A religião lulista desde o fim (Lula diz que é difícil concluir obras por causa de “inveja” e “olho gordo”)

Publicado em 17/08/2010 17:34


Reportagem do Portal G1 (abaixo) informa que a dificuldade de se concluírem obras no Brasil, segundo Lula, se deve à “inveja” e ao “olho gordo”. Mas não só a elas: o presidente também evoca as dificuldades legais relacionadas a licenças ambientais, Ministério Público etc — áreas que, não é segredo para ninguém, foram palcos preferenciais da militância “de base” do PT durante muito tempo. Mas isso fica para outra hora. Quero tratar um pouco do discurso da “inveja” e do “olho gordo”.

Alguns “analistas” vêem essas batatadas de Lula com certo encanto, evidência, dizem, de que temos, de fato, um “homem do povo” no poder. Eu, como sabem, vejo de outra maneira: evidência de que temos no poder o representante de um partido autoritário, destinado a fagocitar as legendas que lhe são próximas, organizado para eliminar os adversários, recorrendo, se preciso, ao jogo sujo. Lula é o principal operador dessa máquina e faz uso consciente de sua origem e do conhecimento que efetivamente tem da mentalidade popular para reduzir as disputas a um jogo entre o Bem, que ele representaria, e o Mal, que os adversários encarnariam.

E são “adversários” — de fato, inimigos — todos aqueles que não se subordinam ao PT. Oponentes antigos, uma vez abrigados sob o guarda-chuva petista, tornam-se forças benignas: Sarney, Collor, Renan, Jader e quantos outros queiram pertencer ao grupo. Basta ajoelhar: Lula lhes colocará a espada sobre os ombros, cobrando fidelidade eterna, e lhes concederá os ducados onde podem pintar e bordar, submetendo, assim, o coronelismo a uma espécie deaggiornamento, desde que ele se subordine às vontades do Moderno Príncipe.

Um projeto de poder (na verdade, uma construção cada vez mais sólida) complexo, organizado racionalmente, segundo princípios muito claros e estabelecidos de economia política — que tem nos fundos de pensão, fazendo uma piadinha, a “acumulação primitiva do capital” desta economia de mercado gerida pelo PT —, tem, no entanto, numa suposto homem primitivo o seu grande animador e propagandista. Vejam como Lula pode apelar a aspectos de, sei lá como dizer, feitiçaria e bruxaria para ganhar a adesão popular.

Não se enganem: são milhões os brasileiros que estão certos de que não conquistam isso ou aquilo porque o vizinho os inveja; porque uma má sorte determinada pelo olhar maligno do outro os persegue. Não por acaso, proliferam as seitas neopentecostais — nem todas são picaretagem, mas boa parte não passa disso — que se oferecem para tirar o “demônio” da vida do fiel, mediante, evidentemente, generosas doações em dinheiro, já que um inimigo do capeta não trabalha de graça. Para que o Coisa Ruim se vá, é preciso apenas se transformar num fiel, pagando o dízimo.

É minha a frase, antiqüíssima, de que, por exemplo, a Igreja Universal do Reino de Deus é o PT da religião, e o PT é a Igreja Universal da política. Lula e Edir Macedo se dão muito bem, são hoje aliados inquebrantáveis, porque, de fato, são muito parecidos. O petista submete a política, a história, as relações sociais, tudo, a seu “livre exame” e diz a respeito o que lhe dá na telha. O “bispo” faz o mesmo com a Bíblia. Lula é capaz de relegar ao lixo formidáveis conquistas do Brasil, como o Plano Real, por exemplo, porque isso interessa à construção de seu império político. Macedo é capaz de recorrer ao Eclesiastes, como já fez, para justificar o aborto porque isso interessa a seu império religioso. Ocorre que a religião, em certos casos, precisa se colar à política porque o “reino de Deus” ainda depende do “reino dos homens”. E a política precisa, em certos casos, grudar-se à religião porque a utopia, os amanhãs que cantam, são parentes da crença.

Assim, Macedo, o religioso, é um político; Lula, o político, é um religioso a seu modo. Se preciso, o demiurgo pedirá aos brasileiros que coloquem um copo d´água perto do rádio quando ele engrola o seu “Café com o Presidente”.

Irrelevante
Uma fala como aquela é irrelevante? Claro que não! Trata-se de um  fator de deseducação política e de apelo ao cretinismo. Ainda que poucos a tenham lido agora, o fato é que é expressão de uma cultura política que se espalhou. Lula conquistou, com esse jeito, a condição de inimputável e de protagonista do jogo do “ganha ou ganha”: o que der certo no Brasil é obra sua, pessoal, intransferível, fruto de sua genialidade; o que der errado deve ser atribuído ao desejo que seus adversários têm de prejudicá-lo. Não podendo, no entanto, apontar uma só ação concreta de sabotagem — E COMO O PT SABOTOU GOVERNOS PASSADOS!! —, resta a esse prosélito da religião petista acusar o poder sobrenatural dos adversários: inveja, olho gordo, mandinga…

Qual é o efeito desse discurso em boa parte dos brasileiros? O emburrecimento. E o país, evidentemente, perde porque não se consegue debater um só de seus problemas reais ou potenciais, que vão se manifestar daqui a pouco, sem ter de enfrentar a “popularidade” do  líder.

Limites dessa fala
A má notícia, obviamente, é que essa construção é complexa, difícil de desmontar, e só perderia seu vigor se o país vivesse um grande desastre em razão das escolhas de Lula, o que, obviamente, ninguém quer. A boa notícia, ainda que isso demande algum tempo, é que o “esquema” petista depende visceralmente deste animador de templos, deste “pastor” de imposturas. E essa é uma experiência que não mais se repetirá porque aquele país que o deu à luz politicamente também não existe mais. Não haverá outro Lula saído das entranhas de nossa complexidade sociológica; não haverá outro Lula com essas características, se me permitem, psicológicas — destituído até mesmo de um resquício de superego…

Peguem essa fala da “inveja” e do “olho gordo”. Caso Dilma venha a ser eleita, vocês a imaginam explicando assim um insucesso do governo, a demora para realizar obras. Poderia até, já que petista, culpar os outros, mas lhe faltaria a “legitimidade” — que eu chamo de “inimputabilidade” — para enveredar pelo caminho do misticismo vulgar e, assim, desqualificar os adversários. A boa notícia, em suma, é que o PT é um partido com tempo de duração — o tempo de duração de Lula.

Subsistirá, sim, como aparelho por muitos anos, mas vai se rarefazer eleitoralmente quando não mais tiver seu líder místico. A ascensão eleitoral de Dilma é a maior evidência disso. Numa esfera estritamente psicológica, Lula só a escolheu porque ela vinha rigorosamente do nada, era uma gaveta vazia. Ao fazê-lo, ele reiterou o seu poder absoluto sobre a máquina e a prevalência dos “Carismas” no confronto com a estrutura eclesiástica do partido, que preferia outro nome. Curiosamente, caso leve Dilma à vitória, conduz o partido a uma espécie de derrota. A gigantesca Igreja Petista não sobreviveria sem seu profeta.

Encerrando
Lula parece muito saudável — e eu jamais desejo a má sorte de quem quer que seja (à diferença do que fazem os petralhas, com sua permanente urucubaca contra mim) — e vai continuar com seus dons “proféticos” e “carismáticos” por um bom tempo. Isso faz dele e de seu partido forças invencíveis? Eu acho que não. Mas ambos têm de ser enfrentados  — e esse enfrentamento terá de se dar menos na esfera administrativo-gerencial do que na de valores, para voltar a tese antiga minha. Desdobrarei este aspecto em outros textos, ao longo dos dias, dos meses, dos anos se preciso.

Porque de uma coisa os petralhas podem ficar certos: sei que eles não desistem de mim, mas eu também não desistirei deles. Eles continuarão a me esconjurar em seus rituais macabros de exorcismo. Eu continuarei a dissecá-los.

Lula diz que é difícil concluir obras por causa de “inveja” e “olho gordo”

Leiam o que informa Nathalia Passarinho, do G1. Comento no post seguinte:
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira (17), em Salgueiros (PE), que enfrentou dificuldades em concluir projetos por causa da “inveja” e “olho gordo” dos que não realizaram grandes obras no país.

“Não pense que é fácil fazer as coisas. Você sabe que a inveja é uma doença. Não há nada pior do que o olho gordo de alguém que não conseguiu fazer uma coisa diante de algo que o outro está fazendo”, disse, durante visita ao canteiro industrial da ferrovia Transnordestina.

Lula também criticou a burocracia para a realização de obras, como grandes ferrovias, e a transposição do Rio São Francisco. “A Transnordestina demorou cinco anos para chegar no estágio que chegou hoje. Só eu participei de 31 reuniões”, disse. “Primeiro, teve problema com projeto, depois, licitação, depois, Ministério Público. É um verdadeiro inferno concluir um projeto dessa magnitude”, afirmou.

O presidente afirmou ainda que durante décadas o Nordeste foi ignorado pelos políticos brasileiros. “Havia quase que uma indisposição de uma parte da elite política do país, que já tinha dado de barato que o Nordeste não precisava se desenvolver.” Lula também criticou os discursos de campanha eleitoral, em que os candidatos tentam se aproximar da população pobre. Segundo o presidente, depois de eleitos, os políticos não costumam cumprir as promessas feitas.

“Na época de campanha, muita gente fica falando mal da gente [governo]. Na época de campanha, ninguém fala mal de pobre. Você não sabe como banqueiro é odiado. Mas depois das eleições quem vai almoçar com pobre?”, questionou.

Depois de visitar, a fábrica de dormentes de cimento, construída para dar suporte às obras da ferrovia Transnordestina, Lula visita o Campus Salgueiro, do Instituto Federal do Sertão de Pernambuco. Por volta de 17h30, o presidente embarca para Petrolina, onde participa da inauguração de um campus da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf).


Mais um exemplo da “nova era democrática”: a barbárie intelectual da universidade. Ou: como formar ignorantes orgulhosos e patriotas

Manguei outro dia do “consenso” (!?) de três intelectuais, segundo os quais o Brasil está vivendo uma “nova era” democrática. E expus, num longo texto, as muitas agressões que o estado de direito vem sofrendo no Brasil. E não porque eu queira ou não goste do governo, mas porque são fatos. Se uma nova “era” existe, dadas aquelas violações, ela não é boa. Um fato ocorrido na semana passada, no Rio, caracteriza bem esse “novo ambiente”. Talvez vocês também fiquem um tanto chocados, embora certamente não surpresos.

Abaixo, há um link com um áudio que está no canal que o Itamaraty tem no Youtube. Ele traz a “aula inaugural” ministrada no último dia 11 por Celso Amorim, o Colosso de Rhodes da diplomacia brasileira, no curso de história da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro — é a Uni-Rio, não a UFRJ. Sigam com o texto e ouçam depois se tiverem paciência (aqui) .

Falarei alguma coisinha sobre o discurso deste gigante, o homem que perdeu todas as disputas internacionais em que se meteu — e que se transformou, por isso, num formidável sucesso. Mas ele é o de menos nessa história porque se limitou a repetir a glossolalia de sempre, com aquele orgulho muito típico dos derrotados. Chocante mesmo, verdadeiramente estupefaciente, foi a fala da “Magnífica reitora, professora doutora Malvina Tuttman”. Nunca antes na históriadestepaiz se viu algo parecido na academia. A primeira intervenção da “magnífica” começa ali pelos 6 minutos e se estende mais ou menos até os 11. Transcrevo em vermelho alguns trechos de sua fala (dando destaque a algumas palavras e expressões) e vou comentando em azul.

Começo observando que a gramática da “professora doutora magnífica” rivaliza com a de Dilma Rousseff nos transes da ventura sintática e nos dons do pensamento truncado. Numa ousadia realmente digna de nota, Malvina diz que Celso Amorim contribuiu para elevar até a auto-estima dos “nossos irmãos estrangeiros”. Não tentem identificar, em sua fala, sujeito, verbo, complemento, aquelas coisas antigas que caracterizavam os discursos de “magníficos” no passado. Isso passou. Malvina é expressão de uma parcela da universidade brasileira desta “nova era”. Teria dificuldade para trabalhar em telemarketing. A ela:

(…) Celso Amorim, um dos homens deste país que, atualmente, vem imprimindo e mostrando a seriedade desse país não só para fortalecer a auto-estima nossa, do povo brasileiro, mas, em especial, dos nossos irmãos estrangeiros, que, por meio de uma política governamental importante de relações exteriores e, sem dúvida alguma, falava há pouco com o ministro, por conta da capacidade, da força, da história de vida do ministro, do embaixador Celso Amorim, o nosso país, hoje, não só por isso, mas também por isso, tem um reconhecimento e um valor importante internacional. (…) Uma das pessoas que eu considero (…) um dos nomes mais representativos da história deste país
Bem, é o que costumo chamar de “sintaxe na fase da miséria”. A vontade de agradar é tal que a gente nota até uma certa aerofagia, uma emoção verdadeiramente genuína. Imagino a excitação intelectual desta senhora. E vocês já perceberam o vício de linguagem da “companheira”, não? Essa história de “auto-estima” é peça de resistência de todas as campanhas oficiais — e das estatais. Será que Malvina sabe que Celso Amorim perdeu todos os embates em que se meteu, sem uma só exceção?  Eu acho que não. Isso não significa que pudesse dizer coisa diferente se soubesse, mas acho que ela ignora mesmo…
(…)
O ministro, ele não ficará historicamente lembrado, já que estamos numa aula inaugural de história, apenas por sua passagem neste momento político donosso país, mas enquanto aquilo que ele representa como brasileiro que se orgulha de ser brasileiro e que leva esse orgulho para fora dos muros, das fronteiras do nosso país.
Esse “o ministro, ele” — a anteposição de uma espécie de aposto do sujeito — é um dos vícios de linguagem que mais me irritam e que, vênia máxima, viu, magnífica?, considero índice de ignorância e de pensamento vago. É coisa típica desses pastores televisivos. E o que dizer disto: “O ministro ficará lembrado enquanto aquilo que ele representa…”? Paulo Francis, nessas horas, costumava apelar ao chicote — metafórico, claro…
(…)
E posso lhe [a Amorim] dizer que, além da satisfação de estar reitora neste momento político importante do nosso país, onde as universidades têm recebido um justo olhar para aquilo que ela produz de importante, de ciência para esse país, e isso tem acontecido, nós podemos ter um marco importante, antes de 2003 e depois de 2003, e, por isso, eu posso me orgulhar de estar reitora neste momento, desde 2004, ministro, e completarei o meu mandato até 2012…
Interrompo aqui, mas o trecho abaixo é seqüência deste, sem corte. Amorim já entendeu, eu acho. O mandato dela vai até 2012… ENTENDEU, AMORIM??? Ninguém pode dizer que ela não está se esforçando para dar vôos maiores. Vejam ali a mistificação do discurso oficial repetida na fala da magnífica: o Brasil começou em 2003. Sigamos:

, mas eu quero também lhe cumprimentar e lhe dizer da grande satisfação de Malvina Tuttman, cidadã brasileira, estar, neste momento, sentada ao lado de um grande homem, um homem que fortalece o nosso país, um país que vem crescendo e que irá, se ainda não surpreendeu, irá surpreender não só alguns brasileiros incrédulos, mas Irá surpreender ao mundo.
Ah, apareceram os “brasileiros incrédulos”, aquela gente nefasta que insiste em não acreditar nas verdades eternas do petismo e do governo. A gente nota que Malvina é mesmo entusiasmada. Não lhe basta falar como reitora, não! Ela quer dar seu testemunho pessoal, falar também como “cidadã”, evidenciando que seu engajamento não é apenas profissional. Ela está nessa de corpo e alma mesmo.  Dona Malvina poderia “cumprimentá-LO”, mas “lhe cumprimentar” jamais! A língua é democrática, magnífica! Oferece pronomes oblíquos tanto para verbos transitivos diretos como para os indiretos. Se a senhora servisse cafezinho na Uni-Rio, eu não lhe faria tal cobrança, mas como é a reitora…

Aí veio a intervenção do gigante, com aquele seu incrível dom de dizer coisas que estão em desacordo com a verdade. Deteve-se um pouco mais demoradamente na brilhante negociação que o Brasil empreendeu no Irã, asseverando que se alcançou lá um acordo fabuloso, mas, vocês sabem,as grandes potências, invejosas do talento brasileiro, não aceitaram… Seguiram-se algumas perguntas de estudantes e coisa e tal.

Malvina achou que a sua fala inicial não tinha sido convincente o bastante. Afinal, seu mandato vai até 2012 apenas… ENTENDEU, AMORIM??? No encerramento do evento, ela retoma a palavra (1h40min). E conclui a sua obra. Desta feita, atingiu o estado de arte nas manhas da adulação patriótica

Ministro, que quero lhe dizer que o senhor verdadeiramente nos deu uma aula. Uma aula de auto-estima, uma aula de mediação de combinação de habilidade de negociação com, se o senhor me permite, uma certa ousadia, ou muita ousadia, diplomática importante.
Vocês ainda respiram ou sufocaram na “aula de mediação de combinação de habilidade de negociação”? Adoro o “se e o senhor me permite”. Imaginem se Amorim não permitiria. Melhor do que isso só mesmo se Malvina dissesse: “Ministro, se o senhor me permite, o senhor é um gigante!” Atenção que a magnífica vai, agora, alertar Amorim para o fato de que sempre existem pessoas “do contra”. E vai aconselhá-lo.

E eu acho que essa é a grande diferença, essa habilidade conjugada à ousadia, mas uma ousadia que sabe aonde quer chegar, uma ousadia respeitosa. Isso fez e faz com que o nosso país, internamente, se veja de uma outra maneira e que, externamente, tenha essa representatividade internacional que nós temos. Do contra, ministro, nós sempre vamos encontrar. E é bom até, porque as opiniões muitas vezes contrárias nos fazem repensar e, algumas vezes,se temos essa habilidade, nos fazem crescer também e verificar que as diversas vozes contribuem, se elas não vêm para atrapalhar, elas contribuem para o nosso avanço.
Uau!!! Nem parece que Celso Amorim tentou nomear um brasileiro duas vezes para a OMC e perdeu as duas; que tentou nomear outro brasileiro para o BID e perdeu; que tentou uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU e perdeu; que apostou todas as fichas na Rodada Doha e perdeu; que tentou reinstalar o bandido Manuel Zelaya em Honduras e perdeu; que deu apoio a um egípcio anti-semita para comandar a Unesco e perdeu; que tentou evitar sanções ao Irã na ONU e perdeu. Leitor, se você quiser relembrar todas as besteiras e derrotas de Celso Amorim, clique 
aqui.

Mas o que mais me encantou na fala de Malvina foi o seu entendimento do que vem a ser “tolerância”. Vejam que ela até admite que as pessoas “do contra” têm lá o seu lugar na sociedade. Generosa, ela se dispõe a aprender com elas. Tem apenas uma ressalva: “se elas não vêm para atrapalhar”. Do contra, pode; não pode, pelo visto, é manifestar essa contrariedade. A isso está reduzida boa parte da universidade brasileira.

O senhor falou tantas coisas importantes, mas eu destacaria, se o senhor me permite, uma palavra importante, que, para nós, é especial e que marca também a visão da política no nosso país em todos os sentidos, principalmente neste momento das relações exteriores. E é alguma coisa que tem de ser inserida no nosso modo de estar no mundo, que é a paz. E o nosso governo, por meio do nosso presidente e do senhor, tem dado também essa lição para o mundo, para nós e para o mundo.
Bem, não poderia faltar o puxa-saquismo explícito, evocando o presidente. O Brasil, com efeito, tem investido na paz. De que modo? Adulando todos os ditadores do planeta e enviando à ONU um documento que pede mais diálogo com esses facínoras. Em Honduras, o governo brasileiro investiu na paz tentando promover a guerra civil e não reconhecendo um governo eleito legitimamente. Em Cuba, investe na paz comparando prisioneiros políticos a delinqüentes brasileiros. No Sudão, investe na paz impedindo censura ao tirano que governa o país. Na Colômbia, investe na paz mobilizando-se contra o governo contitucional do país e flertando com as Farc. Em Israel, investe na paz querendo bater papinho com o Hamas. No Irã, bem, no Irã… A gente chega lá.

Eu fiquei orgulhosa, orgulhosa, ministro, da atitude que o Brasil teve especificamente, há muitas, mas especificamente ao fato do Irã. Gostei. E sou judia! E aí fico muito á vontade de dizer dessa minha satisfação, desse meu orgulho, porque, acima de tudo, nós somos homens e mulheres, crianças e pessoas mais amadurecidas, mas que temos convicções muitas vezes contraditórias, mas alguma coisa tem de nos unir, a condição de sermos humanos, e, por isso, a paz é imprescindível. Eu acho que a atuação do presidente Lula e a atuação do ministro das Relações Exteriores pode, no meu entendimento, podem ser caracterizadas e definidas, para mim, numa palavra  que, nesse momento, é a mais importante de todas: paz. Muito obrigada, ministro, seja muito saudado pela nossa comunidade!
Malvina acredita que o fato de ela ser judia e de apoiar o governo Lula muda o caráter do regime iraniano. E daí que é judia? Por que isso faria seu adesismo deixar de ser o que é? Mais: ao evocar essa condição, parece que tenta representar outras mulheres e homens judeus. E não representa, não! E isso, eu, que não sou judeu, asseguro. Porque esse povo não vem de tão longe para flertar com um anti-semita delirante, negador do Holocausto, que promete varrer Israel do mapa. Nesta segunda, dia 16, cinco dias depois da fala de Malvina, o Irã anunciou mais um passo em seu programa nuclear, numa clara provocação ao Ocidente, à ONU e à Agência Internacional de Energia Nuclear. Fale em seu próprio nome, minha senhora!

Encerrando
A fala de Malvina é uma colcha de retalhos de bordões oficiais e das muitas mistificações do petismo. Até nos vícios, repete a linguagem “companheira”. Seu discurso é a expressão daquela maçaroca de bobagens entre nacionalistas e patrióticas, que mal escondem o viés militante.

A universidade é o local da pesquisa e do pensamento, não da justificação do poder. Por mais que os centros de excelência, no mundo democrático, sejam integrados ao establishment, essa integração se dá na esfera dos valores, de uma cultura votada para o progresso, para a diversidade e para a tolerância. Servilismo ao governo de turno é outra coisa. É patente na fala da “magnífica” a satanização do passado, a exemplo do que faz o governo que Celso Amorim representa, com o seu discurso recheado de clamorosas imposturas. Ok, dona Malvina não precisa concordar comigo. Mas há um modo decoroso até mesmo de puxar o saco.

Imaginem: esse “bobajol” está sendo cotidianamente repetido nas salas de aula Brasil afora, especialmente, como é o caso, nos chamados cursos da área de humanas. E depois nos perguntamos por que a escola brasileira é tão ruim. Eis aí: Malvina dá a receita para a formação de ignorantes orgulhosos e patriotas.

Lembrem-se que os comentários podem e devem ser firmes, mas não ofensivos.

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (veja.com

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2 comentários

  • Fabrício Werner Alto Alegre - RS

    Muito bem de gramática, muitas palavras até difíceis de ser entendidas. Mas isso é dádiva de quem tem o conhecimento, de quem tem o previlégio de ser o que "é". Isso Mostra bem as diferenças do mundo, um sabe tudo outro não sabe nada, um tem tudo outro não tem nada, um quer ter tudo pra ele outro qualquer melhoria já é o suficiente. O que não podemos esquecer em nenhum momento é que somos seres humanos, precisamos ser respeitados, receber atenção, receber carinho, ter o mínimo de "dignidade". Para 80% da população brasileira isso já é o suficiente. Como dissestes as disculpas são coisas de fracassados, o que diria então desses que dão a culpa no governo pelos problemas que tem? Eu respeito e adimiro muito o que uma pessoa "simples" foi capaz de fazer, sabendo de tantas "capacitadas" tiveram a mesma chance de ter feito.

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  • Valter Antoniassi Fátima do Sul - MS

    Lula e Macedo são muito mais do que semelhantes,são almas gemeas de nível espiritual identico,juntamente com seus milhões de adeptos e seguidores,isto deixa claro e óbvio porque são invulneráveis a todo tipo de escândalos no qual já se envolveram e que porventura venha acontecer,ou seja,é tudo farinha do mesmo saco!

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