(por Reinaldo Azevedo, blogueiro de Veja)
A Folha e a jornalista Miriam Leitão descobriram que a proposta de Lei Ambiental de Aldo Rebelo (PC do B) ampliaria as chances de desastres como o ocorrido na região serrana do Rio. Como eu defendo o texto de Rebelo, como o considero sensato, fiquei preocupado. Eu também sou um ser humano bom, como Miriam e os jornalistas que fizeram aquela reportagem. A exemplo deles, quero o bem da humanidade, da floresta, dos passarinhos etc e tal. E fui reler o texto (íntegraaqui). Teria eu me tornado um militante cego da mudança? Teria eu deixado de ler alguma coisa — ou, pior, lido pelo avesso, induzindo meus milhares de leitores a erro?
Não sou do tipo que muda fácil de idéia. Mas sempre me rendo à Sua Majestade o fato. E tome mais de 240 páginas de código outra vez! E não encontrei a passagem que justifica a afirmativa da reportagem da Folha e o comentário de Miriam Leitão na CBN — talvez ela tenha escrito a respeito, não sei. E tenho pedido ao jornal e à jornalista que sejam, então, o meu Virgílio nos Círculos do Inferno ambiental. Mas nada! Nem um nem outra me contam onde está escondido o trecho que flexibiliza as ocupações urbanas. Tudo o que eu encontro na proposta de Rebelo, no que concerne a ocupações urbanas, remete para texto específico. Descobiram a “coisa” e guardam só para eles, os egoístas!
Ou eu estou me comportando como mero militante ou eles. Há uma diferença importante. Eu já demonstrei aqui que eles estão errados. E eles se negam a demonstrar que estão certos ou que errado estou eu. A esta altura, viraram sonegadores de informação, o que é grave no jornalismo. Não se trata de sustentarem que o texto diz “A”, e Aldo Rebelo, exercendo o “direito” ao “outro lado”, negar. Há entre uns e outro uma realidade objetiva: O TEXTO! E o texto trata do Código Florestal em face da agricultura e da pecuária. Nada tem a ver com ocupação urbana. Não muda uma vírgula da legislação que trata do assunto.
Pois bem. Sem fazer o seu “Erramos”, e isso seria louvável, a Folha resolveu escrever um editorial a respeito: “Lei ambiental”. Há bons editorialistas por lá. O diabo é ter de provar a quadratura do círculo. E ninguém jamais será bom o bastante para isso. A Folha consagra, nesta segunda, o “Editorial Enrolation-tion-tion”. Segue um vermelho-e-azul.
As chuvas torrenciais que se abatem sobre o Sudeste do Brasil transformaram encostas e córregos em veículos de morte e devastação. A tragédia ambiental, a um só tempo natural e humana, representa oportunidade única para retomar com serenidade o debate sobre o código florestal.
A tragédia humana havida no Rio diz respeito a ocupações irregulares em áreas sob influência urbana, que nada têm a ver com a mudança proposta por Aldo Rebelo. As áreas rurais afetadas estavam ocupadas havia décadas. Há um óbice, quando menos, de natureza lógica: o desastre se dá justamente na vigência do Código que se quer preservar. Logo, estamos falando de falta de planejamento das cidades e da fragilidade da fiscalização.
De pronto, é bom destacar que uma ocupação mais ordenada desses ambientes, e em maior conformidade com a legislação ambiental, poderia ter evitado muitas mortes. A cobertura florestal no topo e na vertente de morros, assim como na beira de cursos d’água, atua como barreira de amortecimento. Onde há mata não se formam enxurradas violentas. Ali, a água penetra no solo com mais facilidade, alojando-se nos lençóis freáticos.
A informação é mais do que imprecisa: é errada. Ao contrário: os maiores deslizamentos ocorreram nos morros florestados, como provam todas as imagens a respeito — isso é verdade na serra fluminense e em Santa Catarina. As favelas do Rio não vão abaixo, por exemplo, porque a cobertura florestal foi para a cucuia. Há 30 milhões de anos a mata atlântica se liquefaz em determinadas áreas quando chove muito. E deve continuar assim por mais alguns milhões. O QUE NÃO PODE É HAVER GENTE MORANDO POR ALI.
É claro que eventos extremos de precipitação podem sobrepujar até mesmo essa capacidade natural de absorção. Isso ficou patente nos muitos deslizamentos em áreas florestadas da região serrana do Estado do Rio de Janeiro.
Sei. Então o editorialista andou lendo a respeito, e temos aí o estilo “nem-nem” de opinião, em que um argumento anula o outro.
À vista do desastre recente, contudo, não parece boa ideia flexibilizar o código florestal para afrouxar normas que já deixam de ser cumpridas com deplorável frequência - tanto no meio rural como no urbano. Essas concessões comprometem o substitutivo do relator Aldo Rebelo (PC do B-SP) aprovado em julho de 2010 por comissão especial da Câmara.
Epa! Aqui está o centro da enrolação, que precisa dar como certa uma informação falsa para que possa prosseguir. É mentira que a proposta de Aldo flexibilize o “Código Florestal tanto no meio rural como no urbano”. Pra começo de conversa, o que é “floresta do meio urbano”? É a da Tijuca? Quanto ao meio rural, o texto apenas atualiza e racionaliza a legislação, o que o editorial não reconhece — nem as reportagens que tratam do assunto, boa parte delas pautada pelo poderoso, e rico!, lobby ambiental.
No que diz respeito à agricultura e à pecuária, o texto leva é segurança jurídica para o campo. Ora, segundo a atual lei, toda propriedade rural deve ter uma área de preservação que vai de 20% a 80% da propriedade, dependendo da região. E aquela que não tiver, ainda que dedicada à atividade agrícola há décadas, deve se ocupar de “reflorestar” a terra, uma exigência obviamente estúpida, antieconômica. De saída, se aplicada na ponta do lápis, haveria uma diminuição da área plantada no país, luxo a que nenhum outro país do mundo se dedicaria. Mas atenção para o que vem agora.
Rebelo nega que seu projeto, ainda por ser votado nos plenários do Legislativo, tenha implicações para zonas de risco nas cidades, o que é discutível.
Viram? Rebelo nega, o editorial considera a negativa “discutível”, e tudo fica por isso mesmo. Cadê o trecho do texto, senhor editorialista? A ocupação do solo urbano é regulada pela leifederal nº 6.766/79, além das leis municipais. Na seqüência, vem o escorregão do distraído.
De todo modo, é difícil não reconhecer que seu substitutivo pende em demasia a favor de interesses ruralistas.
Ah, bom! Se o editorial quer condenar o que considera pendor “em demasia a favor dos interesses ruralistas”, então o texto é outro, com outros argumentos. Mas esperem: o objetivo do editorial não era tratar da nova lei ambiental em face da tragédia havida no Rio? O que os ditos “interesses dos ruralistas” têm a ver com a ocupação do solo urbano, que teria sido flexibilizada na proposta de Rebelo? Fosse redação do Enem, levaria pau! A argumentação não sustenta a tese! Na verdade, elas se renegam!
Proprietários de todos os portes, de posseiros a latifundiários, estão em guerra contra o atual código florestal. Até 2001, limitavam-se a desobedecê-lo, sem muito risco de sofrer autuação.
Pronto! Já se chegou ao vilão de sempre, o vilão de plantão! O editorial não deixa de ser útil. Ele revela que a tragédia da região serrana do Rio estavam sendo usada mesmo como pretexto pelo lopbby ambientalista, conforme afirmei há uma semana.
Naquele ano a lei de 1965 foi modificada por medida provisória. Tornou-se mais rigorosa, elevando para 80%, por exemplo, a exigência de reserva legal nas propriedades em região de floresta amazônica. A partir de 2008, para combater desmatamentos, o governo passou a fiscalizar o cumprimento da norma com maior eficácia. Foi quando a bancada ruralista no Congresso tornou-se mais estridente, encontrando em Rebelo um porta-voz dedicado.
Vocês sabem como a bancada ruralista é composta de uma gente má, que não respeita a natureza, prejudicando freqüentemente os interesses do Brasil, não é mesmo? Por alguma razão, o comunista Aldo Rebelo resolveu se aliar a esses plutocratas. É impressionante!
Suas propostas, no entanto, despertaram forte reação da comunidade científica e de organizações ambientais. Foram encaradas como sinal aberto para aumentar o desmatamento, a custo contido nos anos anteriores.
Não vai aumentar nada! O mais impressionante é que o editorialista sabe disso. Querem ver?
Já se defendeu, neste espaço, que o código precisa de revisão para adequar-se à realidade do agronegócio e de sua relevância para a economia. Não faz sentido, por exemplo, criminalizar cultivos realizados há décadas em áreas de preservação permanente, anteriores ao próprio conceito.
Então qual é o busílis? Mais uma vez, a tática “nem-nem”: um argumento anula o outro. Por que isso acontece? Tenho uma hipótese, que desenvolvo abaixo.
O encaminhamento racional do debate depende em grande medida da iniciativa do governo federal. O Ministério do Meio Ambiente já trabalhava numa proposta alternativa. É preciso apresentá-la.
Grande Folha de S. Paulo!!! Aldo Rebelo, deputado eleito pelo povo, e os chamados “ruralistas”, alguns deles representando cinco milhões de propriedades rurais e milhões de brasileiros, não têm legitimidade para debater! O “encaminhamento racional”, segundo o editorial, só pode ser dado pelo “governo federal”! Todo o resto seria irracionalidade! Esse é o jornal que, no fim dos anos 70, teve a sensibilidade de descobrir que a sociedade civil estava viva no país e pedia para aparecer. Passados 30 anos, o Palácio do Planalto e a Esplanada dos Ministérios viraram sede da “racionalidade”. É espantoso! Nesse trecho, a Folha trocou a planície da sociedade civil pelo poder do Planalto.
Mas por quê?
A Folha tentou escrever um editorial justificando o injustificável — o texto de Aldo predisporia o país a novas tragédias como a do Rio — e terminou satanizando os “ruralistas”, inimigos de plantão de alguns supostos bem-pensantes. A argumentação evolui por meio de contradições. O leitor, no entanto, percebe: o jornal é contra o texto de Aldo.
Mas por que é contra se nem mesmo consegue argumentar solidamente contra, preferindo o “nem-nem”? Ora, só se é moderno hoje em dia fazendo o “discurso verde”, mesmo quando suas propostas são indefensáveis. E a “consciência ecológica”, certa de que comida nasce nas gôndolas do Carrefour e do Pão de Açúcar, é contra os “ruralistas”…
Para encerrar: agora espero da reportagem da Folha, do editorial da Folha e, claro!, de Miriam Leitão que apontem o trecho do relatório do Aldo Rebelo que flexibiliza as ocupações urbanas. Eu estou que não me agüento de vontade de ser uma pessoa bacana como eles são. Também quero criticar a proposta por predispor o país à tragédia, mas não encontro o diabo do trecho. Eles não serão tão egoístas a ponto de guardar só para si o que descobriram, certo? Estou aqui, um Dante ignorante à espera da condução dos meus Virgílios!
Rápido, coleguinhas! Também quero ser bom e justo como vocês!
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Antonio Ferdinando Zanardi São Joaquim da Barra - SP
Até que enfim eu li alguma coisa sensata escrita por você . Aleluia , irmão!
Eu me refiro ao editorial da Foia. Acontece que a dita cuja , o grupo em que você trabalha e a imprensa em geral sempre estão a soldo de alguem ou a algum grupo que tenha algum tipo de interesse. A mudança brusca de opinião é consequência direta desses interesses.Mas , nesse caso , devo admitir que estou contigo . PS: Você não está de briguinha com a Globo e a Foia , está?Rogério Beltran Dias Tabaporã - Nova Fronteira - MT
boa tarde.... gostaria de parabenizar essa reportagem, e continuar a dizer a certos jornalistas (folha e mirim leitão) ESTUDEM , E LEIAM A NOVA PROPOSTA DO NOVO CODIGO.........
Almir José Rebelo de Oliveira Tupanciretã - RS
Prezado Reinaldo Azevedo e Amigos! Para nós produtores rurais não é nenhuma surpresa essas posições de "Miriams e Outros". Essa briga começou com os Transgênicos. A Rede Globo se abraçou com os Greempeaces e WWFs, onde um dos Marinhos faz parte do Conselho etambém nos chega notícias de que o marido de uma certa Miriam também é ligado as ONGs e por aí se explica tudo. Essas ONGs usaram o Governo do estado do RS na época tão ignorantes quanto eles declararam país e Estado livre de Transgênicos e apareceram até com um Pelotão de polícia de choque com 200 homens para "cruzar por cima" e acabar com a possibilidade do Brasil apostar na Biotecnologia. Dei entrevistas de várias horas para a Rede Globo que nunca foram ao ar e usavam para precionar o Governo a nos encurralar. A conversa era que em qualquer debate tinha que ter 1 produtor mas tinha que ter 1 ambientalista ignorante como sempre, sem nenhuma consideração na representatividade de cada um. Até em novelas, essas industrias de imbecilidades, um imbecil dizia que transgênico era veneno e terminava o capítulo e no outro dia não aparecia o contraponto até porque o público imbecil já havia esquecido. No dia do grande embate onde reunimos 2000 produtores em dezembro de 1999 e enfrentamos a polícia, misteriosamente apareceu uma equipe de jornalistas da revista globo rural e fizeram um matéria. Acreditem que em 2010 procurei a revista para que 11 anos depois eles viesse mostrar o que tinha acontecido diante da realidade do Brasil estar plantando 25 milhões de hectares de Transgênicos onde a soja que era veneno totaliza 76,2% da soja nacional, eles responderam que "essa pauta não interessa". Atualmente estamos diante da mesma situação porque quando aprovamos a lei de Biossegurança "eles" nos disseram que teria revanche no Código Florestal. Ganhamos a guerra dos Transgênicos com a união do Produtor Rural, Classe Científica, Políticos e Jornalistas BEM INFORMADOS. Agora é a revanche para "eles". O Pior é que as atitudes são as mesmas: Mentir para a sosiedade urbana! Se mantermos a mesma estratégia, daqui a 11 anos eles irão entender que nós tínhamos razão 11 anos atrás. Querido Reinaldo " A Inteligência perde a razão quando a Mediocridade tem o poder da decisão". Quem manda na globo e no ministério do meio ambiente são as ONGs traidoras do País, mas aprovando o novo Código Florestal relatado pelo Deputado Aldo Rebelo salvaremos a Independência e a Soberania de Nosso amado e querido Brasil! Só depende de nossa união e nossa atitude. Viva Nós e vamos em frente povo Brasileiro!!!
Abraços. Almir Rebelo