DIA DA MENTIRA – Abaixo, o caráter pacífico, cordato, doce sensível e humanista dos terroristas de esquerda. Uma homenagem a Fra

Publicado em 01/04/2014 14:23 e atualizado em 11/06/2014 16:26
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

DIA DA MENTIRA – Abaixo, o caráter pacífico, cordato, doce sensível e humanista dos terroristas de esquerda. Uma homenagem a Franklin Martins, um dos chefões da campanha de Dilma: “A decisão era de executar”

Como todos sabemos, o golpe mesmo foi dado no dia 1º de abril, certo?, que é também celebrado como o Dia da Mentira. Houve-se por bem mudar a data para evitar piadinhas. Mas vejam como são as coisas. Em homenagem ao Dia da Mentira, resolvi relembrar o caráter pacífico das esquerdas armadas, saudadas uma vez mais por Dilma Rousseff no discurso de ontem, ainda que de maneira oblíqua. Já tratei deste tema aqui num post do dia 25 de agosto de 2010. Mas eu o relembro. Nada melhor para homenagear o Dia da Mentira do que evidenciar a contribuição de Franklin Martins à democracia brasileira — sim, refiro-me ao ex-ministro da Verdade de Lula e futuro coordenador de comunicação da campanha de Dilma à reeleição. Vamos lá.

Alguns de vocês já viram o vídeo que vai abaixo. Os cineastas Silvio Da-Rin e Suzana Amado filmaram cenas para um documentário chamado “Hércules 2456″, mesmo nome de registro do avião que transportou ao México, no dia 7 de setembro de 1969, os sequestradores do embaixador americano Charles Elbrik. Os diretores do filme reuniram alguns dos que participaram daquela ação para ouvir seus depoimentos, saber como viam a história — para glorificá-los, é claro! Vejam um trecho do filme. Volto em seguida:

Voltei
Participam da mesa-redonda Cláudio Torres (camisa azul e primeiro que fala), Paulo de Tarso (camisa branca), Franklin Martins (que dispensa caracterização), Monoel Cyrillo (que aparece no quadro enquanto Franklin dá seu depoimento), Silvio Da-Rin e Daniel Aarão Reis (que não aparecem nesse trecho).

Vou transcrever o diálogo porque se trata de um registro histórico. O primeiro a dar seu desassombrado depoimento é Cláudio Torres, que dirigiu o carro da embaixada, tomado então pelos terroristas. Com Franklin, ele era membro da DI-GB – “Dissidência Guanabara”, grupo que havia saído do PCB porque optara pela luta armada, contra a orientação do partido. A DI-GB daria origem ao MR-8. Vamos lá.

CLÁUDIO TORRES – Se os caras [o governo] não aceitassem a troca [de Charles Elbrick pela libertação de presos], nós executaríamos ou não o embaixador? Essa pergunta foi feita para mim no Cenimar (risos) no intervalo de duas sessões de porradas.

O Cenimar a que ele se refere era o Centro de Informações da Marinha. Durante os piores anos do regime militar, funcionou como um centro de interrogatório de presos políticos e de tortura — Torres faz alusão às “porradas”. Voltemos com eles. Notem que, para a voz que fala em off, “matar ou não matar” é uma questão “babaca”

VOZ EM OFF – É a famosa pergunta babaca!

Aí entra o contundente depoimento de Franklin Martins, com aquele seu ar sério, próprio de quem era um terrorista muito consciencioso, ciente de seus deveres. Vamos à sua fala inequívoca, escandindo com as mãos as sílabas para que a gente também não tenha dúvida nenhuma.

FRANKLIN MARTINS – Eu não tenho dúvida nenhuma! A decisão era de executar. Você pode chegar e dizer: “Podia na hora o cara tremer?” Bom, mas a decisão era de executar. Disso eu não tenho a menor dúvida. E, felizmente, não chegamos a isso. E eles não tinham dúvida nenhuma sobre isso…

Volta Cláudio Torres para expressar a moral elevada da turma, evidenciando que concorda com aqueles princípios até hoje — com o apoio evidente de Franklin.

CLÁUDIO TORRES – Quando eu fui questionado sobre isso, foi dentro do Cenimar, no meio da porrada. E o cara me perguntou, o cara da Marinha lá: “Você executaria o embaixador?”.

Atenção, agora, para este trecho: com a leveza de um anjo da morte, ar cínico, como se falasse de uma mosca, Torres responde:

CLÁUDIO TORRES – Sim, eu cumpro ordens. Se me mandassem executar, eu executaria (sorrindo).

Deve haver um tanto de bravata aí, de autoglorificação. É que Torres deve achar heroica, ainda hoje, a possibilidade de matar alguém. Por que digo isso? Os torturadores atuavam para quebrar a resistência dos presos, obrigá-los a denunciar seus parceiros. Por que ele confessaria a intenção de matar o embaixador se essa informação era irrelevante para quem o interrogava e para a causa e só poderia prejudicá-lo? Torres não liga em parecer burro para parecer herói — ainda que um “herói” que se confessa um potencial assassino ao menos. E, então, entra Franklin Martins para fazer a síntese escandalosa da fala. Prestem atenção! É ele quem resume como ninguém a moral profunda do grupo:

FRANKLIN MARTINS – Essa lógica, ele entendeu perfeitamente!

CLÁUDIO TORRES (como quem tivesse recebido uma iluminação) – É a lógica dele [do torturador]!!!

Todos gargalham satisfeitos. Alguém ainda diz, num contexto não muito claro: “Mas era você que dava ordens, cara!”

Conforme sempre quis demonstrar
Certa feita, comentei um discurso de Franklin na inauguração de uma TV sindical. Escrevi então o seguinte:
“A gente sabe que Franklin é determinado no confronto com o “inimigo”. Quando lutava para implantar uma ditadura comunista no Brasil, sequestrou um embaixador e ameaçou matá-lo caso algumas exigências não fossem atendidas. A ameaça está na carta que ele redigiu, de que tanto se orgulha. Tem em comum com Dilma o indisfarçável orgulho de ter pertencido a um grupo terrorista. Sua guerrilha, agora, é outra: quer minar o poder da “mídia”, dos “aquários”, com o apoio aos meios “independentes” de divulgação da notícia. O interessante é que essa “independência” é financiada com dinheiro público e é sempre favorável ao governo.”

Até houve algumas reclamações de boa-fé: “Pô, Reinaldo, você não exagera?”. Não! Eu não exagero. Acredito no que Franklin fala: eles, de fato, iriam matar o embaixador porque, como confessa o agora ministro de Lula, a “lógica” dos torturadores e dos terroristas era a mesma. É Franklin que confessa isso! É Cláudio Torres quem confessa isso. Eles reconhecem: assim como os agentes do Cenimar torturavam “cumprindo ordens”, os terroristas matavam — e eliminaram muita gente — também “cumprindo ordens”.

Qual era mesmo a diferença de moral entre os torturadores e eles? Nenhuma! Se diferenças há, são de outra natureza. Os torturadores encontraram seu justo lugar na lata de lixo da história. Já os terroristas redigiram a versão do próprio “heroísmo”, transformaram-na em “história oficial”, e muitos deles foram bater a carteira dos brasileiros, pedindo, e obtendo, indenizações.

A tortura e o terrorismo estão entre os crimes mais asquerosos da política — até porque política não são. O que dizer de um agente do estado que faz um prisioneiro, culpado ou não, e o submete a sevícias? O que dizer de um “libertador do povo” que sequestra um inocente e confessa que pode matá-lo se suas exigências não forem cumpridas?

Notem que não há a menor sombra de arrependimento em Torres e Franklin. Como, não custa lembrar, não há em Dilma. Nada! É como se aqueles mesmos sequestradores e potenciais assassinos estivessem ali, vivinhos na silva, em todos eles. Isso nos força a um desdobramento puramente lógico: se, em nome da causa, podiam matar, e muitos mataram, inocentes, o que não fazem hoje em nome das causas de agora?

Não sei que pito toca esse tal Torres aí. Franklin Martins eu sei muito bem o que faz. De trabuco na mão — se matou alguém, não sei; o MR-8, a que ele pertenceu, tem diversos assassinatos nas costas —, ele sequestrou um embaixador e confessa, entre gostosas gargalhadas, que o homem seria, sim, executado se as exigências não tivessem sido satisfeitas. Hoje, até onde sei, não anda com um revólver na cinta. Tornou-se o czar da publicidade oficial e está empenhado em derrotar a “mídia”. Entenda-se por “mídia” qualquer texto jornalístico que não cante as glórias do presidente Lula e que não endosse as suas mistificações. E, aí, vale tudo mesmo.

O mais curioso é que, durante um bom tempo — no governo FHC —, o rapaz, então contratado da Globo, fez a linha “progressista moderno”, interessado apenas em fazer uma análise sem paixões da política. Um monte de gente caiu no truque. A chegada de Lula ao poder foi lhe despertando, parece, antigos apetites. Demitido da emissora, vimos despertar o antigo militante da DI-GB, do MR-8. Mas agora com alguns bilhões para “fazer política”. Ora, se ele não renega, como se nota acima, o passado terrorista e ainda explica a sua estranha racionalidade, vai ver a publicidade oficial é só o terrorismo exercido por outros meios.

Por Reinaldo Azevedo

 

Mais um petista graúdo aparece perto do doleiro Youssef: André Vargas, vice-presidente da Câmara. E o Ministério da Saúde estava na pauta!

André Vargas, o lulista roxo, e a grosseira com Joaquim Barbosa

André Vargas, o lulista roxo, e a grosseria com Joaquim Barbosa em favor dos mensaleiros

O deputado André Vargas (PT-PR) é mesmo um homem de comportamento bastante heterodoxo. Vice-presidente da Câmara, ele também é vice-presidente do Congresso. É aquele senhor, vocês devem se lembrar, que, na abertura do ano legislativo, na presença do ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo e convidado para a solenidade, ergueu o punho esquerdo, cerrado, um gesto que virou símbolo dos mensaleiros.

Em março do ano passado, reportagem da revista VEJA revelou que um militante petista chamado André Guimarães, especializado em montar perfis falsos nas redes sociais para atacar pessoas, era funcionário de Vargas. Esse tal Guimarães foi, por exemplo, o criador da RedePT13, uma organização virtual formada por gente que não existe e blogs apócrifos, usados para alvejar aqueles que são considerados inimigos do partido. O rapaz ganhou tal expertise no trabalho de difamação que, acreditem!, saía Brasil afora oferecendo o seu método para estados e prefeituras. O pacote oferecido, a depender do serviço, podia custar de R$ 2 mil a R$ 30 mil por mês.

André Vargas e seu funcionário, André Guimarães: especialista em perfis falsos

André Guimarães e seu chefe: especialista em perfis falsos

Reportagem da Andréia Sadi na Folha desta terça informa que André Vargas pegou emprestado um avião com o doleiro Alberto Youssef, principal investigado da operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Youssef, que está preso, é acusado de envolvimento com um esquema de lavagem de dinheiro que pode ter movimentado R$ 10 bilhões.

A viagem a João Pessoa, informa a Folha, “foi discutida em uma conversa entre os dois por um serviço de mensagem de texto, no dia 2 de janeiro, segundo documentos da investigação da PF”. Não fica claro se o avião pertence ao doleiro, que desejou ao deputado “boa viagem e boas férias”. Indagado pela Folha a respeito da conversa, adivinhem qual foi a resposta de Vargas ao jornal… Reproduzo: “Eu não sabia com quem eu estava me relacionando. Não tenho nenhuma relação com os crimes que ele eventualmente cometeu.” Não sabia, embora admita que conhecia o doleiro há 20 anos.

É a segunda vez que o nome do doleiro aparece ligado a um figurão do PT. Reportagem da VEJA publicada no dia 23 de março informa que uma empresa chamada Labogen assinou com o Ministério da Saúde um contrato de R$ 150 milhões para o fornecimento de remédios, R$ 31 milhões desse dinheiro são destinados à compra de citrato de sildenafila, o princípio ativo do Viagra, substância usada no tratamento de uma doença grave: a hipertensão arterial pulmonar. Pois é… A PF descobriu que essa “empresa” não tem planta industrial e que os remédios seriam fabricados por outro laboratório, ao qual a Lobogen repassaria 40% do contrato. Ou por outra: segundo a Polícia, a turma pagaria R$ 60 milhões pelo produto e embolsaria nada menos de R$ 90 milhões. Uma beleza! E o que isso tem a ver com o doleiro? Segundo a polícia, a Lobogen, que tem capital de apenas R$ 28 mil, é um dos instrumentos de lavagem de dinheiro de Youssef. Só essa empresa teria remetido ilegalmente para o exterior US$ 37 milhões. O contrato foi celebrado pelo então ministro da Saúde, Alexandre Padilha, pré-candidato do PT ao governo de São Paulo.

Ah, sim: a polícia federal descobriu também outro diálogo entre André Vargas, que é um dos braços de Lula no PT, e o doleiro. Sobre avião? Não! Vargas diz ao doleiro que a reunião com o Gadhella foi “boa demais”. Num outro momento, cheio de intimidade, diz: “O Gadha vai nos ajudar”. Quem é Gadhelha, o Gadha? Conto pra vocês: é o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do ministério da Saúde, um dos responsáveis pela compra de… remédios.

Não é lindo?

Por Reinaldo Azevedo

 

Corte chavista confirma cassação de deputada de oposição, que agora pode ser presa; Maria Corina visita o Brasil nesta quarta

A América Latina já foi um celeiro de ditaduras militares, incluindo o Brasil. Os golpes eram dados com tanques, como sabemos. Hoje em dia, as esquerdas recorrem a eleições e ao aparato legal para golpear a democracia. Comentei aqui há dias a decisão absurda de Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, de cassar, sem processo, direito de defesa ou votação na Casa, o mandato da deputada oposicionista Maria Corina Machado. Evocando três artigos da Constituição — o 149, o 191 e o 197 —, ele declarou que Maria Corina não era mais deputada. O Artigo 149 veta que funcionários públicos ou membros da Assembleia atuem a serviço a serviço de outro país sem prévia autorização de seus pares. Os outros dois proíbem deputados de exercer alguma outra função, com algumas exceções, como atividade acadêmica, por exemplo.

Aí cabe a pergunta: Maria Corina fez isso? É claro que não! Proibida de falar na OEA (Organização dos Estados Americanos) — e o Brasil, desgraçadamente, colaborou para isso —, a deputada venezuelana ocupou, por alguns minutos, a cadeira que cabe à representação do Panamá. Para quê? Para tratar dos assuntos desse país? É claro que não! Foi a forma que ela encontrou de denunciar os crimes cotidianamente cometidos por Nicolás Maduro, presidente da Venezuela. Desde 12 de fevereiro, 37 pessoas já morreram nos protestos. Há quase 200 presos, incluindo o líder oposicionista Leopoldo Lopez e dois prefeitos.

Pois bem! Ela recorreu ao Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela — o STF deles — contra a cassação. O TSJ está coalhado de bolivarianos. Adivinhem o resultado! A decisão de Cabello foi mantida. A Corte confirmou a decisão do líder chavista. Agora Maria Corina perdeu a imunidade parlamentar e, nas palavras do ministro do Interior da Venezuela, Miguel Rodríguez, já pode ser presa. A turma de Nicolás Maduro a acusa de ser uma das líderes de uma tentativa de golpe.

É uma vergonha! Maria Corina disse que deve visitar o Congresso Brasileiro nesta quarta. O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), negocia uma audiência pública em que a deputada será ouvida. Vamos ficar atentos ao comportamento dos congressistas de esquerda. Vamos ver se também ela será alvo da estupidez e da ignorância que colheram, por exemplo, a cubana Yoani Sánchez quando em visita ao nosso país.

A Corte chavista confirma a cassação de Maria Corina no momento em que uma comissão da Unasul busca um suposto diálogo entre os oposicionistas e  Maduro. Ou por outra: o presidente negocia com seus adversários metendo-os na cadeia e lhes cassando os respectivos mandatos. E a Unasul finge que está mesmo em curso uma possibilidade de diálogo.

Já que ainda estamos no clima dos 50 anos do golpe no Brasil, cumpre lembrar a Operação Condor, que foi a troca de informações e a ajuda mútua havidas entre vários regimes ditatoriais da América do Sul. Pois bem! Hoje, está em curso uma “Operação Condor” de sinal trocado. Maduro só avança rumo à ditadura sem adjetivos porque tem o respaldo dos governos de esquerda da América do Sul, muito especialmente o Brasil.

Do ponto de vista ideológico, ele faz lá o que os nossos esquerdistas gostariam de fazer aqui. E por que não fazem? Porque ainda não dá. Se um dia for possível, não tenham dúvida, eles farão.

Por Reinaldo Azevedo

 

Kassab lança a sua pré-candidatura ao governo de SP. É pra valer?

O ex-prefeito Gilberto Kassab lançou sua pré-candidatura ao governo de São Paulo durante um evento do partido na capital. Lançou, mas com prudência. Diz um velho ditado que, “em tempo de muda, jacu não pia”. Ou por outra: quando o cenário está meio incerto, melhor é esperar. Ou ainda: o negócio é cruzar para o outro lado, mas não incendiar os navios — vai que seja preciso voltar. A candidatura é irreversível? Mais ou menos. Ou nas suas palavras, segundo informa a Folha: “A legislação eleitoral não nos permite fazer nenhuma referência à candidatura. É evidente que uma pré-candidatura é um indicativo forte da vontade do partido, uma tendência praticamente irreversível”.

Poderia ser mais incisivo, mas o cenário nacional se tornou também muito instável. O PSD é um partido da base do governo, mas, em São Paulo, tem um eleitorado nada identificado com o partido — aliás, Fernando Haddad é um bom cabo eleitoral do ex-prefeito, não é mesmo?, com a sua espetacular ruindade.

De todo modo, o que faz sentido na forma como Kassab se movimenta é, sim, candidatar-se. Não gosto, e já escrevi aqui diversas vezes, desse jeito excessivamente pragmático de Kassab fazer política, mas ele é, inegavelmente, um dos operadores mais astutos que estão por aí — e nem empresto à palavra um sentido pejorativo. Ele sabe, no plano mais geral, que há sinais de decadência do petismo e aposta, também, no que considera fadiga de material dos tucanos em São Paulo. Busca se apresentar como alternativa a essa polarização — mesmo terreno em que transita Paulo Skaf (PMDB).

É difícil que consiga chegar a um segundo turno. A menos que o cenário nacional mude radicalmente, a tendência é que apoie o adversário de Geraldo Alckmin na segunda etapa — ciente, no entanto, de que seu eleitorado pode (e é o provável) não seguir a sua orientação.

O outro destaque do encontro foi Henrique Meirelles, o ex-presidente do Banco Central, o goiano com domicílio eleitoral em São Paulo. Kassab o quer candidato ao Senado, num esforço, é evidente, de atrair o eleitorado mais conservador — um tipo de conservadorismo, no entanto, que conta com a simpatia do mais importante de todos os petistas: Lula, a cujo governo Meirelles serviu como presidente do Banco Central.

Desde 1998, os tucanos têm aos menos um candidato, digamos assim, jogando no campo à sua direita: Francisco Rossi (1994), Paulo Maluf (1998 e 2002) e Celso Russomano (2010). Em 2006, o principal adversário não-esquerdista de Serra foi Orestes Quércia, que era um clássico do PMDB. Desta feita, Alckmin terá, como sempre, o PT à sua esquerda, mas vai encarar dois que mobilizam votos à sua direita: Kassab e Skaf. O que esse eleitorado fará num eventual segundo turno pode decidir a eleição.

Por Reinaldo Azevedo

 

Aécio fala a coisa certa: tanto faz se o candidato do PT será Dilma ou Lula

Já que estamos em tempos de recuperar os idos da ditadura militar, vou lembrar aqui de uma frase do general João Baptista Figueiredo, o último presidente daquele ciclo, inaugurado em 1964: “Olhem que eu chamo o Pires”. O “Pires” era uma referência a Walter Pires, ministro do Exército. Mostrou-se um soldado disciplinado, ali nos estertores da ditadura, mas era de pouca prosa. Até surgiu na época uma safra de generais que gostavam de sorrir, de fazer acenos aos críticos e tal. Não era o caso do enigmático “Pires”. E quando é que Figueiredo fazia aquilo? Sempre que julgava que a oposição ou o Congresso exageravam e tentavam ir além do que ele considerava seguro no tal processo de “abertura”. “Chamar o Pires”, ainda que dito num tom de pilhéria agressiva, significava o óbvio: dar um novo golpe e acabar com a brincadeira. E por que não chamou? Acho que é porque percebeu que não era mais possível. Adiante.

Mutatis mutandis, Lula é o “Pires” do PT. Nos bastidores, lideranças do partido vivem ameaçando, a cada vez que se evidenciam sinais de fragilidade da candidatura de Dilma Rousseff à reeleição: “Olhem que nós chamamos o Lula”. É o sonho dourado de um monte de petista e, se querem saber, de muitos empresários também. Ninguém é tão dócil com alguns tubarões da economia como Lula. Ele tem um lado, assim, melancia às avessas: vermelho por fora e verdinho por dentro. Ou, se quiserem uma metáfora mais tátil, ele se parece bastante com jaca: por fora, tem uma casca áspera, hostil, mas, por dentro, é bastante mole e melequento, gelatinoso mesmo.

O “vamos chamar o Lula” voltou a ser repetido com muita frequência nos bastidores do partido na semana passada, quando veio a público a pesquisa Ibope indicando uma queda importante na popularidade de Dilma. A questão existe não é de hoje. Não custa lembrar que, ainda em 2011, no primeiro ano do governo Dilma, Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência e espião do Apedeuta no Palácio, falou em Lua como “o nosso Pelé”, sugerindo que o PT tem no banco o melhor jogador. Ou por outra: se Dilma for um risco, chame-se o Pelé barbudo.

Nesta segunda, o tucano Aécio Neves referiu-se a possibilidade da volta de Lula à disputa em palestra concedida a empresários ligados ao LIDE, grupo que reúne empreendedores de São Paulo. Afirmou: “Ouço sempre que pode haver mudança da candidatura do governo. Para mim, não importa se será Lula ou Dilma. O que eu quero é derrotar o modelo que aí está”.

O pré-candidato tucano faz muito bem em tocar no assunto, pondo às claras essa história de que Lula chega e toma a Presidência como e quando quiser. Se acontecer, terá de ser com o voto do eleitorado. Ele disputar ou não é um problema dos petistas e de Dilma, não das oposições. Esse negócio do “olhem que nós chamamos o Lula” é só mais uma tentativa de intimidar a oposição.

Por Reinaldo Azevedo

 

O discurso de Dilma sobre o 31 de Março tem de tudo: até coisas certas! Ou: Erros, omissões, mistificações. Ou ainda: A etimologia atrapalhada da companheira

Dilma, como não poderia deixar de ser, discursou sobre o 31 de Março de 1964. O filme segue abaixo. Transcrevo, em vermelho, trechos de sua fala e os comento em azul. Há um pouco de tudo em sua fala, ATÉ COISAS CERTAS. Mas a regra é a mistificação.

Nós aprendemos o valor da liberdade, o valor de um Legislativo e de um Judiciário independentes e ativos. Aprendemos o valor da liberdade de imprensa, o valor de eleger pelo voto direto e secreto de todos os brasileiros governadores, prefeitos, de eleger, por exemplo, um ex-exilado, um líder sindical, que teria sido preso, que foi preso várias vezes, e uma mulher também que foi prisioneira. Aprendemos o valor de ir às ruas e nós mostramos um diferencial quando as pessoas foram às ruas demandar mais democracia. Aqui no Brasil, não houve um processo de abafamento desse fato. O valor, portanto, de ir às ruas, o valor de ter direitos e de exigir mais direitos.
É claro que eu poderia deixar passar o que vai acima sem fazer alguns senões, mas aí eu não seria eu, né? Como sou quem sou e como se trata de um discurso sobre a verdade, então vamos lá.

“Nós” quem, cara-pálida? O PT e o governo Dilma não aprenderam ainda o valor da liberdade de imprensa. O partido tentou e tenta cerceá-la de múltiplas formas. O Planalto sustenta — e Lula fez o mesmo — a rede suja na Internet, por meio de anúncios da administração direta e das estatais, para difamar as oposições, o jornalismo independente e todos aqueles que o governo considera inimigos.

Quanto às ruas, cumpre notar que o Brasil é hoje o principal fiador do regime venezuelano — e de outros governos autoritários da América Latina. Há quase 200 pessoas presas na Venezuela. Trinta e sete já foram assassinadas desde 12 de fevereiro. A oposição não tem acesso aos meios de comunicação de massa — monopólio do governo —, e milícias armadas caçam opositores a tiros nas ruas. Dilma trouxe esse governo para o Mercosul.

“O que isso tem a ver com a gente?”, indagará alguém. Tudo! Se o PT apoia de forma tão determinada esse governo, não faz isso aqui porque não dá, não porque não queira. E não dá porque seus adversários não permitem. Conclusão: o PT se mantém no campo democrático (quase sempre) porque seus adversários o forçam a tanto; não por convicção.

Embora nós saibamos que os regimes de exceção sobrevivem sempre pela interdição da verdade, pela interdição da transparência, nós temos o direito de esperar que, sob a democracia, se mantenha a transparência, se mantenha também o aceso e a garantia da verdade e da memória e, portanto, da história.
Muito bem! Isso significa, então, que teremos condições de saber tudo o que se passou e se passa, por exemplo, na Petrobras? Parece que não! Em vez de optar pela transparência, o governo soltou seus cachorros loucos para fazer ameaças e chantagens. A democracia não é dama de companhia da história, para lembrar certo senhor. Ela é vivida na prática. A DEMOCRACIA NÃO SERVE APENAS PARA QUE PENETREMOS NOS PORÕES DE EXTINTAS DITADURAS. ELA TEM DE PERMITIR QUE ENTREMOS NOS PORÕES DA PRÓPRIA DEMOCRACIA, OU DEMOCRACIA NÃO É, MAS APENAS UM REGIME DE MAIORIA. E, ORA VEJAM, REGIME DE MAIORIA ATÉ O FASCISMO FOI. E NÃO ERA DEMOCRÁTICO.

Aliás, como eu disse quando instalamos a Comissão da Verdade, a palavra “verdade” na tradição ocidental nossa, que é grega, é exatamente o oposto do esquecimento e é algo tão forte que não dá guarida para o ressentimento, o ódio, nem tampouco para o perdão. Ela é só e, sobretudo, o contrário do esquecimento, é memória e é história. É nossa capacidade de contar tudo o que aconteceu.
Há uma confusão dos diabos aí. Esse trololó sobre a verdade ser o “oposto do esquecimento na tradição grega…” Huuummm… A palavra “verdade” tem origem no vocábulo latino “veritas”, que significa justamente “verdade”, mas também justiça, equidade, franqueza, sinceridade. O adjetivo é “verus”, “o verdadeiro, o justo, o razoável, o bem fundado”. É a mesma origem da palavra “verificar” — isto é, alguém pode constatar que o que se diz de fato aconteceu.

O “perdão”, professora Dilma, não tem nada a ver com isso porque se situa em outra esfera — e, de resto, ainda que se estivesse lidando com o conceito grego de “verdade”, tal questão estaria fora do escopo. Então vamos ficar com a palavra “verdade” como aquilo que “aconteceu” e que se pode “constatar” porque verificável. Vamos ver aonde isso nos leva.

O dia de hoje exige que nós nos lembremos e contemos o que aconteceu. Devemos isso a todos os que morreram e desapareceram, devemos aos torturados e aos perseguidos, devemos às suas famílias, devemos a todos os brasileiros. Lembrar e contar faz parte, é um processo muito humano e faz parte desse processo que nós iniciamos com as lutas do povo brasileiro, pelas liberdades democráticas, pela anistia, pela Constituinte, pelas eleições diretas, pelo crescimento com inclusão social, pela Comissão da Verdade, enfim, por todos os processos de manifestação e de ampliação da nossa democracia que temos vividos ao longo das ultimas décadas, graças a Deus.
Muito bem! Se nós formos “verificar” o que aconteceu, teremos de entrar, por exemplo, no credo da VAR-Palmares, um dos três grupos terroristas a que Dilma pertenceu. Eu quero que ela me apresente o credo democrático desses agrupamentos. EU QUERO VERIFICAR. Igualmente verificáveis devem ser os pressupostos libertários de outros tantos que, em tese, ajudaram a construir a democracia.

Se é de “veritas” que estamos falando, se é do “verus” que estamos falando, se estamos no terreno do “verificável”, pergunto à professora Dilma se os mais de 120 que foram mortos pelos terroristas integram a sua lista de mártires. Integram? Onde eles estão? Quem se importa com eles?

Um processo que foi construído passo a passo durante cada um dos governos eleitos depois da ditadura. Nós reconquistamos a democracia a nossa maneira, por meio de lutas e de sacrifícios humanos irreparáveis, mas também por meio de pactos e acordos nacionais. Muitos deles traduzidos na Constituição de 1988. Como eu disse, na instalação da Comissão da Verdade, assim como eu respeito e reverencio os que lutaram pela democracia, enfrentando a truculência ilegal do Estado e nunca deixarei de enaltecer esses lutadores e essas lutadoras, também reconheço e valorizo os pactos políticos que nos levaram a redemocratização.
Isso quer dizer que Dilma defende a Lei da Anistia ou não? Escrevi hoje de manhã a respeito. Se é de “verdade” que estamos falando, então que fique claro: a democracia é filha da resistência pacífica e daqueles que conservaram os valores da democracia, não da luta armada nem dos ataques terroristas. Também não é menos “verdade” — e, pois, “verificável” — que os que foram depostos em 1964 desprezavam o regime democrático. A propósito Dilma inventou que a palavra “verdade” é incompatível com “perdão”. Diz também ser incompatível com “esquecimento”. Ocorre que “anistia” quer dizer justamente  ”esquecimento”, “perdão geral”. E, se é geral, vale para todo mundo. E aí? Se a professora fizer uma pesquisa, verá que “anistia” e “amnésia” são palavras da mesma raiz. Vale para todo mundo? Vale só para alguns?

Como eu disse, nesse Palácio, repito, há quase dois anos atrás, quando instalamos a Comissão da Verdade, eu disse: se existem filhos sem pais, se existem pais sem túmulos, se existem túmulos sem corpos, nunca, nunca, mas nunca mesmo, pode existir uma história sem voz. E quem da voz à história são os homens e as mulheres livres que não têm medo de escrevê-la. E acrescento: quem dá voz à história somos cada um de nós, que no nosso cotidiano afirma, protege, respeita e amplia a democracia no nosso país. Muito obrigada.
Então Dilma que tenha a coragem de convidar a Comissão da Verdade a contar também a história dos mais de 120 que foram mortos em atentados terroristas praticados pelas esquerdas, alguns deles mortos pelos grupos aos quais ela própria pertencia. Sem isso, o seu conceito de verdade não é nem grego nem latino. É só uma empulhação. Isso quanto ao passado. No que concerne ao presente, dê um murro na mesa e permita que se apurem as falcatruas na Petrobras, sem ameaças nem chantagens. Para encerrar: na frase “quem dá voz à história somos cada um de nós”, não há um erro de conceito, só de gramática.

Por Reinaldo Azevedo

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Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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3 comentários

  • victor angelo p ferreira victorvapf nepomuceno - MG

    Nada me tira da cabeça, que o sequestro do embaixador americano no Brasil, determinou o que estamos passando até hoje...A vingança foi planejada e executada, com obrigação dos Militares entregarem o poder para os pseudos patriotas que veem ocupando o comando...Não se iludam, tudo de irreal e inusitado que está ocorrendo foi previsto pelos PHDs lá do norte...Continuamos brincando de eleição, única coisa que nos é permitida.

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  • antonio carlos malta Astorga - PR

    a elite civil e militar com a desculpa de que podia entrar o comunismo no brasil, deu um golpe na democracia brasileira e introduziu no pais uma ditadura sangrenta com sequestro,tortura,morte,ocultação de cadáveres e muitas outras barbaridades. infelizmente muitas figuras famosas da mídia hoje ainda defende aqueles covardes que enterraram o país na dívida externa e quando viram que não davam mais conta de administrar,entregaram o comando ao povo.

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  • Osvaldo Cezar Papesso Corumbataí - SP

    È 50 anos do golpe militar ,e quantos anos do golpe do PT??? Dia da mintiraaa!!!!

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