KKK, como se isso fosse a direita. Entendo, ainda que não aprove. Deve ser terrível para um típico esquerdista a simples ideia de ter que debater seriamente com algum ícone legítimo da direita. Deve ser o suficiente para lhe causar pesadelos terríveis. Mais fácil pintar a direita como uma reunião de malucos, não é mesmo?

Rodrigo Constantino

 

Filosofia políticaSocialismo

O socialismo é um “truque” de gente mau-caráter

Em sua coluna de hoje na Folha, Luiz Felipe Pondé parte para um ataque sem dó nem piedade aos socialistas. A esquerda radical viveu por longos anos, especialmente no Brasil, em uma hegemonia cultural completa. Não está mais acostumada a ser confrontada no campo das ideias, por gente que não a teme, que conhece sua história, que tem bagagem cultural e leu os mesmos livros – ou muito mais.

Pondé argumenta, com razão, que o debate político no país está muito atrasado, ainda na pré-história. Por aqui, muitos ainda acham que socialismo e liberdade podem ser usados na mesma frase, como se não fossem antagônicos, como toda experiência prova. “Parece papo das assembleias da PUC do passado, manipuladoras e autoritárias, como sempre”.

A esquerda mente. Tenta enganar os incautos, os leigos. Finge ser uma “nova” esquerda, mas é a mesma velha de sempre, defensora de um modelo autoritário que sufoca o progresso e a liberdade individual. Basta ver sua reação quando se depara com gente que está disposta a enfrentá-la nos debates. Pessoas inteligentes sem medo da esquerda: eis o pavor dos esquerdistas.

Por isso a esquerda precisa apelar para o monopólio da virtude. Como diz o filósofo: “Ela, a esquerda, constrói para si a imagem de ‘humanista’, de superioridade moral, e de que quem discorda dela o faz porque é mau”. Está em pânico porque, agora, há quem a desafie e exponha tais métodos sem medo.

Professores esquerdistas perseguem e intimidam alunos de direita, e o mercado de trabalho acadêmico muitas vezes fica fechado para eles. A esquerda dissemina o ressentimento, ilusões, “ama a preguiça, a inveja e a censura”. Deseja criar pessoas dependentes dela e do estado, em vez de cidadãos livres e responsáveis por suas próprias vidas.

Pondé recomenda O livro politicamente incorreto da esquerda e do socialismo, do professor Kevin D. Williamson, cujo prefácio da edição brasileira foi escrito por Guilherme Fiuza e divulguei aqui. O autor derruba vários mitos de esquerda, mostra como ela sempre foi militarista, degradou o meio-ambiente e não deu certo nem na Suécia.

“O socialismo é tão pré-histórico quanto a escravatura”, diz Pondé. Até agora, conseguiu manter suas aparências de vanguardista, progressista, moderna. Mas a esquerda “não detém mais o monopólio do pensamento público no Brasil”. “Não temos mais medo dela”. Esse é o primeiro passo de sua derrocada. Quando as pessoas inteligentes não a temem mais, é questão de tempo até suas mentiras serem desmascaradas. Por isso o pânico de muitos esquerdistas. A hegemonia acabou.

Rodrigo Constantino

 

ComunismoFilosofia políticaLei e ordem

Violência revolucionária é vista como legítima pela extrema-esquerda

Em sua coluna de hoje no GLOBO, Denis Rosenfield argumenta, corretamente, que a morte do cinegrafista Santiago Andrade não foi um simples acidente, mas um assassinato político, algo que parecia inevitável com o tempo após tantos “formadores” de opinião defenderem os métodos dos black blocs.

Rosenfield afirma que, após a desgraça e a forte reação da opinião pública, esses mesmos que antes aplaudiam os mascarados agora se fazem de inocentes, como se não tivessem nada a ver com a violência perpetrada pelos vândalos sob o manto da ideologia anticapitalista.

Se fossem grupos de extrema-direita nas ruas, a reação seria completamente diferente. Haveria gritos de “fascistas” por todo lugar. Como são criminosos associados à esquerda, então não acontece nada disso. Ficam impunes, a esquerda em si não é acusada, e o que foi um assassinato político se torna um acidente isolado. Como sempre, temos um peso para duas medidas.

O que já está mais do que provado é que boa parte da esquerda mais radical não vê problema algum na violência como arma revolucionária. Para essas pessoas, atos de vandalismo, de depredação, agressão ou mesmo terrorismo são vistos como legítimos para destruir o sistema capitalista e instaurar o “paraíso” socialista. Diz Rosenfield:

Nas Jornadas de Junho já tinha ficado patente o charme que a violência dos black blocs exercia sobre uma esquerda nostálgica do período áureo do marxismo. É como se fosse um recurso legítimo dos descontentes e revoltados contra o status quo, o “capitalismo”, a “burguesia”, os “conservadores” e a direita em geral. Tudo estaria justificado em nome da moralidade de um fim maior, que seria uma sociedade sem classes, chamada de socialismo ou comunismo. Quando a violência era mencionada, o era apenas com o objetivo de denominar a ação policial mediante o recurso da força. O jogo ideologicamente encenado era o seguinte: a violência da extrema-esquerda seria legítima e moralmente justificada, enquanto o uso da polícia para coibir essa violência seria ilegítimo e imoral. Mesmo máscaras chegaram a ser justificadas. Seria a estética de uma violência glamourizada.

A extrema-esquerda, por exemplo, personificada no PSOL, que agora procura se dissociar do assassinato do cinegrafista da Band, ainda dizia há pouco tempo atrás, na fala de seu secretário-geral: “Em tese, as táticas black bloc dispõem-se a proteger manifestações da sociedade civil contra ações truculentas das forças do Estado.” E ainda completou: “Não nos parece que o conceito da tática black bloc seja algo retrógrado ou mesmo indesejável em essência e propósitos originais. É algo progressivo, politicamente moderno, trazido pelas mãos da dialética na história.” Eis a “modernidade dialética” do assassinato, travestido de ato revolucionário.

O crime ou mesmo o assassinato fazem parte do percurso nessa construção de um “mundo melhor”. Por isso um assassino como o italiano Cesare Battisti encontra tanto apoio entre o PSOL e o PT. Para eles, as vítimas inocentes do criminoso são ignoradas, e suas supostas finalidades – lutar pelo socialismo e combater o capitalismo – merecem toda a atenção.

Quando os fins justificam quaisquer meios, temos o caminho aberto para todo tipo de atrocidade, com a consciência limpa dos criminosos, pois se enxergam como os revolucionários da Boa Nova. Os black blocs são apenas a nova roupagem desta velha doença. A extrema-esquerda é responsável pela morte de Santiago Andrade, por mais que se finja de inocente. O vermelho de suas bandeiras se mistura ao sangue das vítimas inocentes de sua violência “revolucionária”.

Rodrigo Constantino

 

CulturaLiberdade de Imprensa

Ainda a homofobia: o que eu escrevo é o que eu escrevo – nada mais, nada menos!

Meu texto sobre o direito de um pai preferir um filho heterossexual despertou bastante polêmica, muitos elogios, e muitas críticas e ofensas. Estas, dispenso. Como solicitei no começo do texto, era para deixar as pedras de lado e focar nos argumentos, coisa que entendo ser muito difícil para alguns, infelizmente.

Mas um tipo de crítica comum merece resposta, creio eu. Trata-se de um alerta bem-intencionado de que escrevo para um veículo com milhares de leitores, e devo tomar maior cuidado com isso, pois muitos pais homofóbicos podem desejar ter uma interpretação diferente, como se eu estivesse endossando sua homofobia, e com isso ter o “respaldo” de uma importante revista para seu ódio ou mesmo agressão.

Soube até mesmo que um desses blogueiros sem um pingo de caráter andou espalhando pelas redes sociais um texto em que eu era responsabilizado por um pai que espancou o filho, com apenas 8 anos, por demonstrar inclinações homossexuais, gostar mais de balé do que futebol, ou algo assim. Em um salto quântico absurdo, agora o pai que prefere um filho heterossexual virou sinônimo de um pai que espanca até a morte o filho gay.

O que vou dizer a seguir é o óbvio ululante, mas acredito que dizê-lo é cada vez mais necessário em nosso país. Como já deixo claro no título desse texto, o que eu escrevo é aquilo que eu escrevo. Nem mais, nem menos. Não posso escrever sob a autocensura de que imbecis podem estar entre meus leitores. Sinto muito: não escrevo para estes, pois acredito que é um ato de respeito aos meus leitores tomá-los como pessoas inteligentes. Aos demais, há blogs e revistas em abundância como alternativa, todos bancados pelo governo do PT.

Aqueles pais verdadeiramente homofóbicos, que sentem desprezo por seus filhos por serem gays, não encontrarão em meus textos justificativa, muito menos defesa de suas ações em si desprezíveis – ao contrário da homossexualidade do filho, que pode em nada manchar seu caráter. Tampouco o lado de lá, da esquerda imoral, conseguirá achar, em minhas palavras, aquilo que dizem que eu disse.

Foi o mesmo quando critiquei os bárbaros rolezeiros, que não reconheceriam a própria inferioridade comportamental, ao desrespeitar o próximo que quer apenas fazer compras ou passear com tranqüilidade no shopping. Tiraram completamente do contexto minha fala, algo comum quando se trata da esquerda. Tudo para me pintar como um nazista (e nem sabem como o nacional-socialismo era antiliberal e parecido com o próprio comunismo).

Portanto, não posso escrever tendo em mente que mentecaptos ou pérfidos podem alterar o sentido claro de minhas palavras – e meus bons leitores sabem como tento ser o mais claro e objetivo possível. Minha responsabilidade vai até o limite de minhas palavras. Além delas, não tenho como assumir nenhum tipo de controle, pois não controlo a mente dos outros.

É como diz Thomas Sowell: não podemos controlar o que as pessoas falam da gente; podemos apenas torná-las mentirosas. Eis a minha postura. Vale o que eu escrevo, não o que alguns inventam em meus textos, adicionam, deturpam, modificam. A esses, só me resta expor como são mentirosos ou analfabetos funcionais.

Rodrigo Constantino

 

CulturaHistóriaPoliticamente CorretoRacismoReligião

Da escravidão à liberdade: o poder do pensamento crítico

Finalmente vi “12 anos de Escravidão”, de Steve McQueen, o mesmo diretor de “Shame”, um filmaço sobre a solidão e a infelicidade de alguém viciado em sexo e incapaz de amar (tema sempre atual, e cada vez mais atual na era do hedonismo da carne). Gostei. É um bom filme. Mas nada espetacular.

As críticas que João Pereira Coutinho fez ao filme são pertinentes. McQueen teria sucumbido ao politicamente correto, ao retratar personagens bastante caricaturais, malvados e bonzinhos extremados demais. Brad Pitt, com barba no estilo Lincoln, é um abolicionista progressista perfeitinho e Michael Fassbender um vilão no melhor estilo James Bond.

Coutinho chamou o filme de “redundante panfleto”. Quem precisa de tanta cena de violência e chibatada para lembrar como a escravidão foi algo nefasto e injustificável? Ainda assim, um filme forte e também belo. O reencontro do músico negro que foi sequestrado e vendido como escravo, 12 anos depois, com sua família, apela ao sentimentalismo, mas não deixa de ser emocionante (era o propósito). Principalmente quando sabemos que o filme é baseado em fatos verídicos.

O espectador não pode evitar a reflexão de como os seres humanos foram – e são – capazes de tanta crueldade. E pensar que tudo isso está logo ali, no século 19! Há que se evitar, porém, a armadilha progressista de culpar o “homem branco malvado ocidental” por tanta maldade. A escravidão era a regra, não a exceção. No mundo todo. Desde sempre. Com todas as “raças”.

Foi justamente o Ocidente, com suas ideias iluministas e também cristãs, que conseguiu colocar um fim em tal prática abjeta. Foi o Ocidente que libertou os escravos. A ideia de que todos fomos criados à imagem de Deus, iguais, foi a mais poderosa nesse combate. Se o filme retrata os escravocratas das plantações invocando a Bíblia para justificar a escravidão, também mostra, no papel de Brad Pitt, que foram os religiosos cristãos que combateram o regime.

O filme me remeteu a um artigo meu de 2008, sobre Frank Douglass, ex-escravo que aprendeu a ler como arma contra a escravidão. Adianto que era uma fase minha mais anti-religiosa e mais racionalista, que hoje vejo com ressalvas. Segue o texto:

Da escravidão à liberdade

“Não devemos acreditar nos muitos que dizem que só as pessoas livres devem ser educadas, deveríamos antes acreditar nos filósofos que dizem que apenas as pessoas educadas são livres.” (Epíteto)

Frederick Bailey já nasceu escravo em 1818, em Maryland. Ele foi separado de sua mãe antes de completar um ano. Era apenas uma das inúmeras crianças escravas cujas perspectivas de uma vida promissora eram nulas. Seres humanos eram comprados como objetos, somente por causa da cor da pele. A Bíblia, o guia moral da época, em diversas passagens tolera a escravidão.

Frank Dluglass

A crença era de que os escravos deveriam continuar analfabetos, pois, como colocou o próprio Bailey, “é necessário obscurecer a sua visão moral e intelectual, e, na medida do possível, aniquilar o poder da razão”. A leitura e o pensamento crítico eram perigosos, subversivos. Mas nada disso seria obstáculo suficiente para impedir o caminho da liberdade de Bailey, que mais tarde ficou conhecido como Frederick Douglass, um dos mais famosos abolicionistas americanos.

Bailey foi trabalhar na casa do capitão Hugh Auld, e quando tinha uns 12 anos, a esposa do capitão, Sophia, quebrou as leis e ensinou o escravo a ler, impressionada com sua inteligência e aplicação. O capitão mais tarde descobriu, e, furioso, mandou Sophia parar com as lições. Na presença de Frederick, ele explicou que “um preto deve saber apenas obedecer ao seu senhor, deve cumprir ordens”. Caso ele aprendesse a ler, ficaria inutilizado para sempre como escravo.

Mas o capitão havia revelado o segredo a Bailey, que agora compreendia o poder do homem branco de escravizar o negro. Mais tarde ele escreveu: “A partir daquele momento, eu compreendi qual era o caminho da escravidão para a liberdade”. Ele encontrou outras formas para aprender a ler, inclusive conversando com os colegiais nas ruas, e durante toda a sua vida, ele teve certeza de que a alfabetização fora o caminho para a liberdade. Quando ele completou 20 anos, conseguiu fugir. Tornou-se um grande orador americano, e chegou a auxiliar o governo do presidente Lincoln. Foi um dos grandes nomes na luta pela abolição dos escravos americanos.

Após a publicação em 1846 do livro The Unconstitutionality of Slavery, de Lysander Spooner, Frederick Douglass passou a ver a Constituição americana como anti-escravidão, mudando sua opinião anterior. Vários abolicionistas famosos usaram a Declaração de Independência americana para atacar a escravidão. O famoso caso Amistad de 1839 foi o primeiro no qual se apelou para a Declaração, e o ex-presidente americano John Quincy Adams fez uma defesa eloqüente dos africanos presos. Seu longo discurso diante da Suprema Corte contou com o seguinte argumento: “No momento em que se chega à Declaração de Independência e ao fato de que todo homem tem direito à vida e à liberdade, um direito inalienável, este caso está decidido”.

Abraham Lincoln foi outro que apelou constantemente à Declaração para defender a causa abolicionista. O texto foi uma vez mais invocado por outro grande defensor da igualdade perante a lei, Martin Luther King Jr. Seu mais famoso discurso, sobre seu sonho de viver numa nação livre, faz alusão direta ao trecho da Declaração onde todos os homens são criados iguais, uma verdade evidente por si mesma. Outro abolicionista conhecido, David Walker, escreveu em 1823 um texto usando os trechos da Declaração, e questionando se os americanos compreendiam o que estava sendo dito ali. Apesar de alguns “pais fundadores” terem tido escravos, numa época onde isso era comum, eles plantaram as sementes da abolição, levantando a bandeira da igualdade de todos perante as leis, como um direito natural. 

A luta pela liberdade feminina iria também se apoiar na própria Declaração de Independência, defendendo o direito de igualdade entre os sexos. Em 1848, na Convenção de Seneca Falls, quando Elizabeth Cady Stanton teve a coragem de pedir o empenho de todos para assegurar o voto das mulheres, Frederick Douglass foi o único homem de qualquer grupo étnico a se levantar para dar seu apoio. Ele dizia que se uniria a qualquer um para fazer o que fosse certo, e a ninguém para fazer algo errado. Elizabeth escreveu depois palavras duras contra a Bíblia, na mesma linha de Douglass, afirmando que não conhecia “nenhum outro livro que ensine tão cabalmente a sujeição e a degradação das mulheres”. Douglass não tinha boas coisas a dizer sobre os crentes:

“Afirmo sem a menor hesitação que a religião do Sul é uma simples capa para os crimes mais terríveis – uma justificativa da barbárie mais estarrecedora, uma consagração das fraudes mais odiosas e um abrigo escuro onde os atos mais sombrios, imundos, grosseiros e diabólicos dos senhores de escravos encontram a mais forte das proteções. Se eu fosse de novo submetido às cadeias da escravidão, a par dessa escravização, consideraria ser escravo de um senhor religioso a pior calamidade que poderia me acontecer. [...] odeio o cristianismo hipócrita, parcial, corrupto e escravizador desta terra, defensor do chicote para as mulheres e saqueador de berços.”

Para ser justo, vale notar que grande parte do fermento abolicionista surgiu nas comunidades cristãs, especialmente entre os quacres do Norte. O livro “sagrado” em si, como se nota, não é garantia para nada, pois pessoas imorais conseguem justificar sua imoralidade com ele. No final das contas, o que importa é o caráter dos indivíduos, seus princípios e valores morais, independente do credo, da “raça”, do sexo ou da renda.

Justamente por isso a educação é tão fundamental. Não qualquer “educação”, mas uma postura crítica diante da vida, a vontade de questionar e conhecer. É preciso aprender a aprender. Deve se evitar qualquer tipo de doutrinação, de dogmas seguidos sem reflexão e questionamento. Como escreveu Carl Sagan, “os tiranos e os autocratas sempre compreenderam que a capacidade de ler, o conhecimento, os livros e os jornais são potencialmente perigosos”. Afinal, eles “podem insuflar idéias independentes e até rebeldes nas cabeças de seus súditos”. Lênin e Trotski consideravam as ideias como armas letais, e todas as nações comunistas buscaram o total controle sobre os jornais. A Inquisição católica contou com o Index dos livros proibidos.

Os senhores de rebanhos temem o pensamento independente, a grande ameaça ao seu poder. O controle sobre os corpos dos escravos não é suficiente. É preciso controlar as suas mentes também. Na verdade, controlando as mentes, nem é preciso coerção para comandar os corpos. Os ignorantes que deixam o dízimo suado de seu trabalho nas igrejas do Bispo Macedo, por exemplo, fazem isso, até certo ponto, voluntariamente. Ninguém os obriga a isso. A imensa riqueza do Vaticano contrasta com suas mensagens de humildade que conquistam os mais pobres. A maior escravidão de todas, como Frederick Douglass descobriu, é a ignorância. A chave para a liberdade é o conhecimento, obtido através da razão.

Rodrigo Constantino

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Blog Rodrigo Constantino (VEJA)

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