No berço político do PT, Dilma não atinge 50% dos votos

Publicado em 04/10/2010 18:14 e atualizado em 05/10/2010 00:42

Marina e o “viver o processo e se posicionar”

Por Daiene Carodoso, na Agência Estado.Comento em seguida:

Decisão sobre apoio pode levar 15 dias, diz Marina

A candidata derrotada do PV à sucessão presidencial, Marina Silva, anunciou hoje que espera ter uma posição sobre sua posição no segundo turno nos próximos 15 dias. No antigo comitê de campanha do ex-candidato do PV ao governo paulista, Fabio Feldmann, na zona oeste de São Paulo, a senadora revelou que recebeu telefonemas de seus dois adversários, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), parabenizando-a pelo seu desempenho nas urnas e manifestando o desejo de negociar um possível apoio.

“Eles me telefonaram e me parabenizaram pela contribuição e disseram que tinham o desejo de poder conversar.” De acordo com Marina, será estabelecido agora um processo de negociação dentro do PV no qual a prioridade será ouvir a opinião dos grupos que apoiaram a sua candidatura e os principais pontos da plataforma do partido a serem apresentados aos dois candidatos que passaram para o segundo turno.

“Respondi (a Dilma e a Serra) que ia viver um processo e que ia me posicionar. Vou me posicionar só no processo”, disse. Marina afirmou que ainda não tem uma posição pessoal a priori e que o primeiro passo será conversar com a coordenação nacional do PV, formada por aproximadamente 20 membros. “Vou ser coerente com as minhas posições.”

A senadora do PV afirmou que o processo de definição do partido será aberto e democrático, “à altura do resultado” obtido nas urnas no primeiro turno. “Temos a consciência, e boa parte do PV tem essa consciência, de que o resultado que tivemos é muito maior que o partido”, afirmou.

Nova chance
Para Marina, o segundo turno é uma nova chance de os candidatos debaterem os assuntos que interessam ao País. “Disse (a Dilma e a Serra) que todos nós tivemos uma segunda chance de debater o Brasil”, afirmou. Marina preferiu não comentar a decisão do candidato do PV ao governo do Rio de Janeiro derrotado Fernando Gabeira de apoiar a candidatura de Serra ao Palácio do Planalto. “Ele disse que é a manifestação pessoal dele.”

A senadora não quis ainda entrar em detalhes sobre as condições que deve impor aos ex-adversários para declarar apoio. Segundo a parlamentar, a Executiva do PV vai discutir as prioridades da plataforma de governo do PV e apresentar propostas que sejam completamente diferentes “da velha política do fisiologismo”. “A única prioridade são as propostas que consideramos relevantes para o País”, afirmou.

Comento
O segundo turno ocorre daqui a 27 dias.  Marina quer gastar 55% do tempo para “viver um processo e se posicionar”. Ora, ela só e candidata do PV porque deixou o PT. Conhece o partido, as suas prioridades, os lugares por onde transita. Serra e o PSDB também não são uma novidade.

Noto que ela lembra com muita clareza que é maior do que o PV: “Temos a consciência, e boa parte do PV tem essa consciência, de que o resultado que tivemos é muito maior do que o partido”. Parece a fala de quem está resistindo a uma tendência majoritária do partido, que, sabem todos, é favorável ao apoio a Serra— até porque participa de governos tucanos, inclusive do de São Paulo.

A melhor coisa que o PSDB pode fazer por si mesmo é deixar claro que quer, sim, o apoio do PV como quer o de qualquer outro partido institucionalmente organizado. Mas não convém fazer disso uma questão. A razão é simples: a surpresa será se Marina apoiar alguém. Seu discurso e suas declarações até a véspera sinalizam para a neutralidade.

Mais: uma boa maneira de alcançar esse objetivo é impor uma pauta que não possa ser aceita por nenhum dos dois — como se ela própria tivesse vencido a eleição. Pode ser o significado do que Marina chama de algo diferente “da velha política do fisiologismo”.

Por Reinaldo Azevedo

Institutos precisam de rigor, não de afagos!

O Jornal Nacional apresentou há pouco uma reportagem sustentando, basicamente, que os institutos de pesquisa acertaram — referia-se a Datafolha e Ibope, cujos representantes deram seus respectivos testemunhos. Vênia máxima, faltou muita coisa ali, que lembrarei com mais vagar num post da madrugada. Para começo de conversa, não existem apenas esses dois. Afirmei ontem e reitero: a questão é menos de números (embora seja também) do que de postura. A questão não está no ponto de chegada, mas  nos lugares pelos quais passaram antes de chegar.

Afinal, a que se deve o, como é mesmo?, “resultado surpreendente” da eleição? Melhor do que passar a mão na cabeça dos institutos é pedir que afinem seus instrumentos.

Márcia Cavallari, do Ibope, afirmou que a tarefa deles é apontar tendência, não acertar os números. É? Então que virem apontadores de tendência, sem esse papo de “margem de erro”, por exemplo. Ela existe para quê? Não é para asseverar que qualquer diferença se dá naquele intervalo? Mas essa é só uma questão que fica à margem. O principal vem depois.

Por Reinaldo Azevedo

Ok, Dilma! Então chegou a hora de confrontar “o baixo mundo da política” com o “alto mundo da política”

(leia primeiro o post abaixo)

Leiam abaixo a fala de Dilma Rousseff. Gostei desta parte: “Será isso que será chamado a cada um de nós a apresentar”. O que será que isso significa?

Estamos diante de uma tática de comunicação, amplificada pelos “especialistas” em pesquisa que escrevem em jornais e sites. Definiu-se que o apoio de Dilma à legalização do aborto, que a imprensa vinha escondendo dos leitores — e, por enquanto, é mantido escondido dos telespectadores e ouvintes de rádio —, a impediu de vencer no primeiro turno. Pode ter contribuído, claro! Mas será mesmo isso? E se for o conjunto da obra?

Afirmar simplesmente que os eleitores mais refratários à descriminação do aborto migraram para Marina só porque ela é evangélica é um tanto apressado. Pode ter havido um movimento assim, mas terá sido o suficiente para que a Dilma dos até 59% dos votos válidos (segundo alguns institutos) tivesse 12 pontos a menos? E a migração teria se dado justamente para Marina, que se diz favorável a um plebiscito sobre o tema, o que gerou uma forte reação de um líder de sua mesma confissão religiosa?

Magnificar essa questão do aborto, tanto no PT como nos setores filopetistas da imprensa, é uma forma de mitigar os erros de alguns institutos de pesquisa — isso na hipótese benevolente — e o mau-caratismo explícito de outros, que estavam obviamente trabalhando direta ou indiretamente para a candidatura Dilma, cujos números, provavelmente, sempre estiveram inflados ou pela imperícia ou pela sem-vergonhice. Até um dia antes da eleição, o ibope apontava que o tucano José Serra poderia (!) vencer num único estado: o Acre — e olhem lá. Venceu em oito (vejam o mapa que publiquei de manhã). “Polêmica do aborto?” Ora…

Afirmou Dilma: “Eu considero que foi feita uma campanha perversa, com inverdades e quem me acusava não aparecia de forma clara.” Quais inverdades? Seria esta, por exemplo?

Não! Eu não quero satanizar Dilma Rousseff, não! Foi ela quem tomou a iniciativa, na campanha eleitoral, de afirmar que se opõe à mudança da lei. No vídeo acima, de 2007, e numa entrevista à Marie Claire, em 2008, defendeu, respectivamente, a descrminação e a legalização.  Ou bem vem a público e diz: “Ah, eu era a favor, mas agora sou contra”, ou não há nem fofoca nem especulação na suposição de que pensa uma coisa e fala outra para tentar conquistar seus votos.

Dilma disse mais: “Nós estamos inocentes e de boa fé e não imaginávamos que esteja sendo construindo um processo do baixo mundo da política, da fofoca que são mentirosos!. A que “baixo mundo da política” ela está se referindo? Vamos ser claros: “baixo mundo”, nessa disputa, foi o uso do delinqüentes para invadir sigilo fiscal de adversários e compor dossiês; “baixo mundo” é permitir que uma quadrilha opere na Casa Civil.

Eu diria que “baixo mundo” é até mesmo um presidente da República abrir mão do decoro do cargo para pregar a “extirpação” de partidos ou chamar um adversário, que ele já sabia um provável eleito a governo de Estado, de “esse sujeito” — fez isso com Alckmin. “Baixo mundo” é Mercadante afirmar que o governo de São Paulo boicotou convênios com o governo federal, o que é falso. “Baixo mundo” é construir a própria reputação procurando destruir a alheia, negando as óbvias conquistas do governo FHC.

Ok. Chegou a hora, então, de confrontar o “baixo mundo da política” com o “alto mundo da política”. Eu adoro esse debate!

Por Reinaldo Azevedo

Dilma cordeirinho dura menos de 24 horas. De volta à pauleira

O comando do PT reuniu os aliados de peso do lulo-petismo para expressar seu apoio a Dilma Rousseff e dar demonstrações de unidade. A Dilma mansinha de ontem, que parecia ainda um tanto aparvalhada com o resultado, visivelmente decepcionada, já deu lugar à petista do discurso agressivo.

Leiam o que informa Márcio Falcão, na Folha Online. Comento no post seguinte:

Dilma ataca Serra e diz respeitar decisão de Marina

Cercada por aliados, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, disparou ataques nesta segunda-feira ao seu adversário José Serra (PSDB) e afirmou que não tem pretensão de atrair o PV, mas que valoriza muito o apoio de Marina Silva. Dilma afirmou que está disposta a manter a estratégia de comparar os governos Lula e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso porque a eleição presidencial não pode ser transformada em uma disputada de prefeitura de capital.

“Temos que comparar os dois projetos que ocorreram no Brasil. O processo que é modelo de desenvolvimento e o do Fernando Henrique. Não é olhar no retrovisor. Se esse foi o seu governo, quem garante que não irá repeti-lo? Não basta repetir um projeto, não pode transformar a eleição numa prefeitura de capital, com todo respeito, ou uma discussão de ministério. Será isso que será chamado a cada um de nós a apresentar. Os projetos que cada um defende terão que aparecer. Nós nunca podemos esquecer que esse país foi governado pelo PSDB e não pode ser escondido”.

Em relação à costura de aliados para o segundo turno, Dilma disse que telefonou hoje para parabenizar Marina. “O PV não é nossa pretensão, mas se quiser é bem-vindo, mas não está nas nossas expectativas. Eu dou muito valor a Marina. Eu respeito a Marina como militante política e acredito que temos mais proximidades do que diferenças. Agora, isso é questão de foro intimo da Marina”, disse.

A petista disse que não iria especular sobre o apoio de Marina, mas destacou que vai procurá-la e elogiou a postura dizendo que a candidata verde não partiu para baixaria como Serra. “É muito evasivo e desrespeitoso [ficar especulando]. Eu liguei para a Marina para cumprimentar. Seria inadequado discutir [segundo turno]. Vamos de fato conversar com ela.”

Boatos
Dilma atribui o segundo turno também aos boatos contra ela nos segmentos religiosos e afirmou que não percebeu antes porque ela e seus aliados estavam inocentes. “Eu considero que foi feita uma campanha perversa, com inverdades e quem me acusava não aparecia de forma clara. Vamos fazer um movimento com muita tranquilidade no sentido de esclarecer quais são as nossas posições. Fiz uma reunião com religiosos. É nosso interesse, da campanha e meu, continuar com esse debate e esclarecer o máximo possível quais são as nossas posições”, disse.

Para Dilma, ela foi vítima de rumores, referindo-se à divulgação na internet de que teria dito que nem Jesus Cristo tiraria sua vitória na eleição e também à circulação da informação verdadeira de que ela defendia a descriminalização do aborto –conforme fez em sabatina na Folha em 2007 e numa entrevista à revista “Marie Claire”.

“Nós estamos inocentes e de boa fé e não imaginávamos que esteja sendo construindo um processo do baixo mundo da política, da fofoca que são mentirosos!“, disse. Sobre a presença do presidente Lula na campanha, Dilma evitou precisar qual seria a dose certa. “O presidente Lula a gente não pode falar em dose. Ele não é propriamente o remédio. É solução para várias coisas. Ele é umas das maiores lideranças do meu partido e do país”, afirmou.


No berço político do PT, Dilma não atinge 50% dos votos

Por Elizabeth Lopes, no Estadão Online:


Apesar de terminar a corrida eleitoral de ontem em primeiro lugar na cidade de São Bernardo do Campo — berço do PT e local onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a carreira política, como sindicalista —, a candidata petista Dilma Rousseff não alcançou 50% dos votos válidos. Na contagem geral na cidade do ABC paulista, Dilma teve 46% contra 32% do tucano José Serra e 19% de Marina Silva (PV), coincidentemente, o mesmo porcentual de votos que os três presidenciáveis tiveram em todo o País e que levou a eleição para a disputa em segundo turno.

“Mesmo na cidade do seu padrinho político e líder em popularidade, Dilma Rousseff não ganharia o pleito no primeiro turno”, afirma o especialista Sidney Kuntz, comparando a votação registrada em São Bernardo do Campo com o restante do País. Segundo ele, a votação da petista no reduto político de Lula, que ficou abaixo do esperado, acendeu a luz amarela entre os correligionários da legenda.

Reuniões emergenciais já estão sendo organizadas para discutir as eventuais falhas ocorridas na reta final do primeiro turno e definir os rumos desta nova fase da campanha. Ao falar do reduto político do presidente da República, o especialista lembra que Frank Aguiar, vice-prefeito de Luiz Marinho (PT) em São Bernardo do Campo, não conseguiu se eleger deputado federal nessas eleições.

Kuntz avalia que apesar do empenho e popularidade de Lula, o PSDB tem muita força em todo o Estado de São Paulo, tanto que o candidato do PSDB ao governo paulista, Geraldo Alckmin, foi eleito no primeiro turno, apesar da margem apertada para obter a maioria dos votos, e o tucano Aloysio Nunes Ferreira obteve uma das duas vagas ao Senado, deixando de fora Netinho de Paula (PCdoB), da coligação petista, e que era apontado pelas pesquisas de intenção de voto como um dos favoritos nessa corrida.

Outras cidades
Na análise da apuração nas cidades do ABC paulista, Dilma só registrou mais de 50% dos votos na cidade de Diadema, município administrado pelo PT. Ali, ela teve 56% dos votos válidos, Serra recebeu 23% e Marina, 19%. Em Mauá, outra cidade administrada pelo PT, Dilma também não chegou a atingir 50% dos votos válidos e ficou com 47%, contra 30% de Serra e 20% de Marina.

Em Santo André, cidade administrada pelo PTB, aliado dos tucanos, Dilma obteve 39%, Serra 36% e Marina 22%. Em São Caetano do Sul, administrada também pelo PTB, Serra liderou com 52%, seguido de Dilma com 23% e Marina com 21%.

Por Reinaldo Azevedo

Leiam o que vai abaixo. Volto em seguida:


Por Fábio Amato, na Folha Online:
O ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) disse nesta segunda-feira que o PT vai insistir no segundo turno na estratégia de comparar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o do seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso (PSDB). “O segundo turno possibilita mais uma vez uma eleição polarizada entre o projeto do presidente Lula e o projeto defendido pelo candidato da oposição”, disse Padilha, se referindo a José Serra, candidato do PSDB que disputará o segundo turno com a petista Dilma Rousseff.

Padilha foi um dos ministros que se reuniu na manhã desta segunda-feira com o presidente, em Brasília, para discutir o resultado das eleições e começar a traçar a estratégia do PT para o segundo turno. De acordo com o ministro, Lula se mostrou “muito feliz e tranquilo” com o resultado obtido por Dilma no domingo. Entretanto, petistas como o chefe-de-gabinete do presidente, Gilberto Carvalho, haviam informado ontem, antes de concluída a eleição, a expectativa de vitória de Dilma no primeiro turno.

Padilha disse ainda que Lula ficou satisfeito com o resultado das eleições nos Estados e para o Congresso. “O presidente está muito feliz com a vitória dos seus aliados nos Estados, na Câmara e no Senado. Achamos que colhemos o que plantamos ao longo destes oito anos”, disse. A votação garantiu ao PT mais nove cadeiras na Câmara no ano que vem: de 79 para 88. O PSB, partido aliado do governo, foi outro que aumento o número de deputados eleitos, de 27 para 36.

A divisão entre governo e oposição na Câmara, entretanto, não deve sofrer grande alteração. A base governista, que hoje está em 70% da Casa, deve chegar a 72%. No Senado, PT e PMDB, outro aliado do governo, foram os partidos que ganharam mais cadeiras: 13 e 17, respectivamente. Dos 54 senadores eleitos ontem, 43 são de partidos que integram a atual base governista.

Ressalte-se que o quadro de eleitos ainda pode sofrer alterações significativas caso a Justiça Eleitoral decida liberar as candidaturas ficha-sujas, cujos votos por ora estão congelados.

Dilma
Padilha ressaltou que a candidata do PT atingiu no primeiro turno o mesmo “patamar histórico” obtido por Lula nas eleições de 2002 e 2006, quando também venceu no segundo turno. O ministro negou que o presidente, cuja governo atinge aprovação de 80%, não tenha conseguido transmitir a popularidade a Dilma.

“Achamos sim que o governo transferiu essa popularidade, não só para a Dilma, mas também para os aliados. O país que saiu das urnas ontem expressa sentimento de aprovação do governo do presidente Lula e dos aliados do presidente Lula.” Padilha se negou a comentar os fatores que levaram a eleição presidencial para o segundo turno. Mas ressaltou que a campanha petista vai procurar o apoio do PV e de Marina Silva. “Vamos atrás de todos aqueles que podem ser aliados desse projeto [de governo petista], tanto os candidatos como também os setores da sociedade.”

Comento
Bem pensado, que outro trunfo tem Dilma Rousseff a não ser prometer a continuidade e tentar navegar nas mistificações criadas pela máquina de propaganda? Se o PSDB fingir que esse confronto não está sendo feito e insistir apenas num choque de obras e biografias, nada feito.

Será preciso um pouco mais do que isso. Agora, há tempo para desconstruir farsas também. O PSDB não tem por que se envergonhar de seu passado, não. E isso não quer dizer transformar a eleição num plebiscito, num confronto entre Lula e FHC — com efeito, é isso o que quer o presidente da República, que tem a máquina na mão.

Sem desprezar a sua historia, o caminho é obviamente outro. Dilma tem de ser, sim, confrontada com sua biografia e suas contradições; e o mesmo vale para o PT. Reitero: a questão é política.

Por Reinaldo Azevedo

É bom o tucanato tomar cuidado para não repetir, com Marina Silva, a bobagem ocorrida há alguns meses na definição do vice na chapa. Naquele caso, criou-se a expectativa de que Aécio Neves aceitaria o desafio, ficou-se à espera dele por algum tempo, ele não veio, e os setores da imprensa ávidos por decretar o fim do PSDB proclamaram então: “Derrota!” O tempo agora é mais curto, mas a besteira pode se repetir. “Temos de ter Marina; temos de ter Marina”. E nada de a candidata verde declarar seu apoio. Quando e se não o fizer, virá o óbvio: “Decepção tucana; Marina declara neutralidade”.

Ouso divergir um tantinho dos que acreditam que política é mera conta de somar e subtrair. Fosse assim, bastaria juntar os votos do tucano e da verde, e a fatura estaria liquidada. POLÍTICA É CONTA DE MULTIPLICAR. Vamos devagar.

Primeiro Marina: ela vai ou não vai?
Tendo a achar que não. Será que lhe interessa uma possibilidade de mudança do eixo de poder? Ouço o discurso de Marina e entendo que ela, em uma das mãos, se considera o bom petismo, aquele autêntico, o que não abandonou as suas bandeiras. Na outra, vê-se como a superação das supostas dicotomias que separem petistas de tucanos. Ela seria uma síntese superior dessa oposição, podendo unir as bordas de ambos os lados, com a sua visão de política que chamo “holística” — à falta de algum termo consagrado da literatura política que defina o seu discurso. Realmente não sei se interessa a ela a vitória de um tucano. Tendo a achar que ela flerta mais com um eventual e suposto esgotamento do modo petista de fazer política — ou seja: com a vitória de Dilma. Seria um erro de análise, entendo. Mas não do ponto de vista dela.

Como obteve um resultado bastante expressivo nas urnas, Marina pode tentar vender muito caro o seu apoio. Durante os debates, ela tentou arrancar dos demais candidatos o comprometimento, por exemplo, com o tal Código Florestal, cuja aplicação seria desastrosa para a agricultura do país. Marina tentará impor a sua agenda como se tivesse sido ela a passar para o segundo turno? Se caminhar por aí, as coisas se complicam bem. Vamos ver.

Agora Serra: a questão é política
É claro que o eventual apoio de Marina a Serra seria, do ponto de vista do tucano, muito bem-vindo, desde que ele não tenha de trocar a sua agenda pela agenda dela — esse tipo de acordo não existe; a rigor, nem acordo é. Entendo que a questão é de natureza política. É a política que tem de ser resgatada na campanha.

Em 1998, Covas chegou em segundo lugar na disputa pelo governo de São Paulo (ver post anterior), bem atrás de Paulo Maluf. A campanha eleitoral era pautada pelo puro administrativismo: o governador fez isso, fez aquilo, melhorou aquilo outro… Enfrentava a virulência malufista e suas mistificações. Quase naufragou. Marta, a terceira colocada, declarou, sim, apoio a Covas no segundo turno. Mas, entendo, o que determinou a vitória do tucano foi o embate POLÍTICO com Paulo Maluf. Em vez de ficar no “fiz isso e fiz aquilo e vou fazer mais isto e isto”, fez-se um enfrentamento de valores. E ganhou.

É claro que era mais fácil bater em Maluf do que em Dilma — que continuará pendurada em Lula. Não ignoro isso. Mas não estou falando em “bater” em ninguém. Ao contrário até: acho que é preciso encontrar a linguagem afirmativa dos valores que Serra, como candidato tucano, encarna, em contraste, sim, com Dilma. Com ou sem Marina, opor meramente a “Continuidade de Superação” (tucanos) à “Continuidade de Exaltação” (petistas) não é uma boa idéia para a candidatura do PSDB.

É a política!
Há a tal máxima: “É a economia, estúpido!”, atribuída a um assessor de Clinton na disputa contra Bush pai, lá atrás. Em eleição, queridos, a única frase que faz sentido é esta: “É a política, estúpido!”, já que as virtudes e defeitos da economia são transformados em linguagem… política! Assim como é possível transformar salário, renda, consumo etc em votos, o mesmo se pode fazer com valores. São sempre eles que decidem as eleições. Só para ficar nos EUA: Bush filho, no primeiro mandato, já havia convertido os superávits gêmeos em déficits gêmeos — para não falar no desastre do Iraque, que já estava configurado. E foi reeleito. Obama pegou o país no osso, foi visto como um demiurgo de alcance mundial, o salvador… Duas semanas depois da posse, os republicanos resolveram lembrar que existe oposição no país. Há o risco de os democratas perderem a maioria na Câmara e no Senado.

Não estou chamando ninguém de “estúpido”. Estou apenas brincando com o clichê. Sempre será a política, estúpido!

Por Reinaldo Azevedo

Se vocês pensam que os “analistas” e “especialistas” filopetistas vão descansar, não vão, não. Trabalharão arduamente para “derrotar” o tucano José Serra antes das urnas porque agora virou uma questão de honra. É preciso que digam ao fim de tudo: “No geral, acertamos; sempre dissemos que ele perderia”. Então vão fazer o que têm feito nos últimos dois anos. O esforço é tal que já estão anunciando graves problemas para o PSDB de São Paulo e o que chamam “mudança do eleitorado” ou “necessidade de renovação”. É impressionante. E qual é a base verossímil sobre a qual mentem?

O tucano Geraldo Alckmin elegeu-se governador, em primeiro turno, com 50,63% dos votos. Menos de 1%, pois, o separou da realização de um segundo turno. E então o coro dos “petófilos” entoa a ladainha: “Ih, olhem a fadiga de material aí…” Até parece que Alckmin venceu a eleição por 0,63 ponto disputando um segundo turno com Mercadante. Não! Ele venceu por essa margem no primeiro, feito QUASE inédito.

Desde quando existe segundo turno, só um governador havia sido eleito na primeira rodada: José Serra, em 2006. Mário Covas disputou a segunda rodada com Francisco Rossi em 1994. No primeiro turno, ficou com 46,84% dos votos. Em 1998, em razão do forte programa de saneamento das finanças do estado, que estavam destruídas, a derrota de Covas na disputa pela reeleição era dada como certa. Atenção! Naquela disputa, no primeiro turno, Paulo Maluf obteve 32,12% dos votos; Covas, 22,95%, e Marta, do PT, 22,5%. Apenas 70 mil votos separaram o tucano da petista.

Com a morte de Covas, Geraldo Alckmin assumiu o governo e disputou a reeleição em 2002. E não levou no primeiro turno, não. Disputou o segundo com o petista José Genoino, na chamada Onda Vermelha que elegeu Lula: na primeira rodada, o tucano teve apenas 38,38% dos votos, contra 32,45% do petista .

José Serra foi, então, o primeiro governador a vencer uma disputa no primeiro turno. Vinha de uma prefeitura muito bem avaliada, tinha sido candidato à Presidência em 2002, ministro da Saúde com sólidas realizações etc. Venceu fácil, com 57,93% dos votos válidos.

Viram a trajetória? Qual vinha sendo a regra? Resultado no primeiro ou no segundo turno? A excepcionalidade era a vitória de Serra na primeira etapa, feito agora repetido por Alckmin, com vantagem menor é verdade. Mas comparem os votos que o tucano obteve agora com os obtidos em 1998.

Bobajada
A máquina de propaganda petista, infiltrada nas redações como nunca antes na história destepaiz, está tentando transformar em vitória a óbvia derrota do PT e de Lula no Estado, revelada também no vexame protagonizado no Senado — ainda voltarei a este particular.

Alckmin vence no primeiro turno enfrentando a campanha eleitoral mais vigarista de todos os tempos feita neste estado, que tentou transformar virtudes do governo de São Paulo — como a segurança pública, a educação e as estradas — em defeitos. Ademais, o lulo-petismo tinha três candidatos: além de Mercadante, Celso Russomano e Paulo Skaf. No apoio, a histeria anti-PSDB dos nanicos de extrema esquerda.

Apesar da chamada onda vermelha, apesar de Lula,  apesar da campanha deliberada para esmagar “esse sujeito” — como Lula se referiu a Alckmin três dias antes da eleição —, os tucanos bateram de novo o PT no primeiro turno. E, de novo, Lula perdeu a eleição em São Paulo, como perdeu em 1989, 1994, 1998, 2002 e 2006.

Por Reinaldo Azevedo
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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (veja.com

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