Serra no JN: tucano foi o melhor, mesmo enfrentando a entrevista mais dura (por Reinaldo Azevedo)

Publicado em 12/08/2010 11:24 e atualizado em 12/08/2010 15:00


O tucano José Serra foi o entrevistado desta quarta-feira (11) no Jornal Nacional. O petralha, como a tarântula peluda, se fixa em duas das patas e prepara o bote: “Quer ver o Reinaldo Azevedo escrever que Serra foi o melhor dos três?” Mas não tenham a menor dúvida! E não por conta de minhas supostas ou possíveis afinidades eletivas, mas porque esse é o fato — e, sobre isso, não há a menor dúvida. Foi melhor, usou o tempo com mais propriedade, falou com clareza e não fugiu do que lhe foi perguntado. Foi tão bem que os petralhas vão dizer que a culpa é de William Bonner e Fátima Bernardes…

E os dois jornalistas deram moleza ao tucano? Que eu tenha visto, nenhuma! Ao contrário. Acho que foi a mais dura das três entrevistas. Todas as perguntas, sem exceção, buscaram confrontá-lo ou com suas supostas contradições ou com juízos de valor feitos, muitas vezes, por seus adversários, ali expostos para que ele comentasse ou contraditasse. Então vem a qualidade das respostas. Serra falou com fluência, clareza, com os termos da oração no seu devido lugar e com muita tranqüilidade.  E não procurou se apoderar do tempo. Interrupção mesmo só na saudação final. Deixou que os jornalistas fizessem o seu trabalho. Não contei, mas tenho a certeza de que respondeu a um número maior de perguntas do que Dilma e, sobretudo, Marina, com aquela sua fala caudalosa…

Mensalão
Reitero uma restrição que fiz já na entrevista de Marina: dos três candidatos, só a petista Dilma Rousseff não teve de responder sobre o mensalão. Acho incoerente. Afinal, ela permanece no partido que promoveu aquela lambança. José Dirceu, o principal implicado no caso, chamado pela Procuradoria Geral da República de “chefe de quadrilha”, é coordenador de sua campanha. O que resta como síntese? Marina está fora do PT; Dilma está dentro; mas é a candidata verde quem tem de falar do mensalão. Roberto Jefferson denunciou o esquema (nem por isso era santo), mas Dirceu foi o chefe, segundo o Ministério Público. E é o tucano quem tem de falar sobre o imbróglio. Não há lógica que explique.

De todo modo, a explicação de Serra foi  eficiente para o fato de o PTB estar na aliança, bem superior à de Dilma para justificar a sua união com José Sarney, Fernando Collor, Jader Barbalho e Renan Calheiros. Ela afirmou que o PT criticava antes esses partidos por falta de experiência, donde se deduz que, quando um partido se torna experiente, se alia àqueles patriotas. Serra afirmou que todos sabem como ele trabalha e que não tolera lambança, venha de onde vier. Tergiversação? Acho que não! Até porque convenhamos: se a prática errada deste ou daquele membros de um partido inviabilizasse o partido inteiro, o país deveria ser governado pelo PSTU. Aos menos por alguns dias, até que surgisse o primeiro problema…

Felipão X Parreira?
Bonner abriu a seqüência de perguntas indagando por que Serra não critica Lula e se isso é postura de candidato de oposição. Seria receio da popularidade? Mais adiante, veio Fátima: por que ele prefere confrontar biografias a confrontar os governos passados? As respostas foram ao ponto: o tucano afirmou que não ataca Lula porque não disputa eleição com ele e porque há coisas certas no governo, que precisam ter seqüência, e coisas erradas, que precisam ser corrigidas  — e se estendeu no caso da saúde. E usou uma imagem que pareceu bastante didática na TV: comparar governos passados é como disputar a Copa de 2014 tentando saber quem foi o melhor técnico no passado: Felipão ou Parreira? E voltou a lembrar um fato óbvio: os governos tem seus méritos, e o maior de FHC foi o Plano Real, reiteradamente elogiado por Antônio Palocci. Verdade ou mentira?

Índio da Costa, o vice, foi tema de uma das perguntas. Teria experiência para ser vice? O candidato afirmou que sim e destacou o seu principal ativo, que é considerado hoje um ativo da sociedade: o Ficha Limpa — lei que eu, pessoalmente, acho problemática, não por suas intenções, claro, mas porque prevejo choque com a Constituição. De todo modo, acho uma pergunta curiosa essa: Temer tem idade, claro, mas tem experiência no Executivo? E Guilherme Leal, vice de Marina? Comandar empresa não é o mesmo que comandar um país, certo? Só a “inexperiência” de Índio seria problema?

Os jornalistas também perguntaram sobre pedágio, peça de resistência da campanha do PT contra Serra, que mobiliza, inclusive,os blogueiros oficiais, sustentados com o leite de pata estatal. De todas as campanhas que se fazem contra o governo de São Paulo, esta, sem dúvida, é a mais obtusa. Porque é puro papo-furado, demagogia, crítica fácil para seduzir iacautos.

Serra lembrou o que se sabe é o que é fato sobre as estradas paulistas, as melhores do país. Ninguém mais morre neste estado por precariedade da pista. Isso significa vidas salvas. O PT inovou neste particular: cobra pedágio, e a estrada continua uma lástima. Serra citou os casos da Régis Bittencourt e da Fernão Dias, dois exemplos do modelo Dilma (isso, estou dizendo eu): paga-se  para se ter a porcaria de sempre.

Uma questão de Bonner me fez lembrar de Milton Friedman: ele quis saber se não dá para oferecer estradas boas a preços mais baratos. Serra informou que o pedágio da Ayrton Senna, por exemplo, caiu em vez de subir. Ok. Mas eu sou tentado a lembrar a Bonner que não existe almoço grátis. E quem promete está mentindo.

Daqui a pouco, encontra-se no G1 a íntegra, a exemplo do que se deu com as entrevistas de Dilma Rousseff e Marina Silva. Basta ler o que vai lá ou rever os vídeos para constatar. O saldo, entendo, é este: Serra foi, com uma distância enorme, o melhor. Em seguida, vem Dilma. Marina é, a meu juízo, a última dos três porque, confesso, talvez por deficiência minha, não consigo entender aonde ela quer chegar. Na escala do rigor, o JN — e não estou sugerindo, reitero, conluio de nenhuma natureza — foi mais severo com Serra. Marina em seguida. E Dilma foi quem teve de enfrentar menos dificuldades. Não fosse por outra coisa, a questão do mensalão desempataria o jogo em benefício dela.  Se a petista não teve o mesmo desempenho brilhante de Serra, aí é por conta das qualidades e deficiências de cada um. Em vez de criticar os jornalistas que fizeram a entrevista, os petistas talvez devessem mudar de candidato, ué…

A entrevista de José Serra ao Jornal Nacional nem havia acabado ainda, e a equipe de Dilma Rousseff que cuida da Internet — aquele coroa saído de Woodstock à frente — já sabia que o tucano tinha tido um desempenho exemplar. E já ocupava o Twitter com a falácia de que William Bonner e Fátima Bernardes haviam “pegado leve” com ele. Trata-se de uma mentira. Mentira evidente e com contestação documentada. Dilma, sim, foi beneficiada pela ausência de uma pergunta: não teve de falar sobre o mensalão. Por quê? Não sei.

Abaixo, reproduzo apenas as perguntas feitas pelos entrevistadores. Cortei as intervenções que são pedaços de frases. Leiam. Digam aí onde estão as facilidades para Serra. Arrisco-me a dizer, e trato disso em outro post, que a patrulha petralha acabou, isto sim, contaminando um tanto o JN.

Cadê a tal “agressividade” de Bonner e Fátima com a petista? Em que questão teriam sido mais duros com ela do que com Serra ou Marina? Onde? Apontem! Dilma teve, isto sim, aos menos duas bolas levantadas na rede: 1) a sua inexperiência eleitoral associada, no entanto, à intimidade com Lula, o que ela soube explorar muito bem; 2) o seu temperamento dito difícil, o que deu a ela a chance de negar e tal, dizendo-se apenas exigente.

Serra soube usar melhor o tempo, com respostas mais objetivas. E expressou-se com correção e clareza. Os petralhas estão tentando transformar o seu excelente desempenho numa suposta conspirata do Jornal Nacional em favor do tucano. Seguem as perguntas feitas aos três. Elas demonstram por que estão mentindo. Diria mais: deveriam estar orgulhosos. Ao contrário do que dizem, acho que a sua patrulha funcionou. Na voz de Fátima e William, eu ouvi boa parte das perguntas que os críticos gostariam de ter feito a Serra. Mas fica para o post abaixo deste.

PERGUNTAS FEITAS A SERRA
1 - William Bonner: Candidato, desde o início desta campanha, o senhor tem procurado evitar críticas ao presidente Lula. O senhor acha que… E em alguns casos fez até elogios a ele… o senhor acha que essa é a postura que o eleitor espera de um candidato da oposição?

2 - William Bonner: Entendo. Agora, candidato, o senhor avalia o risco que o senhor corre de essa sua postura ser interpretada como um receio de ter que enfrentar a popularidade alta do presidente Lula?

3 - Fátima Bernardes: O senhor tem insistido muito na tecla de que o eleitor deve procurar comparar as biografias dos candidatos que estarão concorrendo, que estão concorrendo nesta eleição. O senhor evita uma comparação de governos. Por exemplo, por quê, entre o governo atual e o governo anterior?

4 - Fátima Bernardes: Mas, por exemplo, avaliar, analisar fracassos e sucessos não ajuda o eleitor na hora de ele decidir pelo voto dele?

5 - William Bonner: Uma questão política. Nesta eleição, existem contradições muito claras nas alianças formadas pelos dois partidos que têm polarizado as eleições presidenciais brasileiras aí nos últimos 16 anos, né? O PT se aliou a desafetos históricos. O seu partido, o PSDB, está ao lado do PTB, um partido envolvido no escândalo do mensalão petista, no escândalo que inclusive foi investigado e foi condenado de forma muito veemente pelo seu partido, o PSDB. Então, a pergunta é a seguinte: o PSDB errou lá atrás quando condenou o PTB ou está errando agora quando se alia a esse partido?

6 - William Bonner: Os nomes de petebistas, todos, uma lista muito vasta, começando pelo Maurício Marinho.

7 - William Bonner: Mas não há nenhum constrangimento para o senhor pelo fato de esta aliança por parte do seu partido, o PSDB, ter sido assinada com o PTB pelas mãos do presidente do partido que teve o mandato cassado inclusive com votos de políticos do seu partido, o PSDB? Isso não provoca nenhum tipo de constrangimento?

8 - Fátima Bernardes: Candidato, nesta eleição, quer dizer, o senhor destaca muito a sua experiência política. Mas na hora da escolha do seu vice, houve um certo, um certo conflito com o DEM exatamente porque houve uma demora para o aparecimento desse nome. Muitos dos seus críticos atribuem essa demora ao seu perfil centralizador. O nome do deputado Índio da Costa apareceu 18 dias depois da sua oficialização, da convenção que oficializou a sua candidatura. É… O senhor considera que o deputado, em primeiro mandato, está pronto para ser o vice-presidente, uma função tão importante?

9 - Fátima Bernardes: Eu falei centralizador porque até no seu discurso de despedida do governo de São Paulo, o senhor mesmo explicou sobre essa fama de centralizador.

10 - Fátima Bernardes: Mas a experiência dele é municipal, na verdade, não é? Ele teve três mandatos de vereador, o senhor acha que isso o qualifica?

11 - William Bonner: Candidato, eu gostaria de abordar um pouquinho também da sua passagem pelo governo de São Paulo. O senhor foi governo em São Paulo durante quatro anos, seu partido está no poder em São Paulo há 16 anos. Então é razoável que a gente avalie aqui algumas dessas ações. A primeira que eu colocaria em questão aqui é um hábito que o senhor mesmo tem de criticar o modelo de concessão das estradas federais. De outro lado, os usuários, muitos usuários das estradas estaduais de São Paulo que estão sob regime de concessão, se queixam muito do preço e da frequência com que são obrigados a parar para pedágio, quer dizer, uma quantidade de praças de pedágio que eles consideram excessiva. Pergunta: o senhor pretende levar para o Brasil inteiro esse modelo de concessão de estradas estaduais de São Paulo?

12 - William Bonner: Mas a que o senhor fez motivou críticas quanto ao preço. Então a questão que se impõe é a seguinte, candidato: não existe um meio termo? Ou o cidadão brasileiro tem uma estrada boa e cara ou ele tem uma estrada ruim e barata. Não tem um meio termo nessa história?

13 - William Bonner: Mas esse modelo vai ser exportado para as estradas federais?

14 -Fátima Bernardes - Não, candidato. É que como nós temos um tempo, eu queria dar ao senhor os 30 segundos para o encerramento, para o senhor se dirigir ao…

PERGUNTAS FEITAS A MARINA
1 - Fátima Bernardes: Bom. E o nosso tempo de 12 minutos dessa entrevista começa a ser contado a partir de agora. Candidata, a sua atuação na vida pública, como ministra, como senadora, foi especificamente voltada para a área do meio ambiente. A senhora não tem uma experiência administrativa em nenhuma outra área, em nenhum outro setor. Como é que a senhora pretende convencer o eleitor de que a sua candidatura é para valer e que ela não é apenas uma candidatura para marcar posição nessa questão do meio ambiente?

2 - Fátima Bernardes: Quer dizer que a senhora acha que essa questão do meio ambiente passa por todos esses outros setores?

3 - William Bonner: Agora, candidata, perdoe, a senhora é candidata do Partido Verde e, até este momento, apresenta-se na eleição sem o apoio de nenhum outro partido. Se a senhora não conseguiu apoio para formar uma aliança agora antes da eleição, como é que a senhora vai formar uma base de sustentação para governar o Brasil depois, dentro do Congresso Nacional?

4 - William Bonner: A questão que eu ia colocar é a seguinte: se a senhora não conseguiu formar essa base de apoio agora, depois da eleição, uma base de apoio que se forme depois da eleição, não tem uma tendência maior ao tal fisiologismo que a senhora mesmo está criticando?

5 - Fátima Bernardes: A senhora olhando para o seu partido, a senhora considera que o PV, ele tem quadros, olhando para os seus colegas, para governar o Brasil?

6 - Fátima Bernardes: Não, eu estou perguntando porque ainda não há um acordo estabelecendo outras alianças.

7 - William Bonner: Candidata, vamos falar então… A senhora mencionou a questão, o papel do partido político. A senhora declarou já em algumas entrevistas que deixou o governo Lula e deixou o PT porque discordava da maneira como era conduzida a política ambiental no governo. No entanto, se nós voltarmos no tempo até aquele período do escândalo do mensalão, a senhora não veio a público para fazer uma condenação veemente daquele desvio moral de alguns integrantes do PT. A pergunta que eu lhe faço é a seguinte: o seu silêncio naquela ocasião não pode ser interpretado de uma certa maneira como uma conivência com aqueles desmandos?

8 - William Bonner: No entanto, o seu desconforto, vamos dizer assim, o seu desconforto ético com o mensalão não foi suficientemente forte para levá-la a deixar o cargo de ministra.

9 - William Bonner: Porque a pergunta que eu lhe dirigia era sobre um momento muito especifico da história e eu queria que a senhora tratasse dessa questão polêmica e não fosse para outro assunto. Eu estou consumindo 30 segundos da entrevista para fazer esse esclarecimento e eu lhe devolverei para a entrevista. Eu só queria que a senhora esclarecesse para mim qual foi e de que maneira a senhora viu a saída de alguns colegas seus então de PT, alguns, inclusive, fundadores do partido, que deixaram o partido indignados na época do mensalão, chorando. Como a senhora viu a ação deles, que não foi a ação que a senhora teve naquela ocasião?

10- Fátima Bernardes: Candidata, vamos abordar, então, um outro tema. Muita gente do governo e fora dele se queixava de que, durante a sua gestão à frente do Ministério do Meio Ambiente, a liberação de licenças ambientais, elas estavam muito lentas, e que isso, licenças ambientais para obras de infraestrutura, e que isso atrapalhava o desenvolvimento. Como é que a senhora enxergava essas críticas de que essa demora possa ter atrasado essas obras?

11 - Fátima Bernardes: Quer dizer, nesse caso, a senhora está dizendo que no caso da senhora estando no governo, essa lentidão, ela, por exemplo, não vai provocar esse atraso ainda mais ou agravar ainda mais esses gargalos que a senhora citou, econômicos, e provocar, por exemplo, no setor energético, um risco de um novo apagão por demora na liberação dessas licenças?

12 - William Bonner: Candidata, a senhora tem 30 segundos para se dirigir ao eleitor e pedir a ele o seu voto, dando a ele a última mensagem. Por favor.

PERGUNTAS FEITAS A DILMA
1 - William Bonner: Candidata, o seu nome como candidata do PT à Presidência foi indicado diretamente pelo presidente Lula, ele não esconde isso de ninguém. Algumas pessoas criticaram, disseram que foi uma medida autoritária, por não ter ouvido as bases do PT. Por outro lado, a senhora não tem experiência eleitoral nenhuma até este momento. A senhora se considera preparada para governar o Brasil longe do presidente Lula?

2 - William Bonner: Mas a sua relação com o presidente Lula, a senhora faz questão de dizer que é muito afinada com ele. Junto a isso, o fato de a senhora não ter experiência e ter tido o nome indicado diretamente por ele, de alguma maneira a senhora acha que isso poderia fazer com que o eleitor a enxergasse ou enxergasse o presidente Lula atualmente como um tutor de seu governo, caso eleita?

3 - Fátima Bernardes: A senhora falou de temperamento. Alguns críticos, muitos críticos e alguns até aliados falam que a senhora tem um temperamento difícil. O que a gente espera de um presidente é que ele, entre outras coisas, seja capaz de fazer alianças, de negociar, ter habilidade política para fazer acordos. A senhora de que forma pretende que esse temperamento que dizem ser duro e difícil não interfira no seu governo caso eleita?

4 - Fátima Bernardes: Agora, no caso, por exemplo, a senhora falou de não haver cassetete, mas talvez seja a forma de a senhora se comportar. O próprio presidente Lula, este ano, em discurso durante uma cerimônia de posse de ministros, ele chegou a dizer que achava até natural haver queixas contra a senhora, mas que ele recebeu na sala dele várias pessoas, colegas, ex-ministros, ministros, que iam lá se queixar que a senhora maltratava eles.

5 - Fátima Bernardes: Como mãe eu entendo, mas, por exemplo, como presidente não tem uma hora que tem que ter facilidade de negociar, por exemplo, futuramente no Congresso, futuramente com líderes mundiais, ter um jogo de cintura ai?

6 - William Bonner: O presidente falou em maltratar, não é, candidata?

7 - William Bonner: Não, ele disse isso. A senhora me perdoe, mas o discurso dele está disponível. Ele disse assim: as pessoas diziam que foram maltratadas pela senhora. Mas a gente também não precisa ficar nessa questão até o fim da entrevista, têm outros temas.

8- William Bonner: A senhora tem agora nessa candidatura, além do apoio do presidente, a senhora também tem alianças, né?, formadas para essa sua candidatura. Por exemplo, a do deputado Jader Barbalho, por exemplo, a do senador Renan Calheiros, por exemplo, da família Sarney. A senhora tem o apoio do ex-presidente Fernando Collor. São todas figuras da política brasileira que, ao longo de muitos anos, o PT, o seu partido, criticou severamente. Eram considerados como oligarcas pelo PT. Onde foi que o PT errou, ou melhor, quando foi que ele errou: ele errou quando fez aquelas críticas todas ou está errando agora, quando botou todo mundo debaixo do mesmo guarda-chuva?

9 - William Bonner: Vamos lá. Candidata, vamos aproveitar o tempo da melhor maneira. O PT tem hoje já nas costas oito anos de governo. Então é razoável que a gente tente abordar aqui alguma das realizações. Vamos discutir um pouco o desempenho do governo em algumas áreas, começando pela economia. O governo festeja, comemora muito melhoras da área econômica. No entanto, o que a gente observa, é que quando se compara o crescimento do Brasil com países vizinhos, como Uruguai, Argentina, Bolívia, e também com aqueles pares dos Brics, os chamados países emergentes, como China, Índia, Rússia, o crescimento do Brasil tem sido sempre menor do que o de todos eles. Por quê?

10 - William Bonner: Mais duro do que no Uruguai e na Bolívia, candidata?

11 - William Bonner: Correto, candidata. Mas a Rússia. A Rússia também teve dificuldades e é um país enorme…

12 - Fátima Bernardes: Candidata, vamos falar um pouquinho de outro problema, que é o saneamento. Segundo dados do IBGE, o saneamento no Brasil passou de 46,4% para 53,2% no governo Lula, um aumento pequeno, de 1 ponto percentual mais ou menos, ao ano. Por que o resultado fraco numa área que é muito importante para a população?

13- Fátima Bernardes: Mas, candidata, esses são dados de seis anos. Quer dizer, esse resultado que a senhora está falando… vai aparecer de um ano e meio para cá?

14 - Fátima Bernardes: A gente gostaria agora que a senhora, em 30 segundos, desse uma mensagem ao eleitor, se despedindo então da sua participação no Jornal Nacional.

A pauta da patrulha petralha chegou ao Jornal Nacional

Acho que o Jornal Nacional, já disse, procurou fazer o seu trabalho com profissionalismo e isenção. Com isso, descarto, de saída, que se tenha tentado beneficiar esse ou aquele. Mas os tempos andam bicudos. A patrulha petralha é gigantesca. Está em todos os lugares e, com certeza, contamina também o JN. Por que digo isso?

Todas as perguntas feitas a Serra — sem exceção de uma só — estariam no elenco do que um petralha gostaria de perguntar ao tucano. Mais: ele tentaria fazer de Lula o grande protagonista da disputa. Vamos ver?

- Eles perguntariam por que Serra não ataca Lula? Sim. E William perguntou.
- Eles perguntariam se Serra tem medo da popularidade de Lula? Sim. E William perguntou.
- Eles perguntariam se Serra teme confrontar os governos FHC e Lula? Sim. E Fátima perguntou.
- Eles perguntariam se Serra não se constrange com a aliança com o partido de Roberto Jefferson? Sim. E William perguntou.
- Eles perguntariam se Índio da Costa não é um vice inexperiente? Sim. E Fátima perguntou.
- Eles perguntariam se o pedágio de São Paulo não é caro? Sim. E William perguntou.

Os petralhas certamente fariam outras questões além dessas se a entrevista tivesse mais de 12 minutos, mas essas estariam na lista. Pode-se debater se uma ou outra, vá lá, não são mesmo procedentes fora do discurso puramente oposicionista. A do pedágio, no entanto, representa uma capitulação à patrulha. A razão é simples: o “movimento antipedágio”, já demonstrei aqui até com fotos, é uma invenção do PT. Que uma política pública exemplar, comprovadamente bem-sucedida, seja objeto de proselitismo partidário, vá lá… Que paute o jornalismo sério, aí não dá.

E Dilma? As perguntas feitas à petista seriam aquelas que a militância tucana gostaria de fazer? Intuo que não.
- Perguntariam se ela é tutorada por Lula? Não! Porque isso lhe daria a chance de dizer que se orgulha muito de Lula. Como fez. Associar seu nome a Lula, no ar, é positivo para ela, que não tem a sua própria reputação política.
- Perguntariam se ela tem mesmo temperamento difícil? Não! Porque isso lhe daria a chance de dizer que é apenas exigente. Como fez.
- Perguntariam a ela se suas alianças são incômodas? Talvez.
- Perguntariam se o Brasil cresceu menos do que outros emergentes? Não mesmo! Isso lhe daria a chance de dizer que o país se saiu bem na crise, como ela fez.
- Perguntariam sobre o baixo investimento em saneamento? O tema, embora literalmente enterrado, é quase etéreo.
Mas…
- Fariam uma pergunta sobre o mensalão. Não foi feita.
- Fariam uma pergunta sobre as Farc. Não foi feita.
- Fariam uma pergunta sobre a penúria nos aeroportos. Não foi feita.
- Fariam uma pergunta sobre a lambança dos dossiês. Não foi feita.
- Fariam uma pergunta sobre a destruição do Enem. Não foi feita.
- Fariam uma pergunta sobre a miséria das estradas federais. Não foi feita.

Acho que foi a tranqüilidade de Serra que deixou os petistas assustados. Se vai ganhar a eleição ou não, não sei. Se o Jornal Nacional terá ou não influência na escolha do eleitor, isso eu também não sei. Mas sei, e até os petistas sabem, quem, na série do Jornal Nacional, evidenciou estar mais preparado para o cargo.

“Ah, os petralhas patrulham de um lado, e o Reinaldo de outro”. Calma lá! Eu não estou satanizando ninguém e estou expondo os meus motivos ancorado nas perguntas. Por que eles não fazem o mesmo? Porque sabem que estão mentindo. Entre agradecer e repudiar o JN, eles deveriam é estar gratos.

Já sei: os petralhas exigem que, numa próxima entrevista, Serra não se saia tão bem!

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (veja.com

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1 comentário

  • Cleber Alves Feitosa Sonora - MS

    SR Reinaldo Azevedo, respeito sua opinão sobre teu candidado, porém, sejamos realistas, eu assisti as entrevistas, e na minhão opinião o Serra foi o mais aliviado, tanto é que palavras sua: "-Interrupção mesmo só na saudação final.". O William não deixou Dima nem Marina responder as perguntas. Outra contradição sua, também palavras suas:"- Não contei, mas tenho a certeza de que respondeu a um número maior de perguntas do que Dilma e, sobretudo, Marina, com aquela sua fala caudalosa…". Logo abaixo você mesmo mostra as perguntas feitas aos candidatos : Serra (14) perguntas - Marina (12) e Dilma (14) perguntas. Por tanto meu Caro Reinaldo Azevedo, sejamos no mínimo realistas, em aceitarmos os fatos, e não tentemos distorcer os fatos. Um abraço, de um residente Sonorense (Norte do MS), porém de olho nos acontecidos.

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