Lula cai um tombo, que estava fora do script da história, logo depois de anunciar que é o dono do futuro. Sabem o que ele aprend

Publicado em 05/09/2014 11:35 e atualizado em 06/09/2014 20:33
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Lula cai um tombo, que estava fora do script da história, logo depois de anunciar que é o dono do futuro. Sabem o que ele aprendeu com isso? Nada!

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se desequilibrou e caiu no palco durante um comício do PT, em Salvador, na última terça-feira (02) (Margarida Neide/Agência A Tarde/VEJA)

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se desequilibrou e caiu no palco durante um comício do PT, em Salvador, na última quarta-feira (Margarida Neide/Agência A Tarde/VEJA)

O lobo perde o pelo, mas mantém o vício, não é mesmo? As recentes pesquisas do Ibope e do Datafolha deram algum ânimo aos petistas. E, como não poderia deixar de ser, o mais arrogante, como de hábito, é Lula, o palanqueiro.  Nesta quarta-feira à noite, ele participou de um comício na Bahia, mais um Estado em que o PT pode ser apeado do poder. E mandou bala, dando a entender que pode voltar em 2018: “Eles devem se preparar porque eu vou estar vivo. Eles ficam dizendo: ‘Dilma vai ser reeleita para ficar mais quatro anos e depois vem um tal de Lula e vai ficar mais quatro?’ É muito cedo para a gente discutir, mas uma coisa eu digo para vocês: em 2018, eu vou estar com 72 anos. Enquanto eu tiver forças para brigar por esse país, não vou permitir que aqueles que não fizeram nada pelo Brasil em 500 anos voltem”. Depois de fala tão iluminada, ele tropeçou e caiu no palco, sem se ferir.

Pois é, né, Lula? Para cair, basta estar de pé. Este senhor acha mesmo que controla a força dos astros, da natureza, as vontades humanas, a história… Notem o tom: o chefão petista acha que a eventual volta ao poder daqueles que ele considera adversários depende da sua vontade. A fala é de uma arrogância sem limites.

Boa parte do país, diga-se, está com o saco cheio é precisamente disto: empáfia, bazófia, o permanente tom de ameaça. Eis ali, de novo, o discurso insuportável, mentiroso, vigarista, acusando os tais que não teriam feito nada em 500 anos. Se o PT tivesse vencido a batalha contra o Plano Real, em 1994, o Brasil seria hoje não um gigante meio entorpecido, mas um gigante destroçado. Se o PT tivesse vencido a batalha contra as privatizações, em vez de mais de 240 milhões de celulares, estaríamos nos comunicando com tambor e sinais de fumaça. Se o PT tivesse vencido a batalha contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, as finanças públicas — que já vivem uma razoável desordem — estariam, de fato, destroçadas.

Quem esse cara pensa que é para julgar que a história do Brasil se divide em antes e depois do PT? Conheço pessoas às pencas que detestam o partido, mas têm igual horror — ou até mais — ao discurso de Marina Silva. Há muita gente assim e que até poderia votar em Dilma, reconhecendo na presidente um pouco mais de objetividade, caso ela realmente dispute o segundo turno com a candidata do PSB. Mas aí vem Lula, com a sua carga de rancor, de preconceito, de simplificação barata.

As circunstâncias foram escancaradamente didáticas com Lula: escorregou e caiu logo depois de assegurar que é o dono do futuro e da história. Ninguém é, Lula. Ninguém!

Por Reinaldo Azevedo

 

PAULO ROBERTO COSTA ENTREGA A LISTA DOS CORRUPTOS LIGADOS AO ESCÂNDALO DA PETROBRAS – NA CAPA DA VEJA

capa paulo roberto

Preso em março pela Polícia Federal, sob a acusação de participar de um mega esquema de lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Alberto Youssef, o ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras Paulo Roberto Costa aceitou recentemente os termos de um acordo de delação premiada – e começou a falar.

No prédio da PF em Curitiba, ele vem sendo interrogado por delegados e procuradores. Os depoimentos são registrados em vídeo — na metade da semana passada, já havia pelo menos 42 horas de gravação. Paulo Roberto acusa uma verdadeira constelação de participar do esquema de corrupção. Aos investigadores, ele disse que três governadores, seis senadores, um ministro de Estado e pelo menos 25 deputados federais embolsaram ou tiraram proveito de parte do dinheiro roubado dos cofres da estatal.

Ele esmiúça, além disso, a lógica que predominava na assinatura dos contratos bilionários da Petrobras – admitindo, pela primeira vez, que as empreiteiras contratadas pela companhia tinham, obrigatoriamente, que contribuir para um caixa paralelo cujo destino final eram partidos e políticos de diferentes partidos da base aliada do governo. Conheça, nesta edição de VEJA, detalhes dos depoimentos que podem jogar o governo no centro de um escândalo de corrupção de proporções semelhantes às do mensalão.

Por Reinaldo Azevedo

PT parte para a guerra total contra Marina e agora quer investir contra a sua reputação pessoal

O PT resolveu partir para a guerra total contra Marina Silva, candidata do PSB à Presidência da República. Se alguém imaginava que ela pudesse ser poupada em razão de seu passado e de seus vínculos históricos com o partido, é porque não conhece a legenda, que costumo definir como uma máquina de lavar reputações duvidosas ou de sujar trajetórias ilibadas. Tudo depende de quem será o beneficiário ou a vítima. É um ex-inimigo que decidiu se ajoelhar aos pés de Lula? Pronto! Vira santo! Tomem o caso de José Sarney. É um ex-amigo que decidiu ficar com a coluna ereta diante do poderoso chefão? Pronto! Vira bandido. É assim que eles são. Dia desses, quase ao mesmo tempo, Dilma Rousseff elogiou Jader Barbalho e atacou FHC. Entenderam?

Pois é. Ao PT não basta apenas discordar das teses de Marina, tentar demonstrar que ela não tem experiência, que suas propostas podem fazer mal ao Brasil. Tudo isso é do jogo político. E não é o caso de a candidata do PSB ter queixo de vidro. Está na arena. Não custa lembrar que Marina também é muito eficiente para criar pechas e tachas contra adversários. Se o petismo é o petismo, no entanto, é preciso desmoralizar o oponente também no campo moral. O mais espantoso é que essa estratégia é confessada por um dos assessores de Dilma (leia post anterior), sem constrangimento, sem receios.

Eu mesmo já perguntei do que vivia Marina Silva. Agora sei que há as palestras. A explicação do PSB parece razoável (ver post). Dividindo-se o valor líquido pelo número de meses, a conta não deve ser muito diferente da que foi apresentada: algo em torno de R$ 25 mil por mês. Que mal há que seja de palestras? Nenhum? Aliás, Luiz Inácio Lula da Silva, com amplo acesso ao governo federal, ganhou o que recebeu Marina por não mais do que três ou quatro eventos. E ele também não gosta de revelar suas fontes pagadoras.

É evidente que, em parte, Marina é refém do seu próprio discurso. O grau de transparência que ela diz advogar — tão severa com os outros — requer um pouco mais de prudência com as coisas que lhe dizem respeito. Ora, o avião de Eduardo Campos segue aí, sem explicação. A candidata também cometeu um erro político quando, dado o lugar que pretende ocupar no mercado das ideias, se negou a revelar quem a contratou. Expunha-se, assim, à especulação.

E, como não observar?, chega a ser uma piada patética que o PT esteja a pedir investigação sobre rendimentos alheios, levantando a hipótese de que possa se tratar de caixa dois, não é mesmo?

Há, reitero, muitos aspectos na candidatura de Marina não são do meu agrado. E eu os exponho com clareza. Mas não é bonito assistir a esse espetáculo de moer biografias a que o petismo se dedica com tanto afinco. Não contem com a minha condescendência nesse tipo de pulhice, ainda que Marina não esteja entre as minhas heroínas. Todos já assistimos a esse filme. O país paga o preço de essa estratégia ter sido bem-sucedida no passado.

Por Reinaldo Azevedo

Números demonstram que Marina se torna a principal opção dos que rejeitam o PT; em SP, ela poderia até vencer no 1º turno…

Os números do Datafolha em alguns estados demonstram que Marina Silva, presidenciável do PSB, se transformou mesmo no desaguadouro dos votos contra o petismo. E, tudo indica, parte considerável do eleitorado resolveu fazer voto útil já no primeiro turno. Ou por outra: poderia até estar disposta a votar em Aécio — porque significa um “não” ao petismo —, mas vê em Marina melhores chances de vencer Dilma. Como a gente percebe isso? Vejam a distribuição dos votos em seis estados, em gráficos publicados pela Folha.

como votam os estados

Se apenas São Paulo elegesse o presidente da República, com 42% dos votos, Marina ficaria perto de ganhar no primeiro turno. Dilma Rousseff, do PT, tem apenas 23%, e Aécio Neves, do PSDB, 18%. No Estado, a presidenciável petista tem uma rejeição de 45%. Aécio se beneficia de uma parte desse sentimento, mas a esmagadora maioria fica com a candidata do PSB. Nota à margem: na capital paulista, o prefeito Fernando Haddad tem uma reprovação de 47%.

No Distrito Federal, onde o governador petista Agnelo Queiroz, é reprovado por 48%, a rejeição a Dilma chega a 45%. Também ali Marina lidera, com 33% dos votos; Aécio tem 20%. Dilma marca 23%.

O mais surpreendente de todos os resultados para Aécio certamente é Minas, onde o PT venceu as eleições presidenciais em 2002, 2006 e 2010. Todos os analistas davam de barato que, desta vez, Aécio levaria uma avalanche de votos. De fato, o voto não dilmista no Estado soma 49%, mas Marina fica com 27%, e Aécio com 22%. De modo até certo ponto surpreendente, Dilma lidera, com 35%.

Marina é a primeira no Rio, com 37%, seguida de Dilma, com 31%. No Estado, Aécio marca apenas 11%. Mas é em Pernambuco, terra natal de Eduardo Campos, que Marina obtém a sua melhor marca: 46%, contra 37% de Dilma. É a primeira vez desde 2002 que o PT não lidera a votação. As circunstâncias fizeram com que Aécio obtivesse apenas 2% entre os pernambucanos.

A petista tem a liderança também no Rio Grande do Sul, com um número expressivo: 38%. É nesse Estado que ela começou a fazer política institucional, ligada ao brizolismo. A candidata do PSB consegue uma boa marca — 30% —, e o tucano fica com 15%.

Dilma arrebenta a boca do bolão no Ceará, com 57% dos votos. Marina não deixa de conseguir uma boa marca, considerando a “petização” do Nordeste: 24%. Aécio tem apenas 4%.

A petista, em suma, terá no Nordeste — exceção feita a Pernambuco — a sua fortaleza. E Marina tem de se esforçar para tirar a diferença no Sudeste, e sua praça de resistência, na região, é mesmo São Paulo.

Por Reinaldo Azevedo

Padilha, o pior

Idealizador da proposta

Padilha: abaixo dos próprios petistas

Rejeitado por 37% dos paulistas e com apenas 7% das intenções de voto, Alexandre Padilha viu o Datafolha de ontem mantê-lo bem longe de Geraldo Alckmin, com 53% dos votos, e Paulo Skaf, com 22%. Como se não bastasse, Padilha aparece muito abaixo do piso petista nas últimas quatro disputas pelo governo de São Paulo.

A esta altura da campanha, em 1998, Marta Suplicy era a quarta colocada, com 14% dos votos. No início de setembro de 2002, três anos antes de se tornar um mensaleiro, José Genoino tinha 17% dos votos, segundo o Datafolha. Já Aloizio Mercadante, candidato em 2006 e 2010, começou o mês que antecede as eleições com, respectivamente, 18% e 24%.

Por Lauro Jardim

ELEIÇÕES 2014: Em Minas, candidato tucano encurta a distância que o separava do PT e o PSDB mira no alto percentual de indecisos

O ex-ministro Fernando PImentel (PT)     (Fotos: Divulgação das campanhas)

Fernando PImentel (PT) cresceu, mas viu encurtar a distância que o separava de Pimenta da Veiga (PSDB). Tarcísio Delgado (PSB) está fora do páreo (Fotos: Divulgação das campanhas)

O ex-ministro do Desenvolvimento Fernando Pimentel, do PT, continua liderando a disputa eleitoral pelo governo de Minas Gerais com 32%, segundo aponta pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira pelo jornal Folha de S. Paulo, mas diminuiu de 13 para 8 pontos a distância que o separava do candidato do PSDB, o ex-prefeito de Belo Horizonte e ex-ministro Pimenta da Veiga.

Pimentel subiu 3 pontos percentuais em relação a levantamento de agosto e agora tem 32% das intenções de voto, e Pimenta pulou 8 pontos, indo de 16% para 24%. O ex-deputado e ex-prefeito de Juiz de Fora Tarcísio Delgado, do PSB, tem apenas 3% das intenções de voto.

Minas Gerais, com o enorme contingente de 15,2 milhões de eleitores (10,6% do total brasileiro), é o segundo maior colégio eleitoral do país, atrás apenas de São Paulo, com 32 milhões (22,4%).

O levantamento do Datafolha foi realizado antes da incursão do presidenciável tucano e duas vezes governador Aécio Neves a seu Estado natal, iniciada na quinta-feira, com o objetivo de alavancar a candidatura de Pimenta. O esforço de Aécio se contra num fator que poderá virar a eleição — o percentual, considerado alto, de eleitores que ainda não têm candidato, que é de 26%. Outros 11% pretendem votar nulo ou em branco.

O que anima o PSDB mineiro e pode indicar patamar atingível por Pimenta da Veiga é o excelente desempenho na eleição para o Senado do ex-governador Antonio Anastasia, que disparou à frente com 44% das intenções de voto contra somente 12% do segundo colocado, o empresário Josué Alencar (PMDB), filho do falecido vice-presidente José Alencar.

Os tucanos de Minas costumam lembrar que o próprio Anastasia, candidato de Aécio à sua sucessão, em 2010, começou a campanha com esquálidos 3% das intenções de voto mas terminou vencendo Hélio Costa (PMDB) ainda no primeiro turno.

(por Ricardo Setti)

Inflação acumulada em 12 meses acima da meta: Dilma “demite” Mantega em campanha

O IBGE divulgou hoje o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que subiu 0,25% em agosto, depois de ficar estável em julho. Com isso, o acumulado em doze meses é de 6,51%, pouco acima dos 6,50% registrados no mesmo período até julho.

Assim, o indicador ultrapassou, de novo, o limite da inflação “aceitável” pelo governo, cuja meta vai de 2,5% (mínimo) a 6,5% (máximo), com centro de 4,5%. Os itens empregado doméstico, cuja alta foi de 1,26%, e energia elétrica, com 1,76%, lideraram o ranking dos principais impactos no índice do mês.

IPCA acumulado em 12 meses. Fonte: Bloomberg

IPCA acumulado em 12 meses. Fonte: Bloomberg

O quadro, portanto, é de resistência da inflação, que permanece em patamar extremamente elevado e acima do teto da meta do governo, que serve apenas para crises esporádicas e pontuais, o que não é o caso. O dado bate de frente com a campanha de Dilma, que tem, de forma pérfida, repetido que a inflação está zerada, pois no último mês isolado havia sido nula.

O que importa para o povo brasileiro é a tendência, o índice acumulado, que tem destruído o poder de compra dos salários. Sem falar que a inflação no setor de serviços é bem maior do que o IPCA, já que os preços administrados pelo governo, ainda represados, puxam a média para baixo:

Inflação serviços

Como uma espécie de mea culpa tardia, a presidente Dilma repetiu ontem que, se for reeleita, terá equipe econômica nova. Ou seja, ela “demitiu” Guido Mantega em campanha, reconhecendo parcialmente o fracasso de sua própria política econômica, uma vez que todos sabem que Mantega ocupava o cargo justamente por ser fraco.

Dilma não quis dizer nome algum que eventualmente o substituiria, alegando, de forma um tanto patética, que isso dá azar. No fundo, ela não tem nome ainda, e tenta acenar com mudanças para acalmar os empresários e investidores. Sem um nome, tudo fica na promessa vazia, lembrando que Mantega não passa de um bode expiatório sacrificado para que a própria presidente, autora da atual política, possa expiar publicamente seus “pecados”.

Na campanha de hoje nas rádios, o PT repetiu que Dilma evitou o pior com a crise internacional, impedindo que seu impacto chegasse às casas do povo brasileiro e preservando seus empregos. Uma vez mais, não passa de propaganda enganosa. Não há tal “crise internacional”, pois quase todos os países emergentes crescem bem mais do que a gente e com bem menos inflação. É crise “made in Brazil” mesmo, pelas mãos da própria presidente Dilma, que agora tenta colocar a culpa em ombros alheios.

O governo Dilma vai entregar uma das piores taxas de crescimento da história de nossa democracia, além deste alto índice de inflação. Não basta dizer que em governo novo haveria equipe nova. A responsabilidade pelo péssimo resultado é única e exclusivamente de Dilma. É preciso, portanto, mudar a equipe toda, a começar pela sua líder máxima. E, de preferência, colocar em seu lugar alguém que tenha uma equipe decente de economistas preparados e testados…

Rodrigo Constantino

A mediocracia brasileira

Povo brasileiro carregando o estado inchado nas costas

Povo brasileiro carregando o estado inchado nas costas

Um leitor resgatou um texto meu antigo, ainda da era Lula, sobre os rumos culturais de nosso país, cada vez enaltecendo mais a mediocridade em vez de o mérito individual. Não defendo um idealismo exacerbado, algo sempre perigoso, e desconfio de todas as utopias. Mas, feita a ressalva, a mensagem de que faz falta um norte mais elevado como meta para o Brasil continua válida.

Segue abaixo para reflexão, pois está cada vez mais atual, principalmente quando observamos o nível dos “debates” políticos e as alternativas que temos por aí, com raras e honrosas exceções.

A mediocracia brasileira

“A virtude é uma tensão real em direção ao que se concebe como perfeição ideal.” (José Ingenieros)

O ditado popular diz que cada povo tem o governo que merece. Por trás desta crença, está o fato de que os governados são sempre maioria, e os governantes são minoria. Logo, algum tipo de aprovação das massas se faz necessário, já que dificilmente a coerção sozinha seria suficiente para manter um povo inteiro servil. Em outras palavras, a cultura predominante num determinado povo é fundamental para o tipo de governo que ele terá. As instituições são cruciais, mas os pilares que sustentam um governo estarão sempre na mentalidade dominante dos governados. Os políticos acabam sendo um reflexo do povo. Quando este abraça os valores errados, não adianta sonhar com um messias salvador. Os valores é que devem mudar.

Dito isso, podemos entender melhor o lamentável contexto atual do Brasil, onde a insatisfação com a classe política é total por parte dos que ainda alimentam um ideal moral. De fato, o cerne da questão está enraizado em locais mais profundos. Trata-se de um problema estrutural, de um apodrecimento dos próprios valores da sociedade. Não adianta apenas criticar este ou aquele governo, ainda que seja um dever moral de todos os que buscam melhorias apontar qualquer empecilho para a meta.

Há, é verdade, um real agravamento do quadro durante a gestão do presidente Lula, pois ocorreu uma total banalização da imoralidade, com os enormes e infindáveis desvios de conduta sendo justificados com base na desculpa esfarrapada de que sempre foi assim. Estamos completamente inseridos numa mediocracia, onde pululam os medíocres e faltam idealistas com a convicção moral de se revoltar contra o “consenso”.

É praticamente impossível ler O Homem Medíocre, de José Ingenieros, e não pensar na situação caótica do nosso país. No livro, o autor descreve as características presentes numa mediocracia, contrapondo isso à visão de um ideal de perfeição por parte de alguns poucos indivíduos de destaque. Ingenieros sustenta que é fundamental manter acesa esta chama de um ideal, uma meta visionária que não sucumbe às contingências da vida prática imediata. Esses visionários buscam alguma perfeição moral, emancipando-se do rebanho. São espíritos livres, adversários da mediocridade, são entusiastas contra a apatia. Sem ideais o progresso seria impossível. O culto ao “homem prático”, com foco apenas no presente imediato, representa a renúncia à evolução.

O idealista é um rebelde em relação ao sentimento coletivista típico dos rebanhos. Ingenieros diz: “Todo individualismo, como atitude, é uma revolta contra os dogmas e os valores falsos respeitados nas mediocracias; revela energias anelosas de expandir-se, contidas por mil obstáculos opostos pelo espírito gregário”. O caráter digno afirma seu ideal frente à mesmice comum, levanta sua voz quando os povos se domesticam e se calam. Um povo que tenta eliminar estes indivíduos independentes é um povo dominado por medíocres.

A originalidade é vista como um defeito imperdoável. “Todos os inimigos da diferenciação vêm a sê-lo do progresso”, afirma Ingenieros. Os igualitários coletivistas não suportam que alguém se sobressaia. O sucesso alheio passa a ser uma agressão ao rebanho. “O sentido comum é coletivo, eminentemente retrógrado e dogmatista; o bom sentido é individual, sempre inovador e libertário”, explica o autor. Os adeptos da rotina medíocre são intolerantes com a heterogeneidade, defendem-se de qualquer centelha original como se fossem crimes as diferenças.

De um lado, temos os poucos que pensam por conta própria, que usam o próprio juízo, que buscam sinceramente a verdade. Do outro, temos os seres passivos, que deixam a “sociedade” pensar por eles. São os medíocres, que não têm voz, mas eco, e vivem como sombras. De um lado, indivíduos com convicções que entram como parafusos, gradualmente, mas com firmeza. Do outro, adeptos fanáticos de crenças que entram como pregos, num golpe só. De um lado, os que vivem a própria vida. Do outro, aquele para quem viver é ser arrastado pelas idéias alheias.

O que Ayn Rand chamou de “segunda mão”, figuras inexpressivas que vivem pelos outros, ao contrário de John Galt, adepto da seguinte máxima: “Juro – por minha vida e por meu amor a ela – que jamais viverei por outro homem, nem pedirei a outro homem que viva por mim”. São poucos os que carregam dentro de si integridade e personalidade para tanto. A maioria é composta por homens sem personalidade, moldados pelo meio, seguindo um curso determinado por outros, como bóias à deriva. Os medíocres inventaram “o inconcebível plural da honra e da dignidade, por definição singulares e inflexíveis”, como lembra Ingenieros.

O homem medíocre vive em função da opinião dos outros. Enquanto poucos desfrutam de uma mente inovadora, uma imaginação criadora, o medíocre “aspira a confundir-se naqueles que o rodeiam”. O homem que resolve pensar pela própria cabeça representa uma ameaça aos medíocres, um perigo que deve ser afastado. Os medícores são animais domesticados, adaptados para viver em rebanho, sombras da sociedade. Unidos, são perigosos. A força da quantidade supre a debilidade individual. Quando esta força consegue ofuscar os idealistas, o resultado pode ser catastrófico. A mediocracia é inimiga do progresso. E quando os medíocres tomam conhecimento de seu poder, corremos o risco da vulgaridade.

Lula e Dilma enganando o povo

“A vulgaridade é uma acentuação dos estigmas comuns a todo ser gregário; apenas floresce quando as sociedades se desequilibram em desfavor do idealismo”, diz Ingenieros. Para ele, a vulgaridade é “a renúncia ao pudor daquele que carece de nobreza”. Os seres vulgares se unem através de uma complacência servil ou uma bajulação proveitosa. São dissimulados, falsos, hipócritas e vaidosos. “A vaidade empurra o homem vulgar a perseguir um emprego respeitável na administração do Estado, indignamente, se é necessário”.

O hipócrita declara as crenças mais proveitosas, ignorando qualquer aspecto moral. “O hipócrita transforma sua vida inteira em uma mentira metodicamente organizada”. Vive um culto às aparências, sem ligar para a verdade. Tudo que lhe importa é parecer virtuoso, sem nutrir qualquer admiração real pela virtude em si. São oportunistas, e entre os homens vulgares, existe cumplicidade do vício ou da intriga, mas nunca amizades verdadeiras.

Quando estes dominam, temos uma mediocracia. “Nos povos domesticados chega um momento no qual a virtude parece um ultraje aos costumes”. Quem consegue ler isso e não refletir sobre a realidade brasileira? “Quando a dignidade parece absurda e é coberta de ridículo, a domesticação dos medíocres alcançou seus extremos”. No Brasil, não é visto como patética a defesa intransigente por ideais morais? O “jeitinho” não faz parte da cultura nacional? A corrupção política não passou a ser vista com naturalidade? Aquele que ousa desafiar a “opinião pública” não é execrado por todos?

A população não parece acovardada, escrava da opinião alheia? O mérito individual não cedeu lugar ao conceito de “igualdade dos resultados”? As trocas de favores políticos não substituíram a responsabilidade individual de sustento próprio? “Esse afã de viver às expensas do Estado rebaixa a dignidade”. O parasitismo – viver à custa dos outros na marra – não passou a ser encarado como uma espécie de “direito civil”? O culto à inveja, tentando rebaixar aqueles que conquistam vôos mais elevados, não se transformou em bandeira política?

Na mediocracia, “todos se apinham em torno do manto oficial para alcançar alguma migalha da merenda”. E no Brasil das esmolas estatais, dos vastos subsídios para grandes empresas, das anistias milionárias para intelectuais, do financiamento estatal bilionário para ONGs, o clima predominante não é exatamente este? Não estão todos se vendendo em troca de “migalhas”? “As artes tornam-se indústrias patrocinadas pelo Estado”. E esse não é o país dos filmes bancados por verbas estatais, fazendo proselitismo para agradar a mão que os alimenta? “Tudo mente com a anuência de todos; cada homem põe preço à sua cumplicidade, um preço razoável que oscila entre um emprego e uma condecoração”.

E não é este o país dos cabides de emprego nas estatais, dos milhares de cargos públicos apontados pelo governo para aparelhar a máquina com os aliados partidários? “O nível dos governantes baixa até o ponto zero; a mediocracia é uma confabulação dos zeros contra as unidades”. E não seria este o país que tem Lula como presidente, enaltecendo sua ignorância como se esta fosse motivo de orgulho? Não é este o país onde o presidente beija a mão de caudilhos e ri, enquanto avisa que se trata de uma aula sobre política?

“Os governantes não criam tal estado de coisas e de espírito: representam-nos”. Ingenieros concorda com a premissa do primeiro parágrafo: o problema está na cultura, na mentalidade, na covardia dos que fugiram da luta. “Quando as misérias morais assolam um país, culpa é de todos os que por falta de cultura e de ideal não souberam amá-lo como pátria: de todos os que viveram dela sem trabalhar por ela”. Não é esse o país onde as pessoas se consideram espertas por burlar as regras e passar os outros para trás? “A irresponsabilidade coletiva borra a cota individual do erro: ninguém enrubesce quando todas as faces podem reclamar sua parte na vergonha comum”. E o Brasil não é campeão na arte de apontar a sujeira dos outros como justificativa para a própria?

Podemos entender melhor agora porque o Brasil deve ser caracterizado como uma mediocracia. Aqui, os medíocres roubaram a cena, e foram eficazes em cortar as asas dos que pretendem um vôo solo. O coletivismo matou o individualismo meritocrático. Ingenieros condena abertamente o igualitarismo: “A natureza se opõe a toda nivelação, vendo na igualdade a morte; as sociedades humanas, para seu progresso moral e estrutural, necessitam do gênio mais do que do imbecil e do talento mais do que da mediocridade”. E continua: “Nossa espécie saiu das precedentes como resultado da seleção natural; apenas há evolução onde podem selecionar-se as variações dos indivíduos. Igualar todos os homens seria negar o progresso da espécie humana. Negar a civilização mesma”.

O antídoto contra este mal igualitário é a tolerância pelas diferenças, a admiração em vez da inveja pelo sucesso alheio. “Um regime em que o mérito individual fosse estimado por sobre todas as coisas, seria perfeito”. A sociedade inteira teria a ganhar com essa seleção natural. Este mecanismo se opõe à democracia quantitativa, “que busca a justiça na igualdade, afirmando o privilégio em favor do mérito”. Onde está a justiça quando dois lobos e uma ovelha votam o que ter para jantar? E também se opõe à aristocracia oligárquica, “que assenta o privilégio nos interesses criados”.

Para Ingenieros, “a aristocracia do mérito é o regime ideal, frente às duas mediocracias que ensombram a história”. Os seres humanos não são iguais. Logo, a justiça não pode estar na igualdade dos homens, meta inclusive impossível, já que felizmente não somos cupins. A única igualdade válida – aquela sob as leis – levará inevitavelmente às desigualdades dos resultados. Somente sociedades que souberam respeitar isso prosperaram. Aquelas onde a inveja falou mais alto, onde o igualitarismo dos medíocres prevaleceu, foram apenas mediocracias decadentes.

O Brasil precisa escolher qual rumo pretende seguir. Para optar pelo progresso, será preciso abraçar os valores morais adequados, o ideal de perfeição, o respeito pelo mérito dos indivíduos que possuem luz própria e desafiam a mediocridade, alçando vôos mais elevados enquanto muitos rastejam. Ou isso, ou a tirania dos medíocres: a mediocracia, onde o lodo impede que qualquer um avance mais rápido, matando junto qualquer possibilidade de progresso.

Rodrigo Constantino

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4 comentários

  • wilfredo belmonte fialho porto alegre - RS

    Tenho observado uma série de comentários a respeito dos

    candidatos a presidência e, a maioria dos que aquí opinam sabem que na verdade o que determina os rumos da administração pública é o Congresso nacional e o Senado Federal portanto, o Presidente é sómente uma figura decorativa pois, há uma série de normais constitucionais e legais que se forem bem aplicadas pelo Congresso e Senado, os desmandos da administração pública seriam estancados. Portanto meus amigos oque irá fazer diferença nesta legislatura será "quais os ladrões de colarinho branco que não serão eleitos". Como já disse uma vez o ALI Babá - No Congresso havia uma cambada de

    "picaretas". Nós temos o poder de mudar esta situação votando nas pessoas e não em partidos.

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  • Manoel teixeira campos niteroi - RJ

    MARINA SILVA TEM DNA PETISTA.APOIA CONVICTAMENTE INVASÕES DE TERRAS PELO MST,INDIGENAS E QUILOMBOLAS SEMPRE AO ARREPIO DAS LEIS.DESSAFETA DO PRODUTOR RURAL.SENADOR AECIO NEVES SIGNIFICA RESPONSABILIDADE NA CONDUÇÃO DA ECONOMIA E MAIS RESPEITO AS LEIS NO CAMPO.MANOEL T.CAMPOS PECUARISTA PIRAI RJ

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  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Sr. João Olivi, de metáfora em metáfora vão-se traçando os perfis dos pretendentes ao cargo de presidente do país.

    A candidata do PT, no inicio foi lançada como a “gerentona”, após assumir o governo foi chamada de faxineira e, ultimamente... Ah! Sei lá!

    O candidato do PSDB está ainda a ser definido, mas alguns já o chamam de desesperado. Vamos aguardar.

    A candidata do PSB tem várias definições; desde melancia, verde por fora, vermelha por dentro, seringueira de boutique, mas o quê deve calçar melhor é de “ornitorrinco”, pois é um animal estranho, natural da Austrália e Tasmânia, com pele, pelos, bico de pato, rabo de castor e patas com membranas; estas características o apontam, ao mesmo tempo, um réptil, um pássaro e um mamífero.

    Esta amálgama de características tem muito a ver com as atitudes tomadas pela candidata nesta fase da campanha.

    SERÁ QUE TEREMOS MAIS “SURPRESAS” ? ?

    ....”E VAMOS EM FRENTE” ! ! !....

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  • Telmo Heinen Formosa - GO

    É conhecida a frase que ‘o poder endireita a esquerda'. O discurso de candidata de dona OSMARINA SILVA está perfeitamente ajustado aos parâmetros LIBERAIS... Se vai aplicá-lo na prática se ganhar é um enigma, mas os COMPROMISSOS e PROMESSAS que ela diz que vai CUMPRIR sinalizam nesse sentido.

    O dilema: mais estatismo de dona Dilma ou a promessa LIBERAL de dona Osmarina SILVA.

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