Economia brasileira -- No limite da responsabilidade

Publicado em 07/11/2014 05:25 e atualizado em 10/11/2014 14:24
por Geraldo Samor (+ Rodrigo Constantino), de veja.com

No limite da responsabilidade

DILMA-1 DOLAR

Qualquer leitura crítica do que aconteceu no mercado nesta quinta-feira sugere que a boa vontade dos investidores com o Governo reeleito está prestes a expirar.

O proverbial benefício da dúvida está escoando pelo ralo, na medida em que fica cada vez mais claro que a Presidente reeleita tem um mandato na mão e nada de novo na cabeça.

O Real perdeu 2,5% contra o dólar, e a Bovespa entregou 2%. Somados, esses movimentos significam que um investidor internacional com grana no Brasil perdeu, em apenas um dia, 5% do seu investimento. Melhor fazer as malas.

Nesta semana e meia desde o segundo turno, o mercado ouviu promessas de mudança, circularam nomes respeitáveis para o Ministério da Fazenda, e uma alta de juros inesperada insinuou um clima de seriedade. Em cada fragmento dessa narrativa, e a despeito das preferências pessoais da maioria de seus participantes, o mercado tentou ver a fumacinha branca — aquela que diz não Habemus Papam, mas Habemus Juízo.

Infelizmente, o blá-blá-blá dos sinais foi seguido pelo silêncio.

Ministro da Fazenda? Por que a pressa?

Metas fiscais claras e mais duras? Senta aí, menino.

(Para não dizer que o Governo não anunciou nada, saiu há pouco o aumento da gasolina. Um aumento envergonhado, de 3%, um aumento com medo de provocar o dragão que já cospe fogo no teto da meta. Too little, too late.)

A Presidente age como se a economia estivesse muito bem, obrigado. Como se não precisasse reanimar o espírito animal dos empresários e como se as oscilações do mercado fossem só um jogo sem consequências.

Enquanto a Presidente encenava a peça “Está tudo sob controle”, o Senado aprovou a mudança no índice que corrige as dívidas de Estados e municípios, permitindo que prefeitos e governadores assumam mais dívidas — isso no momento em que o Governo acaba de reportar o pior resultado das contas públicas desde o Plano Real.

Observando (de longe mas com lupa) essa esquizofrenia institucional, os gringos mandaram a ordem — “Venda” — e o dólar no mercado à vista fechou em 2.5699 reais. Guarde essa cotação; você provavelmente ainda vai olhar pra trás e achar isso barato.

O problema com as expectativas é que elas costumam se retroalimentar.

Um dia de baixa nos mercados pode, sim, ser seguido por um dia de alta. Mas se aquilo que a presidente Dilma chama de “pessimismo” (também conhecido como “realismo” por quem sabe fazer contas e as faz com honestidade) se alastrar, vai contaminar ainda mais a economia real,cujos sinais de fraqueza já eram evidentes antes do segundo turno.

A falta de urgência da Presidente Dilma — para usar uma expressão que a candidata adorou usar na campanha — está “no limite da responsabilidade”.

E isto só pode estar acontecendo porque ela não acredita na mensagem dos mercados. Ou porque se recusa a mudar. Ou, pior, porque não tem ideia do que fazer daqui pra frente.

Porque ela acha que preços de mercado não têm nada a ensinar.

Provavelmente, a Presidente vai ter que aprender do jeito mais difícil — e nós, estarrecidos, vamos pagar a conta.

Por Geraldo Samor

 

“Essa história de cortar ministério é lorota”, diz Dilma

A presidente Dilma parece não ter caído na real ainda. Devem ser os resquícios da campanha eleitoral e do mundo mágico criado por João Santana. Ela deve ter acreditado nele! Em entrevista para os principais jornais, a presidente disse:

Vamos fazer o dever de casa, apertar o controle da inflação e teremos limites fiscais. Vamos reduzir os gastos. Vamos olhar todas as contas com lupa e ver o que pode ser reduzido e o que pode ser cortado. Temos que fazer um ajuste em várias coisas, várias contas podem ser reduzidas. Minha visão de corte de gastos não é similar àquela maluca de choque de gestão.

Dever de casa não é “olhar com lupa” os gastos, e sim efetivamente “cortar na carne”, ou seja, executar um severo ajuste fiscal e resgatar a credibilidade das contas públicas, hoje no vermelho. O superávit fiscal foi abandonado. O Brasil já tem déficit duplo, tanto na conta corrente como fiscal. A poupança externa não vai nos financiar para sempre, ao menos não nas mesmas condições.

Conforme argumentaram Felipe Salto e Rafael Cortez, ambos da consultoria Tendências, emartigo publicado hoje na Folha, o ajuste fiscal é o caminho para o retorno do crescimento. “A política fiscal austera foi a principal vítima da atual gestão macroeconômica. A retomada da racionalidade dos gastos públicos é essencial para criar as bases de um novo círculo virtuoso. Executar essa tarefa, no entanto, não será simples”, escrevem.

Não será mesmo. Mas se Dilma pensa que pode levar no papo, apenas com palavras, está muito enganada. Os investidores vão cobrar ações, medidas concretas, dados sem malabarismos contábeis. Os especialistas concluem:

O esgarçamento da questão fiscal será um dilema central do segundo mandato de Dilma. A falta de rigor na gestão dos gastos públicos pode prejudicar ainda mais o andamento da atividade, com reflexos em juros, emprego, inflação e financiamento do deficit externo (como já acontece hoje).

O desempenho econômico não é expressão de uma “herança maldita” do mundo, mas resultado de escolhas domésticas erradas. Definir prioridades é tarefa da presidente e, ao que tudo indica, uma mínima reversão da expansão desmedida dos últimos anos deverá ocorrer.

O problema é que se for uma “mínima reversão” não será suficiente. Dilma disse claramente que “choque de gestão” é algo maluco, e ainda acrescentou que “essa história de cortar ministério é lorota”. Não se deu conta do tamanho do problema ainda. Acha que poderá empurrar com a barriga por mais quatro longos anos?

Doce ilusão. Vem rebaixamento do Brasil pelas agências de risco aí, podem anotar. É questão de tempo. O clima internacional também mudou, o Congresso americano nas mãos dos Republicanos não vai tolerar tanto estímulo do governo, a China já não cresce na mesma velocidade, as commodities despencaram de valor:

CRB: índice de commodities. Fonte: Bloomberg

CRB: índice de commodities. Fonte: Bloomberg

Dilma tem um cenário bastante delicado à frente. Se acha que dá para disfarçar, está redondamente enganada. A crise está contratada, e com a economia em recessão, a inflação em alta e o desemprego subindo, a rejeição ao seu governo atingirá picos históricos. Somado ao escândalo do Petrolão, isso representa um obstáculo incrível ao seu governo.

Se Dilma não acordar e o “mercado” a colocar em corner, é possível que ela nem termine seu segundo mandato…

Rodrigo Constantino

 

Bancos públicos: qual o tamanho real do buraco?

No passado, os bancos estaduais foram usados como emissores de moeda paralela, exercendo papel preponderante na criação de nossa hiperinflação. O governo FHC saneou o sistema financeiro com o PROER e PROES, privatizou vários bancos desses, e plantou as sementes de um sistema mais sólido com controle de inflação.

Mas se os governadores não tinham mais os Banerj e Banespa em mãos, para abusar deles com intuito eleitoral, o governo federal continuou com o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o BNDES.

O trio foi amplamente utilizado pelo governo do PT para criar moeda paralela também, para expandir sua carteira de crédito de forma irresponsável, sem lastro em mais poupança e depósitos, e com critérios políticos em vez de econômicos.

Ninguém sabe ao certo o tamanho dos esqueletos escondidos no armário ainda. Mas os indícios não são nada bons. O Estadão noticiou ontem, por exemplo, que a Caixa transferiu quase R$ 5 bilhões para fora de seu balanço, quantia a ser assumida por nós, “contribuintes”:

A Caixa Econômica Federal fez uma nova “limpeza” em seu balanço ao repassar, em setembro, créditos “podres” de 2 milhões de contratos a uma empresa pública, criada pelo governo para absorver prejuízos dos bancos oficiais com clientes inadimplentes. Pela primeira vez, a Caixa transferiu à Empresa Gestora de Ativos (Emgea) não apenas créditos imobiliários em cobrança, mas também contratos de outras operações, como financiamentos de automóveis e bens de consumo. No total, estima-se uma carteira “podre” de quase R$ 5 bilhões.

Enquanto isso, o presidente do Banco do Brasil resolveu entregar o cargo, desgastado por denúncias de abuso de influência pessoal na gestão do banco, que divulgou um balanço nada animador ontem. As ações do BB lideram as baixas de hoje, com quase 5% de queda. O lucro praticamente não cresceu, a inadimplência, por sua vez, subiu, assim como os gastos com pessoal.

Isso pode ser apenas o começo, pois esses bancos conseguem “pedalar” enquanto a economia cresce alguma coisa e o desemprego se mantém reduzido. Se este aumentar, a inadimplência sem dúvida irá subir bastante também, comprometendo a qualidade de seus balanços. Nesse caso, até mesmo os artistas engajados poderão sofrer com o corte de verbas para propaganda.

Uma montanha de crédito foi concedida pelos bancos públicos por decisão político-partidária, e ninguém conhece ao certo o tamanho do potencial problema. Mas já podemos ouvir os esqueletos requebrando de dentro do armário, ansiosos para saírem de lá e darem outro duro golpe naqueles inocentes úteis, que acreditaram na campanha de Dilma e acharam que era o adversário que iria “desmontar” tais bancos…

Rodrigo Constantino

 

Itamaraty “cobra” de Venezuela explicações sobre MST, e empresários vaiam petista

Ronaldo Caiado: a voz da oposição ao chavismo do PT. Fonte: GLOBO

Não podemos negar uma coisa: essa eleição serviu para realmente despertar da sonolência muita gente que até ontem ridicularizava os alertas sobre a “venezuelização” do Brasil. A notícia de que o governo venezuelano celebrou um bizarro acordo com o MST, do qual nossas autoridades supostamente sequer tiveram conhecimento, foi a gota d’água.

O Itamaraty, por meio do ministo das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, cobrou explicações sobre o convênio, do qual afirma não ter sido informado. “Convoquei o encarregado de negócios da Venezuela para transmitir estranheza do governo brasileiro com a notícia de que o ministro Jaua veio ao Brasil sem nos avisar e teria cumprido uma agenda política que incluiu a assinatura de acordo com movimentos sociais brasileiros”, disse Figueiredo.

Mas sendo o governo brasileiro antigo aliado do venezuelano, claro que a população fica desconfiada, com razão. Quer dizer que o governo do PT realmente não sabia de nada? Será que é como Lula, que “não sabia” de nada do mensalão? Ou como Dilma, que “não sabia” de nada do Petrolão? Há motivos de sobra para ficarmos com a pulga atrás da orelha.

E os empresários estão mais atentos. Prova disso foi sua reação durante evento da CNI. O deputado petista e ex-presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, e o senador eleito pelo DEM Ronaldo Caiado, bateram boca ao ser mencionado o convênio que foi firmado na semana passada entre autoridades venezuelanas e o MST. Os empresários vaiaram o petista e aplaudiram Caiado, especialmente quando este falou do risco de “venezuelização” em nosso país. 

“Se o Aécio tivesse sido eleito, vocês veriam esse Brasil totalmente bloqueado pelo MST. Nós não fazemos esse jogo. Não podemos desativar a mobilização da oposição. Temos de nos estruturar todos os dias, para chegarmos em 2018 e ganharmos as eleições no Brasil”, disse Caiado.

Eis a grande diferença entre o PT e a oposição: se esta tivesse vencido, não veríamos manifestações pacíficas e espontâneas cobrando investigações dentro da lei, e sim um exército paralelo formado por guerrilheiros fazendo de tudo, inclusive o uso de violência, para parar o país. Dá para confiar, portanto, num governo desses, cúmplice do próprio MST e também do regime opressor venezuelano?

Rodrigo Constantino

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1 comentário

  • Telmo Heinen Formosa - GO

    Amigos internautas, o que está acontecendo não é uma critica pela critica ante os acontecimentos na politica e na economia brasileira. Num momento em que o país precisaria da "fidúcia" (confiança) de todos os agentes econômicos, da colaboração e das idéias boas de todos, sentimos fortes resquicios autoritários da Presidente da República. Ela e seus axiomas. Ela é incapaz de reconhecer equivocos e portanto qualquer chamamento ao diálogo soa falso uma vez que perdeu o beneficio da dúvida. Repito aqui a afirmação de Theodor Leberecht Oswald Boehme: "A primeira vez que você vier a mentir e eu acreditar, a culpa será sua. A segunda, será minha". [O minimo que se espera é que ninguém permita ser enganado duas vezes...]

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