Recordar é viver: “Meu governo é padrão Felipão”, diz Dilma

Publicado em 09/07/2014 17:58 e atualizado em 11/08/2014 10:57
por Rodrigo Constantino, de veja.com.br

Humor

Recordar é viver: “Meu governo é padrão Felipão”, diz Dilma

Não sou eu quem está dizendo. Foi a própria presidente Dilma quem disse. Quem sou eu para discordar?

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Rodrigo Constantino

 

Cultura

Vergonha

Vergonha

Vergonha. Palavra estampada em todas as capas e manchetes.

Vergonha não é perder um jogo de 7×1. Não demos pontapés, não abandonamos o campo, não apagamos a luz. Pode até ser um resultado vergonhoso, mas é adjetivo e não substantivo.

Vergonha é um grupo de jogadores milionários discutirem premiação para defender seu país. Deveria ser uma honra e há filas de profissionais que agradeceriam a oportunidade sem exigir nada.

Vergonha é demitirmos um técnico por curto-prazismo para contratar um rebaixado. Mostra que, dentre as poucas verdades do nosso hino, o “deitado em berço esplêndido” ainda vale – ou, no popular, “fez fama, deita na cama”. Seguimos premiando o medíocre.

Vergonha é nos iludirmos todo dia, pagando impostos extorsivos, mas achando que vivemos no “florão da América” e que, no fim das contas, vale o preço de estar no país tropical abençoado por Deus.

Vergonha mesmo é não termos entregue nem metade das obras prometidas para a Copa. Vergonha maior é uma delas ter desmoronado e matado gente. Vergonha é o país entrar em comoção pelo Neymar e não pelos mortos no acidente, ou pelos cidadãos que não têm acesso a saúde, educação, saneamento, ou pelas benesses concedidas à quadrilha do mensalão.

Vergonha é termos uma suprema corte que serve a interesses partidários.

Isso tudo é resultado da Vergonha que é o país. Agora sim, Vergonha substantivo, Vergonha com letra maiúscula. Muito pior do que um resultado vergonhoso.

Não temos que ter orgulho de ser brasileiro apenas no estádio. Não temos que ter amor à Pátria só na música de torcida. Não temos que cobrar explicação só do técnico de futebol. Se formos brasileiros com orgulho e amor, cobrarmos resultados daqueles que podem fazer diferença nos rumos do país e da sociedade e lembrarmos que o poder emana do povo, temos alguma chance de ter orgulho fora do estádio. E não apenas de quatro em quatro anos.

Que tenhamos vergonha na cara na hora de votar este ano.

Por Mariano Andrade

 

EconomiaInflação

A verdadeira derrota brasileira: a goleada do dragão inflacionário

Entendo que o clima hoje é de ressaca pela derrota humilhante da seleção ontem para a Alemanha. Mas que isso sirva, ao menos, para o despertar dos brasileiros para os verdadeiros problemas que o país enfrenta. A humilhação futebolística a gente aguenta, lembrando que ainda somos os pentacampeões do mundo. Mas a derrota para a inflação, esta é extremamente preocupante, pois afeta bastante a vida de milhões de brasileiros de maneira muito concreta. E não dá para se vangloriar aqui perante o resto do mundo.

É um problema feito em casa, produzido pelo governo, que tem sido negligente com a inflação desde o começo. O principal equívoco é ideológico: os desenvolvimentistas acreditam na Curva de Phillips, refutada teoricamente por Milton Friedman e empiricamente na década de 1970, com a estagflação. Ela diz que é preciso ter mais inflação para ter menos desemprego, e a equipe de Dilma acredita nessa falsa dicotomia com um fervor religioso.

Mas não é assim. A inflação é sempre inimiga do crescimento. Ao deixar ela sair de controle, o governo acreditou que haveria uma compensação na taxa de crescimento econômico. Não houve. Não obstante, o governo ainda insiste na falácia, afirmando que não vai combater a alta de preços com “arrocho” e desemprego. Com essa postura, o Banco Central, subserviente ao governo, mantém sua política monetária “atrás da curva”, ou seja, insuficiente para debelar a escalada dos preços. Eis o resultado:

IPCA 12 meses. Fonte: Bloomberg

IPCA 12 meses. Fonte: Bloomberg

A linha branca representa o teto da banda da meta de inflação, que jamais deveria ser ultrapassado, e que apenas em casos esporádicos e temporários deveria ser alcançado. A linha grossa vermelha representa o centro da meta, ou mais especificamente a própria meta de inflação, de 4,5%, que já é um patamar bastante elevado para padrões internacionais. É fácil notar que essa jamais foi a meta real perseguida pelo governo Dilma.

O que todos já sabem, até a recepcionista do meu prédio, é que o Banco Central de Alexandre Tombini, obediente ao governo Dilma, mira no teto da banda como se fosse o centro. Ou seja, o governo se sente absolutamente confortável com uma inflação oficial de 6,5% ao ano. Mesmo quando o IPCA acumulado em 12 meses ultrapassa esse valor, as autoridades reagem com aparente tranquilidade, afirmando que o teto vale para o ano fechado.

Isso para não falar que essa inflação é obtida somente por meio de malabarismos, com muitos preços represados pelo governo, como a gasolina, as tarifas elétricas e de ônibus. São preços congelados artificialmente, de forma insustentável. Cedo ou tarde terão de subir, puxando o índice para cima e estourando (muito) o topo da elevada meta.

Sim, levar goleada da Alemanha incomoda, entristece, é humilhante. Mas eis aí a verdadeira goleada que deveria tirar o sono de todos os brasileiros: a do dragão inflacionário, alimentado pelos gastos públicos e uma política monetária frouxa. A derrota no futebol mexe com nossa autoestima talvez. A derrota na inflação mexe com nosso bolso, e retira alimentos de nossa geladeira. Que saibamos focar nas coisas mais importantes, pois a Copa já acabou para o Brasil, mas outubro vem aí…

Rodrigo Constantino

 

ComunismoFilosofia políticaHistória

“Somos todos marxistas”, diz Delfim Netto. Eu não!

É tóis!

É tóis!

“Insanidade é fazer tudo do mesmo jeito e esperar resultados diferentes”. (Einstein)

Em sua coluna de hoje, Delfim Netto, uma espécie de Sarney da economia (há décadas em torno do “puder”), tentou resgatar ninguém menos do que Karl Marx. Tentou resgatar parte dele, é verdade, a parte teórica, separando-a da parte revolucionária, que merece, segundo Delfim, todas as críticas por ter virado uma “igreja” de fanáticos. Diz ele:

Os dois gigantes que estavam em Marx, o teórico e o revolucionário vão pouco a pouco tomando distância entre si. De sua imensa obra teórica ficarão sólidos resíduos, incorporados definitivamente à consciência da humanidade e que irão perdendo a sua identidade por submergirem no que se supõe ser o estoque das “verdades” que conhecemos.

A sua obra revolucionária, ao contrário, continua a empalidecer porque a experiência mostrou que o “marxismo” implementado distingue-se muito pouco da “ditadura dos intelectuais proletarizados”, como queria Bakunin.

Quais sólidos resíduos seriam esses? O autor não diz. Temos de aceitar assim, por imposição, por apelo à autoridade. A experiência mostrou, de fato, que sua obra revolucionária leva, quando colocada em prática, a uma ditadura dos “proletários”, ou daqueles que falam em seu nome. Curiosamente, Delfim parece crer que tal resultado não tem ligação alguma com suas teorias. Ledo engano!

Como vários teóricos mostraram, especialmente os economistas austríacos, a teoria marxista colocada em prática levaria inexoravelmente ao resultado catastrófico que vimos por todo lugar. Não foi coincidência, mero acaso ou falta de sorte. Não foi uma má interpretação de sua obra. Foi o resultado lógico de premissas absolutamente equivocadas.

Não é possível separar o Marx teórico do revolucionário: sua teoria serviu de arcabouço para a revolução que defendeu, e sua honestidade intelectual foi turvada pelo desejo revolucionário. Quando um fato ia contra sua teoria, era o fato que saía perdendo e acabava ignorado. Delfim parece compreender parte do problema, mas não sua essência:

A obra de Marx só não conheceu a mais completa absorção pela corrente do pensamento universal porque, depois de 1917, foi falsificada e transformada na religião oficial do Império soviético. Em lugar da sociedade sem classes, eles construíram um mundo fantástico de opressão e de obscurantismo, como só intelectuais sabem fazer. A experiência mostrou que a vontade de poder, o desejo de submeter o outro homem, está no próprio homem e que ele só pode ser controlado por um regime autenticamente político.

Os soviéticos não chegaram a falsificar Marx. Não foi preciso. A sua teoria caiu como uma luva para os interesses leninistas. O desejo de poder presente na natureza humana só pode ser contido por um modelo de descentralização de poder, como ocorre no capitalismo de livre mercado, e o contrário do que pregam os marxistas, inclusive o próprio Marx.

Não há incoerência maior do que pregar uma “ditadura do proletário” como fase intermediária para o comunismo, uma sociedade sem a necessidade de um estado. Concentrar todo o poder estatal em uma classe ou um grupo qualquer, para depois defender sua abolição voluntária é uma piada de muito mau gosto, que só marxistas podem levar a sério. Delfim conclui:

A miséria humana não é produto da propriedade privada, pelo menos não exclusivamente. Os “intelectuais proletarizados” nunca entenderam, de fato, as dificuldades que cercam a organização de uma economia moderna. É por isso que o mundo comunista se dissolveu. A “Igreja” faliu. Agora qualquer um de nós pode ser “marxista”, sem medo de ser feliz! 

A miséria humana não é produto da propriedade privada, “pelo menos não exclusivamente”? Delfim faz uma concessão absurda aos marxistas para poder acusá-los de seita fracassada em seguida. A propriedade privada não é culpada pela miséria; é sua salvação! Não é que ela produza parte da miséria; ela produz a riqueza que elimina a miséria!

A história da civilização ocidental é em boa parte a história das maravilhas produzidas pela propriedade privada em um ambiente de livre mercado. Ignorar isso é ignorar a essência do capitalismo e suas vantagens, observadas já por Adam Smith em 1776. A riqueza das nações depende da propriedade privada e do livre comércio.

Ou Delfim não tem coragem de afirmar o óbvio, ou não concorda com isso e está simplesmente errado, como os marxistas revolucionários que condena. Pensando ter separado o joio do trigo, Delfim acredita que podemos todos nos considerar marxistas hoje, sem medo de ser feliz. Fale por si só. Eu não sou marxista em nada!

Tanto o Marx teórico como o revolucionário estavam equivocados ao extremo. Resgatar qualquer um desses marxismos é insistir em um erro responsável pela miséria, escravidão e morte de milhões de inocentes.

Rodrigo Constantino

 

Política

Os socialistas e o esporte: uma mistura histórica

Presidente Dilma imitando gesto de Neymar para tirar mais uma casquinha da seleção… antes da humilhante derrota!

Muitos brasileiros resolveram torcer contra a nossa seleção nesta Copa do Mundo organizada em casa. O motivo era a aversão ao PT e ao uso político que ele faria com uma eventual vitória. Meus leitores sabem que não aceitei o argumento, e defendi o direito do brasileiro de separar as coisas, de torcer pela nossa vitória em campo e continuar um duro oponente do atual governo.

Pois bem: agora o Brasil perdeu de forma humilhante para a Alemanha, e quem tenta desesperadamente separar política de futebol é justamente o PT, aquele que antes tentava casar as duas coisas. O objetivo desse texto é mostrar que, pela lógica deles mesmos, são coisas inseparáveis. Para os socialistas, o esporte sempre foi mais do que pura diversão, mais até do que “pão & circo” para alienar as massas: era o retrato do sucesso da nação como um todo.

Em A vida secreta de Fidel, seu ex-segurança Juan Reinaldo Sánchez, que foi sua sombra por 17 anos, conta aquilo que todos já sabiam: como o ditador levava a sério o esporte. Diz ele: ”Fidel Castro sempre considerou com muita seriedade os Jogos Olímpicos, em especial o desempenho dos atletas cubanos que eram, para ele, a expressão da grandeza da Revolução e o desenvolvimento de seu país”.

A ditadura cubana sempre desviou muitos recursos, bastante escassos na ilha caribenha, para esta finalidade, e os inocentes úteis ocidentais aplaudiam: “Estão vendo como Cuba é uma potência? Com apenas 11 milhões de habitantes, ganha quase tantas medalhas como os americanos”. E ignoravam a decadência em todo o resto, inclusive na medicina e na educação (doutrinação ideológica), vendidas como grandes sucessos de forma enganosa.

Basta lembrar da União Soviética e da China comunista, com suas economias em frangalhos, mas com atletas de primeira. Era uma forma de compensar o fracasso doméstico, de lutar de igual para igual com a potência capitalista dos Estados Unidos ao menos em uma seara. Faltava papel higiênico nas prateleiras e milhões morriam de fome, mas as medalhas de ouro e prata se acumulavam…

Mesmo com a abertura da China para a globalização, certas coisas não mudaram. Vimos nos últimos Jogos Olímpicos como as atletas chinesas, ainda muito jovens, sofriam intensos castigos e um método de treinamento mais que rigoroso – praticamente desumano – tudo para vencer a qualquer custo. Coletivistas confundem estado com nação e atletas com estado. Vale tudo para desafiar os “imperialistas ianques” em um setor em que a vitória é possível.

A Coreia do Norte é o exemplo mais caricato disso. Um país miserável, com milhões sofrendo com a inanição causada pelo comunismo, mas uma organização militar de “formigas”, que usam os esportes para compensar a falta de todo o resto – e não conseguem nem isso. Mas o ditador maluco adora, convida astros do basquete americano para suas partidas. O esporte é tudo.

Sabemos que o PT é o herdeiro ideológico dessa mentalidade no Brasil. Desde o começo o partido tentou se apropriar da Copa do Mundo para fins políticos. A presidente Dilma fez analogias, afirmando que os “urubus” pessimistas iriam quebrar a cara tanto na Copa como na economia. Os rubro-negros alemães acabaram humilhando nossa seleção, dando um verdadeiro passeio em campo, brincando e colocando nossos zagueiros na roda.

E agora, Dilma? O PT ainda vai misturar política e futebol? Ou vai de forma oportunista fingir que nunca tentou fazer isso? Aos que, como eu, nunca aceitaram tal mistura abjeta, típica dos vermelhos, e que torceram pela seleção mesmo sabendo o que o PT faria com uma vitória, ao menos têm agora um consolo: não serão forçados a engolir uma patética encenação de que os jogadores eram sinônimo do “sucesso” da nação como um todo. O show de ufanismo boboca foi evitado, ao menos.

Já os marqueteiros de Dilma terão muito trabalho para mostrar justamente o oposto agora, que o ocorrido em campo nada tem a ver com o país em si. Tentarão de toda forma separar Dilma da seleção. Boa sorte a eles…

Rodrigo Constantino

 

Comunismo

O nababo do Caribe

Mais jovem, ele gostava de curtir seu enorme e luxuoso iate de 90 pés, decorado com madeiras nobres importadas de Angola, cercado de forte aparato de segurança. Frequentava sua linda ilha particular, ao lado de tartarugas e golfinhos.

Adorava pescarias e caçadas submarinas. Se o trabalho o chamasse, havia um helicóptero à sua disposição. Degustava iguarias caras como os presuntos pata negra e seu uísque Chivas Regal. Ainda possui dezenas de casas espalhadas pelo país, com quadra de basquete e cinema particular.

De qual magnata capitalista ou herdeiro playboy estamos falando? Nada disso. Esses eram os hábitos do “espartano” Fidel Castro, revelados por seu ex-segurança que foi sua sombra por 17 anos. Juan Reinaldo Sánchez, em “A vida secreta de Fidel”, conta inúmeros detalhes sobre o mais longevo ditador latino-americano. São coisas que ninguém lhe contou; ele mesmo viu!

Mais um mito cai por terra. Cuba é uma redoma de mentiras, inventadas pelo regime opressor e aceitas sem muita crítica pelos cúmplices e os idiotas úteis. Saúde de boa qualidade, educação de primeira, e um líder revolucionário que conseguiu manter um estilo de vida simples: tudo propaganda enganosa.

Leia mais aqui.

Tags: Fidel CastroJuan Reinaldo Sánchez

 

Democracia

O descrédito da República e a ameaça populista e autoritária da “democracia” direta

Muito cuidado com aqueles que querem substituir a República democrática...

Muito cuidado com aqueles que querem substituir a República democrática…

Quando as instituições perdem a credibilidade, o caminho fica aberto para os oportunistas de plantão. Considero esse o maior risco que o Brasil corre atualmente. Os representantes eleitos não honram seus mandatos, e a descrença na própria democracia é cada vez maior, suscitando propostas autoritárias de ambos os lados: direita e esquerda.

Esse foi o alerta feito por Marco Antonio Villa em seu artigo de hoje no GLOBO. Após uma aula de história, o historiador chega ao presente bastante preocupado com o clima de desilusão geral:

O processo eleitoral reforça este quadro de hostilidade à política. A mera realização das eleições — que é importante — não desperta grande interesse. Há um notório sentimento popular de cansaço, de enfado, de identificação do voto como um ato inútil, que nada muda. De que toda eleição é sempre igual, recheada de ataques pessoais e alianças absurdas. Da ausência de discussões programáticas. De promessas que são descumpridas nos primeiros dias de governo. De políticos sabidamente corruptos e que permanecem eternamente como candidatos — e muitos deles eleitos e reeleitos. Da transformação da eleição em comércio muito rendoso, onde não há política no sentido clássico. Além da insuportável propaganda televisiva, com os jingles, a falsa alegria dos eleitores e os candidatos dissertando sobre o que não sabem.

O atual estágio da democracia brasileira desanimaria até o doutor Pangloss. A elite política permanece de costas para o país, ignorando as manifestações de insatisfação. E, como em um movimento circular, as ideias autoritárias estão de volta. Vai se formando mais uma geração de desiludidos com a República. Até quando?

De fato, até quando? Até um golpe autoritário de algum lado? Até um “messias salvador” surgir em cena? Até os populistas conseguirem instaurar no Brasil uma “democracia direta” nos moldes venezuelanos?

Vladimir Safatle, do PSOL, é um exemplo perfeito desse oportunismo populista. Em sua colunade hoje na Folha, ele apresenta sua proposta por uma “outra democracia”, bem mais direta. Lembro apenas que todos os países comunistas, sob regimes totalitários, diziam-se repúblicas democráticas. Safatle diz:

Na verdade, há de se insistir que a verdadeira participação popular não pode ser apenas consultiva, mas deliberativa, com poder de veto em relação aos outros poderes e, principalmente, com capacidade de gestão. Faz parte da democracia representativa nos fazer acreditar que decisões racionais só podem sair da “tecnocracia” ou de detentores do discurso da competência gerencial. O Brasil deveria servir de melhor exemplo para a natureza falaciosa dessa afirmação, já que a “racionalidade” dessas pessoas é do tamanho de viadutos que caem, de metrôs tomados de assalto por corrupção, de rios que nunca são despoluídos etc.

Na verdade, decisões realmente racionais só aparecerão quando formos capazes de realmente escutar a inteligência prática de professores, enfermeiras, metroviários, médicos que estão efetivamente envolvidos no cotidiano do que foi, normalmente, mal planejado por algum tecnocrata ou consultor com fórmulas mirabolantes. Essa recuperação política da inteligência prática é um dos nossos maiores desafios.

Imaginem um país com 200 milhões de habitantes em território continental como o Brasil, com ampla disparidade de educação, deliberando em “consultas populares” sobre o nível da taxa de juros. É uma piada de mau gosto. Quem controla os “movimentos sociais” controlaria toda a política, e com a politização de tudo, viveríamos em um regime totalitário e opressor, como sempre foi o caso em países comunistas.

Plebiscitos e “democracia direta” podem funcionar em casos muito específicos, nas ágoras gregas com pouca gente deliberando sobre assuntos públicos, ou na Suíça dos cantões descentralizados e população educada e mais homogênea. Propor esse modelo no Brasil é algo irresponsável, de quem realmente repudia a liberdade e a própria democracia.

Ninguém pode ser contra dar mais poder ao povo, ou seja, a cada um dos brasileiros. Mas a esquerda populista acha que isso se faz manipulando votos por meio de plebiscitos, e não reduzindo o escopo da própria política. A melhor forma de “empoderar” a população é por meio do livre mercado, de trocas voluntárias, limitando o papel do estado, que seria administrado por representantes eleitos.

Essa “outra democracia” de que os esquerdistas falam tem outro nome no meu dicionário, e não guarda semelhança alguma com a verdadeira democracia. Basta ver o que aconteceu na Venezuela, país cujo modelo essa mesma esquerda aplaude e ainda chama de “excesso de democracia”, um escárnio completo.

Vivemos em tempos perigosos. Espero que os eleitores saibam escolher melhor seus representantes, e que esses tenham juízo para preservar o decoro parlamentar e a própria República. Quando muita gente perde totalmente a confiança no processo democrático, a alternativa costuma ser sempre pior…

Rodrigo Constantino

 

DemocraciaPolítica

A direita avança: ventos de mudança

“Você é um socialista!”

Os 4% de intenções de voto do Pastor Everaldo representam, em um universo de 142 milhões de eleitores, uns seis milhões de votos. Se for confirmado nas urnas esse montante, será um crescimento de onze vezes em relação ao alcançado pelo discurso mais de direita 20 anos atrás. Seria um claro alerta de que a direita avança, segundo o jornalista José Casado em sua coluna de hoje no GLOBO. Eis como ele começa o texto:

Está em ascensão uma tendência política tradicionalista em questões morais e sociais, defensora da liberdade individual e do livre mercado. Pode emergir das urnas em outubro sob a bandeira da renovação da democracia cristã, hoje dispersa na geleia partidária brasileira.

Desde o início da disputa presidencial as pesquisas destacam uma organização gestada na harmonia ecumênica entre protestantes e católicos, o Partido Social Cristão. Ele conseguiu escavar e preservar uma trincheira no instável terreno da centro-direita.

Ainda é cedo para saber se o candidato do PSC ficará nessa faixa dos 4% mesmo, ou se vai crescer ainda mais. Também não é possível identificar quanto exatamente tem ligação direta com a fé religiosa. Mas uma coisa é inegável: seu discurso tem sido claro em defesa da redução do estado e do livre mercado, adotando um viés conservador do ponto de vista moral. É a primeira vez em décadas que tal narrativa será testada nas urnas.

Pode não ser pelo melhor representante do conservadorismo, já que o histórico de Everaldo é de apoio ao governo Lula e sua influência foi Leonel Brizola. Talvez isso prejudique a aceitação por parte dos eleitores conservadores. Talvez pareça oportunismo eleitoral, uma oferta criada para preencher uma lacuna na demanda, um nicho não atendido. Mas não deixa de ser um termômetro interessante. Como diz Casado:

A despeito de indivíduos e interesses obscurantistas no jogo eleitoral, o que as pesquisas mostram é a receptividade de parte do eleitorado ao projeto liberal-conservador. Refletem a fermentação em torno de ideias afinadas com o liberalismo econômico e o conservadorismo clássico, mesmo com mofo residual da Guerra Fria.

É saudável para a democracia. E, talvez por isso, a centro-direita tenha virado atração nas livrarias. Editoras nacionais contabilizam recordes sucessivos na impressão de autores locais, com vendas de até cem mil exemplares por título.

A direita precisa mostrar sua cara. Aliás, os partidos em geral precisam assumir de forma mais clara seus programas, pois as diretrizes que enviam ao TSE são recheadas de termos ambíguos que nada dizem, como “sustentabilidade” e “justiça social”. Falta, no Brasil, uma clareza maior de qual linha ideológica o candidato representa. Todos são “pragmáticos” demais.

Por décadas, a política nacional teve uma hegemonia do discurso de esquerda. Há claros ventos de mudança no ar. Mesmo o PSDB, um partido social-democrata de centro-esquerda, tem em Aécio Neves um representante mais à direita, com um discurso mais liberal na economia. Uma democracia saudável precisa ter pluralidade de fato. Onde está nossa Thatcher?

Em minha opinião, são dois os discursos ausentes até aqui: um de viés mais conservador, como o que o Pastor Everaldo agora adota, mas sem convencer a todos de sua sinceridade; e outro mais liberal mesmo, tanto na economia como nas questões sociais. No Reino Unido, conservadores e liberais governam em uma coalizão, com a esquerda social-democrata trabalhista e os verdes na oposição.

Vem aí o Partido Novo, com uma mensagem mais liberal, preencher esse vácuo existente hoje no Brasil. O amadurecimento de nossa democracia deveria levar, naturalmente, a uma concentração maior de partidos, acabando com as legendas de aluguel e com essa geleia ideológica sem sentido.

O ideal, do meu ponto de vista, seria ter um partido representando a esquerda social-democrata civilizada, outro representando a opção mais ecológica (sem os xiitas do ecoterrorismo), outro dando voz aos conservadores, e outro falando em nome dos liberais.

A esquerda raivosa e autoritária, como o PSOL e boa parte do PT, seria eliminada pelos próprios eleitores, tornar-se-ia insignificante por representar um atraso inadmissível em pleno século 21. Que vá defender o socialismo em Cuba!

Para chegarmos lá ainda precisamos avançar muito, amadurecer muito. É sonhar demais? Ora, se tantos sonham com a vitória brasileira sobre a Alemanha hoje, mesmo sem o Neymar…

Rodrigo Constantino

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Blog Rodrigo Constantino (VEJA)

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1 comentário

  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Eu concordo com isso. Chega de conversa mole, “vamos focar a logística”, para isso precisamos puxar o saco do partido de plantão e pegarmos o ministério dos transportes, aì verão, tudo se resolverà. Ou, precisamos de um agricultor no ministério da agricultura, ligado também aos grupos de poder lambe botas do governo. Que tipo de política è essa? Quais princípios, valores, projetos, defendem essa gente? O de ter uma teta para mamar, e o que ainda è pior, exigir respeito??? Papagaios de pirata que decoram um determinado discurso e ficam repetindo e repetindo em uníssono atè convencer pelo cansaço e que na realidade não possuem inteligência nem sequer para separar o que pode ser vàlido daquilo que è totalmente inútil, ou o que è ainda pior, vàlido apenas ao grupo que representam, e atribuo à esse ùltimo fator o desprezo olímpico, a incapacidade de ver no outro qualquer resquício de mérito, em que pese ficarem ameaçadas a autoridade e supremacia intelectual dos ditos dirigentes aos quais não podem ser dirigidas criticas, por mais suaves que sejam, sob o risco de ser acusado ( aquele que critica ) de ser um monstro que quer devorar a tudo e a todos. Apontar os erros è considerado falta de educação no Brasil, chamar de burro uma violência inaceitável, por fingirem não saber a diferença entre o pùblico e o particular.

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