Em entrevista a alguém mais esquerdista do que ele próprio, Gilberto Carvalho critica Dilma, a sua chefe

Publicado em 11/11/2014 10:51 e atualizado em 12/11/2014 06:45
por Reinaldo Azevedo, de veja.com

Em entrevista a alguém mais esquerdista do que ele próprio, Carvalho critica Dilma, a sua chefe; prega que governo vá ainda mais para a esquerda e defende militância na rua contra o Congresso. Quem tem de ir para a rua é ele!

Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, concedeu uma entrevista à BBC Brasil. O rapaz que o entrevistou está notoriamente à sua esquerda, e isso fez com que o petista parecesse até sensato às vezes. Na verdade, não se trata exatamente de uma entrevista, mas de um diálogo de fundo moral entre um jovem radical, o tal rapaz, e o velho militante, que já conhece a vida. Os fatos deixam de ter importância, e o que vale é a agenda. A quantidade de bobagens que há nas perguntas e nas respostas diz um tanto da qualidade de certa imprensa e da qualidade do governo. Mas cuido desses aspectos outra hora. Agora, quero dar relevo ao Gilberto Carvalho que milita contra Dilma Rousseff.

A presidente tem alguns pepinos gigantescos pela frente, e é claro que ela sabe disso. Num cenário hoje realista, a economia pode crescer menos de 1% no ano que vem e com pressão inflacionária. Ninguém sabe o que vai sair da caixa de Pandora da Operação Lava Jato. Pode estar sendo gestada a maior crise política desde a volta da democracia. As demandas sociais tendem a crescer, e a mandatária não tem mais folga fiscal para fazer milagres. Se não chover o suficiente, há risco de crise energética, que só não deu as caras porque o país parou de crescer. Será que dá para ter alguém como Gilberto Carvalho conspirando contra o governo na cozinha do Palácio do Planalto? Acho que não.

Na entrevista à BBC Brasil, o ministro não se fez de rogado. Aproveitando que falava a alguém ainda mais esquerdista do que ele próprio, com ainda mais viseiras, Carvalho se sentiu à vontade para criticar o governo Dilma na comparação com o antecessor. Afirmou: “O governo da presidenta Dilma deixou de fazer da maneira tão intensa, como era feito no tempo do Lula, esse diálogo de chamar os atores antes de tomar decisão; de ouvir com cuidado, e ouvir muitos diferentes, para produzir sínteses que contemplassem os interesses diversos. Há uma disposição explícita da presidenta em alterar essa prática”.

Ocorre que a farra que permitiu a Lula “dialogar” acabou. O modelo ancorado no consumo entrou em colapso, e o erro da presidente, ao contrário do que diz Carvalho, foi tentar insistir em mais do mesmo, em vez de mudar. Dilma não errou ao se afastar do modelo Lula. Ela errou foi em insistir no modelo Lula. Se Carvalho não estivesse apenas fazendo baixa política, estaria dizendo uma tolice. Burro ele não é.

Num país que viverá dias turbulentos na economia, Carvalho deixa claro que a sua agenda é exacerbar as questões indígena e agrária, por exemplo. Não só isso: ele quer também a militância na rua, atropelando e pressionando o Congresso. Leiam o que disse: “Outro aspecto é a governabilidade social. A eleição mostrou o quanto a militância social está disposta a ir para a luta. É um fator que teremos de trabalhar para fazer avançar processos, sobretudo a reforma política. Se não tiver rua, se não tiver mobilização, não tem nenhuma esperança de passar nesse Congresso”.

Entenderam por que, crescentemente, os deputados querem Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Presidência da Câmara?

O governo tem hoje dificuldade para conseguir fazer com que o partido oficial consiga emplacar o presidente da Casa, e Carvalho, o secretário-geral da Presidência, está sonhando com modelos que levem as ruas a pressionar o Parlamento — tudo, aliás, conforme aquela resolução aloprada do PT.

Se Dilma não demitir Gilberto Carvalho e não isolá-lo, criando um cordão sanitário que o impeça de chegar no governo, ela vai se meter numa grande enrascada. Na entrevista, ele aproveita para pedir emprego: diz que continua no governo se for convidado. Indagado se poderia ir para alguma embaixada, brinca: “Só se for a do Afeganistão”.

Não precisa tanto. Dilma pode mandá-lo para o Cazaquistão. Quem sabe ele não se encontre com o Borat por lá.

Por Reinaldo Azevedo

Governo

A Gilbertinha

Vai esperar Sarney chegar?

Marta torceu pelo “Volta, Lula”

A carta de demissão entregue por Marta Suplicy hoje complicou de vez sua vida no PT. Deverá ser tratada a pão e água pelo partido no Senado. Em linguagem política: nada de comissões de visibilidade ou de relatoria de assuntos importantes. Entre os senadores, aliás, o fogo amigo de Marta lhe rendeu um apelido: a Gilbertinha.

Por Lauro Jardim

 

O fator Cunha

Cunha: marcando em cima

Pastas na Esplanada contra Cunha?

Uma das maiores incógnitas na escolha do novo ministério de Dilma Rousseff é o quanto o fatorEduardo Cunha vai pesar na definição dos nomes.

O que está em jogo é o seguinte: o deputado Eduardo Cunha é o favorito na disputa para a presidência da Câmara. Se Dilma precisar partir para o embate pesado contra ele, como parece ser o caso, inevitavelmente terá que fazer o jogo do toma-lá-dá-cá com os partidos para derrotá-lo.

Em resumo, Dilma poderá distribuir ministérios às bancadas em troca de votos contra Cunha. Isso dará outra cara ao time de Dilma.

O caso do PR é um exemplo. A bancada do partido é praticamente unânime: quer o senador Antonio Carlos Rodrigues no Ministério dos Transportes. Dilma prefere manter no cargo Pedro Passos, considerado pelo PR escolha pessoal da presidente.

Praticamente em cada partido poderá ter um problema parecido.

Por Lauro Jardim

 

Há 12 anos o PT conta com a imprensa para ajudar a desmoralizar o PMDB, seu principal aliado

Há 12 anos o PT governa com o PMDB. A parceria pode chegar a 16. Pois bem: há 12 anos os petistas pautam a imprensa contra os peemedebistas. E também há 12 anos o jornalismo acaba sendo inocente útil do partido oficial. Vamos rasgar o verbo, não é? Noventa por cento das fontes que jogam peemedebistas na fogueira são, obviamente, petistas. Sim, sim! Se eu souber de alguma safadeza comprovada cometida por alguém do PMDB, noticio, ainda que ela me tenha sido soprada por petistas. E qualquer jornalista tem de fazer o mesmo. Mas isso não pode nos impedir de denunciar a natureza do jogo. Adiante.

O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) certamente já se preparou para a chuva de canivetes. E também deve saber quem responde pelo adensamento das nuvens. Vem coisa feia pro lado dele. Ousou desafiar a máquina. Que se noticie tudo o que for procedente, é claro!

Mas cabe uma pergunta: é em nome da moral, dos bons costumes e da alta política que os petistas tentam evitar a todo custo que Cunha se torne presidente da Câmara? Ora, não me façam gargalhar! Quem mesmo os petistas indicaram para vice-presidente da Câmara na legislatura em curso? Lembro: André Vargas, o patriota que atuava como um dos braços do doleiro Alberto Youssef. Era figura em ascensão no PT. Foi seu secretário nacional de Comunicação.

Era dado como certo, vejam que coisa!, para a presidência da Casa no biênio 2015-2016. Não fosse aquela viagenzinha de avião financiada pelo doleiro — e a operação desencadeada pela Polícia Federal —, talvez não se falasse agora de Eduardo Cunha, e o país tivesse como terceiro homem na hierarquia da nação um tipo como André Vargas, que continua a ser protegido pelo PT.

Então vamos chamar as coisas pelo seu devido nome e dizer com clareza a natureza delas. Os petistas não querem Cunha por quê? É em nome da moral e dos bons costumes? Ou será que o deputado atrapalha suas pretensões hegemônicas?

Olhem aqui: uma coisa é o jornalismo noticiar o que sabe. É um dever. Outra, diferente, é servir de esbirro do projeto petista.

Por Reinaldo Azevedo

 

José Eduardo Cardozo não pode ser ministro por falta de biografia e de bibliografia; acusar o PMDB é só tramoia intelectual de seus amiguinhos

Tento aqui conter lágrimas de emoção, mas não consigo. Ocorre sempre que me deparo com uma flagrante injustiça. Antes que eu me prepare para a batalha, vem a comoção. E qual é o motivo da hora? Os amigos de José Eduardo Cardozo agora espalham na imprensa que é a banda de malvados do PMDB que tenta inviabilizar a sua indicação para o Supremo Tribunal Federal. Sim, conforme antecipei na minha coluna na Folha, de sexta, Dilma quer nomear o seu ministro da Justiça para a vaga de Joaquim Barbosa. Prudentemente, perguntou a Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, se o seu “Porquinho”, como ela o chamou certa feita, seria aprovado. Ele mandou dizer que não.

A resistência partiria de setores insatisfeitos do PMDB com a atuação da Polícia Federal e com a suposta falta de atenção do Planalto aos pleitos dos peemedebistas nos palanques regionais. Assim, os lobistas voluntários e involuntários de Cardozo espalham a patacoada de que a resistência a seu nome se deveria à sua impecável atuação à frente do Ministério da Justiça. Só pode ser comédia. É coisa de chanchada.

Não sei quais seriam os senadores do PMDB que hoje resistiriam a Cardozo. Não me interessam os seus motivos privados ou mesmo partidários. Sei, e isto me basta com folga, que este senhor não tem nem biografia nem bibliografia para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Já há outros por lá que também não têm nem uma coisa nem outra? Há, sim. Então cabe a pergunta: por que havemos de ter mais?

Chega a ser escandaloso que a presidente pense em indicar para o posto o homem que foi um de seus coordenadores de campanha eleitoral há meros quatro anos, ocasião, então, em que ela o apelidou de um de seus “Três Porquinhos” — os outros dois eram Antonio Palocci e José Eduardo Dutra. Posso imaginar na eventual cerimônia de posse — que, espero, não aconteça —  a chefe do Executivo a cumprimentar um dos 11 membros do tribunal maior brasileiro: “Parabéns, meu Porquinho”. Ele responde o quê? (?) “Oinc, oinc?”.

“Est modus in rebus”, como diria o poeta. As coisas têm de ter uma medida. Estão escrevendo muita besteira por aí sobre a bolivarianização do Brasil, recorrendo ao estranho método de negar identidades a partir das diferenças. Aí fica fácil, não é? Como também é fácil afirmar identidades a partir de semelhanças. Pelo primeiro critério, dá para provar que o nazismo e o fascismo não se confundiam; pelo segundo, a gente consegue provar que não há diferenças entre um homem e um porco.

Quem compara tem de buscar identidades nas diferenças e diferenças nas identidades. Controlar a corte suprema do país é pressuposto dos regimes autoritários da moderna América Latina. Há o país em que essa corrente atingiu o seu estado de arte — e de desastre: a Venezuela —, e há os países em que essa mesma tendência se pronuncia de maneira menos intensa. Ainda voltarei a esse ponto em outros comentários.

Retomo o principal. A corte suprema do país não pode servir de esbirro de um partido político. Precisa contar com o concurso de juristas independentes, que tenham sua trajetória marcada pelo apuro intelectual na área e que não se prestem ao proselitismo vulgar. Mais: em seu campo de atuação, as pessoas indicadas têm de ter dado provas de competência.

A gestão de Cardozo no Ministério da Justiça é desastrosa, para usar um adjetivo modesto. As mais recentes evidências apontam, por exemplo, que o movimento terrorista Hezbollah atua em parceria com o PCC. Tudo sob as barbas e a pança deste senhor, que assistiu, inerme, à explosão do número de homicídios no país. Que resposta ele ofereceu?

Tentar fazê-lo, agora, vítima dos malvados do PMDB é uma piada de quinta categoria. Cardozo não pode ser ministro porque não tem biografia e bibliografia para isso. Chego a ter fundados receios de que ele não conhece direito nem mesmo a Constituição.

Os motivos íntimos do PMDB e dos peemedebistas não me interessam. Cardozo não pode ser ministro é por sua própria falta de méritos.

Por Reinaldo Azevedo

 

Em depoimento, Youssef diz que operava caixa do PP

Por Daniel Haidar, na VEJA.com. Voltarei ao tema.
O doleiro Alberto Youssef prestou novo depoimento na tarde desta segunda-feira à 13ª Vara Federal do Paraná. O interrogatório foi feito pelo juiz Sérgio Moro e pelo procurador da República Roberson Pozzobon, como parte da ação penal que o doleiro responde por ter ajudado o ex-deputado federal José Janene (PP), morto em 2010, a ocultar a origem ilícita de pelo menos 1,16 milhão de reais recebidos pelo parlamentar no mensalão, durante o escândalo de corrupção montado no governo Lula. No depoimento, Youssef teve de explicar como fez essa operação de lavagem de dinheiro. Durante a explicação, disse que operava recursos não apenas de Janene mas de todo o Partido Progressista. ”Não que eu administrasse recurso dessas outras pessoas, mas eu via esse caixa como caixa do partido”, disse Youssef.

Como estratégia de delimitar a atuação do doleiro como um operador do partido, o advogado Antonio Figueiredo Basto, que defende Youssef, pergunta no depoimento, gravado em vídeo, que partido era esse. Youssef responde: “Progressista”.

A participação de Youssef no mensalão foi uma das descobertas da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que desvendou um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou mais de 10 bilhões de reais e desviou recursos dos cofres da Petrobras para o bolso de partidos e políticos.

Também prestaram depoimento nesta segunda-feira o doleiro Carlos Habib Chater, o advogado Carlos Alberto Pereira da Costa, e Ediel Viana, um dos subordinados de Chater. Pereira da Costa ajudava Youssef na administração de empresas de fachada. Foi a primeira vez que Youssef se apresentou à Justiça desde que recebeu alta hospitalar há duas semanas.

Como parte da estratégia de lavagem de dinheiro, Janene virou sócio da Dunel, uma empresa de Londrina (PR), como se fosse apenas um investidor interessado no crescimento do negócio e nos lucros. Mas, de acordo com o advogado Pereira da Costa, que intermediou a operação, o ex-deputado não aparecia formalmente no negócio, porque não a investigação como justificar a posse dos valores. A investigação constatou que o objetivo era, na verdade, encontrar um duto para desviar recursos para empresas de fachada comandadas por Youssef e dar aparência legítima ao dinheiro do mensalão.

Além de Youssef, familiares de Janene também foram denunciados. A filha do ex-deputado, Danielle Janene, e o primo Meheidin Hussein Jenani, ajudaram na operação da indústria. O irmão de Janene, Assad Jannani, contribuiu na ocultação de ativos desviados da indústria Dunel, ainda de acordo com o Ministério Público. O doleiro Carlos Habib Chater, um dos pivôs da Operação Lava Jato, também participou do esquema de lavagem de dinheiro do ex-deputado. Se fosse vivo, José Janene também seria acusado, segundo o MPF.

A investigação foi aberta em 2009, quando um sócio enganado por Janene desconfiou do esquema. A partir deste inquérito, a Polícia Federal constatou que Youssef descumpriu acordo de delação premiada firmado com a Justiça e voltou a praticar crimes. Este foi o princípio da Operação Lava Jato. A polícia também constatou que o doleiro era o verdadeiro dono da corretora Bônus-Banval, uma das fontes dos recursos do mensalão.

Por Reinaldo Azevedo

 

Depoimento de Youssef deixa claro que existiam vasos comunicantes entre mensalão e petrolão. Mais: a coisa assume dimensões de máfia mesmo. Quem é o “capo di tutti i capi”?

Dia desses, quem deitava falação num grande veículo da imprensa brasileira? Ele: Henrique Pizzolato. Para quê? Ora, para sustentar que o mensalão não existiu. Condenado a 12 anos e sete meses por peculato, que é roubo de dinheiro público, corrupção passiva e lavagem de dinheiro; foragido da Justiça brasileira; processado por ter entrado na Itália com documentos falsos, a palavra lhe foi franqueada para que desancasse a Justiça brasileira e as oposições, para cantar as glórias de Lula e do petismo e para bater no peito e jurar inocência. Logo, daremos a Marcola, o chefão do PCC, o direito ao “outro lado”. E vamos dar a outra face ao capeta. Tenham paciência!

Por que essa introdução? Porque não é só Pizzolato que jura que o mensalão não existiu. Repetem essa mesma ladainha Lula, a cúpula do PT e alguns colunistas que só não estão de joelhos porque é uma posição desconfortável para lamber os sapatos do petismo. Pois bem: algo importante se deu na 13ª Vara da Justiça Federal do Paraná nesta segunda. Alberto Youssef, o doleiro enroscado na operação Lava Jato, não apenas confirmou a existência do mensalão — ninguém precisava dele para isso; é claro que existiu! — como demonstrou os vasos comunicantes entre aquele escândalo e o petrolão.

Atenção! Youssef já aparecia no escândalo do mensalão. Isso não é o novo. O depoimento desta segunda, diga-se, prestado ao juiz Sérgio Moro e ao procurador da República Roberson Pozzobon, é parte da ação penal em que o doleiro é acusado de ter lavado a origem ilícita de R$ 1,16 milhão recebido pelo então deputado José Janene (PP), já morto, no âmbito do mensalão.

O doleiro deixou claro que administrava com Janene uma espécie de conta conjunta. O dinheiro era distribuído, segundo ele, a “agentes públicos e políticos”, por orientação do deputado. Para tanto, usava um outro doleiro, Carlos Habib. Até aí muito bem. Prestem atenção agora ao ponto que interessa. O juiz Moro perguntou a Youssef qual era a origem do dinheiro. E ele respondeu: “Comissionamento de empreiteiras”. O juiz insistiu: “Decorrente de contratos com a administração pública em geral, propinas?”. E o homem confirmou: “Sim, senhor, excelência”.

Confirma-se, assim, aquilo de que sempre se suspeitou. Tudo o que ficamos sabendo do mensalão foi, para usar um clichê que eu detesto, mas que se faz inevitável, a ponta do iceberg; conhecemos, na verdade, apenas uma das cabeças da hidra. Como se percebe pelo depoimento de Youssef, o desvio do Fundo Visanet, do Banco do Brasil — da ordem R$ 76 milhões — não foi a única grana pública movimentada pelo mensalão.

Os dois esquemas de ladroagem tinham vasos comunicantes. O mais impressionante é que, enquanto uma das cabeças do monstro estava sob escrutínio, as outras operavam a todo vapor. Esse depoimento de Youssef é mais sério e importante do que parece. Sim, o mensalão existiu — e disso nós sabíamos. Existiu e movimentou mais dinheiro público do que estávamos informados. Espantoso é saber que a máfia não se intimidou nem com o processo que estava em curso no STF, tal era a certeza da impunidade.

E que se note, para arrematar: até agora, a gente não sabe quem era o “capo di tutti i capi”, o chefe dos chefes. Porque não se enganem: uma roubalheira dessa dimensão, com tantas frentes, que pode gerar desentendimentos entre os quadrilheiros, tem sempre alguém que bate na mesa para desempatar o jogo. Saberemos algum dia?

Por Reinaldo Azevedo

 

Alckmin não foi pedir favor nenhum a Dilma; governo federal tem a obrigação de colaborar com o Estado de onde tira a grana que sustenta a farra

Vamos botar os necessários pingos nos is? Vamos! O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), esteve com a presidente Dilma Rousseff (PT) nesta segunda-feira. Em pauta: a crise hídrica de São Paulo. O governador, reeleito no primeiro turno, apresentou à presidente, reeleita no segundo, um plano que contempla oito obras de infraestrutura no setor. E não! Ele não pediu R$ 3,5 bilhões ao governo federal. Este título na homepage do Estadão Online está simplesmente errado.

 estado chamada

O que o governador fez foi levar uma síntese das obras, estas, sim, orçadas em R$ 3,5 bilhões. Com uma questão: com quanto e de que modo o governo federal pode colaborar? Será financiamento? Será dinheiro do Orçamento, aplicado nas obras? Isso não está definido. Agora se formará um grupo de trabalho com técnicos dos governos federal e estadual para o detalhamento das obras e dos custos, o que levará à definição da parceria.

Que se note: o governo federal não presta favor nenhum a São Paulo, que concentra um terço do PIB brasileiro. A rigor, a coisa mais decente que a União tem a fazer é gastar o dinheiro a fundo perdido mesmo — mera força de expressão, não é? Já que o resto do país ganha se a economia do Estado não entrar em crise por falta de água.

As obras em curso ou a serem realizadas pelo governo do Estado são as seguintes: 1) uma adutora para reforçar a captação do Rio Campinas, com prazo de nove meses; 2) construção de Estação de Produção de Água de Reuso (Epar) para reforço do Sistema Guarapiranga, com previsão de um ano; 3) interligação do Rio Jaguari ao Atibainha, com prazo de 14 meses; 4) construção de Epar para reforço do sistema Baixo Cotia, com prazo de 18 meses; 5) sistema de adutor regional para PCJ (uma referência aos rios Piracicaba, Capibaribe e Jundiaí), com prazo de 18 meses; 6)  interligação do Rio Pequeno com o reservatório Rio Grande, com prazo de dois anos; 7) 24 poços na região do aquífero Guarani, com prazo de dois anos; 8) e a construção de dois reservatórios em Campinas, com prazo de 30 meses.

E se o governo federal não quiser colaborar? Bem, deve querer, não é? Se não quiser, São Paulo buscará o dinheiro onde houver.  Também é preciso corrigir a informação de que a Caixa Econômica Federal vai financiar o governo do Estado com R$ 1,8 bilhão no chamado Sistema Produtor de São Lourenço. Não! O edital para São Lourenço é de 8 de novembro de 2012, anterior à crise hídrica. O contrato com o consórcio vencedor — Andrade Gutierrez e Camargo Correa — foi assinado no dia 21 de agosto de 2013. Trata-se de uma PPP, uma parceria público-privada, sem um tostão de dinheiro federal. Se as duas empreiteiras conseguiram, em razão do contrato, dinheiro da CEF, o governo do Estado não tem nada com isso. O que se tem é a Caixa fornecendo empréstimos a empresas privadas.

Ah, sim: no quebra-queixo, aquele monte de microfones e gravadores enfiados na cara das autoridades, jornalistas tentaram arrancar de Alckmin a confissão do que não existe: a de que a Sabesp pratica racionamento. Sim, há cidades em que ele está em curso. É o caso de Guarulhos, que tem sistema próprio, independente da Sabesp, e é administrada pelo PT desde 2001. Por alguma razão, as torneiras de Guarulhos não parecem interessar aos pauteiros.

A síntese é a seguinte: Alckmin não foi pedir favor nenhum a Dilma. O governador de São Paulo foi perguntar à presidente da República se a União está disposta a colaborar com obras que vão facilitar o abastecimento de água no Estado de onde se tira boa parte da grana que sustenta a farra federal. Não foi pedir R$ 3,5 bilhões. Informou que vai realizar obras de R$ 3,5 bilhões. E o governo federal dirá com que parte de sua obrigação está disposto a arcar. Entenderam?

Por Reinaldo Azevedo

 

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Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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