Lula é muito forte, mas não é Deus (por Reinaldo Azevedo)

Publicado em 31/10/2010 20:56

Futura presidente do Brasil, Dilma ficou muito longe de ter recebido uma carta branca dos brasileiros

Se entrega, Corisco!

Eu não me entrego, não! Só na morte e de parabelo na mão!

Dilma Rousseff, do PT, é a presidente eleita do Brasil. Enquanto escrevo, com 98,74% dos votos apurados, ela tem 55,93% dos votos válidos, contra 44,07% do tucano José Serra — 11,86 pontos de diferença. Em 2006, Lula obteve 60,83%, contra 39,17% de Geraldo Alckmin (21,66 pontos de vantagem); em 2002, o mesmo Lula, disputando com o mesmo Serra, levou com 61,27%, contra a 38,72% (22,55 pontos a mais). A apuração no Nordeste está um tantinho atrasada, mas a diferença tende a ficar aí na casa dos 12 pontos. E não vamos nos enganar quanto ao essencial: quem disputou de novo foi Lula. Desta feita, o resultado tende a bater com o que apontavam Ibope e Datafolha, dentro da margem de erro.

O que os números acima indicam — e eu ainda provarei a tese para vocês no detalhe? Lula é muito forte, mas não é Deus. A despeito da maciça campanha oficial, da formidável mobilização da máquina, de uma cadeia de mistificações como jamais se viu, do jogo bruto escancarado, o desempenho do candidato de oposição é, sim, muito superior àquilo que esperava o governo. Lula se colou de tal sorte à campanha de Dilma, que esses quase 45% dos brasileiros disseram um “não” também a ele — ao menos à sua brutal interferência no processo eleitoral.

Há erros aos montes da oposição, sim, que não começaram nesta campanha — remontam a 2002 e seguiram adiante em 2003, 2004, 2005 (muito especialmente!)… até os dias de hoje, culminando com outros tantos cometidos nesta campanha eleitoral propriamente. Já escrevi um texto sobre o futuro da oposição, que vai ao ar daqui a pouco na VEJA Online — e, claro, aqui no blog também. Daqui a pouco ou madrugada adentro, vamos ver o ritmo da coisa, escrevo sobre as campanhas eleitorais.

De todo modo, o quadro que sai das urnas é muito menos catastrófico para as oposições do que gostariam Lula e os petistas. Ainda que a presidente Dilma vá ter uma maioria folgada no Congresso, recebeu, sim, um vigoroso recado das urnas. Está muito longe de ter recebido carta branca da sociedade.

Por Reinaldo Azevedo

PSDB faz o sétimo governador em Alagoas

O PSDB acaba de fazer seu sétimo governador — já é o partido que venceu em um maior número de estados: Teotônio Vilela Filho foi reeleito governador de Alagoas. Com 96,56% dos votos apurados, ele tem 52,8% do total, contra 47,2% de Ronaldo Lessa, do PDT, que recebeu o apoio de Fernando Collor no segundo turno. Assim, no primeiro turno, o partido se reelegeu em dois estados — São Paulo e Minas — e conquistou o poder em dois outros: Tocantins e Paraná. No segundo, reelegeu-se em Alagoas e levou os governos do Pará e de Goiás. Os tucanos podem ainda fazer o oitavo governador em Roraima. A apuração segue acirradíssima entre José Anchieta (PSDB), com 50,35% dos votos, e Neudo Campos (PP), com 49,65%. A diferença é de 1.493 votos.

Por Reinaldo Azevedo

Qual é o futuro da oposição? Sair do armário. Ou não tem futuro.

Começo este texto pela ressalva: qualquer comentário que não leve em conta a truculência oficial no processo eleitoral será sempre manco. Nunca se viu uso tão descarado da máquina pública em favor de uma candidatura. O desassombro com que o presidente Lula renunciou a qualquer resquício de decoro, à tal liturgia do cargo, para se entregar ao bate-boca eleitoral é certamente inédito. Nunca se viu uma agenda administrativa tão colada à agenda eleitoral e partidária. Até mesmo o anúncio de uma possível nova reserva gigante de petróleo no pré-sal - que pode conter “x” bilhões de barris ou “5x” - se fez de acordo com as exigências do calendário político: dois dias antes da eleição. E assim se fez quando a peça da resistência da campanha eleitoral petista era justamente a suposta, porque falsa, intenção dos tucanos de privatizar a Petrobras e o pré-sal. A ressalva se estende por mais um parágrafo ainda, antes que retome o fio da primeira linha.

Nunca antes nestepaiz se viu tanta sujeira numa campanha. Já na largada, descobriu-se um verdadeiro bunker montado em Brasília destinado à produção de dossiês. Constatou-se, o que endossou as acusações de Serra, que o sigilo fiscal de tucanos e de familiares do candidato havia sido violado. Em todos os casos, as digitais do petismo se fizeram presentes. No bate-boca eleitoral, atribuiu-se, com a colaboração de setores da imprensa - o que é fabuloso -, o jogo bruto à vítima. Isso também é inédito Feitas as ressalvas, retomemos o fio.

Há pelo menos oito anos, esta que se chama hoje oposição é refém da narrativa que o PT inventou para ela. As três campanhas eleitorais tucanas - 2002, 2006 e 2010 - mostraram-se incapazes de responder à vaga de desqualificação do petismo. Nem mesmo se pode dizer que consegue ser apenas reativa porque nem a isso chega. Ao contrário até: faz um enorme esforço para mudar de assunto. E a estratégia tem falhado reiteradamente. Disputou com candidatos ruins? De jeito nenhum! José Serra e Geraldo Alckmin eram personagens eleitoralmente viáveis. O problema é de outra natureza. Parece haver um erro básico de leitura da realidade.

Tenho pra mim que há três eleições pelo menos os tucanos se tornaram reféns também de pesquisas qualitativas: em 2002, o fantasma era a “impopularidade” de FHC, o que fez com que a campanha da oposição tentasse se descolar do governo - governo que tinha, sim, passado pela crise energética em 2001, mas que reunia méritos gigantescos, muitos deles então frescos na cabeça do eleitor. Mas as pesquisas diziam: “Não toquem no nome de FHC pelo amor de Deus!”. E o governo que havia estabilizado a economia, domado a inflação, tirado muitos milhões da miséria, inaugurado os programas sociais que viraram o Bolsa Família, bem, aquele governo parecia um anátema.

Em 2006, com Geraldo Alckmin candidato, o PSDB insistiu no mesmo erro básico - medo de sua história. Às mistificações do lulo-petismo, respondeu com o que chamo “maximização do mínimalismo administrativista”, erro, entendo, reiterado desta vez. O fantasma da privatização, brandido de novo pelo petismo, é um bom emblema. O marketing tucano caiu duas vezes no mesmo truque, tropeçou duas vezes na mesma pedra, permitiu que João Santana risse duas vezes da mesma piada.

Ora, é falso, mentiroso, mistificação barata, sustentar duas coisas, a saber: a) que a concessão de áreas para a exploração de petróleo seja privatização; b) que os tucanos queriam privatizar a Petrobras e o pré-sal. Mas qual foi a reação, TARDIA, da propaganda do PSDB na TV? Agasalhar a tese de que concessão é privatização; tomar a privatização com um  malefício e depois devolver a acusação: “Quem fez, sei lá, 108 ‘privatizações’ foi a Dilma”. Ou seja: tentou falar a linguagem do inimigo, aderir à sua racionalidade vigarista, para tentar inverter o jogo. Em nenhum momento os programas eleitorais do PSDB se lembraram de INFORMAR aos eleitores que, quando FHC chegou ao poder, o Brasil produzia 700 mil barris de petróleo por dia; quando ele deixou o governo, em 2002, o país produzia 1,4 milhão de barris - o dobro. No governo Lula, o aumento da produção foi de 50%.

Não quero me ater neste texto aos muitos erros do horário eleitoral. Até porque esses poucos que citei servem apenas para ilustrar uma tese: se quer voltar ao poder federal, a oposição terá, em primeiro lugar, de se tonar senhora de sua própria história, recolocando os fatos em seu devido lugar. E terá de enfrentar o lulo-petismo sem receio - terá de enfrentar, inclusive, o mito do “Lula intocável”. Porque os números,ao contrário do que rezam as aparências, demonstram que isso também é falso, o que fica para outro texto.

Desde já
Se as atuais oposições pretendem voltar ao poder em 2015, vencendo, pois, as eleições de 2014, têm de começar a enfrentar o governo desde já - ou, vá lá, a partir de 2 de janeiro de 2011.Assim se faz nas grandes democracias do mundo. Barack Obama estava no poder havia 15 dias, e o odiado Dick Cheney deu o grito de guerra. Alguns chegaram a dizer que ele estava enterrando o Partido Republicano. É mesmo? Pois os republicanos estão prestes a tomar de Obama a maioria no Senado e na Câmara. E olhem que, em matéria de mito, o presidente americano dá surra em qualquer um.

De fato, foram oito anos de quase não-oposição - essa é a verdade. E não se consegue despertar para esse mister nos quatro ou cinco meses que antecedem uma eleição. Nesse tempo, o PT contou a história como bem quis. “Então você sugere que os tucanos digam ‘não’ ao governo mesmo quando a proposta é boa, seguindo o modelo petista?” Não! Eu sugiro que os tucanos, democratas e quantos se oponham ao PT - desde que não seja optando pela extrema esquerda, claro! - tentem apresentar sempre propostas MELHORES. E que não tenha receio de ter a sua agenda. É difícil? Claro que sim! Mas precisa ser feito.

Dilma, agora, vai procurar a conciliação. É da natureza do jogo. A conversa é a de sempre: “Os interesses do país pedem etc e tal”. O próprio Lula se lembrará de ser um “conciliador”, convocando os homens que querem o bem do Brasil… Até a próxima disputa. Se os oposicionistas caírem na conversa da tal “agenda comum”, serão jantados de novo daqui a pouco.

Agenda comum?
Como sempre, o começo do governo será pautado pela urgência da reforma política, da reforma tributária, da reforma trabalhista - as reformas, enfim, que todos dizem querer fazer e que acabam não sendo feitas. O governo Dilma terá maioria esmagadora na Câmara e no Senado. Mas sabemos todos que essa maioria nominal não diz muita coisa a depender do tema. Sim, a oposição tem de ter as suas próprias propostas e brigar muito por elas no detalhe, comparecendo para o debate.

Quem quer que vá liderar esse trabalho tem de se mostrar como uma alternativa de poder, não como linha auxiliar do governo, o que o PSDB demonstrou ser muitas vezes. Isso não impediu, como se viu em 2006 e 2010, o eficiente trabalho de satanização promovido pelo PT. Considerados os governos dos estados, e ainda escreverei mais a respeito, as oposições governarão praticamente a metade da população e, vou fazer as contas, mais de 60% do PIB. Têm um base formidável para traçar as coordenadas de seu futuro. E, curiosamente, o seu futuro tem de começar por não ter medo do seu passado, que tem de ser libertado do cativeiro em que o prendeu o PT.

Por Reinaldo Azevedo

Agnelo Queiroz, do PT, leva o DF: primeiro lance da futura crise

O PT voltará ao governo do Distrito Federal. Agenelo Queiroz se elegeu governador com 66,1% dos votos válidos, contra 33,9% de Weslian Roriz (PSC), mulher de Joaquim Roriz.

Vamos ver. Há dias, escrevi aqui um artigo em que afirmei: “Pobre Distrito Federal! Tão longe de Deus, tão perto do PT”, parodiando um ex-presidente do México… Agnelo é o resultado de uma soma de escândalos no Distrito Federal, que foi vitimando as lideranças políticas. Culminou com Joaquim Roriz sendo barrado pelo Ficha Limpa.

O problema é que Agnelo já é eleito tendo de responder, como diria Ciro  Gomes sobre o PMDB, seu aliado, a um “roçado de escândalos”. Não terá vida fácil. Ele e seu grupo aparecem envolvidos em histórias cabeludas no Ministério dos Esportes. Suas respostas, até agora, foram amplamente insuficientes.

Se alguém imagina que a crise acabou com a eleição, é bom tirar o cavalo da chuva. O mais provável é que se tenha assistido ao primeiro lance de uma nova.

Por Reinaldo Azevedo

O caso Acre

Quem terá que se explicar a Lula e Dilma Rousseff são os irmãos Vianna – Jorge, eleito senador, e Tião, novo governador do Acre. Num estado em que tradicionalmente o PT vence e onde é governo desde os anos 90, José Serra deu um banho em Dilma Rousseff: 67,5% contra 32,5%. No primeiro turno, Serra terminou com 52% dos votos. Significa, no final das contas, que os votos de Marina Silva migaram para Serra no Acre.

Por Lauro Jardim


AÉCIO QUER LIDERAR A OPOSIÇÃO

Durante as duas extensas entrevistas que concedeu neste domingo, em Belo Horizonte, o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB) admitiu, repetidas vezes, a chance de vitória da presidenciável petista Dilma Rousseff no segundo turno. Senador eleito pelo Estado, o tucano chegou a insinuar que pode liderar a oposição caso as urnas confirmem a vitória da candidata do presidente Lula.

Aécio propôs, inclusive, uma revisão no seu partido. "O PSDB, qualquer que seja o resultado da eleição, tem que assumir de forma mais clara e explícita seu passado, sua história. Eu, por exemplo, tenho um orgulho enorme do presidente Fernando Henrique", afirmou. Ele também declarou que Serra foi um "leão", um "lutador" ao defender com vigor suas propostas no segundo turno.

O senador eleito chegou a defender o processo de privatizações ocorrido no país na gestão de FHC, principalmente com a desestatização da telefonia no Brasil. Segundo ele, a privatização do setor trouxe um "avanço extraordinário para o País". A venda de estatais foi o ponto central dos ataques da candidatura de Dilma Rousseff à gestão tucana.

A estratégia de campanha ex-ministra da Casa Civil foi passar ao eleitor a impressão de que o PSDB prejudicou o Brasil ao priorizar este estilo de gestão. Como fez ao longo do primeiro turno, o ex-governador de Minas voltou a atrelar as conquistas do atual governo federal aos oito anos da gestão tucana que o antecederam.

"Se o Brasil vai bem hoje, é em grande parte, porque estabilizamos a economia". Além da defesa do "legado" tucano, Aécio também voltou a admitir a vitória de Dilma ao mandar recados ao Planalto e falar como potencial liderança tucana a partir de 2011: "Quero ver um governo generoso, que não queira dividir o Brasil entre pobres e ricos, bonitos e feios".

Desavenças com DEM
O senador eleito minimizou as desavenças registradas entre o PSDB e o DEM, que ficaram nítidas desde o início do processo eleitoral quando foi escolhido Índio da Costa como vice de Serra. Apesar do "fogo amigo", de conhecimento público entre as duas siglas, Aécio pregou que a aliança com o partido é definitiva.

"O que precisamos é unir as forças de oposição se perdermos as eleições e nos unirmos no governo, no caso de vencermos. O DEM é um aliado natural, mas temos que ampliar nosso leque de alianças".

Mesmo dizendo que não se considera "condutor de nada" neste momento, Aécio Neves já anuncia que irá colocar sua capacidade de relacionamento e bom trânsito entre partidos de vários campos em torno da construção do tal processo de união. Ele também avisou que irá contatar senadores e governadores eleitos já nos próximos dias na intenção de apresentar uma agenda de reformas - como a política - para o Congresso.

Pacificar o Brasil
Com o tom de quem não descarta o papel de protagonismo alocado em uma eventual oposição, ele defendeu que o próximo presidente deva pacificar o Brasil. "O presidente, qualquer que seja o eleito, deve estender a mão e chamar para uma grande convergência nacional aquele grupo que tenha perdido a eleição".

Principal cabo eleitoral de José Serra em Minas Gerais, o ex-governador, cuja popularidade chegou a marcar 80% no Estado, usará sua aprovação regional como moeda de negociação para se cacifar a uma futura disputa presidencial. Preterido do processo pelo PSDB e pelo próprio Serra, Aécio será alçado naturalmente ao centro da cena política se Dilma sair vitoriosa das urnas.

Neste cenário, sobraria a Aécio enfrentar apenas o poder de fogo do governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin. Caberá aos dois, neste caso, disputar um pretenso posto de protagonista.

Desafio
Para dar tratos à bola e tentar evitar receber toda a carga de responsabilidade no caso de derrota de Serra, Aécio pontuou que Minas Gerais promoveu uma "belíssima" campanha para o presidenciável tucano e que fez "o que poderia ser feito". Cobrado durante todo o primeiro turno por não se empenhar em nome de Serra, o ex-governador mineiro saiu em campo no segundo turno, chegando a visitar vários Estados do Brasil, difundindo a candidatura de Serra.

No tom de quem faz um desafio e já sabendo do ônus que terá numa eventual derrota, afirmou: "pode ter tido outros companheiros no Brasil que tenham trabalhado tanto quanto Anastasia (Antônio Anastasia, governador eleito) e eu em Minas para o Serra, mas, com certeza, não encontraremos ninguém que tenha trabalhado por Serra mais que nós".


LULA JÁ PENSA EM VOLTAR (por Ricardo Setti)

Amigos, agora falta pouco para o presidente Lula deixar o poder: dois meses.

Dois meses, e o sonho acabou para Lula: nada mais das pompas inebriantes do poder, nada da piscina do Palácio do Alvorada, suas magníficas instalações, seu cinema particular, nada de helicópteros para lá e para cá.

Não mais o Aerolula de 60 milhões de dólares viajando mundo afora, os batedores à frente do carro blindado, os rapapés de autoridades, os tapetes vermelhos, as tropas formadas em posição de sentido, os olhos e ouvidos do país, diariamente, tomados pela sua figura, pelas arengas em voz roufenha em todas as emissoras de rádio e TV.

O presidente já está mostrando, por seu comportamento, por sua emoção em pequenas e grandes solenidades, a nostalgia que já leva na alma dos 8 longos anos em que se situou no centro das atenções nacionais e de protagonista frequente e ubíquo na cena internacional.

O que fará Lula depois de deixar o poder? Especulações não faltaram.

Houve o sonho, acalentado por amigos do rei, se não por ele próprio, de ser secretário-geral da ONU. Não era impossível. Afinal, um latino-americano de muito menos cacife que Lula, o diplomata peruano Javier Pérez de Cuéllar, já ocupou o importante cargo por dez anos, até o final de 1991. O problema, se outros não houvesse, é que Lula foi queimando pontes com sua amizade calorosa com os irmãos ditadores de Cuba, com o caudilho venezuelano Hugo Chávez, seus compagnons de route da Bolívia, do Equador, da Nicarágua…

Até aí ainda não seria problema de tanta monta, mas Lula, que se acha ungido por Deus, acabou enfiando o dedo numa tomada de altíssima voltagem ao abraçar o pária internacional Mahmoud Ahmadinejad. Com isso, irritou todos os principais líderes da União Européia e, pior, tocou no plexo solar da superpotência americana — os interesses de sua segurança nacional. O Irã, como se sabe, é inimigo acérrimo dos Estados Unidos, apóia grupos terroristas xiitas em vários países, está numa corrida pela bomba atômica, acena com varrer do mapa um dia o principal aliado de Washington no Oriente Médio, Israel, e por aí vai.

Quer dizer, bye-bye ONU, definitivamente. Haveria o consolo da FAO, o organismo da ONU para agricultura e alimentação. A credencial do presidente seria o prestígio internacional que angariou no começo de seu mandato com o Fome Zero, que hoje em dia no Brasil ninguém sabe onde foi parar, diluído que se encontra nos desvãos do programa Bolsa Família, e a rede de contatos e simpatias que formou e consolidou na América Latina, no Oriente Médio, na África e em partes da Ásia.

Parece que Lula não se interessou pela FAO.

E por bons motivos. Quando deixar o poder, todas as energias do presidente estarão concentradas num objetivo: voltar a ele.

Por isso, ao deixar o poder, Lula estará onde sempre esteve, desde os anos 70: em cima de um palanque.

Antes, era o sindicato dos Metalúrgicos. Depois, vieram as campanhas para governador de São Paulo, em 1982, para deputado federal, em 1986, para presidente, em 1989, 1994, 1998, 2002, 2006 e, em nome de Dilma Rousseff, em 2010.

Nos intervalos das campanhas, a partir de 1993, vieram as Caravanas da Cidadania — lembram-se? –, em que Lula percorreu o Brasil “para conhecer de perto a realidade nacional”, mas empre em cima de palanques, até quando navegou pelo Rio São Francisco e pelos rios da Amazônia.

O que vocês acham das declarações do presidente de que vai “correr o Brasil” durante o possível governo Dilma para ver o que ele próprio “deixou de fazer” de forma a que a possível presidente “faça mais e melhor do que eu”?

Ele vai estar como e onde sempre esteve: de campanha, num palanque. Até o instituto que vai criar para armazenar documentação de seu governo e ser um centro de estudos — medida correta e digna de aplausos, mas menosprezada e ridicularizada quando adotada por FHC –, não tenham dúvida, será utilizado no projeto 2014.

O problema vai ser se Dilma, eleita, fizer governo bem avaliado pela opinião pública. A presidente será ela, a caneta de nomeações, nomeações e demissões será dela, o Aerolula estará a seu dispor, o Alvorada será sua residência, a vassalagem e os rapapés estarão voltados para ela. Quererá ceder a vez ao antigo tutor?

Duvido, duvido solenemente, e assino embaixo. Quem viver, verá.

Dilma promete relação "íntima" com Lula (na Folha)

Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência, prometeu ontem manter uma relação "íntima e forte" com o presidente Lula caso seja eleita hoje a primeira mulher presidente do país. Ela encerrou a campanha com carreata em Belo Horizonte (MG).

Em discurso na linha "paz e amor", a petista prometeu que , se eleita, vai governar "para todos", sem discriminar governadores e prefeitos de partidos adversários. Disse não guardar "mágoas" da disputa, marcada pela animosidade no segundo turno.
Dilma aproveitou o último pronunciamento da campanha para reafirmar os laços com Lula, o grande cabo eleitoral de sua postulação.
"Vou governar com a minha coligação, mas para todos os brasileiros, sem discriminação de partidos. Vou me relacionar com governadores e prefeitos, mesmo de outros partidos, de forma republicana", disse a petista.
A candidata disse ainda que promoverá "não só o desenvolvimento material, mas também de valores".
A declaração foi feita após a petista dizer que não guarda mágoas pelo que chamou de "calúnias" da eleição, sem citar as polêmicas sobre aborto e religião. Dilma defendeu a "tolerância e a capacidade de viver em paz".
Questionada sobre o espaço que Lula terá em sua eventual administração, a petista disse que ele não será "uma presença dentro do ministério", mas que será ouvido.
"Sempre que puder conversarei com o presidente. Terei uma relação muito íntima e muito forte. Não há ninguém neste país que vai me separar do presidente Lula", afirmou a candidata.

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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