Hoje é o dia! E a nossa luta continua amanhã, como sempre!

Publicado em 31/10/2010 08:45

Este blog alcança neste outubro, deve estar acontecendo agora, se é que já não aconteceu, a marca de cinco milhões de páginas visitadas — no mês! Não se chega aí referendando o senso comum (numa ponta) ou o que eu poderia chamar “percepções de exceção” (na outra ponta). Talvez esse dado revele algo parecido com apreço por uma certa originalidade nos dias que correm: clareza! Este blog é claramente, indubitavelmente, sem qualquer sombra de ambigüidade, favorável à democracia e ao estado de direito. Por isso mesmo, acredita, sim, que a eleição de José Serra é o melhor para o Brasil. E sustenta isso, mesmo quando todas as pesquisas de opinião dos ditos “institutos” apontam uma diferença em favor de Dilma Rousseff que pode variar de 10 pontos (Datafolha) a 14,4 pontos (Sensus).

Este blog, pois, como se nota, não quer ganhar eleições. Também não ambiciona ser “campeão moral” de coisa nenhuma. Não disputa votos. Não disputa nada com ninguém. Não disputa nem leitores com outros blogueiros.  Os mais de cinco milhões de páginas visitadas num mês indicam só a escolha de alguns valores. E a esses valores a página continuará fiel, pouco importa o vencedor. MAS ATENÇÃO PARA O PRINCIPAL: ESTE BLOG CONTINUARÁ A AFIRMAR QUE A ELEIÇÃO DE JOSÉ SERRA TERIA SIDO O MELHOR PARA O BRASIL AINDA QUE DILMA VENÇA. Porque este blog prefere a verdade ao poder. Demagógico? A esta altura, eu poderia estar buscando alguma acomodação. Prefiro parodiar um querido poeta: “Final força é pisar com convicção”.

Conhecido o resultado, certamente escreverei bastante a respeito, o que se repetirá nos dias, meses e anos seguintes. Há muitos jornalistas que declaram, sobranceiros, não ter um agenda. Há outros tantos que a escondem. Pois eu declaro a minha, já tantas vezes anunciada e enunciada aqui: democracia representativa, liberdades individuais, economia de mercado, livre expressão do pensamento. Elogio tudo o que concorre para fortalecer esse que considero ser um bom mundo e dou porrada em tudo o que — ou “todos aqueles” que — considero obstáculo à sua plena realização. Pode haver algo mais transparente, mais, como eu disse, “claro”? Creio que não!

Perdem o seu tempo, de um lado, os que tentam me convencer de que a democracia não é um bom caminho porque acabou resultando em Lula, eventualmente em Dilma. Perdem o seu tempo, de outro, os que tentam me convencer de que a democracia não é um bom caminho porque pode pôr termo às conquistas, reais ou supostas, de Lula. A minha democracia — aquela dos valores universais — não tem, em suma, qualquer intimidade com os que pretendem usar as urnas para a imposição de valores que, se revelados à luz do dia, com clareza e com verdade, seriam rejeitados pela maioria. Eu não tenho uma agenda secreta. Eu, de fato, combato aqueles que a têm.

Sem essa!
Todos sabem o que penso. Acho, sim, que a atual oposição cometeu alguns erros importantes nessa disputa — cuidei deles em muitos textos e falarei mais a respeito, pouco importa o resultado das urnas. Mas afastem de mim o “empatismo”; o “igualzismo” do “todo mundo está errado”; a afirmação vigarista, “outro-ladista”, covarde, segundo a qual as estratégias de ambos os lados — de Dilma e Serra — se igualaram moralmente. Uma ova! Ninguém me pegará nessa por uma razão simples: não pretendo entrar na fila do gargarejo na hipótese de a petista vencer a disputa. Os valores que ela põe para circular não me interessam e, creio, não são do interesse do país, ainda que milhões possam escolhê-la.

Eu sou aquele que pode, num dado momento do presente, do passado e do futuro, discordar dos “milhões”. Eu não acho que a verdade dependa do assentimento da maioria. Eu sou o ser esquisito que chega a ter certa simpatia pelos rejeitados. EU SOU UM DEMOCRATA MENOS PELO VALOR AFIRMATIVO DA DEMOCRACIA — O “SIM” À VONTADE DA MAIORIA — DO QUE POR SEU VALOR NEGATIVO: O RESPEITO ÀQUELES QUE DIZEM “NÃO”. Fossem realmente apenas 3% os que refugam o assédio de Lula — ele quer saber quem é essa gente, a exemplo daquele blogueiro pançudo —, eu faria questão de estar entre esses deserdados.

Não! Não me venham com essa conversa vagabunda de que a “baixaria tomou conta da política”. Eu desprezo mais essa postura do que a do petista cegado por suas verdades, que acredita sinceramente, coitado! — o que até Lula sabe ser falso — que os tucanos representam todos os males do mundo. Como na Epístola à Igreja de Laudicéia, no Apocalipse de São João, declaro:  ”Porque tu és morno; nem és quente, nem és frio, começar-te-ei a vomitar de minha boca”. É preferível ser um petralha a ser um equilibrista. Estar no meio não é prova de virtude; pode ser apenas sinal de confusão mental.

Como assim?
“Baixaria dos dois lados”? Por quê? Então agora os crimes de estado cometidos por petistas, que violaram direitos resguardados pela Constituição, deverão ser equiparados — notem o escândalo! — à reação das vítimas? Até Marina Silva, a candidata a Heroína Sem Mácula da Política, resolveu censurar José Serra quando ele denunciou a maquinaria de dossiês que se tinha criado; denúncia plenamente comprovada pelas investigações, com todas as digitais do petismo presentes. Não me venha o outro-ladista com “mornidão”! Ou ainda: “O PT mentiu ao atribuir ao PSDB a intenção de privatizar a Petrobras, mas a oposição fez mal ao acusar Dilma de ser favorável à legalização do aborto”. Errado! Coisa de gente morna! Coisa que se expulsa porque nem quente nem fria.

O PT mentiu, sim, ao atribuir a intenção privatizante aos tucanos. E mentiu de novo quando culpou a oposição de orquestrar a reação contra a opinião de Dilma sobre o aborto. Era a voz de amplos setores da sociedade identificados com valores cristãos. O PSDB foi, isto sim, surpreendido pela indignação coletiva. Como denunciei aqui desde a primeira hora, os petistas é que deram um jeito de satanizar a reação dos cristãos, acusando uma espécie de conspiração. Era só um jeito de inflamar a sua militância . Ademais, se é absolutamente mentirosa a acusação de que tucanos pretendem, se eleitos, privatizar a Petrobras, é absolutamente verdadeira a defesa que Dilma fez da descriminação e da legalização do aborto. Desculpo-me com meus leitores pela tautologia, mas a tanto sou obrigado: a mentira não pode ser igual à verdade. Se elas se igualam, a verdade perde, e a mentira triunfa.

Não sei se Serra ganha ou perde a eleição. A se dar crédito aos institutos de pesquisa e considerando os números do primeiro turno, a chance de perder é grande. Se acontecer, à diferença do que dizem os mornos — que são só aquilo que se deve expelir —, terá sido mais pelo receio de dizer todas as verdades do que pela coragem de ter dito algumas delas — mal que, diga-se, acomete a oposição há pelo menos oito anos, mesmerizada que está por pesquisas de opinião que transformaram Lula num ser intocável, ignorando-se o fato óbvio de que a eventual aprovação do governo não deve se confundir com carta branca para falcatruas.

Hoje, ao raiar do dia 31 de outubro de 2010, quando se realiza o segundo turno das eleições presidenciais, renovo o compromisso com milhares de leitores: pouco importa quem vença a disputa, vocês me encontrarão aqui amanhã, daqui a pouco, nos dias vindouros: ou quente ou frio — morno nunca! Eu tenho lado — e jamais ignorei que o “outro lado” pode ser mais vantajoso, como “eles” sabem muito bem.

A nossa vitória é a clareza.

Por Reinaldo Azevedo

Elio Gaspari é a prova de que o vinho nem sempre melhora; às vezes, azeda. Hoje. Seguindo os passos de seu guia, foi buscar no futebol uma ironia que deve ter considerado fina e sutil para retratar a vitória de Dilma, que dá como certa. Escreveu.

“Dois filósofos do futebol podem socorrer tanto aqueles se julgarem vencedores como os que se sentirem derrotados.
Aos vencedores: “O melhor time sempre ganha. O resto é fofoca”. (Do técnico escocês Jimmy Sirrel.)
Aos perdedores: “O melhor time pode perder. O resto é fofoca, boa fofoca”. (Do professor norueguês Steffen Borge, da Universidade de Tromso, comentando a teoria de Sirrel.)”

Para não ser acusado de ter lado, agora que julga que o lado que escolheu faz tempo já ganhou, então oferece, faceiro, gracejos para os dois. Huuummm… Deixe-me prever: caso Dilma vença, Elio Começará a bater as asinhas lá pelas cercanias de Minas. Suas convicções me fascinam…

Mas esse democrata, radicalmente convertido à democracia depois da democratização  (ele já escreveu o livro “A Ditadura Aplaudida”, com textos da própria lavra?), escreve ainda:
A pobreza da campanha durante o segundo turno criou terreno fértil para uma perigosa radicalização. De um lado e de outro surgiram vozes, ainda tímidas, discutindo a legitimidade do mandato. Em alguns casos, vocalizam um paradoxo: o resultado de hoje pode colocar em risco a democracia brasileira. Fica difícil entender como uma eleição pode ameaçar a democracia.

Gaspari usa um tática argumentativa vigarista que consiste em combater o que o adversário não afirmou para que ele possa, então, sustentar o que bem entende. Digam-me uma só pessoa da oposição que questiona a legitimidade do mandato de Dilma, caso eleita. A eventual eleição de Serra, essa, sim, é questionada. Lula a considera um retrocesso da democracia. Gaspari, o morno!

Quanto ao mérito da tese — e não estou comparando períodos, mas apenas demonstrando que ele está falando bobagem —, cabe perguntar a Hitler, Mussolini e Chávez se uma eleição pode ou não ameaçar a democracia.

Mas o mais interessante do seu texto está mesmo no primeiro parágrafo, que poderia ter sido escrito a quatro mãos com Luiz Gonzales, o marqueteiro da campanha tucana:

“HOJE À NOITE será conhecido o próximo presidente da República. Desde 1989 não se via uma campanha terminar de forma tão divisiva e oca. O estudo do mapa eleitoral permitirá que se chegue a explicações políticas e sociais para o resultado. De todas, a de alta toxicidade e baixa honestidade será aquela que atribuirá a derrota ao marqueteiro.
Nenhuma explicação superará a mais elementar constatação: o povo foi chamado, cada cidadão teve direito a um voto, eles foram contados, e foi eleito quem teve mais preferências.”

Como não ocorre a ninguém atribuir a João Santana uma eventual derrota de Dilma, mesmo que ela perca, é claro que o derrotado do seu texto é Serra e que o marqueteiro que ele quer blindar é Gonzales — a campanha do PSDB, com efeito, foi horrível, pouco importa o resultado das urnas. A Fada Sininho já correu para oferecer a sua proteção e para chamar de desonestos os que discordam dele. Todo honesto concorda com Gaspari, tá, pessoal?

Desonesto, meu senhor, é não chamar as coisas e as pessoas pelo nome e ficar plantando fofoca em coluna. Esse estilo oblíquo já era! Mais uma vez: pouco importa o que digam as urnas, o fato é que o PT sempre teve uma candidata muito pior do que a sua propaganda, e o PSDB, uma propaganda muito pior do que o seu candidato.  Gaspari e seus protegidos se acalmem. Esse debate está só no começo, ainda que Serra ganhe, a despeito de sua campanha.

Ah, e concordo com Gaspari: é preciso ser honesto!

Por Reinaldo Azevedo

Leia editorial do Estadão:
Encerra-se hoje a mais longa campanha eleitoral de que se tem notícia no País, e certamente em todo o mundo: oito anos de palanque na obstinada perseguição de um projeto de poder populista assentado sobre o carisma e a popularidade de um presidente que, se por um lado tem um saldo positivo de realizações econômico-sociais a apresentar, por outro lado, desprovido de valores democráticos sólidos, coloca em risco a sustentabilidade de suas próprias realizações na medida em que deliberadamente promove a erosão dos fundamentos institucionais republicanos. Essa é a questão vital sobre a qual deve refletir o eleitor brasileiro, hoje, ao eleger o próximo presidente da República: até onde o lulismo pode levar o Brasil?

Quanto tempo esse sentimento generalizado de que hoje se vive materialmente melhor do que antes resistirá às inevitáveis consequências da voracidade com que o aparelho estatal tem sido privatizado em benefício de interesses sindical-partidários? Tudo o que ambicionamos é o pão dos programas assistenciais e do crédito popular farto e o circo das Copas do Mundo e Olimpíada?

Lamentavelmente, as questões essenciais do País não foram contempladas em profundidade pelo pífio debate político daquela que foi certamente a mais pobre campanha eleitoral, em termos de conteúdo, de que se tem notícia no Brasil. Mais uma conquista para a galeria dos “nunca antes neste país” do presidente Lula, que nessa matéria fez de tudo. Deu a largada oficial para a corrida sucessória, mais de dois anos atrás, ao arrogar-se o direito de escolher sozinho a candidata de seu partido. Deu o tom da campanha, com a imposição da agenda - a comparação entre “nós e eles”, entre o “hoje e ontem”, entre o “bem e o mal” - e com o mau exemplo de seu destempero verbal.

Uma das consequências mais nefastas dessa despolitização que a era lulo-petista tem imposto ao País como condição para sua perpetuação no poder é o desinteresse - resultante talvez do desencanto -, ou pelo menos a indulgência, com que muitos brasileiros tendem a considerar a realidade política que vivemos. A aqueles que acreditam que podem se refugiar na “neutralidade”, o antropólogo Roberto DaMatta se dirigiu em sua coluna dessa semana no Caderno 2: “Você fica neutro quando um presidente da República e um partido que se recusaram a assinar a Constituição e foram contra o Plano Real usam de todos os recursos do Estado que não lhes pertencem para ganhar o jogo? (…) Será que você não enxerga que o exemplo da neutralidade é fatal quando há uma óbvia ressurgência do velho autoritarismo personalista por meio do lulismo, que diz ser a ‘opinião pública’? O que você esperava de uma disputa eleitoral no contexto do governo de um partido dito ideológico, mas marcado por escândalos, aloprados e nepotismo? Você deixaria de tomar partido, mesmo quando o magistrado supremo do Estado vira um mero cabo eleitoral de uma candidata por ele inventada? É válido ser neutro quando o presidente vira dono de uma facção, como disse com precisão habitual FHC? Se o time do governo deve sempre vencer porque tem certeza absoluta de que faz o melhor, pra que eleição?”

Quatro anos atrás, nesta mesma página editorial, dizíamos que “as eleições de hoje são o ponto culminante da mais longa campanha eleitoral de que se tem notícia no Brasil. Desde 1.º de janeiro de 2003, quando assumiu a Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva não deixou, um dia sequer, de se dedicar à campanha para a reeleição. Tudo o que fez, durante seu governo (…) teve por objetivo esticar o mandato por mais quatro anos”. Erramos. O horizonte descortinado por Lula era, já então, muito mais amplo. Sua ambição está custando à Nação um preço caríssimo que só poderá ser materialmente aferido mais para a frente. Mas que já se contabiliza em termos éticos, toda vez que o primeiro mandatário do País desmoraliza sua própria investidura e não se dá ao respeito. Mais uma vez, essa semana, no Rio de Janeiro, respondeu com desfaçatez a uma pergunta sobre o uso eleitoral de inaugurações: “Não posso deixar de governar o Brasil por conta das eleições.” Ele que, em oito anos no poder, só pensou em eleições!

Por Reinaldo Azevedo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso concede uma notável entrevista a Mario Sabino na VEJA desta semana. É o retrato da civilidade política, do equilíbrio e do bom senso. No poder, dizia-se que a sua característica mais evidente era tornar menores as crises e os problemas, em vez de extremá-los. Não mudou. Nem mesmo as evidentes injustiças de que é alvo o tiram do prumo ou mudam o seu humor. A tudo vê com certo estoicismo civilizador.
*
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de 79 anos, é um homem realizado. Na Presidência, derrotou a inflação, por meio do Plano Real, lançado quando era ministro da Fazenda de Itamar Franco, e promoveu privatizações bem-sucedidas, que desoneraram os contribuintes, possibilitaram o surgimento de empresas fortes e globais, como a Vale, e universalizaram o sistema de telefonia. Fora da Presidência, ele assumiu, dentro dos limites brasileiros, o papel de um ex que chama os políticos às falas quando a democracia está em perigo. Na semana passada, na sede do instituto que leva seu nome, ele deu a seguinte entrevista a VEJA:

O que o senhor sentiu no exato instante em que deixou de ser presidente da República, ao passar a faixa para Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003?
Fiquei emocionado, é claro, até porque o Lula disse que eu deixava lá, no Palácio do Planalto, um amigo - o que, naquele momen¬to, talvez fosse verdadeiro. Mas a minha emoção também se deveu ao fato de eu sentir que vivia um momento histórico que ultrapassava em magnitude outras passagens da faixa presidencial.

Por quê?
Porque, durante os meus mandatos, com o consenso da sociedade, havíamos conseguido mudar o Brasil para melhor. Eu entregava a Lula um país que, a despeito de todas as crises econômicas mundiais que marcaram aqueles anos, estava mais sólido do ponto de vista da economia. Com o Plano Real, iniciado no governo de Itamar Franco, e a autonomia do Banco Cen¬tral, vencemos a inflação. Com a implantação da Lei de Responsabilidade Fiscal, detivemos um dos sangradouros de dinheiro público. Com as privatizações, alcançamos a universalização do sistema de telefonia. Além disso, havíamos superado os traumas políticos causados pelo regime militar, as arestas da redemocratização e o impeachment de Fernando Collor de Mello. Tudo isso me à cabeça no momento em que passei a Presidência a Lula.

E para além da emoção, digamos, institucional?
Depois da cerimônia, rumamos, eu e Ruth, para o aeroporto, onde muita gente amiga nos esperava para a despedida. Foi aí que a emoção mais pessoal começou. Abracei assessores que haviam trabalhado comigo durante oito anos seguidos, que faziam parte do meu cotidiano. Embarcamos, então, para São Paulo, ainda no avião presidencial. Ao chegar, troquei de roupa e seguimos para o avião comercial que nos levaria a Paris. Nesse momento, relaxei, tive uma sensação boa de dever cumprido - tanto no plano institucional como no individual. Quando chegamos a Paris, voltei um pouco a ser presidente, porque nos esperavam o então embaixador na capital francesa, o Marcos Azambuja, e o da Unesco, o José Israel Vargas, ambos meus amigos. Não havia séquito, mas, ainda assim, desembarcamos no terminal oficial, entramos num carro, escoltados por policiais franceses. Ao chegar ao hotel perto da cidade de Chartres, onde permanecemos por alguns dias antes de ficar em Paris, eu chamei o chefe da guarda francesa, agradeci a atenção, mas disse que dispensava aqueles cuidados. Ele me respondeu que estava cumprindo ordens e, portanto, seus homens tinham de fazer a segurança.

E o que o senhor fez diante dessa resposta?
Eu renovei meu agradecimento e enfatizei que não queria ninguém perto de mim nem de minha mulher. Eles foram embora. Dormi, então, a minha primeira noite de mortal comum. No dia seguinte, eu e Ruth fomos a Chartres sozinhos, para visitar a esplêndida catedral gótica - um passeio maravilhoso em todos os aspectos, mas principalmente pelo fato de não estarmos mais acompanhados de comitiva, seguranças e repórteres.  Recuperei, enfim, minha privacidade. Em Paris, também dispensei os serviços que a embaixada queria me prestar e voltamos a andar de metrô, como sempre fizemos. Uma delícia - e com um efeito muito didático. Porque uma coisa é o Planalto; outra é a planície. Na planície, você é promovido a povo.

Não houve nenhum momento de angústia por causa da perda do poder?
Não, de verdade. Evidentemente, isso deve variar de pessoa para pessoa. O fato é que me considero, digamos assim, um homem pluridimensional. Além de ser político, tenho uma vida intelectual, uma vida interior, que pude retomar com o fim da minha Presidência. Entrei nela imediatamente, começando a escrever o livro A Arte da Política, que seria lançado em 2006. Ainda na França, passei a ver meus amigos que lá moram. Uma única vez fui ao Palácio do Eliseu, para uma refeição com Jacques Chirac, então presidente. Ele me recebeu com honras de estado, verdadeiro cavalheiro que é, e depois me ligou duas vezes. Deixou mensagens na secretária eletrônica: “Alio, Fernando, ici c’est Jacques”. Mas resolvi viver de fato o meu dia a dia de turista, na planície, como disse.
(…)
Aos olhos de muitos brasileiros, o senhor e o presidente Lula parecem nutrir uma rivalidade que ultrapassa o campo político e adentra o das personalidades. Algo semelhante à dos personagens daquele conto do escritor inglês Joseph Conrad, Os Duelistas, que se batiam em armas sempre que se encontravam, sem razão objetiva para tanto. É uma percepção cor-reta?
Da minha parte, garanto que não. Da do Lula, parece existir tal rivalidade. Não sei por que ele insiste tanto em comparar-se a mim. Nessa última campanha, por exemplo, falaram o diabo do meu governo, embora eu não fosse candidato. E eu não tenho direito de defesa, veja só! O Lula não precisava de nada disso. Para mostrar o que fez, ele não tem necessidade de tentar desfazer as conquistas do outro. Até porque ele deu continuidade a políticas do meu governo e acrescentou aspectos positivos a elas. O Lula, por exemplo, manejou bem o timão durante a última crise econômica, mas não foi ele quem estabilizou o país. Ele também não criou os programas sociais, mas os expandiu. Fez a sua parte? Fez. Então, por que tentar cancelar o passado e dizer que o Brasil nasceu no seu governo? O Lula não necessita disso como político. O que me leva a pensar que, de fato, ele tem um problema de ordem psicológica em relação a mim. Quando o Lula solta a frase “nunca antes neste país”, eu até brinco que ele poderia dizer que “nunca antes neste país viveram tantos brasileiros”.
(…)
E como a história o julgará?
A história é uma contínua reinterpretação — e será assim tanto em relação a mim como em relação ao Lula. Mas isso não me abala. Ora vão me exaltar, ora me esculhambar, dependendo da visão ideológica que se tenha no momento. Não é assim em relação até mesmo a grandes nomes como Napoleão e Bismarck? Por que não seria comigo? Esse é o ônus dos políticos que fizeram algo de relevante, deixaram uma marca pública e não permitiram que sua vida passasse em branco. É o meu caso - e também o do Lula.
(…)
A entrevista ocupa quatro páginas. Leia a íntegra na revista.

Por Reinaldo Azevedo

Por Gabriel Manzano, no Estadão:
O discurso acabou, os marqueteiros vão para casa e, a partir de amanhã, a vida como ela é cai sobre os ombros do vitorioso. Um de seus rostos é um Estado endividado, que não tem dinheiro para investir e precisa se entender com o mercado. O outro, um pacote de alianças e acordos políticos a cumprir, sem os quais não governará. “Por isso, não estou tão segura de que Dilma Rousseff ou José Serra estejam oferecendo modelos diferentes de Estado”, adverte a historiadora e pesquisadora da PUC-Rio Maria Celina d’Araújo. “Há limites estruturais, por exemplo, para uma política mais estatizante. E quem vencer terá uma bomba na mão, a bomba do endividamento, do câmbio, dos aeroportos, da Previdência…”

Estudiosa atenta das instituições e do poder no Brasil, Maria Celina entende que o País “está passando por um processo de novas oligarquias, junto com antigas que parecem ressurgir, e o poder continua precisando delas para ter votos”. Mas a sociedade brasileira “também tem uma vocação para gostar do Estado, uma certa estadolatria. Não suportaria um processo para valer de privatizações. É um dilema.”

O governo Lula, que vai chegando ao fim, “está mais próximo de Fernando Henrique do que de Getúlio”, afirma a autora, que escreveu cerca de 20 livros sobre os presidentes brasileiros. O antigo caudilho “mudou o modelo, implantou uma política trabalhista”. Lula tomou outra direção: “Abandonou suas promessas fortes, as reformas trabalhista, sindical e previdenciária, ao legalizar as centrais sindicais.” Quem mudou o modelo foi o governo FHC: “O Estado não podia mais ser desenvolvimentista, porque estava falido, e precisou ir se entender com o mercado.”

Por tudo isso, avisa a pesquisadora, é preciso cuidado para se avaliar como o novo presidente vai governar. “Dilma está ligada a um amplo arco de alianças, da extrema direita à extrema esquerda, e sua autonomia não será tão grande. E o Serra também não é um tucano convencional, liberal, que privatiza.”

Como é o Brasil que o eleito de hoje vai receber para governar?
Um país com instituições sólidas, regras democráticas. Isso é muito, se compararmos com nossos vizinhos. Mas há também problemas sérios, que não tiveram espaço na campanha. Por exemplo, o Brasil não tem melhorado em seus indicadores de corrupção - todos os dados mostram que continuamos num patamar lamentável. Da mesma forma, a desigualdade: houve uma ascensão social, mas persistem muitas diferenças, como as de gênero e de etnia. Somos uma sociedade em que o trabalho da mulher vale menos, a presença da mulher no Congresso é pífia, para não falar dos negros.

A eventual chegada de uma mulher ao Planalto teria um impacto diferente nisso?
Se Dilma chegar lá, acho que muda pouco. Ela é uma candidata indicada e apoiada por um homem. Não entrou na política por méritos pessoais. E ainda representa um projeto do “continuar fazendo” - é a mulher que obedece ao que foi planejado e implantado por um homem.

O marketing atrapalhou o debate dos assuntos sérios na campanha?
Não entendo de marketing político. Mas o que sei é que esse tipo de campanha está ficando anacrônico, repetitivo. São as mesmas receitas, os mesmos recursos gráficos, desde os tempos do Collor. Não se fala de questões fundamentais como câmbio, juros - o Serra até tentou, mas a coisa não evoluiu. E não se discute que temos uma bomba na mão, do endividamento, do câmbio, os aeroportos, a Infraero, a Previdência. Os candidatos não querem tocar nisso porque significa cortar gastos.

A desculpa é que o eleitorado não gosta de temas complexos, não entende…
Acho que culpar o eleitor por uma campanha rasteira é um desserviço à democracia. Criticam o eleitor de São Paulo porque o Tiririca foi eleito e nada dizem do partido que o indicou, das instituições que aprovam essas manobras. Ora, a campanha é rasteira porque os marqueteiros acham que tem de mexer com as emoções e não com fatos. E não é só aqui. Nos EUA, na disputa entre Obama e Hillary Clinton dentro do Partido Democrata, cada um partia para desconstruir a candidatura do outro. Cabe à mídia, aos acadêmicos, puxar para que as coisas não sejam assim. Tivemos na campanha um mantra sobre privatização, sobre Petrobrás, uma discussão cheirando a naftalina. Se as privatizações são um problema tão grave, porque o governo Lula, em oito anos, não desprivatizou nada?

A propósito, a senhora vê na eleição de hoje dois modelos de Estado disputando o poder?
Não estou tão segura de que sejam dois modelos. No caso da Dilma, há um modelo mais estatizante, o do PT, que é um programa de partido, mas se ela vencer vai levar consigo o peso dos acordos que fez, que vão da extrema direita à extrema esquerda. Sua autonomia de voo não será tão grande. E o Serra também não pode ser visto como um tucano convencional, liberal, ele considera o Estado um importante fator desenvolvimentista.
 Aqui

Por Reinaldo Azevedo

A coluna Holofote, de Felipe Patury, na VEJA desta semana, traz três impressionantes flagrantes evidenciando como funciona a República dos Companheiros. Nos três casos, como vocês verão, o interesse público é apenas a alavanca ou o instrumento de ambições privadas. Esse é o modelo que, segundo as pesquisas, está recebendo hoje o endosso da maioria dos que decidiram votar. Leiam:

Alô, é do BNDES? Não, é da Oi
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, convidou poucos profissionais do setor privado para acompanhá-lo na carreira pública. O economista Rafael Oliva foi um deles. Braço direito de Coutinho na sua empresa de consultoria, a LCA, Oliva se tornou assessor da presidência do banco. No cargo, participou das maiores operações feitas pela instituição, entre elas o empréstimo de 4,4 bilhões de reais concedido à Oi. Oliva deixou o BNDES. Agora, é diretor de planeja-mento regulatório da Oi. Oi?

Um tempero pra lá de oleoso
Um dos pedidos que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez à presidenciável petista Dilma Rousseff foi que mantivesse por um ou dois anos o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. Lula acredita que, propagandeando o pré-sal, Gabrielli construirá sua candidatura à sucessão do governador baiano Jaques Wagner. Até 2012, Wagner convidaria Gabrielli para seu governo - e, então, o presidente da Petrobras começaria a tocar sua campanha ainda mais à vontade

As exigências de Erenice à Anatel
O presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Ronaldo Sardenberg, recebeu em 5 de abril deste ano uma carta confidencial da então secretária executiva da Casa Civil, Erenice Guerra. Em duas páginas, a futura ministra Erenice exigiu mudanças no projeto do Plano Nacional de Banda Larga, anunciado no mês seguinte. Anexado à carta, seguiu um texto de doze páginas com o que Erenice queria ver encampado pela Anatel. O documento era assinado por Artur Coimbra de Oliveira, assessor da Presidência, e Gabriel Laender, da Casa Civil. O texto sugeria duas medidas que beneficiariam a empresa Unicel: novas regras para as licitações de bandas largas em freqüências de 450-470 mega-hertz e facilidades para novas operadoras móveis com rede virtual. O marido de Erenice, José Roberto Camargo Campos, trabalhou para a Unicel. O assessor Gabriel Laender também. Sardenberg fez as alterações cobradas por Erenice.
*
Leia a íntegra da coluna da revista impressa

Por Reinaldo Azevedo

Reportagem de capa da VEJA desta semana — e haverá uma edição especial na primeira semana de novembro já com o resultado das urnas e os desafios do próximo presente — trata do futuro do já quase ex-presidente Lula. Recorrendo à síntese da revista: “Ele sairá da Presidência, mas a Presidência sairá dele?” Vamos ver.  Caso Dilma Rousseff, a sua criatura eleitoral, vença a disputa, talvez venha à luz o “conselheiro amigo”; se o vitorioso for José Serra, resistirá o petista à tentação de chefiar a oposição, ainda o seu maior talento? O que é certo até agora? Ele já criou um instituto, seguindo os passos, também nesse caso, do antecessor, FHC. Leiam trecho da reportagem de Laura Diniz, Sandra Brasil e Otávio Cabral.

(…)
A rotina diária, com todos os seus detalhes, será a primeira coisa a amanhecer diferente em 2 de janeiro. Ao acordar, por exemplo. Lula não terá tido a visita noturna do funcionário destacado para dirigir-se ao quarto do presidente nas madrugadas com a função de verificar se o mandatário da nação repousa tranqüilo. Lula gosta de contar do susto que levou na primeira noite que passou no Palácio da Alvorada. “Estava dormindo e, de repente, vi aquele sujeito no meu quarto. Só depois descobri que ele estava passando para ver se estava tudo bem.” Hoje, muitas madrugadas depois, ele se sente tão à vontade no palácio que, ao convidar assessores e amigos para visitá-lo, costuma dizer apenas: “Passa lá em casa”. Quando recebe novas visitas, gosta de exibir as tapetes e mostrar as vastas estantes de livros da biblioteca. “Já li todos”, diz, brincando.

Das regalias funcionais que fazem parte do poder, e que se vão quando ele termina, Lula deverá sentir especial saudade do Airbus da Presidência, o Aerolula, que recebeu em 2005. Ele não apenas gosta de viajar no jato como costuma se gabar do fato de tê-lo adquirido. “Precisava chegar um cara de coragem para fazer isso”, costuma dizer. Como o funcionário encarregado de checar sua respiração nas madrugadas, outros em breve deixarão de servir-lhe para ocupar-se de seu sucessor, como o médico das Forças Armadas que acompanha os exercícios matinais do presidente e as duas funcionárias encarregadas de assegurar que sua roupa esteja sempre lavada, passada e com os botões em dia. Tudo isso acabará em janeiro. E Lula já decidiu como viverá sua nova fase.

Embora negue em público, o presidente cultivou planos de comandar algum órgão relevante da política internacional, como a ONU, o Banco Mundial ou a FAO, agência da ONU para agricultura e alimentação. Os projetos, porém, colidiram com a realidade - Lula não conseguiu apoio suficiente para eles. Em maio, o presidente reuniu-se no Rio de Janeiro com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para expor sua pretensão. Ouviu que ela era inviável, dado que esses cargos costumam ser ocupados por diplomatas de carreira. Além disso, o alinhamento do Brasil com governos totalitários como os de Cuba, Irã e Venezuela enfraqueceu o presidente junto à comunidade internacional que define quem vai para onde. Ban Ki-moon chegou a oferecer a Lula o comando de uma ação que a ONU desenvolverá para combater o aquecimento global, ao lado da alemã Angela Merkel, mas a proposta não animou o presidente. A negativa de Ban Ki-moon não foi suficiente para que Lula desistisse do seu pleito. Meses mais tarde, ele teve uma conversa com o comandante do Acnur (agência da ONU para refugiados), o ex-primeiro-ministro de Portugal Antônio Guterres, mas o resultado foi igualmente desanimador.
(…)
Leia a íntegra da reportagem na revista

Por Reinaldo Azevedo

(Blog Augusto Nunes): Brindemos ao duplo triunfo: o renascimento da resistência democrática e a chegada da coluna a 1,5 milhão de acessos por mês

Há 45 minutos, o total de acessos registrados por este blog passou de 1,5 milhão em outubro, amigos. Vale repetir por extenso: um milhão e meio. Quase o dobro do mês anterior. E a coluna só tem um ano e meio de vida. Não poderia haver outra prova tão definitiva de que estamos — no plural, mesmo: a coluna é feita por todos nós — no caminho certo. Nem evidência mais contundente de que a chegada a essa marca extraordinária é fruto da sólida musculatura da resistência democrática brasileira.

Entre 22 de abril de 2009 e este fim de outubro, este espaço transformou-se em território ocupado e defendido por uma parcela considerável da imensidão de indivíduos decididos a lutar, essencialmente, pelo fim da Era da Mediocridade e pela plena restauração do Estado Democrático de Direito. Nestes 18 meses, os milhares de textos e comentários publicados na coluna identificaram as cláusulas pétreas e os itens inegociáveis do programa que condensa os objetivos da oposição real — muito maior, mais determinada e mais corajosa que a oposição partidária. O programa aqui esculpido é consistente, transparente, incisivo, coerente, audacioso.  Reafirma já nas linhas iniciais que valores éticos e morais são irrevogáveis. E traduz o pensamento de muitos milhões de eleitores, como atestaram as urnas de 3 de outubro.

Os resultados do primeiro turno reduziram a escombros o castelo de mentiras, fraudes, falácias, fantasias, engodos, truques e malandragens erguido em aliança pelo governo federal, pelo PT, pela base alugada, pela imprensa domesticada, por blogueiros estatizados, por milícias raivosas e pelo rebanho abúlico, com a contribuição fundamental de institutos de pesquisa transformados em lojas de porcentagens. Hoje está claro que o campeão mundial de popularidade jamais saberá o que é vencer uma disputa presidencial no primeiro turno.  Sabe-se agora que os 4% de pesquisados insatisfeitos se transformam em mais de 50% de descontentes quando votam.  Os passageiros da arrogância descobriram que não controlam a maioria  dos brasileiros. Seja quem for o eleito, a nação não será subjugada.

“Onde você estará na segunda-feira se a Dilma ganhar?”, esbravejam os prisioneiros da cólera. Aqui, naturalmente, ao lado dos amigos. Junto com os parceiros da longa caminhada em direção a um Brasil civilizado, livre de velharias ideológicas envilecidas, de acertos obscenos entre larápios homiziados em diferentes partidos, da corrupção institucionalizada e impune. Um Brasil dronto para estimular o convívio dos contrários, capaz de encarar confrontos eleitorais com a naturalidade dos países que se livraram das chagas do primitivismo. E aqui estaremos, em busca do mesmo sonho, se o vencedor for José Serra. A independência intelectual é inseparável de quem ama a liberdade acima de todas as coisas. Neste domingo, votaremos contra o autoritarismo. Votaremos na democracia.

O recorde de acessos confirma que fizemos o que deveríamos ter feito: contribuímos para o renascimento da  resistência democrática disposta a travar com bravura a luta sem prazo para terminar — uma imensa pedra no caminho que a seita lulista imaginava removida para sempre. Brindemos ao duplo triunfo.

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (Veja.com)

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