Os debates na TV. Ou: desconstruindo o festival de bobagens

Publicado em 29/09/2010 14:30

Os debates na TV. Ou: desconstruindo o festival de bobagens

Os leitores dos demais estados digam o que acharam do debate promovido ontem pela Globo entre candidatos ao governo. O de São Paulo foi uma lástima — e isso nada tem a ver com as regras ou com a organização em si. O fato de haver sorteio de temas em duas rodadas até ajuda a fazer um confronto de idéias um pouco mais qualificado. A questão é de outra natureza. Neste estado, foi preciso convidar seis debatedores: Paulo Bufalo (PSOL), Fábio Feldman (PV), Paulo Skaf (PSB), Celso Russomano (PP), Aloizio Mercadante (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB). Os dois primeiros dão traço nas pesquisas; o terceiro tem entre 2% e 3%; o outro, entre 7% e 8%. De acordo com os levantamentos, até agora, o tucano vence no primeiro turno (entre 49% e 51%), e Mercadante anda aí pela casa dos 23%, 24%. A quatro dias (ontem) da eleição, resta evidente que, se houver um segundo turno, ele se dará entre Alckmin e Mercadante. O que os outros candidatos faziam lá?

Nada! Apenas atendiam a uma ridicularia que está entre a lei e o acordo. Em tese, todos os candidatados teriam de ser convidados porque a TV, como concessão pública, teria de dar a todos igual espaço etc — vocês conhecem a patacoada. Então se opta por um critério, num acordo com Justiça e Ministério Público Eleitoral: chamar apenas os partidos que têm representação na Câmara (no caso da Presidência) e na Assembléia (no caso da disputa ao governo). Levar aquelas nulidades todas, que não seriam eleitas síndicos dos respectivos prédios em que moram, é o preço a pagar para que o debate aconteça. E o eleitor/telespectador fica, então, exposto àquela impressionante avalanche de bobagens. Faço uma nota à margem: Feldman tem um comportamento civilizado e responsável em debates, mas essa não é a hora de divulgar o partido.

É preciso mudar a lei urgentemente. Esse negócio de a TV ser obrigado a convidar esse ou aquele porque é uma concessão pública é um disparate e caracteriza, obviamente, um dos muitos disfarces que tem a censura no Brasil. A quatro dias do pleito, é uma estupidez ter de chamar para um confronto de idéias pessoas que são quase candidatas de si mesmas. Quem perde? O eleitor, que se vê privado de um debate qualificado. A razão é muito simples: despreparo dos competidores. O debate acaba sendo usado apenas como vitrine para disputas futuras. Ou alguém duvida que Skaf, por exemplo, que se intitula “a zebra”, vai tentar a Prefeitura da capital daqui a dois anos?

Ora, já basta a lei obrigar a concessão de tempo na TV, nos horários político e eleitoral, a legendas que só existem no papel. Há quem use a mamata para convocar greve de trabalhadores. É um vexame! O único critério que deveria determinar o convite para o debate deveria ser mesmo o jornalístico. E ponto final.

Prendam a Polícia e soltem o Marcola
Escrevi alguns posts ontem, ao longo do debate, apontando alguns absurdos. Falo um pouco mais a respeito. As duas áreas do Estado de São Paulo que mais apanharam de pessoas que não saberiam fazer o “O” com o copo foram a segurança e a educação. O quase-empresário Paulo Skaf, presidente licenciado da outrora respeitada Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), aquele que se intitula “a zebra”, chegou a afirmar que a queda drástica do número de homicídios em São Paulo se deve à aprovação do Estatuto do Desarmamento e a uma suposta ação do crime organizado para combater os homicídios.

Fosse executivo da minha empresa, dava-lhe um pé no traseiro por incapacidade de demonstrar pensamento lógico. Como o estatuto tem alcance nacional, Skaf deveria explicar por que, então, os homicídios não caíram igualmente em todo o Brasil. Em vários estados do Nordeste, houve um crescimento brutal de ocorrências. A queda do índice de homicídios no país como um todo se deve aos fantásticos números exibidos por São Paulo. Como já informei aqui, o Estado está no antepenúltimo lugar no ranking dos estados com mais homicídios, e a capital paulista está em penúltimo.

Se bandido agora combate homicídio, então vamos prender a polícia e soltar o Marcola, que poderia ser o secretário de Segurança caso Skaf fosse eleito. Tenho uma idéia melhor: vamos chamar o homem para o Ministério da Justiça caso Dilma se eleja, e Fernandinho Beira-Mar vira secretário nacional de Segurança. Juntos, eles passariam um “salve”: nada de homicídio! E a paz estaria selada. Bem, Marcola já leu Nietzsche. Não deixaria de elevar o nível médio de leitura do governo petista.  Não é tese de zebra, mas de jumento.

Delinqüência intelectual
Mas é possível descer a rampa. Celso Russomano (PP) — nem Paulo Maluf quer saber dele, justiça se faça — foi quem conseguiu juntar em doses realmente elevadíssimas ignorância e prepotência. Este senhor é dono de uma falta de inteligência agressiva e propositiva. Não sabe o que fala, mas está sempre fazendo “propostas”. Segundo ele, morrem mais pessoas em São Paulo do que na guerra do Iraque. Ele deve ter achado a sua idéia fabulosa! O assessor que lhe soprou a asneira deve ter pensado: “Que argumento matador (ooops!)!”  Na conta de Russomano, só entram os 4,5 mil soldados americanos mortos, mas não os 100 mil iraquianos.

Ainda que a sua relação fizesse sentido (é uma estupidez!), o contingente máximo de soldados americanos no Iraque foi de 160 mil. Dado que morreram 4,5 mil soldados ao longo de sete anos, isso dá uma média de 642,8 mortos por ano. Considerando o contingente máximo de 160 mil homens (nem sempre foi assim), isso resulta em 401,7 mortos por grupo de 100 mil. Em São Paulo, o índice de homicídios é de pouco mais de 10 por 100 mil. Logo, a conta de Russomano é mentirosa, e pertencer ao Exército americano no Iraque é, então, 39,17 vezes mais perigoso do que morar na cidade em que mora o candidato do PP — refiro-me ao risco físico, não ao intelectual. Imaginem se a gente colocar na conta os mortos iraquianos… Se não entendeu, candidato, leia de novo. Se, ainda assim, não der, peça a alguém que explique.

Russomano é também aquele que afirmou que um suco de laranja pode custar R$ 15, R$ 20!!! Nem no adorável Fasano, onde quem pode pagaria isso com gosto, o preço deve andar por aí. Suco de laranja nessas alturas só mesmo com intermediação daquela quadrilha que operava na Casa Civil ao tempo em que Dilma era ministra e Erenice Guerra sua secretária-Geral. Isso é suco de laranja depois da “taxa de sucesso” dos “Menudos da Tia”.

Mercadante
Mas Russomano, que acaba de declarar apoio a Dilma Rousseff, encontrou um parceiro para a dobradinha. Quem? O petista Aloizio Mercadante, que se transformou no homem de uma nota só: aquele que quer acabar com o que ele chama “aprovação automática” nas escolas de São Paulo — que, na verdade, é progressão continuada. A proposta está contida na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que é federal. Como lembrou Alckmin, os três estados que tiveram os melhores resultados no Ideb adotam o sistema; os piores, não. Isso não quer dizer que sua implementação não deva ser acompanhada de rigor.

Por que Mercadante não chama as coisas pelo nome? O que ele quer? Repetência continuada? Eu, confesso, nem sou fã da tal progressão, não! Mas é mentira que seja aprovação automática. As medidas implementadas pelo governo do Estado têm surtido efeito, como demonstra o Ideb. O índice anda um horror nos estados administrados pelo PT, partido do senador: Piauí, Pará, Bahia e Sergipe não atingiram a meta estabelecida pelo governo federal; só o Acre conseguiu.

É evidente que esse não é o principal problema da educação em São Paulo ou no Brasil. Mas, em seu discurso furioso, Mercadante não tem muito tempo para delicadezas. Petista, quando na oposição, existe para fazer tabula rasa do trabalho alheio. Com a mesma desfaçatez com que se diz “o” responsável por qualquer convênio que o governo de São Paulo tenha feito com o governo federal, Mercadante vai desqualificando o trabalho alheio. São Paulo, ele garante, vai entrar no ritmo do Brasil. Mas então o estado vai encolher, já que cresce mais do que o país desde 2004.

O comportamento de Mercadante, que bravateava, cobrando que Alckmin lhe fizesse perguntas, foi ironizado até por Paulo Bufalo, o esquedista coradinho da mamãe, que lhe cobrou coerência no episódio dos atos secretos de Sarney, lembram-se? O senador exigia que o PT retirasse o apoio ao presidente do Senado e entregou o cargo de líder, dizendo ser uma “posição irrevogável” — que ele revogou em seguida. Em resposta a Bufalo, o senador petista exaltou as suas credenciais de grande “companheiro” e citou outros heróis do partido — Paulo Freire entre eles. Foi Paulo Freire quem introduziu a aprovação automática (e, ali, era aprovação automática mesmo!) na cidade de São Paulo quando secretário da então petista Luiza Erundina. Coerência de Mercadante? Ora…

Bufalo boy
Bufalo tem um jeito de garoto educado ideologicamente por padres de esquerda. Fazendo referência a uma propaganda de TV de há alguns anos, é o comunista que não suja o shortinho, com suas faces coradas de garoto que comeu sucrilho na infância e caiu nas garras na Teologia da Libertação, que chamo “Escatologia da Libertação”. A exemplo de Plínio de Arruda, está contra todo mundo, entenderam? Fica mais vermelho quando fala: não é fúria, mas timidez. Busca ser ousado, mas a gente nota que está sempre com receio da professora…

Chega a ser simpático na sua parvoíce. Tem uma vantagem moral em relação a Skaf, Russomano e Mercadante: não tenta revestir as bobagens que diz de sapiência técnica nem violenta a verdade com falsas evidências. Sua abordagem é puramente ideológica. E, bem…, não há o menor risco, ainda que remoto, de que seja eleito…

E Geraldo Alckmin? Quem viu sabe: teve, sim, dadas as regras do debate, um excelente desempenho. Ele tem um diferencial importante em relação a seus adversários: conhece o Estado de São Paulo.

Encerro
As pessoas sensatas precisam começar a lutar contra as leis estúpidas que impedem a televisão de fazer o que lhe cabe numa eleição: jornalismo. Em benefício dos eleitores, os debates têm de se dar entre candidatos viáveis. A quatro dias da disputa, um embate dessa natureza não tem de servir de vitrine para quem não teve competência ou votos para tornar viável a candidatura. É um serviço de utilidade pública e deve servir  para que os candidatos detalhem propostas e respondam a dúvidas pertinentes.

E é preciso também vencer a ditadura dos partidos e pôr o jornalismo na parada — e jornalismo com direito a réplica. Sem isso, jornalists também são intúteis . Debates não podem ser vitrines para a exercício de clamorosas mentiras e vigarices. Para tanto, já há os pronunciamentos oficiais em rede nacional, o horário político, o horário eleitoral e os palanques.

Por Reinaldo Azevedo

29/09/2010

 às 0:44

Debate 11 – Skaf compete com Russomano na boçalidade da noite

Paulo Skaf, candidato do PSB, competiu com Russomano na  boçalidade da noite. Acaba de afirmar que as os homicídios em São Paulo caíram porque o crime organizado é que está impedindo os assassinatos. É uma ofensa à Polícia do estado.

Ele deveria explicar por que, então, nos outros estados, a bandidagem não faz a mesma coisa. Ou será que o crime organizado em São Paulo é mais generoso? Não dá!

Por Reinaldo Azevedo

29/09/2010

 às 0:28

Debate 10 – Coerência? Hein? E o elogio de Mercadante para o criador da aprovação automática

Bufalo perguntou a Mercadante por que o petista primeiro combateu Sarney no caso dos atos secretos e depois recuou. Mercadante não soube o que dizer. Fez o elogio das figuras da esquerda, inclusive de Paulo Freire, que foi quem implantou a aprovação automática na cidade de São Paulo quando secretário da Educação da administração petista.

Não tem jeito. Mercadante tem um temperamento irrevogável e… incurável!

Por Reinaldo Azevedo

29/09/2010

 às 0:21

Debate 9 – Rá, rá, rá

Alckmin perguntou a Paulo Bufalo, do PSOL, qual é a proposta do menino comunista que não suja o shortinho para os resíduos sólidos. Ele lá sabe… Aproveitou para atacar os banqueiros…

Por Reinaldo Azevedo

29/09/2010

 às 0:11

Debate 8 - O candidato e o suco de laranja

Ninguém merece!

Celso Russomano (PP) resolveu expor seu programa sobre agricultura. Segundo ele, tudo está errado em São Paulo porque uma caixa de laranja custaria R$ 5 no pé, R$ 20 para o feirante, e um suco de laranja custa R$ 15, R$ 20 num restaurante!

Uau!

Que restaurante Russomano anda freqüentando?A seqüência que ele estabeleceu entre a produção e o consumo final da conta do preparo intelectual deste rapaz.

Por Reinaldo Azevedo

29/09/2010

 às 0:04

Debate em SP 7 - Jesus!

Paulo Bufalo (PSOL), com aquele cara de menino que come a papinha até o fim e não suja o shortinho, acaba de lamentar que o Metrô não use software livre. Não tenho a menor idéia do que ele quis dizer. Só sei que o danadinho é coradinho e comunista!!!

Por Reinaldo Azevedo

28/09/2010

 às 23:57

Debate em SP 6 – A falta de educação da turma de Mercadante

Qualquer que seja a pergunta que lhe seja feita, a resposta de Mercadante é uma só: “Mãe, o Alckmin não faz pergunta pra mim”. E tome ataque à educação de São Paulo. Só para registro. No último Ideb, que é um exame federal, o resultado de São Paulo foi este:

- No ensino médio - 3º lugar
- Nas séries iniciais do ensino fundamental: 2º lugar.
- Nas séries finais do ensino fundamental : 1º lugar

O PT, partido do senador, é governo em cinco estados: Acre, Piauí, Pará, Bahia e Sergipe. Sabem em quantos estados eles atingiram a meta? Em um só: no Acre.

Vai ver Mercadante quer implementar o padrão de competência petista em São Paulo.

Por Reinaldo Azevedo

28/09/2010

 às 23:49

Debate em SP 5 – Boçalidade

Alckmin acaba de humilhar Russomano com dados sobre a economia do interior. Flagrada, a ignorância fica agressiva. O candidato do PP não teve dúvida e fez uma referência boçal a “chuchu”, achando, certamente, que teve uma grande sacada. É o aliado do Mercadante.

Por Reinaldo Azevedo

28/09/2010

 às 23:37

Debate em SP 4 – Por enquanto, cabe a Russomano a estupidez da noite. Com apoio de Mercadante

A dobradinha entre Russomano e Mercadante prossegue, agora atacando a segurança pública de São Paulo, que é uma das mais eficientes do país.  O aprendiz de Maluf, que acaba de declarar apoio a Dilma Rousseff, tornou-se boca de aluguel do candidato petista. E disse uma barbaridade: segundo ele, morreram 170 mil pessoas assassinadas durante os governos tucanos. É mentira!

Ainda que fosse verdade, a conta é estúpida. É como dizer que morreram 400 mil pessoas durante o governo Lula, já que 50 mil pessoas são assassinadas por ano no Brasil, e o PT está no poder há oito anos. Seria o mesmo que acusar Lula de genocídio.

Mercadante fingiu que a conta é válida. É essa gente que quer governar o estado mais rico do país.

Por Reinaldo Azevedo

28/09/2010

 às 23:28

Debate em SP 3 - “Mãe, ele não pergunta pra mim!”

Mercadante acaba de reclamar que Alckmin não faz pergunta pra ele. Está ficando bravo! A cada chance que tem de fazer a sua intervenção, reclama da “progressão continuada” e, claro!, ataca Alckmin, do nada…

E diz que toda verba que entra em São Paulo é obra sua.

Por Reinaldo Azevedo

28/09/2010

 às 23:23

Debate em SP 2 – Mercadante promete derrubar o crescimento em SP, é isso?

Ah, sim: Mercadante deu a entender que, se eleito, São Paulo vai crescer como o Brasil. Então vai crescer menos do que cresce hoje. Por quê? O estado cresce mais do que o país desde 2004.

Por Reinaldo Azevedo

28/09/2010

 às 23:20

Debate em SP 1 – A delinqüência intelectual somada à ignorância

É a velha história…

Debates, na forma como estão sendo feitos, privilegiam a delinqüência intelectual e política. Como corrigir? Se soubesse, daria a fórmula aqui. Adiante.

A TV Globo exibe o debate entre os candidatos ao governo dos Estados. Falo sobre o de São Paulo, que é aquele a que assisto.

Aloizio Mercadante (PT) e Celso Russomano (PP) fizeram uma dobradinha no debate das mais vexaminosas. O tal Russomano prometeu, imaginem só!, baixar o ICMS de São Paulo para atrair empresas, que chamou de o “mais caro” (sic) do país. Prometia guerra fiscal? Não! Ele só não sabia do que falava!

Estava, acho, referindo-se ao ISS, que é municipal. Há produtos da cesta básica que têm alíquota zero em São paulo. Lula nunca confiou em Mercadante como economista, mas a diferença entre os dois impostos, ao menos, o senador sabe. Fez de conta que não havia erro nenhum. Afinal, ambos estavam muito ocupados em atacar Alckmin.

Ao fazer uma pergunta para Fábio Feldman (PV), Russomano abordou o que considerou o número escandaloso de homicídios em São Paulo no ano passado — segundo ele, superior ao de mortos na guerra do Iraque. Ele só se referia, claro!, só aos soldados americanos… É o fim da picada! E vai além do limite da ignorância. E o cara se diz jornalista!

Entre os 27 estados (incluindo Distrito Federal), há 24 que matam mais do que São Paulo. Entre as capitais, há 25 com mais homicídios. O Estado se aproxima dos 10 mortos por 100 mil, considerado um nível de violência não-endêmica pela ONU.

Por Reinaldo Azevedo
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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (veja.com

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