Ópera dos Malandros, POR AUGUSTO NUNES

Publicado em 24/07/2010 10:45

Ópera dos Malandros

(1989. Lula e Collor estão num estúdio de televisão, em bancadas próximas. Há um apresentador entre eles. O cenário informa que se trata de um debate eleitoral)
Lula: 
Meu adversário representa a elite exploradora. É moço na aparência, mas representa o Brasil antigo, o Brasil velho, o Brasil que precisa acabar.
Collor: O outro candidato defende abertamente a luta armada, a invasão de casas e apartamentos. (Vira-se para Lula). Você é um cambalacheiro. Fez cambalacho com o Sarney.
Lula: O Sarney é um incompetente, incapaz. Mas se quiser pode votar em mim. (Vira-se para Collor). Você também pode. Mas mesmo assim eu não teria nada de parecido com você.
Collor: Você não saba a diferença entre uma duplicata e uma fatura. É um ignorante.

(1989. Lula está sozinho num estúdio de TV. O cenário mostra que se trata do programa eleitoral do PT)
Lula: 
Meu adversário é o candidato dos corruptos. Ele representa a elite que sempre explorou os pobres do Brasil.

(1989. Collor está sozinho num estúdio de TV. O cenário mostra que se trata do programa eleitoral do PRN)
Collor: Não sou eu quem diz que Lula quis forçar o aborto. Quem diz é Miriam Cordeiro, mãe da Lurian.

(1992. Lula está num estúdio de rádio ao lado de um jornalista. O jornalista pergunta se tem pena de Collor. O entrevistado responde com voz pausada)
Lula: Tenho pena do Collor. Não é que eu tenho pena. Como ser humano eu acho que uma pessoa que teve uma oportunidade que aquele cidadão teve de fazer alguma coisa de bem para o Brasil, um homem que tinha respaldo da grande maioria do povo brasileiro, ou seja. E ao invés de construir um governo, construir uma quadrilha como ele construiu, me dá pena, porque deve haver qualquer sintoma de debilidade no funcionamento do cérebro do Collor. Efetivamente eu fico com pena, porque eu acho que o povo brasileiro esperava que essa pessoa pudesse pelo menos conduzir o país, se não a uma solução definitiva, pelo menos a indícios de soluções para os velhos problemas que nós vivemos. Lamentavelmente a ganância, a vontade de roubar, a vontade de praticar corrupção, fez com que o Collor jogasse o sonho de milhões e milhões de brasileiros por terra. Mas de qualquer forma eu acho que foi uma grande lição que o povo brasileiro aprendeu e eu espero que o povo brasileiro, em outras eleições, escolha pessoas que pelo menos eles conheçam o passado político”.

(2005. Collor está numa sala de sua casa em Maceió, ao lado de um jornalista)
Collor: O mensalão mostrou quem são os corruptos, os ladrões do país. Eles hoje estão no governo. O Lula é o chefe.

(2007. Lula está cercado de jornalistas numa sala grande no Palácio do Planalto)
Lula: 
O senador Fernando Collor tem tudo para fazer um grande mandato.

(2009. Claramente irritado, Collor está na tribuna do Senado)
Collor: Nenhum ataque ao  ao presidente Lula ficará sem resposta!

(2009. Lula e Collor estão juntos num palanque em Alagoas)
Lula: 
Tenho de agradecer o companheiro Fernando Collor pelo bom trabalho que está fazendo.

(2010. Num palanque em Maceió, Lula, Collor e Dilma Rousseff estão de mãos dadas, dançando e cantando, em coro com a plateia, o refrão do jingle da campanha do candidato a governador de Alagoas)
Todos: É Lula apoiando Collor,/é Collor apoiando Dilma/pelos mais carentes./É Lula apoiando Dilma,/é Dilma apoiando Collor/para o bem da nossa gente.

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Vinte anos depois da cena inicial, Collor ajuda Lula a tentar eleger a sucessora e Lula ajuda Collor a reiniciar a aventura que resultou, entre outras obscenidades, no confisco da poupança, na roubalheira medonha e no despejo vergonhoso. A ausência de valores morais e princípios éticos é o traço comum que permitiu a dois sessentões descobrirem só agora que foram amigos de infância. A Ópera dos Malandros encontrou a apoteose mais que perfeita.

O presidente Juscelino Kubitschek ensinou que um estadista não tem compromisso com o erro. O presidente Lula, comprometido por erros incontáveis, não tem compromisso com a verdade. Provas e evidências materiais, testemunhos irrefutáveis, confissões detalhadas ─ nada é capaz de obrigá-lo a reconhecer um fato. Se as conveniências eleitorais recomendarem, Lula é capaz de negar que é Lula com a mesma seriedade aparente que sublinhou o palavrório que negou a existência de vínculos entre o partido que fundou e os narcoguerrilheiros da selva colombiana.

“É uma irresponsabilidade tratar o PT como tendo qualquer ligação com as Farc, é não conhecer nada da história política do Brasil”, recitou. “Se as pessoas pensassem antes de falar as bobagens que falam, não falavam tanto”. Irresponsável é quem diz uma coisa dessas. O presidente não conhece nada da história do Brasil e não pensa antes ou depois de falar. Mas sabe o suficiente para poupar o país das bobagens que diz.

Só um campeão do cinismo pode fazer de conta que as reuniões do Foro de São Paulo foram encontros sociais, ou que o vídeo abaixo que registra a discurseira de Montevidéu é uma montagem. Só um canastrão de chanchada pode fingir que não foi por decisão do Primeiro Companheiro que a Colômbia se transformou no único país com dois embaixadores em Brasília. Além do diplomata que representa o governo constitucional, há o representante das Farc. Chama-se Francisco Antonio Cadena Collazos. É mais conhecido como Olivério Medina, ou Padre Medina, ou Camilo López, ou El Cura Camilo.

Condenado pela Justiça colombiana, o ex-padre que trocou a Igreja Católica pela narcoguerrilha cruzou a fronteira clandestinamente.Capturado pela Polícia Federal, não foi devolvido ao país de origem para pagar pelos crimes que comete. O apadrinhamento dos companheiros no poder e a miopia do Supremo Tribunal Federal promoveram Medina primeiro a refugiado político e, depois, a embaixador informal.

Pelas normas do Itamaraty, só o embaixador oficial fala pela Colômbia. Como o parentesco ideológico com o PT tem  precedência, só Medina é ouvido. Pelo cerimonial do Itamaraty, só a mulher do embaixador oficial deve ser tratada como embaixatriz. Como a sem cerimônia do PT tem precedência, só a mulher de Medina ─ a brasileira Angela Maria Slongo ─  recebe tratamento especial desde 2006, quando se tornou uma das damas da corte companheira. Até então funcionária do governo do Paraná, Angela foi instalada num cargo da confiança do Ministério da Pesca por determinação de Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil. Pousou em Brasília não por entender de iscas e anzois, mas porque o marido preso precisava de conforto.

Minutos depois da ruptura unilateral de relações diplomáticas com a Colômbia, decretadapelo venezuelano Hugo Chávez, o presidente Lula candidatou-se a mediador da crise que envolve dois vizinhos. Não está interessado em remover focos de conflito, mas em afastar o amigo Chávez do banco dos réus da Organização dos Estados Americanos. Melhor trazer o caso para tribunais controlados pela turma bolivariana. Não há pendências a arbitrar. O bufão venezuelano não pode proteger, financiar, armar e hospedar os bandidos de estimação. Chávez é o criminoso. A Colômbia é a vítima.

O presidente Uribe deveria sugerir ao vizinho espertalhão que primeiro restabelecesse a paridade diplomática implodida há quatro anos. Ou reduzindo à metade a representação colombiana, com a demissão de Medina, ou duplicando a representação venezuelana, com a nomeação de um segundo embaixador indicado pelos opositores de Chávez. O macunaíma piorado não faria uma coisa nem outra. E ficaria ainda mais claro que, para Lula, os colombianos são tão incuravelmente idiotas que lhe parecem capazes de aceitar como mediador o advogado do inimigo. 

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Fonte:
Blog Augusto Nunes (VEJA)

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