Engraçada e cínica a reação de petistas e petralhas diante dos descalabros do esquema Bancoop: “Ah, isso é notícia velha, requentada!” Velho, nesse ramo, é o passado do PT! Que o escândalo é antigo, disso ninguém dúvida. Já houve manifestações de protesto das pessoas que tiveram a vida arrasada pelos “companheiros”: investiram suas economias no sonho de um apartamento próprio e acabaram enriquecendo larápios.
Também já se suspeitava que o “Bangolpe” desviava recursos para o PT e para o bolso dos chefes da cooperativa. Mas faltavam as evidências materiais da safadeza. E elas apareceram. Sim, a investigação é antiga, como atestam as primeiras palavras da reportagem de VEJA — “Depois de quase três anos de investigação…”—, mas há evidências que são notícia fresquinha: “O Ministério Público de São Paulo finalmente conseguiu pôr as mãos na caixa-preta que promete desvendar um dos mais espantosos esquemas de desvio de dinheiro perpetrados pelo núcleo duro do Partido dos Trabalhadores: o esquema Bancoop”.
O que se tem agora e não se tinha até a semana passada:
1 - 8.000 páginas de registros de transações bancárias realizadas pela Bancoop entre 2001 e 2008;
2 – As evidências dos saques na boca do caixa feitos pela diretoria da cooperativa; no lote analisado, apenas uma parte dos documentos recebidos, eles já somam R$ 31 milhões;
3 – o pedido do Ministério Público de quebra de sigilo bancário de João Vaccari Neto, ex-diretor financeiro e ex-presidente da cooperativa e atual tesoureiro do PT e da campanha de Dilma Rousseff à Presidência;
4 – o valor de dinheiro transferido da cooperativa para o bolso de quatro dirigentes da cooperativa: o ex-presidente Luiz Eduardo Malheiro e os ex-diretores Alessandro Robson Bernardino, Marcelo Rinaldo e Tomas Edson Botelho Fraga – os três primeiros mortos em um acidente de carro em 2004 em Petrolina (PE). No total, R$ 10 milhões — no lote já analisado dos documentos, destaque-se;
5 – a informação de que 11 cheques, totalizando 1,5 milhão, datados entre 2005 e 2006, foram parar numa “empresa de segurança” de Freud Godoy — aquele do escândalo dos aloprados. A dita-cuja ficava em Santana do Paranaíba, cidade conhecida por contar com muitas empresas que só existem no papel. Os vizinhos nunca a viram funcionando no nº 89 da Rua Alberto Frediani.
MAS O LEITOR ESTÁ CERTO EM INTUIR QUE AINDA FALTA SABER MUITA COISA, NÃO É? E, BEM, ACHO QUE VAMOS FICAR SABENDO.
Fundos de pensão
O caso Bancoop é uma espécie de escândalo-símbolo ou escândalo-emblema do que é o petismo — ou, mais amplamente, de como se comporta isto que chamo “nova classe social” no poder. Recorri a esta expressão antes do sociólogo de esquerda Francisco de Oliveira; daí empregar a primeira pessoa. Eu até a batizei, como bem sabem os meus leitores mais antigos: “burguesia do capital alheio”.
O escândalo é exemplar porque não lhe falta o clássico desvio de dinheiro para o partido. Nesse sentido, antecipa, como apontado por VEJA, uma das faces do escândalo do mensalão do PT. Não lhe falta ainda o puro e simples enriquecimento ilícito de alguns “companheiros”. Afinal, vocês sabem, a ideologia dessa gente não é assim tão de ferro que resista ao ouro… Mas não é aí que está a cereja do bolo.
E onde está a cereja?
1 – como vocês já leram, Luiz Eduardo Malheiro, Alessandro Robson Bernardino, Marcelo Rinaldo e Tomas Edson Botelho Fraga eram diretores da Bancoop. Mas também eram, vejam que fabuloso!, donos da Germany Empreiteira, que tinha um único cliente: a Bancoop!!!;
2 – A Germany era a empresa que fazia a lambança com a dinheirama, conforme atesta ao Ministério Público um outro Malheiro, Helio, irmão de Luiz Eduardo, morto num acidente em novembro de 2004, em companhia de Bernardinho e Rinaldo. Ameaçado de morte, Hélio está num programa de proteção a testemunhas;
3 – Uma outra testemunha disse ao Ministério Público que Luiz Eduardo entregava envelopes de dinheiro diretamente a Vaccari, o chefão do PT;
4 – em 2004, Luiz Eduardo procura Ricardo Berzoini, então ministro do Trabalho, e diz que a cooperativa precisa de ajuda;
5 – em novembro de 2004, acontece o acidente de carro (ver post abaixo), e Vaccari assume a presidência da cooperativa;
6 – em dezembro, a Bancoop, que já estava quebrada, conseguiu captar no “mercado”, por meio da corretora Planner, nada menos de R$ 43 milhões — R$ 36,9 milhões dos quais saíram dos fundos de pensão de estatais controlados pelo… PT!!!
7 – Como dizia Clodovil, “boi preto conhece boi preto”: a corretora Planner foi investigada pela CPI dos Correios sob a acusação de ter causado um prejuízo de R$ 4 milhões ao fundo de pensão da Serpro.
Eis a cereja: cooperativa, fundos de pensão, estatais… Perceberam como essas coisas se misturam num todo orgânico, e o conjunto, no fim das contas, obedece a um ente, a um cérebro, que é o partido? Não por acaso, Vaccari foi presidente do Sindicato dos Bancários, dirigente da CUT, presidente da Bancop e é agora o tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff à Presidência.
O nome de Vaccari, que presidia a cooperativa em que se fizeram saques na boca do caixa de pelo menos R$ 31 milhões, aparece no escândalo dos aloprados. Foi para ele que Hamilton Lacerda, o homem que carregava a mala de grana do dossiê dos aloprados, ligou uma hora antes de fazer o pagamento. Sintetizo: Lacerda, braço direito de Aloizio Mercadante, ligou para Vaccari, o homem da cooperativa do dinheiro vivo, que coordenava a campanha do senador ao governo de São Paulo em 2006 e que também é seu segundo suplente. A Polícia Federal não conseguiu descobrir a origem do dinheiro.
Pedro Abreu Dallari, advogado da Bancoop, tem uma explicação para a coisa toda: alimentar o pedido do PSDB de CPI na Assembléia paulista. “É a única explicação que encontro para tantas leviandades.” É a famosa tese da conspiração dos adversários.
A gente não deve perguntar a Dallari — já que ele é pago para defender — se também é leviandade apontar o rombo de mais 100 milhões na cooperativa e as três mil famílias lesadas pelos “companheiros”. Vai ver isso tudo não passa de uma trama tucana!
Pedrinho vai ter de usar melhor o seu bodoque. Essa história parece bem longe do fim.