PSDB x PT: sobre verdades, mentiras e equívocos (por Reinaldo Azevedo)

Publicado em 22/10/2010 15:31 e atualizado em 22/10/2010 17:01

O Jornal Nacional e o Jornal da Globo, confrontando as imagens do SBT com outras feitas pelo celular de um repórter da Folha, evidenciaram com clareza inquestionável que a agressão que forçou o tucano José Serra a interromper a caminhada no Rio não foi aquela exibida pelo SBT, a da bolinha de papel. Ontem à noite, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, como se vê em filme abaixo, reconhecia isso. A verdade não impediu o PT de contar mentira no horário eleitoral. Insistiu na versão da bolinha de papel, acusando o adversário de mentir.

É o lixo! É o fim da linha! É o vale-tudo, levado ao ar, desta feita, com a colaboração de uma emissora de TV. Consta, não vi, que o jornalismo do SBT reconheceu o seu equívoco ou algo assim. O fato é que a farsa já havia ganhado corpo, e a escória moral mobilizada em favor da mentira e da desqualificação já havia sido mobilizada. O que isso significa? Eles não têm limites. No seu programa, o PSDB conta não a sua versão — porque não estamos diante de uma divergência de pontos de vista —, mas a verdade.

O que o PT faz com os episódios do Rio não é diferente do que faz com as privatizações. Mente sobre isso com igual desenvoltura e mau-caratismo. Assim como o partido sabe que não foi apenas uma bolinha de papel que atingiu o tucano, sabe que não existe uma só evidência para afirmar que, se eleito, o adversário pretende privatizar o pré-sal e a Petrobras. E daí? O partido não tem o menor compromisso com os fatos.

Baixaria
Tenho tratado da questão aqui há mais de um mês, desde o primeiro turno: boa parte do jornalismo critica os tucanos por estarem supostamente explorando a questão religiosa — embora este tenha sido um debate iniciado pelas igrejas —, mas não critica os petistas por mentirem sobre as privatizações. Ainda que o PSDB tivesse levado ao ar “as posições” (no plural) de Dilma Rousseff sobre o aborto, por exemplo, não estaria recorrendo a nada mais do que a verdade.

Ocorre que a campanha tucana, até agora, é refém do politicamente correto, dos “censores” bem-pensantes de certa imprensa escrita, que exigem que o PSDB dispute o Troféu Fair Play, e de seus próprio bom-mocismo amanhecido. Do PT não se esperam nem educação nem decoro, tampouco a verdade — afinal, “eles são assim mesmo”. Chega-se, pois, ao absurdo lógico segundo o qual os tucanos não podem recorrer a certos fatos para retratar o PT porque seria coisa de “conservadores e reacionários”; já os petistas podem mentir à vontade.

Pegue-se o exemplo da pauta religiosa, que certo jornalismo esquerdofílico tentou eliminar do debate a golpes de censura moral. Digam-me uma só democracia — umazinha miserável que seja — em que o aborto e questões ligados à vida e à moral não sejam temas de debate e confronto de idéias. Não existe! Ninguém seria capaz de citar. É MENTIRA QUE OS TUCANOS TENHAM LANÇADO ESSA QUESTÃO. Poder-se-ia dizer que até foram surpreendidos por ela. A campanha na TV buscou associar Serra discretamente à disciplina cristã, mas não mais do que isso. Ao contrário: o horário eleitoral fugiu do tema. Na segunda semana do segundo turno, a campanha estava de volta à maximização do minimalismo administrativista…

Pegue-se uma pauta fundamental em qualquer democracia: obediência à lei. Como o PSDB tratou, por exemplo, a questão do MST, que diz respeito a milhões de pessoas e está diretamente ligada à segurança jurídica e garantias previstas até na Declaração Universal dos Direitos Humanos? Simplesmente não tratou. Não seria delicado tratar do direito à propriedade. Ficaria com a fama de “reacionário”…

Verdade e mentira
Volto ao caso das privatizações. A resposta ao terrorismo petista, inclusive no direito de resposta que o PSDB conseguiu no horário da Dilma, é pífia: trata-se da questão de modo temeroso e defensivo. É claro que não dá para debater conceitualmente a questão. O eleitor tem o direito de saber os números da Petrobras de 1995, primeiro ano do governo FHC, e de 2002, último ano; tem o direito de saber a evolução da produção de petróleo nesse período. Veja-se o caso da Vale do Rio Doce: a mais entusiasmada defesa da privatização, até agora, foi feita por um petista, irmão de José Genoino, em nome do PT. O partido disse “não” a uma proposta de plebiscito propondo a reestatização.

Não obstante, a satanização corre solta, sem resposta. O que explica? Só pode ser uma leitura torta, vesga, paralisante, de pesquisas qualitativas que indicam que o eleitor não gosta de privatizações etc. O PT tem os mesmos dados. Assim, enquanto Lula e sua turma usam a percepção média para fazer terrorismo, o PSDB usa essa mesma percepção para correr do tema, como se não tivesse virtudes a exibir. Há também muito de vaidade: “Nossa campanha não vai ceder à pauta da campanha do adversário”. Marqueteiros têm um ego maior do que a própria obra.  Não se trata de ceder à pauta, mas de fazer o bom debate.

Invertendo?
Alguém poderia dizer: “Pô, o PT faz aquele programa pilantra, e você bate no PSDB?” Não estou batendo em ninguém. Apenas deixo claro, com exemplos, que um dos lados não encontra fronteira nem na mentira ao fazer a sua pregação e que o outro tem receio de recorrer até mesmo à verdade. A boa máxima de Serra no discurso de lançamento de campanha nem de longe pautou seu programa de televisão: “Quanto mais mentiras disserem sobre nós, mais verdades diremos sobre eles”. Só a primeira parte do período composto aconteceu. A reação proporcional não se deu.

Eu continuo não sabendo quem vai ganhar a eleição. Os que sabiam tudo no primeiro turno quebraram a cara. O que sei é que o PSDB precisa — agora, em  2014, em 2018 — ganhar ou perder contando a verdade. E não apenas a verdade sobre o adversário, mas também a verdade sobre si mesmo.

E isso não é feito. Há pelo menos três eleições a propaganda do PSDB é refém daquilo que o PT acha dele, em vez de ser dono de sua própria história e dizer com clareza o que acha de si mesmo. Ou recupera a narrativa sobre si mesmo ou nada feito.

Por Reinaldo Azevedo

Lula deixa um rastro de ódio, pouco importa que seja o seu sucessor

Pouco importa quem vença as eleições, Lula deixa ao sucessor uma herança política um tanto maldita. E isso se deve à sua atuação irresponsável no processo eleitoral. Assistimos a uma disputa em que um dos lados acha que tudo é lícito, menos perder. Daí o vale-tudo.

Pensem um pouco: segundo as pesquisas, o PT pode estar até 12 pontos na frente nos votos totais. Se for assim, é uma vantagem é tanto — se acredito nisso, nas condições de hoje, é outra coisa, mas é fato que esses levantamentos balizam comportamentos etc. Ora, o PT deveria ser o principal agente de paz no confronto eleitoral. No entanto, Lula é o primeiro a se pintar para a guerra. E isso vem lá do primeiro turno.

Meteu-se na campanha de cabeça. Quando percebeu que sua candidata estava mesmo correndo risco, passou a distribuir caneladas e cotoveladas e começou a gritar: “Jogo sujo! Jogo sujo!”, numa tática para tentar deslegitimar o adversário. A imprensa nada séria que o governo financia fez coro. A gritaria contaminou até a séria.

O PT, assim, deixa claro que, caso Serra venha a se eleger presidente, sua vida não será fácil. As corporações de ofício, as guildas petistas que hoje vivem do que conseguem arrancar do estado, prometem criar o máximo de dificuldades. É o que o PT sempre faz na oposição: busca sabotar o governo de turno.

Ocorre, e isso está bastante claro a esta altura, que um eventual governo Dilma também não será fácil. Lula vai deixando um rastro de rancor por onde passa, tanto o rancor que ele secreta como aquele que ele desperta com sua ação destrambelhada. Caso a petista se eleja, esse “malaise” acabará se voltando contra a “presidenta”, que não é famosa por seu jogo de cintura. Lula, o tutor, espera no entanto ser o Putin da Medvedev de calças. Ocorre que temos uma democracia mais avançada do que a Rússia.

Lula é tão autocentrado que conseguiu emprestar certa aura de artificialidade a seu sucessor, qualquer que seja ele, do governo ou da oposição. É como se a sucessão não fosse o processo natural numa democracia. Quem quer que vença, haverá um lado se sentindo sabotado. E ele é o único responsável por isso. Confunde os 80% de aprovação que lhe conferem os institutos de pesquisa com endosso para o vale-tudo. E está errado.  O Babalorixá de Banânia sempre fez aquele seu discursozinho vigarista contra “dona zelite”, o que ficava na esfera da cafonice retórica esquerdofrênica. Desta feita, no entanto, foi além: deixou claro que, se necessário, parte mesmo para o pau, para o confronto de rua, na premissa de que, numa eleição, qualquer coisa é legítima, menos perder. E isso pode ser tudo, menos democracia. 

Por Reinaldo Azevedo

Perda de parâmetros. Ou: Este colunista dá uma ordem a Lula em nome da Constituição de que ambos somos súditos

Há uma perda generalizada de parâmetros, de referência, de noção do certo e do errado. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com seu cesarismo tosco, com sua rusticidade estudada e cínica, com sua violência retórica muito além do que seria cabível a um chefe de governo, reduz a política a um confronto de gangues de rua, e vença aquele que conseguir eliminar o inimigo! Ao fim de seus oito anos de mandato, ao contrário do que dizem os áulicos e os candidatos a tanto, o jogo político de tornou menos civilizado, o estado está mais partidarizado, as instituições obedecem menos ao que prescreve a letra da lei e mais ao que determinam as injunções dos grupos de pressão.

É verdade a máxima de que o poder tende a corromper o caráter das pessoas e dos partidos. E a democracia é mesmo um sistema imperfeito, daí que o zelo para preservá-lo tenha de ser permanente; daí que o esforço para corrigir seus defeitos tenha de ser contínuo. Há instrumentos para impedir que o sistema democrático se desvie de seu curso, e — atenção! — a eleição, com a possibilidade de alternância de poder, é um deles. Alternância que pode não acontecer se o povo assim decidir — mas forçoso é que todos os contendores sigam as regras do jogo. E Lula não as segue. Utiliza as prerrogativas de chefe de governo e chefe de estado, que conquistou nas urnas, para se comportar como o chefe de uma facção e, no que concerne aos lamentáveis episódios do Rio, chefe de um bando.

É forçoso lembrar que a entrevista destrambelhada, desrespeitosa, em que aviltou José Serra — nada menos do que o candidato da oposição à Presidência, com possibilidade mesmo de se eleger presidente — foi concedida na condição de presidente da República, não de simples militante partidário. E que se note: jamais um chefe da nação será apenas o membro de um partido. Mas Lula já não quer ser nem mesmo um hipócrita decoroso. Esta certo de que não mais é mais necessário representar o papel que constitucionalmente lhe cabe — e que ele despreza: o de grande magistrado da nação.

Sim, um presidente, em última instância, é o grande árbitro da nação, e dele se espera que seja equânime, mesmo quando seus adversários políticos representam um dos lados da contenda; afinal, ele é presidente também daqueles que não votaram nele e que lutam, de acordo com as regras, para sucedê-lo — e não para substituí-lo.

Mas quê!!! Esse é o entendimento, com efeito, que os democratas têm do regime. Lula, em que pese a sua falta de preparo teórico e vínculo intelectual mais profundo com a esquerda, ganhou corpo numa outra cultura política. Por mais que seu governo seja, evidentemente, o de um país capitalista, ordenado segundo as leis do mercado, sua visão de mundo é herdeira do socialismo, da crença de que um partido detém o espírito e a forma do futuro, de que afrontá-lo consiste numa regressão do processo histórico — e não é só por malandragem publicitária que ameaçam o eleitorado com o retrocesso se o adversário vencer a disputa. Essa convicção autoritária se deixou temperar por todas as benesses e facilidades do poder, de sorte que, hoje, já não se distinguem o assaltante dos cofres públicos do grupo de assalto à democracia. Eles se misturaram; formam uma coisa só.

A entrevista em que Lula acusa Serra de mentir foi desmoralizada pelos fatos. Já sabemos disso. Mas quero chamar a atenção de vocês para a linguagem empregada pelo presidente, para os temos a que recorre para se referir ao candidato da oposição: “esse cidadão” e “esse homem” — já havia antes se referido a Geraldo Alckmin como “esse sujeito”. As pessoas perdem o nome, tornam-se um todo anônimo que tem de ser esmagado. Mais um pouco, diria “esse elemento”. Não expressou uma só palavra de censura à ação de seus correligionários, de sua tropa de assalto, nada! Lula fazia, assim, do agressor a vítima e da vítima o agressor, recorrendo à metáfora futebolística a que reduz todos os conflitos, internos ou externos.

Mas não está só - A imprensa áulica
Masnão é só ele que perdeu os parâmetros — ou que faz questão de não tê-los por método e escolha consciente. Amplos setores da imprensa hoje o seguem nesse desvario: os comprados porque comprados, e isso os define; os tocados pela ideologia porque supõem que, de algum modo, estariam mesmo em confronto duas visões de mundo: uma mais “progressista”, o PT, e outra mais “conservadora”, o PSDB, clivagem que não resistiria a um exame raso dos fatos. Qualquer pessoa intelectualmente honesta seria obrigada a admitir que, em muitos aspectos, o candidato tucano está à esquerda do ajuntamento que Dilma Rousseff representa hoje.

E, nesse ponto, um caçador de contradições inexistentes tenderia a me indagar, tentando alguma ironia: “Mas, então, você deveria se entusiasmar com Dilma”. Tolice! A questão, como tenho escrito aqui tantas vezes, diz respeito à DEMOCRACIA. Da velha esquerda, o PT conserva um valor intocado: o ódio ao regime democrático — e o esforço consecutivo para solapá-lo, agora pela via legal. Afinal, eu sou aquele que sempre desconfiou do caráter desses caras, mas que nunca disse que eles são burros.

A tacanhice ideológica é um mal, no mais das vezes, incurável. Quem faz as suas escolhas pensando não na preservação dos valores da democracia, consubstanciados nas leis e nas instituições, mas no “avanço da luta dos oprimidos” está pronto, a qualquer momento, para conceder com a transgressão institucional se considerar que a tal “justiça das ruas” está sendo feita. E a nossa imprensa está coalhada dessa boçalidade. Há mais esquerdistas na Folha, no Estadão, no Globo, na Globo e na VEJA do que no PT, que sabe instrumentalizar a favor da consolidação do seu poder esse pendor juvenil (não importa a idade do coroa…) para essa noção muito particular de justiça que abastarda as leis. Curiosamente, essa cultura antiestablishment é, hoje, expressão de um arraigado governismo porque, afinal de contas, na comparação, o PT estaria mais próximo dos idéias de justiça social. Dados empíricos podem comprovar o contrário. Mas e daí? Esse é um mal permanente, sem cura.

E não é o mal maior. O governo Lula conseguiu, como nunca antes na históriadestepaiz, comprar veículos inteiros — jornais, portais, revistas —, de porteira fechada, com todas as alimárias que lá iam. Assiste-se a um verdadeiro show de horrores. O objetivo não é mais a notícia, o fato, tenha-se dele a leitura que for, mas a fofoca, a difamação, a versão que interessa ao partido, a luta política. E o fazem, naturalmente, sem admitir a escolha política. O caso da agressão sofrida por Serra evidenciou com clareza esse desastre moral: mesmo depois de comprovado que o episódio não se resumia a uma “bolinha de papel”, insistia-se na hipótese delinqüente. Houve até quem chamasse a reportagem de “a versão do Jornal Nacional”, como se, no caso, pudesse haver duas verdades.

É compreensível que alguém indague: “Quem é você para falar?” Como escrevi no post em que anunciei que este blog caminha para 5 milhões de páginas visitadas neste mês de outubro, eu tenho lado — expus os valores desse lado. MAS NÃO PRECISO DA MENTIRA PARA DEFENDÊ-LOS, NÃO! Mais ainda: jamais chamei de “notícia” as minhas opiniões. Rejeito a trapaça. Por isso tantos vêm aqui — até os que me detestam. Os petistas, que me lêem obsessivamente — a turma deles é muito ruim, beirando o analfabetismo —, podem falar o diabo a meu respeito, adjetivos nem sempre afetuosos, mas jamais poderão dizer: “Olhem como ele nos atribui o que não fizemos!” Nunca! Eu sempre lhes atribuo o que fizeram; eles se sentem devidamente caracterizados aqui. Só não tenho deles a opinião que têm de si mesmos.

Luta pelo estado, não pelo mercado
Fosse a convicção a mover esses veículos a que me refiro, vá lá. Mas não é! Tampouco se trata de uma luta para conquistar o “outro”: “Ah, se A e B dizem isso, então vamos dizer aquilo para falar com o outro leitor, o outro telespectador, o outro ouvinte, o outro internauta”. Não assistimos a uma luta pelo mercado senão a uma LUTA PELO ESTADO, por seus recursos, pela verba publicitária do governo federal e das estatais. Apostam alto no cavalo que lhes parece vencedor porque contam, depois, dividir o butim. Se não podem enfrentar a concorrência para conquistar os leitores ou telespectadores, vale enfrentar a verdade com a mentira para conquistar o caixa do governo. Estou nessa profissão há um bom tempo já. Nunca assisti a nada parecido.

Questão errada
Tentou-se deslocar o debate para o objeto que teria atingido a cabeça de José Serra, e se questionou se, afinal de contas, a agressão teria sido forte o bastante para levá-lo ao médico, como se o ato, em si, o verdadeiro assalto que petistas tentaram promover na caminhada tucana, fosse uma prática aceitável, corriqueira, adequada às normas da disputa democrática. O fato de que aquela gente lincharia o adversário se tivesse oportunidade não contou de nenhuma maneira. Não se tocou no assunto.

E, quando a questão foi tratada, caminhou-se pelas veredas do obscurantismo. Discordo, por exemplo, severamente de Janio de Freitas, colunista da Folha. Daria para ir de A a Z, sem ficar uma só letrinha pelo caminho. Mas não imaginava ler um texto seu como o de ontem, em que sugere que os tucanos estavam no lugar errado — deveriam era caminhar na beira da praia, sugeriu — e que o elemento de perturbação, sabe-se lá por quê , era Índio da Costa, vice de José Serra. Janio perguntou à vítima do estupro por que ela estava usando minissaia. Quem escrevia ali? Nem mesmo era ele. Tratava-se de um preconceito bem mais antigo do que o próprio colunista.

Encerrando
Perda de parâmetros. Esse é o nome do nosso mal. Aos poucos, como sociedade, vão desaparecendo as noções do que pode e do que não pode. Há dias, na solenidade promovida por um desses panfletos comprados com dinheiro público, Lula conclamou os políticos a enfrentar a imprensa — mais ou menos como os petistas do Ceará, protegidos por Cid Gomes, já querem fazer, silenciando-o. Não se referia, evidentemente, a esta na qual ele passa hoje as esporas (olhem a metáfora rural deste caipira, hehe…), mas àquela outra que tem valores, que não abre mão da democracia, do estado de direito, da Constituição e das leis; àquela que lhe diz com clareza: um presidente da República tem de atuar dentro de seus limites.

Não sei quem vai ganhar as eleições. Corisco nem se entrega nem se assusta com números. Para Corisco, número não é categoria de pensamento nem pode constituir, sozinho, uma moral ou plasmar uma ética. Vença quem vença, Corisco anuncia: estará na Resistência em nome daqueles valores de que não abre mão: democracia, estado de direito, liberdade de expressão, economia de mercado. Por isso Corisco, como cidadão, ordena, em nome da Constituição de que os dois somos súditos:

“Peça desculpas ao país e ao candidato de oposição, senhor presidente da República! É a oposição que legitima a democracia, meu senhor! Afinal, nas ditaduras também é permitido concordar. Aprenda ao menos isso. Nem que seja a última coisa. Nem que seja a primeira!”

Por Reinaldo Azevedo

Estas palavras vieram da história e continuam a fazer história

Por Reinaldo Azevedo

Alckmin: “Lula zomba da lei, incita a violência e faz piada com coisa séria”

Por Venilson Ferreira, no Estadão Online:
O governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse nesta sexta-feira, 22, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dá “mau exemplo” e “incita a violência” ao não recriminar a agressão sofrida pelo candidato à Presidência da República, José Serra (PSDB), na última quarta-feira, durante campanha no Rio de Janeiro.

Na opinião de Alckmin, ao ironizar o episódio o presidente Lula “zomba da lei” e “faz piada com coisa séria”. Alckmin participou hoje do ato “Mato Grosso pró José Serra” que reuniu cerca de 300 pessoas no Centro de Eventos do Pantanal. Depois do ato, ele seguiu para o Mato Grosso do Sul.

Em relação ao segundo turno das eleições presidenciais, o futuro governador paulista afirmou que no partido há clima de otimismo, pois pesquisas internas indicam empate e que candidato José Serra lidera em muitas capitais e Estados. “O que vemos é uma disputa acirrada, onde o Serra tem todas condições de ganhar as eleições.”

Alckmin participou pela manhã de reuniões com lideranças políticas no Acre, onde, segundo ele, “o candidato Serra pode atingir 60% dos votos”. Ele acredita que em São Paulo a vantagem de Serra passará dos 800 mil votos do primeiro turno para 3 milhões de votos no segundo. Hoje à tarde Alckmin segue para Dourados e Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, e amanhã estará em Goiás.

Questionado sobre as denúncias de desvio de recursos de campanha por parte do ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, o governador eleito disse que “não há fatos que possam ser investigados”. Irritado com as perguntas, Alckmin disse: “Vocês (jornalistas) repetem o que o PT fala. O PT fala muita mentira.”

Alckmin, que venceu o presidente Lula em Mato Grosso nos dois turnos das eleições de 2006, reafirmou o compromisso de Serra com investimentos em infraestrutura no Estado. Ele disse que Serra vai acelerar a construção da Ferrovia Centro-Oeste, que liga Goiás a Rondônia, passando pelos principais polos agrícolas de Mato Grosso. Também garantiu a conclusão da BR 163, que liga Cuiabá a Santarém (PA), e da BR 158, que corta a região do Araguaia, no leste do Estado, conhecida como “Vale dos Esquecidos”.

Alckmin destacou a questão da segurança na fronteira de Mato Grosso. “O Estado produz soja, cana e carne, mas não produz cocaína. Vamos fazer um forte enfrentamento ao tráfico de drogas e de armas e à lavagem de dinheiro”, afirmou.

Por Reinaldo Azevedo

Aliado de Dilma atua contra investigação da CGU na Eletrobras

Por Hudson Corrêa, na Folha:
Escuta da Polícia Federal aponta que o diretor de Planejamento e Engenharia da Eletrobras, Valter Cardeal, atuou contra investigação da CGU (Controladoria-Geral da União) na estatal elétrica.

Procurado, ele afirmou que a CGU reviu a suspeita de irregularidade no programa Luz para Todos, mas negou que isso tenha ocorrido por interferência dele.

A CGU afirma que, após pedido de reconsideração, manteve “as impropriedades” anteriores, mas deixou de responsabilizar os diretores individualmente.

O grampo foi feito, com autorização judicial, em 10 de setembro de 2008. Quatro meses antes, Cardeal havia, com base em auditoria da CGU, sido denunciado ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) pela Procuradoria da República, acusado de formação de quadrilha, gestão fraudulenta e desvio de recursos do Luz para Todos.

Cardeal permaneceu no cargo e ainda teve sua defesa paga pela Eletrobras, que contratou um escritório de advocacia por R$ 1 milhão.

O diretor é aliado da presidenciável Dilma Rousseff (PT) no setor elétrico há 20 anos, desde o tempo em que ela era secretária de Minas e Energia do RS.

A escuta telefônica captou uma conversa entre Cardeal e o ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau (2005 a 2007). Na época, a PF apurava suposto tráfico de influência no setor elétrico e, por isso, grampeou o celular de Rondeau.

O ex-ministro também foi denunciado ao STJ, acusado dos mesmos crimes. Para a Procuradoria, Cardeal e o ex-ministro autorizaram mudanças em contrato da Cepisa (companhia energética do Piauí) com a Eletrobrás para execução do Luz para Todos.

ESCUTAS
Nas conversas gravadas pela PF, Rondeau diz que o relatório da CGU –a base da denúncia ao STJ– “era uma maluquice, que trocou os pés pelas mãos”. O ex-ministro afirmava também tratar de sua defesa na Justiça direto com Cardeal, na Eletrobras.

Na conversa com o diretor em setembro de 2008, o assunto da CGU voltou à tona. “Já foi encaminhada para o TCU [Tribunal de Contas da União] aquela prestação de contas?”, pergunta o ex-ministro a Cardeal.

“A CGU do Piauí fez um relatório. E o Édison Freitas [membro do conselho fiscal da Eletrobras] (…) fez um outro relatório em cima do relatório da CGU e mandou para a Eletrobras. (…). Ele [Freitas] emite duas notas técnicas nos acusando, né, e já mandando tomar medidas”, afirma Cardeal. Silas reage: “Filho da puta”.

“Os caras, que nós deixamos lá, concordaram que tinha irregularidade dentro da Eletrobras. Mas eu mandei um pau naquele japonês. E no Édison Freitas, também detonei”, diz Cardeal.

Em outra parte do diálogo, o diretor afirma que o relatório será entregue pelo então ministro de Minas e Energia Edison Lobão (PMDB) ao ministro da CGU, Jorge Hage.

Logo depois, o diretor afirma já ter procurado Ramos, que, segundo a PF, é Antônio Carlos Ramos, então assessor de Lobão. “A sorte que falei com Ramos ontem. E o Ramos está por dentro disso”, afirmou Cardeal.

OUTRO LADO
Cardeal, por meio de sua assessoria, negou “evitar investigações internas” na Eletrobras.

Segundo ele, a CGU (Controladoria-Geral da União) reviu relatório de auditoria que se referia a irregularidade no programa Luz para Todos, após a Eletrobras apresentar defesa.
A posição final da CGU, segundo Cardeal, é que de não houve “a ocorrência de dolo dos agentes envolvidos”.

A CGU afirma que não houve lobby ou tráfico de influência. Segundo o órgão, é comum diretores pedirem reconsideração de auditorias.

Conforme a Eletrobras, Cardeal “continua no cargo porque não cometeu nenhuma ilegalidade”.

“A defesa preliminar apresentada pelo diretor ao Judiciário comprova à exaustão que o mesmo não cometeu nenhum ato ilegal no exercício de suas funções. Ademais a denúncia do Ministério Público ainda não foi apreciada pelo juízo”, diz a assessoria.

A Eletrobras afirma ser legal o pagamento de advogado para o diretor.

“O parágrafo único do artigo 29 dos Estatutos Sociais da Eletrobras assegura a defesa dos seus dirigentes em processos judiciais”, afirma.

A reportagem não conseguiu localizar o ex-ministro Silas Rondeau. Ele sempre negou tráfico de influência no governo. Também afirma não ter desviado recursos do Luz para Todos.

Por Reinaldo Azevedo

Os números do Datafolha e os bobões

Pesquisa Datafolha divulgada ontem aponta 10 pontos de diferença entre o tucano José Serra e a petista Dilma Rousseff. Na semana passada, ela aparecia com 47% dos votos totais; agora, com 50%. Serra teria passado de 41% para 40%. Nos votos válidos, ambos se mexeram dentro da margem de erro: a petista, de 54% para 56%; o tucano, de 46% para 44%. Na véspera da eleição do primeiro turno, a diferença entre os dois numa simulação de segundo turno era de 14 pontos nos válidos.

Antes que digam que estou tentando animar a torcida, deixo claro: a situação é difícil — e já era desde o primeiro turno, especialmente porque a campanha de Dilma NÃO TEM NENHUMA VERGONHA DE MENTIR SOBRE O PSDB, MAS A CAMPANHA DE SERRA PARECE TER VERGONHA DE FALAR ALGUMAS VERDADES SOBRE O PT. Deixo isso pra lá agora.

Limito-me a lembrar que, a 10 dias da eleição do primeiro turno, o Datafolha via uma Dilma com 54% dos votos válidos — e ela não chegou a 47%. Contra as expectativas de quem olha esses números com esperanças, há o fato de que, ao menos nesse instituto, esboçava-se uma tendência de queda da petista. Desta feita, ela aparece em discreta ascensão.

Como? Por que trato o Vox Populi de um jeito e o Datafolha de outro? Porque são institutos diferentes. Como diria Fernando Pessoa, sou “rei absoluto da minha simpatia”. Às vezes respeito mais o erro de alguns do que o acerto de outros… O Datafolha só faz pesquisa eleitoral para a Folha — neste ano, em parceria com o Jornal Nacional. Posso discordar disso ou daquilo, não gostar ou mesmo não acreditar, mas o fato é que o instituto não se dá a certos desfrutes.

A fatura está liquidada? Não há um só especialista responsável que pudesse dizer isso hoje. Até porque os trackings dos dois partidos, PT e PSDB, estão mais para uma situação de empate do que para essa distância — o que explica, em parte ao menos, a histeria e a violência do PT. Tivesse Lula a certeza dos 12 pontos de diferença nos votos válidos, talvez de comportasse como presidente da República…

Petralhas
E só um recado à petralhada: Corisco só se entrega de parabelo na mão, lembram-se? Imaginam-me estatelado na cadeira, incapaz de pensar ou reagir, às lágrimas,  com o que já dão como triunfo certo. Meu texto lá do alto diz bem da minha disposição. Se querem saber, sou menos produtivo quando estou eufórico, hehe. A excitação só é boa parceira do sexo, e eu não misturo as estações. Para o pensamento, um certo pessimismo até faz bem. Sem contar que um eventual governo Serra será muito menos animado para o jornalismo do que um eventual governo Dilma.

Assim, bobões, conclui-se que até posso achar que Serra seria melhor para o país. Para um cronista político, no entanto, Dilma seria uma fornecedora bem mais generosa de matéria-prima.  Posso até achar que o Brasil se daria melhor com ele, mas estou certo de que eu me divertiria mais com ela — se o Franklin Martins não editar o Ai-13 naturalmente…

Deixem de ser tontos!

Por Reinaldo Azevedo
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Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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