No dia 13, antes de o vulcão daquela sopa de letras da Islândia, a geleira Eyjafjallajökull, voltar a dar sinais de vida - ou, sob certo sentido, de morte (já havia entrado em erupção no mês passado; mas só serviu ao delírio turístico) -, escrevi aqui um texto intitulado E QUEM VAI PROTEGER O PLANETA DA AÇÃO DOS QUE PROTEGEM O PLANETA? Ironizava, então, a inocência prepotente dos “defensores da natureza”. Imaginam que devemos nos comportar como os Na’vi de Pandora, do filme Avatar, e que a deusa Eywa sempre nos protege. Não! O nosso “rabo” está conectado é com o domínio da natureza, não exatamente com a sua conservação. E Eywa nos odeia. Naquele texto, eu criticava certa postura da senadora e presidenciável Marina Silva (PV-AC). Escrevi então:
Talvez Marina não saiba, mas só o comunismo e as duas grandes guerras (com larga vantagem daquele) rivalizam com a Deusa Eywa na sua disposição de ceifar vidas humanas - e isso em períodos determinados, claro. No conjunto, Eywa mata muito mais, sabem? Ela é tão perversa que tem o poder de extinguir civilizações. Não fossem um carboninho aqui, outro ali, que aprendemos a emitir por causa, parece, de uma mutação bacana no córtex cerebral e no cerebelo, a vaca - ou esses macacos pelados - já teria ido para o brejo faz tempo. No mundo real, Eywa tende a um equilíbrio que nos é estranho. Do nosso ponto de vista, é burra como uma porta.
Se Eywa decide derramar aquele aguaceiro sobre morros desabitados, haverá só terra caindo sobre terra. Se houver casas por lá, então terá havido um desencontro entre a natureza e o homem, e a mãe vira madrasta. A chuva do Rio não tem rigorosamente nada a ver com o aquecimento global. No Brasil, o populismo certamente mata ainda mais do que o aquecimento.
Voltei
Troquem a chuva pela fumaça tóxica. Ah, a turma do ambientalismo cego não venha encher o meu saco. É claro que eu sou contra a devastação da natureza, ora essa! Mas o vulcão da sopa de letras prova a grande arrogância dessa gente, que não só considera que a natureza é nossa vítima como acredita que temos pleno domínio sobre seus desígnios. Os terremotos e tsunamis estão aí para provar que não. Os furacões também. Agora a fumaça vulcânica. O bicho estava quieto havia 200 anos. Toda a tecnologia aeronáutica se desenvolveu sem levar esse fator em conta. Se o troço continuar a expelir aquela porcaria toda no ar, a economia fica à beira de um colapso.
E nenhum tonto do Greenpeace poderá, sei lá, se amarrar à boca do vulcão para exigir que ele pare de fazer merda. Já há até quem esteja avaliando o que o evento significa segundo a ótica do…, bem, aquecimento global!!!
O Eyjafjallajökull (decorem esta seqüência de letras!!!) evidencia a tolice dos que supõem que nada mais nos resta a fazer a não ser ninar a natureza como um bibelô ou como a Grande Mãe. James Cameron deveria aparecer por lá e conectar seu rabo (é preciso ter visto o filme para saber que estou sendo delicado) ao “espírito profundo” da Terra. Estaria ela a nos mandar um recado?
É claro que toda essa conversa mole do ambientalismo - que é diferente de cuidar da sanidade do meio ambiente - não é responsável pela instabilidade do humor daquela que é ainda nossa (da civilização) maior inimiga: a natureza. O evento - que pode gerar um colapso mundial no transporte de pessoas, de bens e de… cultura - demonstra que ainda não chegou o momento de declararmos encerrada a nossa luta contra a natureza; ainda não chegamos ao ponto em que só nos resta ser bons.
Por favor, ambientalistas! Sejam mais respeitosos com nossa grande inimiga!
Afirmei aqui outro dia que o MST havia invadido a reportagem e a primeira página do Estadão. E temi: “Só lhe falta agora invadir os editoriais”. Por enquanto, não! Por enquanto, eles continuam a defender a lei e a produção. Segue outro deste domingo:
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Desde que surgiu, o Movimento dos Sem-Terra (MST), sob o pretexto de realizar uma reforma agrária no País, tem se dedicado a práticas cuja ilegalidade jamais foi posta em dúvida, decerto nem por seus militantes, visto que desprezam o Direito “burguês” e a legislação penal, que considera crime as invasões de propriedades e outras formas de violência adotadas por esse movimento que se pretende social.
O problema maior, no entanto, é a grande complacência com que os governos - e, em particular, o governo Lula - têm tratado os crimes cometidos pelos sem-terra: depredações, destruição de equipamentos e plantações, matança de animais, vandalismo, cárcere privado imposto a empregados rurais, ocupação de prédios públicos e de rodovias, saques de cabines de pedágio, etc. Apesar de as operações do MST e assemelhados, especialmente as sazonais, como o “Abril Vermelho”, que ocorre há 13 anos, serem anunciadas com grande antecedência, não tem havido medida governamental alguma que as previna ou que desestimule esse desrespeito contumaz à lei, pelo menos deixando de consagrar sua já crônica impunidade.
Daí a importância da campanha denominada “Vamos tirar o Brasil do Vermelho - Invasão é crime”, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), sob o comando da senadora Kátia Abreu (DEM-TO). Ela protocolou junto ao ministro da Justiça um documento - o Plano Nacional de Combate às Invasões de Terras - solicitando apoio do governo federal contra as ações do “Abril Vermelho”, executadas pelo MST em todo o País. A CNA contratou assessoria jurídica para acompanhar todos os processos que já existem contra líderes dos movimentos de sem-terra. “Não queremos que isso caia no esquecimento. Essa farra da impunidade vai acabar nos campos, para que parem de zombar dos produtores rurais”, declarou a senadora, chamando entidades de vários setores para formar um observatório nacional, com o objetivo de dar combate à insegurança jurídica no campo.
Em São Paulo o MST deu sequência ao anunciado “Abril Vermelho” deste ano, com a invasão de 9 fazendas. Entre os alvos atuais está a Fazenda Tozan, antiga Fazenda Monte D”Este, no município de Campinas, considerada um patrimônio histórico, com instalações que datam de 1789. A propriedade, de 495 hectares, foi invadida por 150 militantes sem-terra. Em todo o País, até sexta-feira haviam sido invadidas 42 propriedades rurais: 19 em Pernambuco, 9 em São Paulo, 5 na Paraíba, 3 em Sergipe, 2 no Ceará, 1 no Rio Grande do Sul, 1 em Santa Catarina, 1 em Minas Gerais e 1 em Mato Grosso do Sul. Nesta “temporada”, só em São Paulo os emessetistas ainda invadiram escritórios regionais do Instituto de Terras do Estado em Itapeva e Araraquara, núcleos de apoio do Incra em Iaras e Araraquara e agências do Banco do Brasil em Promissão e em Teodoro Sampaio.
É claro que o respeito ao ordenamento jurídico, que é devido por todos, tem que ser entendido como benefício a todos, independentemente do valor do desempenho de qualquer atividade econômica. Nem por isso deixam de ser oportunas as palavras da senadora Kátia Abreu, a respeito da importância do agronegócio, prejudicado maior pelo sistemático desrespeito à lei perpetrado pelos movimentos de sem-terra. “Somos campeões na produção agropecuária, os maiores e melhores do planeta. O Brasil é o segundo maior exportador”, afirmou a senadora, lembrando que 1/3 do PIB e 1/3 dos empregos no País provêm da produção rural e enfatizando: “O que salvou o Brasil da crise foi o superávit de US$ 250 bilhões do nosso setor, acumulado ao longo dos últimos dez anos.”
Referindo-se ainda a quanto o segmento agropecuário poderia produzir a mais, caso os litígios no campo fossem resolvidos, a presidente da CNA apresenta este dado: “Só em Mato Grosso são 2 milhões de hectares em litígio, o equivalente a Sergipe, que, se estivessem em produção, renderiam R$ 850 milhões, somente em arrecadação tributária.”
Sem dúvida, é alto o custo da insegurança jurídica.
Por Adriana Carranca, no Estadão:
De olho em um robusto eleitorado entre as 12,5 milhões de famílias - ou mais de 50 milhões de brasileiros - beneficiadas pelo Bolsa-Família, os pré-candidatos à Presidência são só elogios ao programa. Na semana passada, José Serra (PSDB) prometeu mais de uma vez manter e “reforçar” o benefício, “porque funcionou”. Marina Silva (PV) garantiu avançar com o programa, que considera responsável por uma “quebra de paradigma” na área social. Dilma Rousseff (PT) o coloca como o “melhor do mundo”.
Nem governo, nem oposição, porém, podem afirmar se o modelo de transferência de renda do Bolsa-Família é de fato capaz de impedir que a pobreza passe de geração em geração. Isso só seria possível com o acompanhamento de um grupo de beneficiários por longo prazo, mas o estudo de impacto nunca foi feito. Em 2004, o governo federal chegou a levantar dados das 15,4 mil famílias, escolhidas por amostragem, que teriam condições de vida reavaliadas a cada dois anos - 2006, 2008 e 2010. Não houve acompanhamento.
Cerca de U$ 15 milhões do empréstimo feito com o Banco Mundial, que seriam destinados ao estudo, ficaram parados nos cofres do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) desde então.Segundo a secretária nacional de Renda e Cidadania, do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), Lucia Modesto, entraves burocráticos e exigências emperraram o processo. “Até o idioma foi uma barreira”, disse, referindo-se à obrigatoriedade de licitação internacional.
Pesquisas. O fim do impasse ocorreu no ano passado, quando se decidiu por um consórcio entre o International Food Policy Research Institute (IFPRI), experiente em pesquisas de impacto de programas de transferência de renda na América Latina, e a consultoria Datamétrica.Os pesquisadores saíram a campo em setembro, com quase quatro anos de atraso. “Mas, tiveram dificuldades para localizar as famílias tanto tempo depois”, revela a secretária.
Levantamentos como o do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de janeiro, mostram que o programa ajudou a reduzir o número de pobres no País, uma vez que transfere dinheiro diretamente às famílias. Mas, sem o estudo de impacto, não é possível saber se a redução é sustentável no longo prazo.