A hora do nojo - O petista Mercadante e os outros 34 apóiam um governo que prende uma juíza só porque ela segue a lei

Publicado em 16/12/2009 20:44 e atualizado em 17/12/2009 12:43
Gloriosos 35 senadores brasileiros aprovaram ontem, debaixo de um poderoso e muito convincente lobby de empreiteiras, a entrada da Venezuela no Mercosul. O bloco comercial conta com uma coisa chamada “cláusula democrática” — vale dizer: ditadura e regimes autoritários não entram. Os parlamentares brasileiros deram um pé no traseiro da verdade — inclusive aquele santo das causas da liberdade chamado Pedro Simon (PMDB-RS) — e disseram “sim” ao governo da Venezuela, a Hugo Chávez e a seus métodos. Muito bem. Em que momento esses valentes tomam essa decisão, já vergonhosa por si? E do que falarei abaixo.

Vocês se lembram do empresário venezuelano Eligio Cedeño, um dos presos políticos de Chávez? Tratei do caso aqui num post de 25 de outubro, quando publiquei uma entrevista com o seu advogado, o canadense Robert Amsterdam. Republico um trecho, em azul, só para que vocês se localizem no debate. Volto em seguida:

Esteve no Brasil, na semana passada, o advogado canadense Robert Amsterdam. Ele é defensor do empresário venezuelano Eligio Cedeño, preso desde fevereiro de 2007.  A acusação oficial contra Cedeño é de fraude financeira. O que não aparece nos autos é o fato de que ele deu apoio a oposicionistas venezuelanos, incluindo um sindicalista e uma jornalista que tiveram de fugir do país. O caso da fraude é um tanto rocambolesco e sugere que ele caiu numa armadilha. Ainda que tudo fosse verdade, fato é que o tempo de sua prisão preventiva - dois anos (!) - expirou, e ele é mantido ilegalmente no cárcere. E há a ameaça de que ela seja prorrogada por outros dois.

Voltei
Na entrevista, Asterdam demonstrou como Hugo Chávez destruiu o sistema judicial do país, transformando-o em mero instrumento de sua ditadura unipessoal. Pois agora aconteceu algo raro até mesmo numa ditadura.

No dia 10, a juíza Maria de Lourdes Afiuni concedeu a liberdade condicional a Cedeño, coisa a que ele tinha direito líquido e certo. A continuidade da prisão é que era absurda mesmo para os absurdos padrões que vem assumindo a justiça venezuelana.

A juíza foi presa! Isto mesmo: a ordem foi emitida por um juiz da mesma vara. Chávez a chamou de “bandida”, e um novo mandado de prisão contra Cedeño foi expedido. Qual foi O crime de Maria de Lourdes? Tomou uma decisão contrária à vontade de Hugo Chávez. Outra juíza, Yuri Lopéz, teve o filho ameaçado de seqüestro ao admitir uma queixa secundária, que nem estava relacionada ao relaxamento da prisão, da defesa de Cedeño. Este é o estado de direito vigente na Venezuela. Este é o país que aqueles 35 senadores decidiram admitir no Mercosul.

Segundo os advogados da defesa presentes à audiência, Maria de Lourdes baseou sua decisão no parecer do Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre Detenções Arbitrárias. O documento, de 1º de setembro deste ano, declara: “A privação da liberdade de Eligio Cedeño é arbitrária porque viola os artigos 9, 10 e 11 da Declaração Universal de Direitos Humanos e os artigos 9, 10 e 14 do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos”.

Chávez foi à TV um dia depois da prisão da juíza para chamá-la de “bandida”, acusando-a de ter tramado previamente a decisão com os advogados de Cedeño. Mais: disse ter instruído o Ministério da Justiça (?), o Supremo Tribunal de Justiça e a Assembléia Nacional a condenar Maria de Lourdes a “30 anos de cadeia”. Ele está sendo acusada de “corrupção, cumplicidade na fuga do réu, abuso de poder e formação de quadrilha”. Ela foi recolhida ao Instituto Nacional de Orientação Feminina — os nomes que as ditaduras dão às cadeias são uma capítulo especial da obra dos canalhas —, uma prisão só para mulheres, que vive em condições lastimáveis, onde estão muitas pessoas condenadas pela própria juíza.

Ainda não está bom? Então fiquem com mais esta: o governo chavista decidiu prender também José Rafael Parra Soluzzo, um dos advogados de Cedeño. Acusação? Por enquanto, não há nem acusação formal.

Parabéns, Aloizio Mercadante! Parabéns, Pedro Simon. Parabéns, todo resto de minoridades!

Judiciário destruído
Chávez destruiu o Judiciário venezuelano. A Assembléia Constituinte — e é por isso que a canalha esquerdista gosta tanto de constituinte; já volto ao assunto! — criou uma comissão do Supremo Tribunal de Justiça (é o correspondente ao nosso STF) que, ATENÇÃO!, contrata e demite todos os juízes do país. Em 2004, o número de membros da Corte saltou de 20 para 32. Os 12 indicados eram todos… bolivarianos! Um outro caso famoso foi o da juíza Alícia Torres, demitida porque se negou a decretar a prisão do presidente da rede de televisão Globovision.

O governo que demite, prende e ameaça juízes é também aquele que pôs a educação sob uma severa vigilância e censura do Estado, que fechou mais de 100 emissoras de rádio, que retirou prerrogativas constitucionais da oposição e que decidiu criminalizar os protestos públicos contra o governo.

Foi essa a democracia que o bigodudo Mercadante defendeu com tanto denodo ontem. É a entrada deste país no Mercosul que Celso Amorim, do alto de seu gigantismo moral, saudou em nota. É disso que gostam os 35 senadores que votaram a favor da entrada da Venezuela no Mercosul.

AHMADINEJAD DISCORDA DE ZÉ CAROÇO E TESTA MÍSSIL QUE PODE CHEGAR A ISRAEL

O artigo de José Dirceu, publicado na Folha nesta quarta, veio no momento certo: mesmo dia em que o Irã anuncia o teste com o míssil de longo alcance Sajjil-2. Para fins pacíficos, como sabemos, a exemplo de tudo o que faz aquela democracia exemplar. Segundo a TV iraniana, o míssil chega a 1.930 km de distância. Sendo assim, poderia atingir Israel — o Irã tem a declarada intenção de “varrer o país do mapa”.

Mas aprendemos com José Dirceu, o principal articulador da candidatura de Dilma Rousseff, que quem ameaça o Irã é Israel. Mais: aprendemos com ele que os verdadeiros culpados por um míssil que os ameaça são os próprios israelenses.

TODOS OS SENADORES QUE SE JUNTARAM A HUGO CHÁVEZ

Abaixo, segue a lista dos que votaram a favor da entrada da Venezuela no Mercosul e dos que votaram contra. Não houve defecções na oposição: só os senadores da base de apoio ao governo Lula deram uma forcinha a Hugo Chávez:

CONTRA
1. Adelmir Santana (DEM/DF)
2. Alvaro Dias (PSDB/PR)
3. Antonio Carlos Jun
4. Arthur Virgílio (PSDB/AM)
5. Cícero Lucena (PSDB/PB)
6. Demóstenes Torres (DEM/GO)
7. Eduardo Averedo (PSDB/MG)
8. Efraim Morais (DEM/PB)
9. Eliseu Resende (DEM/MG)
10. Fernando Collor (PTB/AL)
11. Flávio Arns (PSDB/PR)
12. Gilberto Goellner (DEM/MT)
13. Heráclito Fortes (DEM/PI)
14. Jarbas Vasconcelos (PMDB/PE)
15. João Tenório (PSDB/AL)
16. José Agripino (DEM/RN)
17. Lúcia Vânia (PSDB/GO)
18. Mão Santa (PSC/PI)
19. Marco Maciel (DEM/PE)
20. Marconi Perillo (PSDB/GO)
21. Maria do Carmo Alves (DEM/SE)
22. Marisa Serrano (PSDB/MS)
23. Papaléo Paes (PSDB/AP)
24. Raimundo Colombo (DEM/SC)
25. Rosalba Ciarlini (DEM/RN)
26. Sérgio Guerra (PSDB/PE)
27. Valter Pereira (PMDB/MS)

A FAVOR
1. Acir Gurgacz (PDT/RO)
2. Almeida Lima (PMDB/SE)
3. Aloizio Mercadante (PT/SP)
4. Antônio Carlos Valadares (PSB/SE)
5. Augusto Botelho (PT/RR)
6. Eduardo Suplicy (PT/SP)
7. Epitácio Cafeteira (PTB/MA)
8. Francisco Dornelles (PP/RJ)
9. Garibaldi Alves Filho (PMDB/RN)
10. Gim Argello (PTB/DF)
11. Ideli Salvatti (PT/SC)
12. Inácio Arruda (PCdoB/CE)
13. João Durval (PDT/BA)
14. João Pedro (PT/AM
15. João Ribeiro (PR/TO)
16. João Vicente Claudino (PTB/PI)
17. Lobão Filho (PMDB/MA)
18. Magno Malta (PR/ES)
19. Marcelo Crivella (PRB/RJ)
20. Mozarildo Cavalcanti (PTB/RR)
21. Osmar Dias (PDT/PR)
22. Osvaldo Sobrinho (PTB/MT)
23. Patrícia Saboya (PDT/CE)
24. Paulo Duque (PMDB/RJ)
25. Paulo Paim (PT/RS)
26. Pedro Simon (PMDB/RS)
27. Renan Calheiros (PMDB/AL)
28. Renato Casagrande (PSB/ES)
29. Roberto Cavalcanti (PRB/PB)
30. Romero Jucá (PMDB/RR)
31. Romeu Tuma (PTB/SP)
32. Sadi Cassol (PT/TO)
33. Sérgio Zambiasi (PTB/RS)
34. Valdir Raupp (PMDB/RO)
35. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB/MG)

O LIXO FEDORENTO PRODUZIDO POR JOSÉ DIRCEU

Cada um faça o que quiser do seu jornal. Eu me dou o direito apenas de comentar e de fazer indagações que partilho aqui com vocês. Por que o ex-deputado José Dirceu, cassado em razão de seu comportamento indecoroso mesmo para os padrões vigentes no Congresso brasileiro, réu no mensalão, escreve artigos num jornal como a Folha? Só pode ser porque a imprensa brasileira, que os petistas chamam “mídia”, adora botar uma corda no próprio pescoço; adora encontrar um abrigo no peito no inimigo; adora flertar com aqueles que fazem de tudo para silenciá-la.

Certamente há quem acredite que devemos, em nome dos nossos princípios, ter com aqueles que nos querem destruir a tolerância que eles, em nome dos princípios deles, não têm com a gente. O resultado dessa equação é que os que odeiam a democracia ganham sempre. De resto, Dirceu conta com uma equipe, certamente paga com o que ele consegue amealhar como “consultor de empresa privada”, para produzir um site. O chato, para ele, é que ninguém lê aquela porcaria, a não ser a rede petista infiltrada na “mídia”, que, invariavelmente, se encarrega de reproduzir coisas que são escritas lá.

Dirceu odeia a imprensa — menos a que fala bem do PT, é claro — e tem seu próprio canal para escoar o lixo intelectual que produz. O que justifica que ocupe também um lugar no mundo dos vivos? Posto isso, faço um vermelho-e-azul com o artigo que ele publicou  hoje na Folha.

O PROFESSOR da USP José Augusto Guilhon Albuquerque escreveu nesta Folha (9/12) crítica à visita ao Brasil do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Disse ter ficado confuso quanto ao que é paz e o que é desejável e, em exercício inaceitável de distorção dos fatos, afirma que houve cumplicidade brasileira com as atrocidades cometidas pelo governo iraniano. Primeiramente, o professor omite que o iraniano foi recebido após as visitas dos presidentes de Israel, Shimon Peres, e da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.
A estupidez está dada já nas primeiras linhas. Peres e Abbas não são compensações à presença de Ahmadinejad no Brasil. Mas pensemos um pouco com a cabeça marota de Dirceu: digamos que fossem. Dado que o petista, como se verá, é claramente simpático à causa iraniana, entende-se que Peres — e talvez até Abbas — sejam, vejam que formidável, o “Mal” que serve de contrapeso ao “Bem”. Assim, Lula teria feito uma concessão, recebendo gente não muito decente, como os líderes israelense e palestino, para depois abrir os braços a este gigante moral que é o presidente do Irã. Tenho de notar à margem que Abbas tem em Ahmadinejad um de seus maiores inimigos: o Irã financia os terroristas do Hamas.

Quer dizer que o professor acha ruim receber Ahmadinejad, mas nada tem contra a recepção a Peres, presidente de um país que seguidamente viola as resoluções da Organização das Nações Unidas e cujo governo é responsável, pela via da força, por negar seguidamente ao povo palestino o direito de ter seu próprio país?
Dou de barato que Dirceu ignore as seguidas resoluções da ONU contra o Irã, com a diferença de que o fórum que costuma “condenar” Israel é o Conselho de Direitos Humanos, coalhado de “antiimperialistas” e anti-semitas militantes. O que realmente é formidável é a afirmação, sem quaisquer outras considerações, de que Israel nega ao povo palestino o direito a seu próprio país. Como se sabe, os pacíficos palestinos querem um país, negado por beligerantes judeus. Por que Dirceu não pergunta ao próprio Abbas o que ele pensa da “luta” do Hamas? Em segundo lugar, o que a causa palestina tem a ver com Ahmadinejad? Tivessem os palestinos o seu estado, seria outra a política do Irã?

Mas o ardil de Albuquerque veio acompanhado da ausência de leitura da cobertura que a Folha fez do encontro com o iraniano. No caderno Mundo (24/11), somos informados de que Lula “aproveitou a presença de Ahmadinejad para transmitir cobranças quase unânimes da comunidade diplomática”, deixando “claro que repudia a hostilidade aberta de Ahmadinejad a Israel” e que “o Brasil, embora busque os melhores vínculos possíveis com o Irã, tem ressalvas em relação a algumas posições do iraniano”. O jornal publicou ainda as seguintes frases do presidente Lula: “A política externa brasileira é balizada pelo compromisso com a democracia e o respeito à diversidade. Defendemos os direitos humanos e a liberdade de escolha de nossos cidadãos e cidadãs com a mesma veemência com que repudiamos todo ato de intolerância ou de recurso ao terrorismo” e “Defendemos o direito do povo palestino a um Estado viável e a uma vida digna, ao lado de um Estado de Israel seguro e soberano”.
As frases que Dirceu tão bem selecionou para indicar a suposta contraposição do governo brasileiro a Ahmadinjad deixam, então, claro que aquele senhor não respeita a democracia, a diversidade e a tolerância. Mais: deixam claro que, com efeito, ele recorre ao terrorismo.

Isso não importa, não é mesmo, professor? Afinal, a política externa que o sr. defende é a adotada no governo Fernando Henrique Cardoso, que desejava uma ordem unipolar, com os EUA dando as cartas. O professor não se incomoda com essa concepção de política externa nem com a invasão do Iraque sem autorização da ONU ou com os centros de tortura americanos mundo afora. Não há limites à hipocrisia, professor? A cumplicidade com essa submissão é que é inaceitável.
Aqui, a delinqüência intelectual de sempre com o governo ao qual os petistas devem, na prática, a sua própria existência por razões tantas vezes elencadas. A ordem multipolar petista compreende o apoio a um terrorista como Ahmadinejad, a proteção ao genocida do Sudão, o apoio a todas as transgressões à ordem democrática dos bolivarianos, o flerte com os narcoterroristas das Farc. Os EUA e aliados atacaram o Iraque em março de 2003. Lula já era presidente da República — logo, o governo anterior, de FHC, não pôde se pronunciar a respeito daquele fato em si e de outros que dele decorreram, como as acusações de tortura. As ilações de Dirceu são descabidas porque mentirosas.

A diretriz do governo Lula para a política externa é, reconhecidamente, responsável pelo papel de destaque no mundo que o Brasil conquistou.
É mentira! Essa política externa que apóia tudo quanto é bandido mundo afora não trouxe um centavo para o Brasil. A boa posição que o país ocupa na economia mundial nada deve à política externa. Desafio Dirceu a provar com números. Ele não vai porque sabe que se trata de uma clamorosa, vergonhosa e absoluta MENTIRA!

Ela se pauta, entre outros fatores, pela compreensão de que nossos interesses nacionais serão tão mais ressonantes quanto maior for o caráter multipolar da nova ordem internacional. E esse caminho passa por integrar os países em desenvolvimento e seus blocos regionais e por construir novas pontes diplomáticas.
Embromação disfarçada de retórica integracionista. O Irã não integra “bloco” nenhum — ou ele diga qual é. Nem os países árabes vêem com bons olhos a hipertrofia dos seus , no mais das vezes, inimigos persas do xiismo. O único bloco que o Irã integra é o dos países párias, que ameaçam a ordem internacional com o apoio ao terrorismo.

O Brasil não aceita o jogo da vilanização, cujo único propósito é reforçar a supremacia de uma superpotência e seus aliados.
O patriotismo é último refúgio dos canalhas. E o antiamericanismo é o penúltimo dos canalhas latino-americanos.

O presidente Lula age como interlocutor de distintos parceiros, com respeito à autodeterminação e mantendo sempre como horizonte estratégico a superação do unilateralismo como caminho único para a paz.
Sem dúvida! Como Chamberlain e Daladier dialogando com Hitler em nome de um mundo mais plural…

A passagem de Ahmadinejad pelo Brasil serviu também para que a comunidade internacional se fizesse ouvida pelo iraniano. E Lula deixou isso claro no encontro.
Claro, o mundo precisa ouvir Ahmadinejad. Precisamos lhe dar o palco para que ele defenda a destruição de Israel (ele não recuou) e para que ele negue o Holocausto (ele não recuou). Com efeito, José Dirceu: se não for Lula a lhe dar tal chance, quem será?

Se o professor escolheu torcer os fatos, não pode alegar desconhecimento de que a principal ameaça à paz mundial é a existência de um mundo unipolar.
O período não faz sentido. Ainda que fosse uma bobagem, o certo seria escrever: “Se o professor NÃO ESCOLHER torcer os fatos…” Afinal, para não “alegar” o desconhecimento  — e, pois, expressar o reconhecimento de um ponto de vista que é do próprio Dirceu —, o professor teria de escolher apegar-se àquilo que Dirceu considera os fatos… É uma questão de linguagem e de lógica. Dirceu atrapalhou-se com uma espécie de dupla negação que há em “NÃO pode alegarDESconhecimento”. É coisa típica de uma mente um tanto perturbada, que não consegue distinguir o certo do errado, o bem do mal e, como estamos cansados de saber, o mocinho do bandido. Daí a escolha invariável dessa gente pelo errado, pelo mal… e pelo bandido!

As principais guerras recentes (Iugoslávia, Iraque, Afeganistão) foram produto desse desequilíbrio.
Como é que é? O que tem a “guerra da Iugoslávia” a ver com a do Iraque e com a do Afeganistão? Digamos, para efeitos de pensamento apenas, que a do Iraque tenha sido injustificada. Mesmo no mundo perturbado de Dirceu, a intervenção americana no Afeganistão padece da mesma falta de motivos? E a da Iugoslávia? O Ocidente deveria ter permitido que a limpeza étnica se consumasse, inclusive contra os islâmicos da região? Dirceu não sabe o que diz. Ou, pior, sabe, como demonstra o parágrafo seguinte.

Mesmo o terrorismo islâmico tem como uma de suas razões históricas a hipertrofia dos EUA e do sionismo no Oriente Médio, que condenam o povo palestino a ser uma nação sem Estado, os países árabes a um cerco permanente e o Irã a uma ameaça constante de agressão militar por parte de Israel.
Entenderam? O terrorismo é uma reação à hipertrofia dos EUA e ao sionismo. Assim, entende-se, é preciso antes dar um jeito nessas duas deformações. Segundo Dirceu, é Israel quem ameaça permanentemente o Irã, não o contrário. Agora entendi: os verdadeiros culpados pelos atentados de 11 de setembro foram as próprias vítimas. Quando um terrorista palestino joga foguetes em Israel ou explode um bomba num ônibus ou numa pizzaria, os culpados por isso são os judeus. Faltava-nos esta iluminação: para Dirceu, o terrorismo, que qualquer pessoa decente considera sempre culpado, é inocente quando ataca e quando é atacado.

Os sucessivos acordos de paz fracassados pedem que outros países, como o Brasil, contribuam com uma interlocução positiva no Oriente Médio. Por isso, receber Ahmadinejad foi, sim, uma decisão acertada.
Está dada qual é a”contribuição positiva” que o Brasil tem a dar: apoio ao terrorismo e às ditaduras e censura às democracias americana e israelense. E não pensem que Dirceu fala por si mesmo. Ele vocaliza o pensamento petista. Felizmente, o mundo começou a se dar conta dessa picaretagem. Já percebeu que o Brasil resolveu ter os párias como aliados.

Concluindo
Por que um jornal como a Folha precisa de Dirceu? Respondo como leitor: talvez porque, a exemplo do resto da grande imprensa, o jornal esteja preocupado em demonstrar que é plural e não tem lado. Eis um gigantesco equívoco mesmo segundo esse princípio.

A grande imprensa, entendo, tem mesmo de ser plural, o que, convenham, de hábito, não é. Cadê as vozes críticas à tese do aquecimento global, para citar um exemplo quente? A defesa do terrorismo, no entanto, deve fazer parte da pluralidade aceitável? Quando Dirceu livra os terroristas de suas responsabilidades, ele os defende por vias oblíquas. Acatar tal voz não revela pluralidade, mas concessão à defesa de um crime de lesa humanidade. “Ah, é importante saber o que eles pensam”. Para tanto, ele conta com os seus próprios meios.

Eis aí o verdadeiro PT! O mensaleiro Dirceu, pensando essas porcarias, é hoje um dos principais articuladores da candidatura de Dilma Rousseff à Presidência.

Com a serenidade possível, sem paranóia, os judeus que vivem no Brasil, brasileiros ou não, devem refletir profundamente sobre as palavras de Dirceu. O anti-sionismo sempre foi um excelente armário para esconder o anti-semitismo. Não ouso dizer que Dirceu seja um anti-semita por convicção porque lhe faltam cultura política e informação mesmo para escolher essa ignomínia. Deve-se prestar atenção às escolhas de um governo, de um partido, de um político. O governo Lula, o PT e José Dirceu escolheram o Irã de Ahmadinejad. E a escolha de Ahmadinejad, como sabemos, é destruir Israel e, por conseqüência, os judeus. É ele quem diz isso, não sou quem lhe atribui tal intenção.

Ah, sim: se judeus há no PT, aí já considero que não seja matéria de política, mas de psicanálise. Cumpre saber a origem psíquica da atração pelo algoz.

AINDA A VENEZUELA: QUANTO CUSTA FAZER UM SENADOR ENTENDER UM “PRINCÍPIO”?

Celso Amorim, o megalonanico ministro das Relações Exteriores, o homem que submeteu a política externa brasileira a uma sucessão inédita de vexames, divulgou uma nota em que saúda a entrada na Venezuela no Mercosul. Além da retórica integracionista, vem a cascata de sempre de que a decisão é vantajosa para o Brasil por causa do comércio bilateral.

Há várias coisas aí. Em primeiro lugar, ainda que isso fosse verdade, a política externa de um país não pode se limitar à questão comercial. Em segundo lugar, a Venezuela teria como deixar de comprar do Brasil o que compra? E compraria de quem? Ainda não está no Mercosul, e o comércio bilateral está dado. Em terceiro lugar, este gigante por fora — a gente nem imagina como é por dentro — não revela que o que contou na decisão soberana de alguns senadores não foi o comércio bilateral, não foi a ideologia, não foi essa cascata da integração. O que contou mesmo foi o lobby das empreiteiras com interesses naquele país.

Vale dizer: o Brasil marca a sua proximidade com um ditador, que anda metido em lambanças obscuras com um financiador do terrorismo, em nome de nobres princípios. Vejam que coisa linda! O consenso, obviamente burro, é o de que a direita faz tudo em nome dos negócios e do pragmatismo; a esquerda é que seria chegada a um princípio… Pois é: este dito direitista lastima o lobby das empreiteiras, que desempatou o jogo em favor da Venezuela, e pergunta àquelas amantes do concreto armado da democracia: QUANTO CUSTOU FAZER ALGUNS SENADORES ENTENDEREM UM PRINCÍPIO?

O SENADO DIZ SIM A CHÁVEZ: BRINCANDO COM O LOUCO E COM O PERIGO

Por 35 votos a 27, o senado brasileiro aprovou o ingresso da Venezuela no Mercosul. Agora falta apenas a concordância do Parlamento paraguaio, onde a reputação de Hugo Chávez não é lá essas coisas. O governo Lula patrocina essa aproximação e marca mais um encontro com a confusão. Onde quer que Chávez se meta, o que se tem é desagregação, retórica beligerante e, cada vez mais, proximidade com o perigo.

Alguns senadores no Brasil deram aquele votozinho hipócrita: dizem ter-se pronunciado a favor do ingresso da Venezuela, não de Chávez. Entendo… Se, nas democracias, pode se fazer a distinção entre o país e o governante, nas ditaduras e regimes autoritários, isso não é possível — ou é: trata-se de colaboração com o ditador. O mais entusiasmado defensor de Chávez, ontem, foi o senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Um gigante!

Hillary Clinton mandou um duro recado aos países da América Latina que se aproximam do Irã. É claro que o primeiro alvo é a Venezuela. O outro é o Brasil. Não falava por falar. A proximidade do Bandoleiro de Caracas com o regime de Teerã já é mais do que isso: trata-se de uma parceria com potencial literalmente explosivo. E é isso o que o Brasil está trazendo para o Mercosul.

No Wall Street Journal de ontem, o colunista Bret Stephens evidenciou uma proximidade mais perigosa do que habitualmente se imagina entre Chávez e Ahmadinejad, o que explica a fala surpreendentemente dura de Hillary. Com uma ironia ao ponto, ele observa: “Hugo Chávez e Ahmadinejad vão se encontrar na Cúpula do Clima em Copenhague. Diga-se o que se disser desses dois gentlemen — apoio a terroristas, negação do holocausto, supressão de liberdades civis —, ninguém poderá acusá-los, no entanto, de negadores do aquecimento global“. Perfeito!

Sem ignorar o lado farsesco da coisa, o articulista lembra que os dois presidentes estiveram juntos em Caracas no mês passado — 11ª encontro — cuidando, como sempre, de programas ambientalmente corretos e que emitem pouco carbono. “Bicicletas, por exemplo”. Em 2005, Chávez estimulou seu país a produzir bicicletas iranianas. Um laticínio, também iraniano, foi construído na fronteira com a Colômbia. Em território dominado pelas Farc. Sem dúvida, uma ação de grande sensibilidade ecológica.

Em Ciudad Bolívar, há uma fábrica iraniana de tratores. Em janeiro, a Associated Press noticiou que autoridades turcas apreenderam 22 contêineres a caminho da Venezuela, vindos o Irã, com o seguinte rótulo: “Peças de trator”. Segundo um oficial turco, eles continham material suficiente para montar um laboratório de explosivos. FOI A FAVOR DISSO QUE OS SENADORES BRASILEIROS VOTARAM ONTEM.

A aventura mais interessante do Irã no Venezuela, escreve Stephens, é uma suposta mina de ouro que fica perto de Salto del Angel (ver o primeiro mapa), na área conhecida como Bacia Roraima, quase na fronteira com a Guiana, onde a empresa canadense U308  afirma ter descoberto uma reserva de urânio (ver terceiro mapa) semelhante à da Bacia Athabasca, no Canadá, considerada a maior do mundo. Nota à margem: isso tudo fica ali pertinho da reserva Raposa Serra do Sol (ver segundo mapa), aquela dos índios telúricos de Ayres Britto, onde também existe urânio. Em 2006, Chávez chamou de “mentirosa” a acusação da cooperação nuclear entre Irã e Venezuela. Há três meses, o governo admitiu a cooperação técnica do Irã para procurar… urânio!




Em janeiro de 2008, Chávez abriu as portas para o Banco Internacional de Desenvolvimento, uma instituição iraniana, em que todos os diretores são… iranianos. Tahmasb Mazaheri já foi o presidente do Banco Central do Irã. A Venezuela passou ainda a fazer vôos regulares para Teerã e Damasco, e o Irã estabeleceu uma rota de navio com o seu parceiro na América do Sul. Vocês podem imaginar a intensa circulação de turistas entre os dois países… Seria interessante saber o que vai na carga dos aviões e navios.. Aposto que não há boas intenções ali.

Mercadante e outros 34 senadores acreditam que Chávez tem uma grande colaboração a dar no Mercosul. Mais uma vez, o Brasil tenta lavar a biografia de um tiranete para mostrar sua independência. Ocorre que Chávez já deixou de ser apenas folclórico faz tempo.

Quem quiser pode temperar este texto com a proposta de Samuel Pinheiro Guimarães, o novo titular da Sealopra, de que o Brasil passe a vender urânio enriquecido. Para fins pacíficos, é claro.

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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