O animador de palanque, o animador de TV, o Pai dos Pobres e a Mãe dos Ricos

Publicado em 11/11/2010 08:59

O presidente Lula alega que não há como melhorar a saúde dos brasileiros sem os R$ 40 bilhões anuais da CPMF.  Falta o dinheiro que sempre aparece quando um amigo do governo precisa. Para tirar da UTI o Banco Panamericano, por exemplo, o animador de palanque ajudou o animador de auditório Sílvio Santos a conseguir um empréstimo de bom tamanho: R$ 2,5 bilhões. São 4,9 milhões de salários mínimos.

Tal quantia teria permitido ao Pai dos Pobres a construção de 41.667 mil casas populares, ou a distribuição de 12,5 milhões de bolsas-família. A Mãe dos Ricos não viu nenhum exagero no socorro financeiro que contemplou Sílvio Santos. O Pai e a Mãe, claro, juram que nem tocaram no assunto no recente encontro com o homem do baú. Os colegas devem ter-se limitado à troca de ideias sobre a arte de lidar com plateias amestradas. Ou sobre o truque que reduz agressões ao adversário político a um arremesso de bolinha de papel.

O dinheiro é de outros bancos, recita o presidente que nunca tem nada com isso. Faz de conta que Lula só entrou na história como fiador simbólico, interessado em apressar o final feliz do negócio. Já é mais que suficiente para garantir a gratidão do dono de outra emissora de grosso calibre. O SBT tem motivos pelo menos dois bilhões e quinhentos milhões de motivos para incorporar-se à grande rede verde e amarela controlada pelo Palácio do Planalto.

O dia em que Sílvio Santos fez a imprensa de boba,por Ricardo Setti.

Amigos do blog, apresento-lhes neste texto um dos melhores jornalistas que conheço: o bravo gaúcho Luiz Cláudio Cunha, que já enriqueceu redações e chefias em veículos como VEJA e o Estadão, e é autor de um esplêndido livro sobre um caso emblemático da nefanda “Operação Condor” — colaboração entre os órgãos de repressão das ditaudras que oprimiu o Cone Sul — que ele desvendou e cobriu quando chefiava a sucursal da revista em Porto Alegre, Operação Condor: o Sequestro dos Uruguaios (editora L&PM, 2008).

Sílvio Santos não poderá mais repetir o seu famoso bordão: “Quem quer dinheiro?”.

Abriu-se na sexta-feira o baú de infelicidades do mais famoso animador de auditório da TV brasileira, dono do SBT, a terceira maior rede do país no ranking de audiência, transmitida por 106 emissoras (15 próprias e 91 afiliadas).

O seu banco, o Panamericano, queria dinheiro, muito dinheiro, para cobrir o rombo de 2,5 bilhões de reais no seu balanço fraudado. O banco de SS repassava carteiras de créditos de suas operações para outros bancos, mas não contabilizava essa transferência no balanço, que justificaria hoje o bordão de Santos no programa Tentação: ”Vale dez reais?”

No melhor estilo Lula, Sílvio Santos apressou-se a declarar: “Eu não sabia de nada”.

A fraude do lucro inflado no banco do apresentador de Topa Tudo por Dinheiro representa 40% dos ativos do Panamericano, que somam R$ 6,5 bilhões, e passou batido por uma das mais respeitadas empresas de auditoria do mercado, a Deloitte.

A solução engenhosa para sair da enrascada estava embutida num dos bordões mais conhecidos de SS: “Vem pra cá, vem pra cá”.

Foi o que ele disse ao governo Lula, que foi lá para o SBT em apuros, já que tinha interesse no caso — a Caixa Econômica Federal adquiriu no ano passado 49% das ações do banco –, por meio do camarada FGC, o Fundo Garantidor de Crédito, mantido pelos bancos mas sensível a apelos federais. Sobretudo quando o Banco Central recomenda que apóie determinadas operações.

O FGC, a quem SS ofereceu 44 empresas de seu grupo como garantia, disse que a recomendação de socorro feita pelo Banco Central tinha por objetivo evitar o “risco sistêmico” que poderia abalar a área financeira do país.

Quando o PT de Lula era oposição, essa desculpa do PSDB de FHC era motivo de zombaria para a inclemente confraria petista.

O sempre bem informado Guilherme Barros, colunista de economia do portal iG, informou que o BC, ao contrário de Lula e de Silvio Santos, sabia de “inconsistência contábil” no Panamericano há dois meses, ou seja, desde setembro.

Foi examente em setembro, uma quarta-feira, 22, dez dias antes do primeiro turno da eleição presidencial, que Sílvio Santos visitou Lula inesperadamente no Palácio do Planalto, causando o alvoroço previsível.

Naquele dia, o sorridente SS avisou que estava ali apenas para convidar o presidente para a abertura do Teleton, um programa que arrecada recursos para crianças e adolescentes com necessidades especiais. No embalo, ainda arrancou uma doação de R$ 12 mil de Lula.

Silvio atropelou a agenda presidencial, tirando do caminho uma reunião prevista para aquele horário justamente com Henrique Meirelles, o presidente camarada do BC que dois meses depois seria fiador do SOS para SS.

O que espanta, neste processo, é a inconsistência sistêmica da imprensa brasileira, que cobriu burocraticamente a surpreendente visita de SS ao Planalto: “Não venho aqui desde o governo Itamar Franco”, avisou ele, ou seja, fazia já 18 anos.

E os repórteres e editores engoliram, em seco, a explicação boboca sobre o Teleton. Se não fosse tão preguiçoso, habituado ao declaratório e ao oficialiesco, um jornalismo esperto poderia ter percebido ali as fagulhas do rolo do Panamericano que enfiou o FGC, o governo e Sílvio Santos no mesmo baú de desinformação e incertezas.

O desprezo de SS pela notícia já faz parte do folcore nacional. Na noite de 17 de julho de 2007, as maiores redes de TV do país interromperam a cobertura dos Jogos Panamericanos do Rio para mostrar as primeiras imagens fumegantes do Airbus da TAM que explodiu no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. O SBT foi o último a informar sobre a tragédia.

Nem Bin Laden conseguiu desfazer o sorriso de plástico de SS. No 11 de setembro de 2001, o dia do maior ataque terrorista da história, que as TVs do mundo inteiro cobriram ao vivo para o mundo estarrecido, o SBT continuou, impávido, a transmitir sua programação normal, quebrada apenas por breves flashes de plantão nos horários comerciais.

Naquele dia, o SBT atingiu um dos menores índices de audiência de sua história.

Prova de que o povo, apesar de Sílvio Santos e alguns de nossos jornalistas, não é bobo.

Com seu vozeirão de locutor de televisão, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) trombeteou agora há pouco sobre a operação de socorro ao banco do empresário e apresentador de TV Silvio Santos: “Precisamos saber se a Caixa Econômica tornou-se sócia das dificuldades do Banco Panamericano”, disse, lembrando que a CEF comprou no ano passado 49% das ações  do banco que estava à beira de derreter.

Leia reportagem sobre os 2,5 bilhões do Fundo Garantidor de Crédito que socorreram o banco de Silvio Santos e o requerimento do senador Antonio Carlos Júnior (DEM-BA) para que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e a presidente da CEF, Maria Fernanda Ramos Coelho, compareçam ao Senado para prestar esclarecimentos.

De minha parte, tenho outra grande curiosidade: como vai se comportar o jornalismo do SBT depois da operação-socorro?

O dinheiro não veio do governo, e sim do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), mantido por todos os bancos comerciais. Mas com a intervenção e as bênçãos do governo, que, por meio da CEF, também nomeou todos os novos diretores do banco.

(por Ricardo Setti)

Silvio Santos vem aí?

Depois de viabilizar a aprovação de um requerimento convidando Henrique Meirelles e a presidente da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda Ramos Coelho, para explicar na semana que vem a operação de salvamento do Banco PanAmericano, Demóstenes Torres diz que não titubeará se algum colega da Comissão de Constituição e Justiça do Senado quiser ouvir Silvio Santos sobre o negócio.

O presidente do colegiado assegura que, se algum senador apresentar requerimento nesse sentido, colocará a matéria em votação.

Por Lauro Jardim

Um personal banqueiro

Silvio Santos realmente apostou alto no seu concunhado Rafael Palladino, o ex-número 1 do Banco Panamericano. Convidou-o para comandar o banco do grupo um profissional com uma carreira um tanto heterodoxa para um homem de mercado financeiro: antes, de entrar no Panamericano, Paladino foi, dos vinte aos 32 anos de idade, personal trainer. Depois, foi professor em academias paulistas. Com SS, inicialmente cuidou da área de imóveis do grupo. Depis, foi escalado para toar o banco.

Recentemente, numa enrevista, Palladino respondeu assim sobre o que faltava em sua vida profissional:

- Ainda tenho muitos desafios a enfrentar. É bom que seja assim: a cada dia uma situação nova.

Bem, pelo visto foi feita a sua vontade.

Por Lauro Jardim

Próximos de Palladino

Rafael Palladino, ex-presidente do Banco Panamericano e concunhado de Silvio Santos, sempre chamou atenção do mercado pela relação muito próxima com Marcio Percival Alves Pinto, vice-presidente de Finanças da Caixa Econômica Federal (indicado por Aloizio Mercadante para o cargo) e Walter Appel (dono do banco Fator, um dos que auditaram o Panamericano para a CEF)

Por Lauro Jardim



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Veja.com

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2 comentários

  • Valmir Dias Rodrigues ( Bolinha) Anastácio-MS - MS

    Ha ha ha. Ui ui ui. Ha ha ha.é a caixa federal levando alegria a milhões de brasileiros.Vem pra caixa você tambem ! Governo Federal "este é um país de tolos"

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  • Valmir Dias Rodrigues ( Bolinha) Anastácio-MS - MS

    Até ontem, alguns desinformados e defensores deste governo, diziam que o dinheiro para socorrer o Banco panamericano de Silvio Santos, vinha do FGV.

    Correto.Mas e o dinheiro que a Caixa Economica Federal pagou nos 49% do

    Panamericano?. Onde Está o dinheiro? Os gatos comeram...e por isso que o Silvio rí a toa............ha ha ha Brasil

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