De Augusto Nunes: descoberta a coleção de obras de arte que Dilma fingiu que tinha

Publicado em 29/07/2010 18:53 e atualizado em 30/07/2010 10:53


O jornalista Celso Arnaldo acaba capturando Dilma Rousseff até quando não sai à procura do alvo preferido. Nesta, por exemplo, o grande caçador de cretinices topou com a candidata quando estava posto em sossego na sala de espera de um consultório médico. Confira:

“Também gosto muito de pintura e tenho a minha galeria”, fantasia Dilma Rousseff numa entrevista dada a duas repórteres da revista Claudia, publicada no ano passado sob o título “A mulher que quer governar o Brasil”, que pretendia revelar o “lado mulher” da então poderosa chefe da Casa Civil ungida por Lula. Só descobri essa entrevista hoje cedo, num consultório médico.

Descobrir que uma candidata à Presidência da República tem uma galeria de pinturas na residência oficial seria, por si só, uma outra pauta de matéria. Antes disso, ela já tinha revelado às jornalistas sua paixão por música (“Bach e Vivaldi estão sempre comigo”) e leitura (“estou na fase dos angolanos”). Enfim, uma ministra ligada às mais altas manifestações do espírito. Mas uma das repórteres de Claudia quer confirmar a informação:

“A senhora coleciona obras de arte em casa?”

A resposta de Dilma deve ter deixado as moças atônitas – mas elas ainda não conheciam a Dilma que nós conhecemos hoje. Provavelmente tomaram por excentricidade o que era apenas uma galeria de empulhação, mentira, contrafação, ignorância:

“No computador. Entro nos sites dos museus famosos, como o Metropolitan, acesso as que quero e baixo. Se estou numa fase impressionista, seleciono obras impressionistas. Atualmente, prefiro as japonesas. Para mim, literatura, música e pintura são instrumentos de descoberta. A nossa aventura neste mundo passa por compartilhar a arte. Por meio dela, acesso um pouco a raça humana. Se não tiver essa dimensão, entendo bem menos as pessoas.”

É realmente impressionante, mais do que impressionista, esse museu virtual da Dilma. Instalada num pen drive, a pinacoteca está distribuída em diversas alas e salas. No hall nipônico, as obras escolhidas são da escola Shinkansen – o trem-bala japonês. Mas a ala preferida de Dilma é a das pinturas rupestres, onde ela acessa a raça humana em seus primórdios. Ali há também uma reconstituição do crânio de Luzia, a primeira brasileira, sua conterrânea mineira – e símbolo de um Brasil de 11 mil anos atrás que Lula começou a mudar em 2003.

De Luzia, Dilma herdou a sintaxe primitiva.

Celso Arnaldo: Dilma junta numa revista tango com cadeia, pensão com trabuco, Glauber com Bituca e muito mais

Animado com a descoberta da pinacoteca virtual, o jornalista Celso Arnaldo resolveu vasculhar toda a entrevista de Dilma Rousseff à revista Claudia. Topou com uma coleção de espantos que juntam tango com cadeia, pensão com armas, Glauber Rocha com Milton Nascimento, boi com PAC, vida de mãe com vida de cachorro, trem-bala com moleque, Clube da Esquina com assalto à geladeira, fora o resto. E produziu uma obra-prima que a coluna, orgulhosamente, expõe à visitação pública:

Essa pinacoteca virtual de Dilma, mulher de fases, é sem dúvida a Mona Lisa da coleção. Mas o resto da entrevista a Claudia tem um punhado de obras-primas que divido com os comentadores da coluna – pois não há, na mídia brasileira, quem seja capaz de captar melhor, em cada resposta, a verdadeira Dilma que levou no bico as repórteres da revista.

“Desde pequena, tive cachorros, sempre vira-latas. Quando minha filha nasceu, eu lhe dei um policial para que aprendesse a lidar com os bichos.”

Bem, presumo que esse “policial” seja um pastor alemão – há anos não ouço o termo aplicado a um pastor. Ou será um lapso freudiano típico? De qualquer forma, alguém imagina uma mãe dando um pastor alemão para um bebê tomar conta e aprender a lidar com cães antes de ganhar um poodle toy?

Sobre sua paixão por música:

“Aprendi a ouvir tango e jazz na prisão, com uma colega de cela, a professora Maria do Carmo Campello de Souza. Naquela época, passei a entender melhor Astor Piazzola e a apreciar a voz de Ella Fitzgerald. Maria do Carmo tinha muitos discos, que nós tocávamos numa vitrolinha. As caixas de som eram ótimas, feitas por outra presa com caixotes de maçã.”

Ah, essas cadeias brasileiras, tão radicais: ou um inferno ou academia de música, com vitrola e discoteca seleta. Dilma deveria resgatar o projeto desses altofalantes feitos com caixotes de maçã para equipar as casas do Minha Casa, Minha Vida.

Sobre conciliar maternidade e carreira:

“Mas não podemos abrir mão da maternidade. Se você dá a vida, tem que cuidar dela, providenciar alimentação, ver se as orelhas estão limpas… a maternidade dá competência. A capacidade de agregar vem do treino com os filhos. A visão privada amplia a visão pública.”

Explicado de onde Dilma tirou sua proverbial competência – da cerinha do ouvido de sua filha. Por isso é tão tapada.

Sobre sua mesa cheia de imagens e amuletos:

“Vou ganhando e ponho aí para me proteger. A medalha foi do pessoal da Canção Nova. O Jaques Wagner me deu a mãe-de-santo. Ainda guardo o desenho de um garoto sobre o trem-bala que queremos fazer.”

Ou seja: o croquis do trem-bala entra no acervo místico de Dilma.

Sobre ter comparado o PAC a um boi empacado (?????):

“Não o comparei a um boi. A imprensa publicou tudo errado. Uma repórter perguntou se o PAC empacou. Eu respondi: “Não, ele não empacou. Está mais para uma vaquinha. No início era uma vaquinha ma-gérri-ma. Aí, foi ficando gordinha em 2008 e, em 2009, vai virar uma vaquinha de raça”. Foi essa a história.”

Enfim, revelada a verdadeira essência do PAC – é uma vaquinha feita no governo Lula. Para financiar a campanha de Dilma, quem sabe?

Sobre a pensão onde morava na fase de clandestinidade:

“Era simples, tinha um corrimão típico: descascando com a unha, apareciam várias cores, até chegar à madeira. Havia armas ali, sim. Eram algumas pistolas.”

A polícia fechando o cerco, a casa um arsenal e Dilma preocupada com as demãos de pintura do corrimão da pensão? Por isso a luta armada não deu certo no Brasil.

Mas pegou em armas, ministra?

“Sempre tive muitos problemas com a minha visão, uma miopia pesada, de 8 graus num olho e 6 no outro. Não tinha bom ajuste de mira. Eu era ótima para limpar uma arma, ainda sei como desmontar e montar uma.”

Orgulho da coluna como Hors Concours no prêmio Homem sem Visão, a armeira Dilma e uma nova versão do clássico “Fumo, mas não trago”: “Armo, mas não atiro”

Sobre os hábitos culturais da pré-terrorista Stela:

“Lia obras do Celso Furtado, considerado subversivo, e assistia aos filmes do Glauber Rocha, com ele na plateia. Guardo memórias boas, como conviver com Milton Nascimento – para mim, Bituca – e Márcio Borges, parceiro dele. Na casa do Marcinho começou o Clube da Esquina. Ele e eu roubávamos lanche da geladeira da minha mãe… Mas outro dia achei estranho: encontrei Bituca no aeroporto de Porto Alegre, e ele não me reconheceu.”

Por partes. Sempre que ela via um filme do Glauber Rocha, o próprio estava na plateia? O filme vinha com o diretor junto? Era assim naquele tempo? Ou Dilma foi montadora de Terra em Transe e Deus e o Diabo e não contou pra ninguém? Peraí: “roubar lanche” da geladeira da mãe? Na casa da mãe de Dilma, pegar um “lanche” da geladeira era crime? Com que cabecinha a menina Dilma foi para a luta armada? E essa história do Milton/Bituca, então? Será que ele não a reconheceu mesmo? Ou se esforçou para não reconhecer?

As esquinas da vida mudam, Dilma.

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Fonte:
Blog Augusto Nunes (Revista Veja

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