Os "300 do Largo" se fizeram "Cem Mil". Ou: O templo da lei expulsou a legalidade e escolheu o crime
Eis uma idéia que mobilizou o Brasil. Na manhã daquela quarta-feira, impedido de liderar a manifestação no interior da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, o jurista Hélio Bicudo leu o texto— um mísero microfone lhe foi negado — em frente ao prédio da faculdade e foi seguido, frase a frase, por quase 300 pessoas. Mas valeu a pena. Os 300 do Largo se transformaram em 100 mil. As dificuldades contribuíram para revelar a essência daquela oração em favor da democracia: um ato de resistência. Segue um filme feito com um celular. Volto em seguida:
Trata-se, como se ouviu, de um manifesto em favor do estado de direito, que cobra dos governantes o respeito às leis e à Constituição. Duas semanas depois, os petistas Dalmo Dallari, professor da São Francisco, e Marilena Chaui, do Departamento de Filosofia da USP, lideraram um ato ilegal no interior da faculdade, na Sala dos Estudantes, em defesa da candidatura da petista Dilma Rousseff, afrontando a Lei Eleitoral.
Para os legalistas, nada, nem a lei.
Para os “ilegalistas”, tudo, menos a lei.
Agora, sim, o manifesto, com toda a sua clareza. Volto para encerrar.
Os que seguiam a lei tiveram de falar fora das arcadas que simbolizam o direito, e aqueles que afrontavam a ordem legal puderam profanar o templo. As duas manifestações dão testemunho do nosso tempo. Os que celebravam a democracia denunciavam a mistificação; os que celebravam a mistificação estavam denunciando a democracia.
Uma esquerdista vive o auge do seu delírio imoralista. Ou: Marilena Chaui repete Goebbels 77 anos depois; ela só trocou de “judeus”
Abaixo, escrevo um post sobre as quase 100 mil assinaturas do Manifesto em Defessa da Democracia e lembro a manifestação ilegal havida na Faculdade de Direito do Largo São Francisco em defesa da candidatura de Dilma Rousseff. Eu não havia visto ainda o vídeo em que Marilena Chaui põe toda a sua ignorância a serviço da causa. Uma ignorância que chega a ser quase comovente, embora essencialmente periogosa. Ela fala suas bobagens de modo muito convicto, escandindo as sílabas com especial ênfase, como se isso conferisse seriedade ao que diz. Ah, Marilena, Marilena…
Antes que eu publique o vídeo e comente, um pouco de memória pessoal. Ainda mocinho e ainda de esquerda, fui certa feita a uma plenária de professores e alunos da USP, começo dos 80, preparatória para uma greve, e esta senhora era a grande estrela do encontro, mesmerizando a atenção dos jovens estudantes. Num discurso, um tanto inflamada, Marilena deu lá a sua interpretação muito particular da resposta da reitoria a algumas reivindicações, e disparou: “Esse reitor que vá para a puta que o pariu!”
Uau! Talvez esperasse, sei lá, uma espécie de delírio febril na seqüência de seu desabafo desbocado, aplausos calorosos, quem sabe? Mas não! Fez-se um silêncio ensurdecedor na sala. O constrangimento não provinha da pudicícia dos moços, mas da falta de decoro da “mestra”. Um então amigo, ainda mais, digamos, “radical” do que eu mesmo à época (é figura da vida pública brasileira e continua radicalíssimo!!!), cutucou-me: “Essa mulher não é séria!”. Marilena é assim mesmo. Sempre fala o que lhe dá na telha. E sua convicção num discurso é sempre inversamente proporcional a seu conhecimento de causa.
Vejam este filme. Enquanto o vídeo em que Hélio Bicudo lê o Manifesto em Defesa da Democracia já foi acessado quase 210 mil vezes no YouTube, o de Dona Doida não foi visto nem por 3 mil pessoas. Eu ajudo os carentes de bilheteria, embora eu ache que Marilena precisa caprichar na marquiagem e não pode esquecer o nariz vermelho na próxima intervenção. O cabelo tá bom — emula com o do Bozo.
Viram? Então vamos lá. É impressionante! É possível a esquerdistas argumentar falando só a verdade? Estou convencido de que não. E é por isso, Olavo de Carvalho tem razão, que é inútil debater com eles. Vocês ouviram Marilena afirmar que Serra começou a campanha criticando os programas sociais e agora diz que vai dar continuidade a eles. É mentira! Nunca criticou! Nem na campanha nem antes. Não que não possam ser criticados ou não tenham aspectos criticáveis. Ocorre que ele não fez isso.
A tese do latifúndio
Na
sua alastrante ignorância, Marilena diz que Serra ganhou nos estados do
agronegócio, que, diz ela, no seu tempo, era chamado de “latifúndio”,
todos com severos problemas ambientais. Uma besteira tripla. Em primeiro
luar, acreditar no latifúndio como uma categoria econômica, política ou
de economia política já é sinal de atraso mental. Em segundo lugar,
mesmo aqueles que acreditam não tratam o “latifúndio” como sinônimo de
agronegócio. A afirmação revela ignorância de Marilena até sobre as
teses de esquerda. Em terceiro lugar, Serra ganhou em oito estados:
Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso,
Acre, Roraima e Rondônia. Vamos ver.
Santa
Catarina é o estado por excelência da pequena propriedade, até pelo
tipo de colonização que ali se deu. Paraná e São Paulo já não têm mais
fronteiras agrícolas — este último, no que concerne ao meio ambiente,
tem as leis mais avançadas do país. Mais da metade de Roraima está nas
mãos do governo federal ou dos índios. O Acre, que caminha para 16 anos
de governo petista, e Rondônia não têm os problemas ditos do
“latifúndio” — tanto é que a turma de João Pedro Stedile nem está por
lá. O Mato Grosso do Sul simplesmente não tem estoque de terra para
abrigar latifundiários por causa de sua geografia. No Mato Grosso, há
sim, um conflito entre produtores rurais e ambientalistas — mas a
questão nada tem a ver com reforma agrária. De todo modo, ainda que ela
falasse a verdade, qual é a suposição? Serão, então, tantos assim os
latifundiários a ponto de dar a vitória a Serra? Mas essa categoria, por
definição, não deveria ser minoritária? Pobre Marilena! Chegar aos 69
nessa penúria intelectual… Coisa melancólica!
Qual
é o estado em que mais há conflitos de terra no país, em que mais se
mata e mais se morre por causa da terra? O Pará, governado pela petista
Ana Júlia Carepa — parece que o estado será libertado no dia 31 de
dezembro… Quem ganhou no Pará? Dilma! Qual é o estado em que o MST é
mais forte e, diga-se, mais violento? Pernambuco! Foi onde Dilma deve a
sua vitória mais expressiva. Terá finalmente desaparecido do Nordeste,
onde a petista venceu, o que as esquerdas chamavam, de fato, latifúndio —
e que nunca foi sinônimo de “agronegócio”? Marilena conta uma mentira a
seu distinto público — que, eu sei, não estava ali nem para ouvir
verdades nem para aplaudir a legalidade, já que a manifestação era
ilegal.
Autoritária
Ma
vamos lá. Digamos que esses estados fossem mesmo caracterizados pelo
“latifúndio” ou estivessem nas mãos do agronegócio — São Paulo, Jesus
Cristo!, é o estado mais industrializado do país!!! Marilena, como
vemos, considera que isso é um defeito, que é algo a ser superado,
certo? Para ela, uma reforma agrária tem de dar conta desse grave
problema. Feito isso, depreende-se de seu “raciossímio” que a oposição, então, não ganharia eleição mais em lugar nenhum!
Entenderam? No dia em que o Brasil for como ela sonha, a democracia e a alternância de poder serão desnecessárias porque, então, o PT seria o governo natural do Brasil. Pensem bem: se a oposição só ganha onde há latifúndio, sem o latifúndio, não ganharia mais nada. Esse é o horizonte mental e moral de uma esquerdista como Marilena Chaui. Se o seu partido não vence a disputa, é porque a sociedade está doente.
Liberdade de expressão
Marilena
foi a autora intelectual da tese do “golpe da mídia” durante o
mensalão. É por isso que digo que ela é a “pensadora” que fundiu Spinoza
(que ela chama “Espinosa”) com Delúbio Soares. Sua tese poderia se
chamar “A Ética de Espinosa na Nervura do Real dos Recursos
Não-Contabilizados”. Prestem atenção a esta fala da valente:
“O
que caracteriza a democracia e distingue a democracia de todos os
outros regimes políticos são duas coisas: em primeiro lugar, a defesa da
liberdade de pensamento e de expressão, isto é, a defesa do direito à
opinião pública.”
Epa! Notem no vídeo
que ela fala a palavra “pública” numa espécie de explosão. Uma ova! A
liberdade de pensamento e expressão sempre será a liberdade do
indivíduo, minha senhora, já que a vontade do público é vária e
inconstante. Eis aí: esse é o Spinoza filtrado pelo marxismo bocó. O que
é a “opinião pública” senão a multiplicidade de opiniões dos homens?
Essas coisas, na boca de um esquerdista, nunca são inocentes. Por que
eles se organizam em ONGs e observatórios disso e daquilo e querem criar
conselhos para monitorar a “mídia!”? Porque se consideram mais do que a
representação do público — o que já não são! Eles se consideram a sua
encarnação. Uma banana para esses macacos autoritários! Voltemos à moça.
Ora,
para isso, é preciso que você tenha acesso aos meios pelos quais você
exprime essa opinião. Ora, quando esses meios são um monopólio, quem vem
falar pra mim de democracia? É a ausência dela.
Cadê o
monopólio? Onde está a lei que o determina? Fiquemos com a prata da casa
primeiro. A VEJA não monopoliza as revistas, por exemplo. Ela só tem
muito mais leitores dos que as concorrentes por uma decisão dos…
leitores! A TV Globo tem mais telespectadores porque essa é uma decisão
dos… telespectadores! Deram quase R$ 700 milhões por ano para Franklin
Martins brincar de TV com Tereza Cruvinel. Conseguiram fazer algo com o
humor e a picardia dele e o charme intelectual dela. Resultado: é o
traço mais caro da TV mundial. Vamos seguir.
Porque,
para que ela exista, sei que é preciso que, em igualdade de condições,
duas ou três ou quatro opiniões pudessem se exprimir no mesmo tempo e no
mesmo espaço. O que nós temos é o controle da opinião e a
impossibilidade da contestação.
Besteira! Por que Marilena
não faz essa proposta aos jornais da CUT, por exemplo? Ora vejam: os que
lançaram o Manifesto em Defesa da Democracia, suprapartidário, numa
puderam ocupar a cadeira em que esta senhora senta. Porque, em nome da
liberdade de pensamento e de expressão, só se admitiu na Sala dos
Estudantes, um prédio público, uma manifestação pró-Dilma. Na
pluralidade “deles”, só o PT fala. Marilena está pouco se lixando para a
diversidade de opiniões. Ela não gosta mesmo é de uma reportagens que
evidenciem as falcatruas de seu partido. Acha que são sabotagem. Já as
que atingem os adversários, e são muitas, são virtudes.
Então
não venham me falar em democracia. Eu costumo dizer que a defesa da
liberdade de pensamento e de expressão, que é aquilo pelo que o filósofo
que (sic) eu trabalho desde a juventude,ele deu a vida - vocês sabem
que ele foi banido da sinagoga, impedido pelo templo e pela Igreja, ele
foi escorraçado como um subversivo perigoso para ordem, porque ele
escreveu em defesa da liberdade de pensamento e de expressão, como
característica da República e da democracia, Spinoza. Então a última
coisa que passaria pela cabeça de alguém como seu seria a recusa da
liberdade de pensamento e de expressão”.
Entenderam? Como
Marilena estuda Spinoza desde a juventude e como ele deu a vida pela
liberdade, então ninguém estaria habilitado a debater o assunto com ela.
E pensar que esta senhora escreveu um livro chamado “Cultura e
Democracia” — é verdade que ela copiou alguns trechos de Claude Lefort,
seu amigo do peito — em que ela ataca justamente esse expediente que
emprega: recorrer ao “discurso competente” para tentar silenciar os
adversários. Vou confessar: eu li Marilena Chaui. E posso dizer:
Marilena Chaui é uma fraude intelectual. Vocês não precisam acreditar em
mim. O filme acima a expõe de modo completo no amor pela verdade e no
rigor conceitual.
Para encerrar
Marilena
começa a sua fala atacando as tais “três famílias” que dominariam a
mídia. Quais seriam? Posso imaginar. Essas três, como se nota,
conspirariam contra a “opinião pública”, impedindo o exercício do
contraditório. Essa defesa prática da censura e essa truculência
fingindo-se defesa da democracia não são novas. Alguém mais
sinistramente capaz do que Marilena já fez isso antes.
Publiquei aqui no dia 20 de setembro o textoSomos os “judeus insolentes” do petismo. Ou: “Um dia a gente cala vocês!”. Traduzi, então, um discurso feito por Goebbels no dia 10 de fevereiro de 1933, 11 dias depois de Hitler ter sido nomeado chanceler da Alemanha. Marilena ataca as “três famílias”; Goebbels atacava os “judeus que mandavam na imprensa”. Marilena, como vimos, acredita que a vitória de Serra em oito estados é tisnada pelo “latifúndio” (!); Goebbels já enxerga a conspiração dos “vermelhos”. Marilena acha que as “três famílias” impedem o livre exercício da opinião; Goebbels acreditava que os judeus conspiravam contra o nacional-socialismo. Vocês já viram o discurso da companheira. Seguem alguns trechos da fala do “companheiro” (íntegra da tradução naquele link). O que vocês acham desse meu exercício de história comparada?
Companheiros,
Antes de o encontro começar, gostaria de chamar a atenção para alguns
artigos da imprensa de Berlim que asseguram que eu não deveria merecer a
atenção das rádios alemãs, uma vez que sou insignificante demais,
pequeno demais e mentiroso demais para poder me dirigir ao mundo
inteiro.
Nesta
noite, vocês testemunharão um evento de massa como nunca aconteceu
antes na história da Alemanha e, provavelmente, do mundo.
(…)
Quando a imprensa judaica reclama que o movimento Nacional Socialista
tem a permissão de falar em todas as rádios alemãs por causa de seu
chanceler, podemos responder que só estamos fazendo o que vocês sempre
fizeram no passado. Há alguns anos, não falávamos da boca pra fora
quando dizíamos que vocês, judeus, são nossos professores e que só
queremos ser seus alunos e aprender com vocês. Além disso, é preciso
esclarecer que aquilo que esses senhores conseguiram no terreno da
política de propaganda durante os últimos 14 anos foi realmente uma
porcaria. Apesar de eles controlarem os meios de comunicação, tudo o que
conseguiram fazer foi encobrir os escândalos parlamentares, que eram
inúteis para formar uma nova base política.
(…)
Se hoje a
imprensa judaica acredita que pode fazer ameaças veladas contra o
movimento Nacional-Socialista e acredita que pode burlar nossos meios de
defesa, então, não deve continuar mentindo. Um dia nossa paciência vai
acabar e calaremos esses judeus insolentes, bocas mentirosas! E se
outros jornais judeus acham que podem, agora, mudar para o nosso lado
com as suas bandeiras, então só podemos dar uma resposta: “Por favor,
não se dêem ao trabalho!”
Ademais, os nossos homens da SA e os companheiros de partido podem se acalmar: a hora do fim do terror vermelho chegará mais cedo do que pensamos. Quem pode negar que a imprensa bolchevique mente quando o [jornal] Die Rote Fahne, este exemplo da insolência judaica, se atreve a afirmar que o nosso camarada Maikowski e o policial Zauritz foram fuzilados por nossos próprios companheiros?
Esta insolência judaica tem mais passado do que terá futuro. Em pouco tempo, ensinaremos os senhores da Karl Liebnecht Haus [sede do Partido Comunista] o que é a morte, como nunca aprenderam antes. Eu só queria acertar as contas com os [nossos] inimigos na imprensa e com os partidos inimigos e dizer-lhes pessoalmente o que quero dizer em todas as rádios alemãs para milhões de pessoas.
Encerro
É
isto: somos os “judeus insolentes” do petismo! E está na cara que eles
querem nos pegar e acham que estamos com os dias contados.