O comentarista americano que choca os “isentos” de um lado só do Brasil

Publicado em 06/02/2011 18:25

As palavras e as coisas. Ou: O comentarista americano que choca os “isentos” de um lado só do Brasil

Há uma coisa curiosa no Brasil: não temos partidos conservadores, não temos comentaristas conservadores na TV, quase não temos jornalistas conservadores. Por alguma razão que se quer metafísica - mas que, obviamente, faz parte da guerra de valores -, considera-se que o centro é a esquerda; vale dizer: a esquerda é o ponto de referência, aquele onde estariam a neutralidade e a isenção. Assim, o não-esquerdista, para começo de conversa, se torna necessariamente “de direita”, ainda que não seja, e um eventual direitista - da direita democrática, do tipo que só aceita o poder instituído por eleições livres, onde prevalece o estado de direito - se torna, então, um anátema, um maldito, um ser tomado por alguma grave deformidade moral.

O Portal G1 de sexta-feira trazia um texto com o seguinte título e destaque na homepage (ainda lá enquanto escrevo): “Comentarista da Fox News chama Dilma de ‘ex-comunista e ex-terrorista’”. Pois bem, o texto era o que segue. Peço que vocês o leiam. Volto em seguida:
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O comentarista conservador Glenn Beck chamou a presidente Dilma Rousseff de “ex-comunista e ex-terrorista” em seu programa desta quinta-feira (3) na emissora Fox News, dos Estados Unidos. A Secretaria de Imprensa da Presidência da República informou que não iria se manifestar sobre as declarações do apresentador norte-americano. Beck fez a afirmação no contexto de um comentário sobre a atual crise política no Egito. “Vocês lembram quando eu falei a vocês sobre o Brasil. Eles elegeram uma ex-comunista e ex-terrorista, que esteve na prisão por um tempo”, afirmou o comentarista.

Segundo Beck, “os comunistas acham que as pessoas do Brasil são estúpidas. Eles acabaram de anunciar e votar ontem [2] uma emenda sobre a busca da felicidade como objetivo a ser alcançado”. A proposta de emenda constitucional apelidada de PEC da Felicidade, de autoria do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado emnovembro passado. Para alterar a Constituição, no entanto, tem de ser aprovada por três quintos dos senadores (49 votos) e três quintos dos deputados (308 votos) em duas votações em cada casa legislativa.

Beck disse que a busca da felicidade do projeto brasileiro foi inspirada pelo texto da declaração de independência dos Estados Unidos. “A mídia saudou como “democracia”. “Ohh, não é formidável? É praticamente Thomas Jefferson”, disse, em referência ao terceiro presidente norte-americano, autor de grande parte do texto da declaração.

O apresentador afirma que a ideia de felicidade expressa no projeto brasileiro poderia ser entendida como “a garantia de renda, moradia, empregos”, mas que esses mesmos objetivos estavam expressos na antiga constituição soviética. “Você lê que a felicidade nessa nova emenda à Constituição significa a garantia de renda, moradia, empregos, uau! [...]. Eu li a constituição comunista soviética, que garante direitos a trabalho, descanso, lazer, proteção à saúde, cuidados aos idosos, aos doentes, moradia, educação, benefícios culturais. Quase como a busca pela felicidade, de uma forma distorcida”, declarou.

Então, Beck passa a criticar a proposta brasileira, o comunismo e as manifestações no Egito pela queda do ditador Hosni Mubarak.
“Você vê o que eles fizeram. Ele estão pegando ideias horríveis do comunismo. Assistência não produz nada a não ser miséria, pobreza e o massacre de dezenas de milhões de pessoas, centenas de milhões globalmente, embaladas em democracia, república, Thomas Jefferson. Eles pensam que você é retardado. Isso não é uma revolução no Egito. Isso é uma revolução socialista islâmica no Egito. Não tem nada a ver com democracia”, afirmou.

Cristovam Buarque
Autor da PEC 19/10, que ficou conhecida como PEC da Felicidade, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) criticou a forma como a proposta foi tratada pelo comentarista. “Essa Fox é uma idiota completa. Quem olha com cuidado a proposta vê que não é nada disso”, afirmou o senador. Buarque disse que se inspirou na Constituição Americana para elaborar a proposta que, segundo ele, prevê que saúde, educação e segurança sejam direitos sociais essenciais para a busca da felicidade. “Para se ter felicidade, não basta apenas ter os direitos. Na visão capitalista estúpida da Fox, basta ter US$ 40 mil dólares por mês para ser feliz”, criticou o senador.

Diante das polêmicas, Buarque afirmou que está estudando a possibilidade de substituir a atual PEC que já está em tramitação no Senado - e que já foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça - por outra, a fim de que o apelido de PEC da Felicidade seja modificado. Segundo ele, a denominação foi algo que surgiu na mídia, e que acabou tornando a proposta como algo negativo.

“Acho que vamos ter de tirar essa PEC e começar de novo. Eu fico com uma imagem péssima se colocar a tal PEC da Felicidade na Constituição. Eu estou estudando substituir esta PEC por outra chamada PEC da Humanização dos Direitos Sociais”, disse. O senador ainda afirmou que, enquanto o apelido da PEC se mantiver, ele fará o possível que não seja votada. “Eu vou fazer o possível para que não vá para a pauta do dia para evitar novos transtornos”, disse

Voltei
Vamos começar do começo. Glenn Beck é considerado uma besta-fera pelos politicamente corretos dos EUA e pelo Partido Democrata. É dono de algumas grandes tiradas. Nem sempre dá para concordar. Mas, às vezes, eu discordo de uma coisa ou outra até do próprio Cristo - provavelmente por obtusidade minha, mas é assim. Beck costuma chamar as coisas pelo nome, o que é um mérito, mesmo quando está errado. Noto que o G1 houve por bem destacar que o comentarista da Fox chamou Dilma Rousseff de “ex-comunista e ex-terrorista”. É mesmo?

E ela não era? Que tenha sido comunista, eis algo absolutamente inegável, incontestável, factual, jamais negado por ela própria e, obviamente, pelos comunistas, que consideram isso um valor, uma qualidade, algo que devemos apreciar. Assim, o que se atribui a Beck com ar de certo escândalo é não mais do que referencial. E o mesmo se diga quanto à outra caracterização. Beck não disse que Dilma é terrorista ainda hoje - e ela efetivamente não é. Mas ela foi, já que participou de organizações que praticavam atos terroristas. Quanto ao resto…

Essa tal felicidade
Já escrevi sobre essa tal PEC da felicidade no dia 10 de novembro do ano passado (aqui). Trata-se de uma bobagem monumental do senador Cristovam Buarque. Atribuir uma inspiração soviética no sentido de que ele  tinha em mente aquele modelo quando redigiu seu texto é certamente impreciso, tanto quanto é absolutamente verdadeiro que a União Soviética escreveu a mais generosa das Constituições - embora tenha implementado um regime de horror. Sob a inspiração de tantos “direitos”, morreram uns 40 milhões de pessoas. Alguns dirão que isso ainda foi pouco se o preço era fazer o novo homem.

Quanto ao Egito, eu jamais diria que se trata de “uma revolução socialista islâmica” porque inexiste socialismo islâmico.  O islamismo é incompatível com as esquerdas - que, não obstante, passaram a incensá-lo porque considerado um aliado estratégico contra os EUA. Mas essa bobagem de Beck não é maior do que sustentar que se trata de um movimento espontâneo, de que as armas foram o Facebook e o Twitter.

Por Reinaldo Azevedo

Começa hoje em Dacar, no Senegal, a 11ª edição do Fórum Social Mundial. O tema deste ano não é café pequeno! Nada menos do que “As Crises do Sistema e das Civilizações’. Ulalá! Tremo só de pensar. “Das civilizações”, assim, no plural? Começarão pelo nascimento das musas? E por que “sistema” vai no singular? Eu até acho divertido quando os anarquistas, por exemplo, se opõem “aos sistemas”, na presunção de que nenhum preste. É uma besteira, mas as pessoas têm o direito de “imaginar”, como John Lennon… Já a crise “do sistema” supõe a existência de um só, que não vai bem… Seria, sem querer ser muito enxerido, o capitalismo - ou, mais particularmente, o sistema americano?

Lula escolheu o Fórum Social Mundial para sair da moita. E o momento nunca foi tão oportuno. A crise no Egito e na Tunísia e certa agitação em outros países do Oriente Médio constituem um excelente motivo para que ele dê lições de governança tanto aos árabes como aos americanos.  Ele já ofereceu resposta para o conflito israelo-palestino e para a pendenga do Irã com o mundo civilizado: “política dos olhos nos olhos”. Às ditaduras árabes, às quais deu o braço gostosamente, recomendará agora democracia. E cobrará que os EUA deixem que esses países sigam o seu destino. Ninguém como ele é capaz de dar respostas tão fáceis e erradas para problemas difíceis.

Lula é considerado a grande estrela do evento, além de Gilberto Gil, Evo Morales e Hugo Chávez. Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, lidera a delegação do Brasil, que conta com as ministras de Direitos Humanos, Maria do Rosário, e de Políticas de Promoção de Igualdade Racial, Luiza Helena de Bairros. Tá dando aquela vontadinha de estar lá, leitor?

Lula falará nesta segunda. E saberemos então o que ele pensa sobre “as crises do sistema e das civilizações”. O mundo nunca mais será o mesmo.

Por Reinaldo Azevedo

Muito boa a entrevista concedida pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) a Julia Duailibi e Marcelo de Moraes, publicada ontem à noite no Estadão Online.  Senador mais votado da história, Aloysio coloca algumas coisas em seus devidos lugares, acho eu. Além do destaque que o Estadão deu à questão da candidatura natural à Presidência - que, obviamente, não existe -, chamo a atenção para um outro tema: financiamento público de campanha. Afirma o senador: “Já tem muito. A idéia de que o financiamento público acaba com a corrupção política é ingênua. Político corrupto rouba para ficar rico, para pôr dinheiro no bolso. Se tiver financiamento público, vai ter financiamento do contribuinte e vai continuar existindo caixa dois”. Na mosca! Vocês sabem que essa é a tese deste blog. Leiam.

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Com a disputa pelo controle do PSDB fervendo nos bastidores, o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP) defende a presença do ex-governador José Serra na direção do partido e afirma que “não” há candidatura natural à Presidência da República.  ”Não, tem de ser construída. Tem muitos nomes que podem vir a ser. Alckmin, acho eu, o próprio Serra”, disse o senador, ao ser indagado se o colega Aécio Neves (MG) é o candidato natural do PSDB em 2014.

Aloysio criticou a coleta de assinaturas para reconduzir Sérgio Guerra à presidência da sigla, promovida há dez dias durante eleição para líder do PSDB na Câmara. “É um método odioso para qualquer tipo de indicação partidária, ainda mais para o presidente nacional do partido.”

Como será a relação da oposição com o governo?
Uma grande parte da agenda do Congresso é determinada pelo Executivo. Tem havido um vazio na pauta do Congresso. É preciso que o governo venha com sua pauta. A presidente anunciou uma ideia, vaga ainda, de desoneração da folha trabalhista. Minha preocupação é que, ao invés de facilitar contratações, facilite demissões. Há sempre o risco de o recheio do bolo ser amargo. Quererem enfiar ali a volta da CPMF. Precisamos ficar atentos.

A oposição não aceita a volta da CPMF?
Sou contra. Disse isso na campanha. Agora há assuntos urgentes, como o salário mínimo.

O PSDB insistirá nos R$ 600 para o salário mínimo?
Foi a campanha eleitoral nossa. O PSDB tem obrigação política de defender essa posição.

Qual é a agenda da oposição?
O PSDB tem de fazer uma agenda com pontos que vão definir essa travessia do deserto durante os próximos quatro anos. Eu basicamente vejo educação e segurança. Um assunto que vou propor, sugestão de um eleitor, é incluir entre opções para saque do FGTS o financiamento de curso universitário.

O governo já deu indicativos de que promoverá um ajuste fiscal. A oposição apoiará?
A candidata Dilma repeliu a necessidade de ajuste fiscal na campanha. Depende do que for cortar. Somos a favor de corte de gastos inúteis, de empreguismo, inchaço da máquina. Agora, como faz corte e mantém projetos mirabolantes, como o trem-bala? Vai ter de escolher. Não basta fazer o discurso, não tem mais o poder encantatório do Lula para levar o povo na conversa. Agora é a dura realidade. Governar é pauleira, não é baba, como dizia o Lula.

Há espaço para votar uma reforma política que não seja só casuística, como a aprovação de uma janela de fidelidade partidária?
Muito difícil. Janela tem de fazer uma emenda constitucional para sacramentar a infidelidade ao eleitor, o que é um absurdo. Trata-se de colocar na Constituição o princípio de infidelidade ao eleitor. O princípio da escapadela. Sou a favor do voto distrital. Concentraria o esforço em torno do distrital, começando a introduzir nas cidades que têm segundo turno.

E o financiamento público?
Já tem muito. A ideia de que o financiamento público acaba com a corrupção política é ingênua. Político corrupto rouba para ficar rico, para pôr dinheiro no bolso. Se tiver financiamento público, vai ter financiamento do contribuinte e vai continuar existindo caixa 2.

Como viu o resultado da eleição para líder do DEM na Câmara, uma prévia da disputa para a presidência do partido?
Mostrou a força de um grupo. Mas nessa matéria sou favorável àquele axioma popular: cada macaco no seu galho.

Mas teve dedo tucano ali.
Cada macaco no seu galho.

Aliados de Serra reagiram contra o abaixo assinado defendendo a recondução de Sérgio Guerra à presidência do partido.
Achei um erro. Um erro de metodologia e de timing, de processo. O método de colher assinaturas não se faz. É um método odioso para qualquer tipo de indicação partidária, ainda mais para o presidente nacional do partido. É sempre uma forma de constranger um colega, principalmente que está chegando.

José Serra quer a presidência do PSDB?
Serra deve estar presente na direção do partido. É um absurdo uma pessoa que tem o capital político que ele tem, o preparo, a visão política, a liderança (não estar na direção). Não tem cabimento. Tem de fazer parte. Se ele vai querer ser presidente, vai querer disputar, não sei. Ele nunca me disse isso.

Grande parte do PSDB apoia a recondução de Guerra.
Depois se viu que o acordo não era geral. Alckmin disse claramente, já havia dito para mim, que não poderia se discutir, que tem um tempo para discutir a presidência. Há todo o calendário eleitoral do partido, as convenções municipais e estaduais e a necessidade de debate partidário para definir o que vamos fazer. Então há um erro de tempo. E tempo no processo político é tudo. Foi realmente uma coisa desastrada, que não contribuiu para a unidade do partido, pelo contrário, levantou muita desconfiança. Foi ruim.

Por que Guerra fez isso? Teve apoio de ala ligada a Aécio Neves?
Não sei, tem de perguntar para ele. Foi uma coisa precipitada, vamos fazer rapidamente para criar um fato consumado. E isso não se faz. Foi um erro de um político talentoso como o Sérgio Guerra. Agora vamos ciscar para dentro. Não vou ficar remoendo esse episódio. O próprio Sérgio disse que agora é a realização de um debate interno e depois escolher a direção que seja mais apta a conduzir o processo.

Qual seria essa direção?
Uma direção que unifique o partido e faça oposição. E que integre no seu seio as principais figuras do partido. Se o Fernando Henrique pudesse vir, e se não fosse contraditório com a postura que adotou como ex-presidente, deveria vir. Tem de ter os melhores. Serra tem de estar dentro, evidentemente. Tasso (Jereissati), Sérgio (Guerra), (Alberto) Goldman.

Querem isolar Serra?
Não vejo esse desejo. Seria um contrassenso tão grande, o Serra tem força eleitoral, tem uma aliança sólida com o governador de São Paulo, acho que seria um contrassenso, um absurdo político, um erro político, que o PSDB não cometerá.

Aécio chegou ao Senado alçado a líder da oposição?
Evidentemente que o Aécio tem enorme projeção política, por sua trajetória e pela capacidade de articulação. É um homem cotado, poderá vir a ser candidato à Presidência, claro que tem toda credencial para ter uma grande projeção nacional, mas aqui nós somos todos iguais.

É natural a candidatura dele (Aécio) à Presidência?
Não, tem de ser construída. Tem muitos nomes que podem vir a ser. Alckmin, acho eu, o próprio Serra…

O sr. será candidato a prefeito em 2012?
Não sou candidato. Acabo de ser empossado senador. Meus móveis nem chegaram a meu gabinete. Nem escolhi a comissão temática da qual vou participar.

Gilberto Kassab será adversário do PSDB em 2014?
Ele nunca será meu adversário.

Mas e do Alckmin?
Todas as vezes que falei com ambos vi o desejo de caminharem juntos.

Mas ele flerta com o governo federal.
Governador e prefeito não brigam com o governo federal.

Não brigar não significa ficar amigo. Há uma articulação deliberada da presidente para enfraquecer o PSDB em SP.
O eleitor do Kassab é o mesmo que vota em Alckmin, Serra, em mim. E que gosta do Fernando Henrique. Você pode mudar de partido, mas mudar de eleitorado é muito difícil. Ainda que ele venha mudar de partido, a própria objetividade do perfil eleitoral dele o levará a caminhar conosco. Desde que, evidentemente, a gente também tenha do nosso lado a abertura e a vontade de colaborar que ele demonstrou conosco na eleição.

Por Reinaldo Azevedo

“Desejando preservar os interesses da nação e de suas instituições e ansiosos para preservar a independência do país e sua rejeição a qualquer interferência internacional ou regional em nossos assuntos internos, iniciamos um diálogo para ver se eles estão dispostos a aceitar as exigências da população.”

É parte de um comunicado da Irmandade Muçulmana, que aceitou o convite pra dialogar com o governo do Egito - sempre deixando claro que Hosni Mubarak está fora desse arranjo. Segundo a agência France-Presse, um membro da Irmandade admitiu que representantes da organização estiveram com o vice-presidente Omar Suleiman.

Parece que as coisas estão ficando mais claras, embora alguns insistam em ver nisso o que seria uma ironia: o establishment egípcio estaria apelando a um grupo proscrito, satanizado pelo poder, para tentar pôr alguma ordem na casa, como se a Irmandade não fosse, então, a um só tempo, parte do problema e da resposta - ao menos desse tipo de resposta.

Por alguma razão misteriosa, metafísica quem sabe…, o que parece não ter solução sem a Irmandade passaria a ter com a sua “ajuda”. Ora, se o grupo realmente estava à margem da “revolução espontânea”, por que seria ele a oferecer uma saída.

Seja como for, as coisas começam, ao menos, a voltar para o seu leito. É importante que essa revolução assuma seus verdadeiros “face” e “book”a sua “face”: a Irmandade e o Corão, respectivamente.

Por Reinaldo Azevedo

Leia o artgo que Fernando Henrique Cardoso publica neste domingo em vários jornais do país. Irretocável!

Novo ano, nova presidente, novo Congresso atuando no Brasil de sempre, com seus êxitos, suas lacunas e suas aspirações. Tempo de muda, palavra que no dicionário se refere à troca de animais cansados por outros mais bem dispostos, ou de plantas que dos vasos em viveiro vão florescer em terra firme. A presidente tem um estilo diferente do antecessor, não necessariamente porque tenha o propósito de contrastar, mas porque seu jeito é outro. Mais discreta, com menos loquacidade retórica. Mais afeita aos números, parece ter percebido, mesmo sem proclamar, que recebeu uma herança braba de seu patrono e de si mesma. Nem bem assume e seus porta-vozes econômicos já têm de apelar para as mágicas antigas (quanto foi mal falado o doutor Delfim, que nadava de braçada nos arabescos contábeis para esconder o que todos sabiam!), porque a situação fiscal se agravou. Até os mercados, que só descobrem estas coisas quando está tudo por um fio, perceberam. Mesmo os “velhos bobos ortodoxos do FMI”, no linguajar descontraído do ministro da Fazenda, viram que algo anda mal.

Seja no reconhecimento mal disfarçado da necessidade de um ajuste fiscal, seja no alerta quanto ao cheiro de fumaça na compra a toque de caixa dos jatos franceses, seja nas tiradas sobre os até há pouco tempo esquecidos “direitos humanos”, há sinais de mudança. Os pelegos aliados do governo que enfiem a viola no saco, pois os déficits deverão falar mais alto do que as benesses que solidarizaram as centrais sindicais com o governo Lula.

Aos novos sinais se contrapõem os amores antigos: Belo Monte há de vir à luz por cesariana, esquecendo as preocupações com o meio ambiente e com o cumprimento dos requisitos legais; as alianças com os partidos da “governabilidade” continuarão a custar caro no Congresso e nos Ministérios, sem falar no “segundo escalão”, cujas joias mais vistosas, como Furnas (está longe de ser a única), já são objeto de ameaças de rapto e retaliação.

Diante de tudo isso, como fica a oposição?

Digamos que ela quer ser “elevada”, sem sujar as mãos (ou a língua) nas nódoas do cotidiano nem confundir crítica ao que está errado com oposição ao País (preocupação que os petistas nunca tiveram quando na oposição). Ainda assim, há muito a fazer para corresponder à fase de “muda”. A começar pela crítica à falta de estratégia para o País: que faremos para lidar com a China (reconhecendo seu papel e o muito de valioso que podemos aprender com ela)? Não basta jogar a culpa da baixa competitividade nas altas taxas de juros. Olhando para o futuro, teremos de escolher em que produtos poderemos competir com China, Índia, asiáticos em geral, Estados Unidos, etc. Provavelmente serão os de alta tecnologia, sem esquecer que os agrícolas e minerais também requerem tal tipo de conhecimento. Preparamo-nos para a era da inovação? Reorientamos nosso sistema escolar nessa direção? Como investir em novas e nas antigas áreas produtivas sem poupança interna? No governo anterior os interesses do Brasil pareciam submergir nos limites do antigo “Terceiro Mundo”, guiados pela retórica do Sul-Sul, esquecidos de que a China é Norte e nós, mais ou menos. Definimos os Estados Unidos como “o outro lado” e percebemos agora que suas diferenças com a China são menores do que imaginávamos. Que faremos para evitar o isolamento e assegurar o interesse nacional sem nos guiarmos por ideologias arcaicas?

Há outros objetivos estratégicos. Por exemplo, no caso da energia: aproveitaremos de fato as vantagens do etanol, criaremos uma indústria alcoolquímica, usaremos a energia eólica mais intensamente? Ou, noutro plano, por que tanta pressa para capitalizar a Petrobrás e endividar o Tesouro com o pré-sal em momento de agrura fiscal? As jazidas do pré-sal são importantes, mas deveríamos ter uma estratégia mais clara sobre como e quando aproveitá-las. O regime de partilha é mesmo mais vantajoso? Nada disso está definido com clareza.

O governo anterior sonegava à população o debate sobre seu futuro. O caminho a ser seguido era definido em surdina nos gabinetes governamentais e nas grandes empresas. Depois se servia ao País o prato feito na marcha batida dos projetos-impacto do tipo trem-bala, PACs diversos, usinas hidrelétricas de custo indefinido e serventia pouco demonstrada. Como nos governos autoritários do passado. Está na hora de a oposição berrar e pedir a democratização das decisões, submetendo-as ao debate público.

Não basta isso, entretanto, para a oposição atuar de modo efetivo. Há que mexer no desagradável. Não dá para calar diante de a Caixa Econômica ter-se associado a um banco já falido, que agora é salvo sem transparência pelos mecanismos do Proer e assemelhados. E não foi só lá que o dinheiro do contribuinte escapou pelos ralos para subsidiar grandes empresas nacionais e estrangeiras, via BNDES. Não será tempo de esquadrinhar a fundo a compra dos aviões? E o montante da dívida interna, que ultrapassa R$ 1,6 trilhão, não empana o feito da redução da dívida externa? E dá para esquecer os cartões corporativos usados pelo Alvorada, que foram tornados “de interesse da segurança nacional” até ao final do governo Lula para esconder o montante dos gastos? Não cobraremos agora a transparência? E o ritmo lento das obras de infraestrutura, prejudicadas pelo preconceito ideológico contra a associação do público com o privado, contra a privatização necessária em casos específicos, passará como se fosse contingência natural? Ou as responsabilidades pelos atrasos nas obras viárias, de aeroportos e de usinas serão cobradas? Por que não começar com as da Copa, libertas de licitação e mesmo assim dormindo em berço esplêndido?

Há, sim, muita coisa para dizer nesta hora de “muda”. Ou a oposição fala, e fala forte, sem se perder em questiúnculas internas, ou tudo continuará na toada de tomar a propaganda por realização. Mesmo porque, por mais que haja nuances, o governo é um só Lula-Dilma, governo do PT ao qual se subordinam ávidos aliados.

Por Reinaldo Azevedo

Por Denise Chrispim Marin. O título é meu mesmo.
O presidente dos EUA, Barack Obama, não deverá trazer seu apoio à entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU como membro permanente durante sua visita ao País, em março. A Casa Branca e a diplomacia americana trabalham para contornar inevitáveis e constrangedoras perguntas da imprensa e para não prejudicar seu projeto de relançar as relações bilaterais.

Segundo uma fonte do Departamento de Estado, a mudança na posição de Washington é uma possibilidade remota. Seria um “milagre”. Para o governo americano, o Brasil cometeu um “pecado mortal” ao votar contra a resolução do Conselho de Segurança sobre novas sanções ao Irã, em junho.

Posição brasileira. A iniciativa brasileira teria sido mais grave que a insistente busca pelo acordo nuclear com o Irã porque “comprometeu a própria credibilidade do sistema” e deu mostras da contaminação das decisões mais sensíveis de política exterior do País pela personalidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-chanceler Celso Amorim. “Foi uma burrada”, disse a fonte.

Para o Departamento de Estado, ainda não está claro se o governo de Dilma Rousseff, como continuidade da administração Lula, preservará a mesma linha de ação na área externa. Essa dúvida começará a ser dirimida no dia 23, quando o chanceler Antônio Patriota fará sua primeira visita à secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, em Washington. Essa será a primeira oportunidade de diálogo entre EUA e Brasil sobre o passo anterior - a reforma do Conselho de Segurança, que permanece engavetada na ONU.

Por Reinaldo Azevedo

05/02/2011

 às 17:24

Eleito por ninguém, Elbaradei diz palavras perigosas

Há uns dois dias, o New York Times publicou uma reportagem afirmando que os EUA estavam tentando entender direito o que pensa e o que quer Mohamed Elbaredei, que é, afinal de contas, um “nobelado” da paz. Pois é… O discurso deste senhor anda bastante esquisito, especialmente depois de ter fechado um acordo com a Irmandade Muçulmana.

Convenham: a última coisa que um representante da oposição deve fazer agora é meter Israel na equação egípcia; pior ainda, fazê-lo em face da questão Palestina. O Elbaradei de outros tempos talvez evitasse o caminho perigoso. O que agora se aliou à Irmandade tem uma nova pauta.

A revista alemã Des Spiegel publica algumas declarações suas neste sábado. Elbaradei expressa o desejo de negociar a transição com os militares - mas sem Mubarak, é claro. Até aí, tudo bem. Mubarak é mesmo desprezível. Mas sou capaz de apostar que sua representatividade na sociedade egípcia é maior do que a de Elbaradei. Ele negocia em nome de quem? Mas isso é lá com os egípcios…

O que preocupa é outra coisa. Para Elbaradei, “os israelenses devem compreender que, no longo prazo, também interessa ter um Egito democrático como vizinho (…)”. Certo. E vai além: para ter uma boa relação com o Egito, “seria inteligente [Israel] respeitar os interesses legítimos dos palestinos”.

É claro que o “interessante” e “inteligente” é que todos respeitem todos. Ocorre que há um tratado de paz entre Israel e o Egito. E também é claro que as palavras fazem sentido. No país “democrático” que Elbaradei diz querer, como se nota, o tratado parece mais vulnerável do que sob  a ditadura de Mubarak. Nesse caso, sim, o inferno pode ser um lugar bem próximo.

Por Reinaldo Azevedo

05/02/2011

 às 16:55

Há cinco dias, um líder da Irmandade pediu fim do fornecimento de gás para Israel; nesta manhã, gasoduto sofreu atentado

A imprensa ocidental tem a firme determinação de minimizar o papel da Irmandade Muçulmana na crise egípcia. Seus representantes moderados - gente devidamente preparada para seduzir jornalistas ocidentais - diz que a organização  nada tem a ver com a crise e que só quer democracia,. Entendo. Logo se diz: “Vejam como eles são a solução!” Pois é… Há um pouco de tudo nisso: engano, auto-engano e, obviamente e como sempre, pilantragem intelectual. Afinal, se o que acontece no Egito é ruim para os EUA, muita gente considera bom bom  - ao menos para suas fantasias escatológicas.

No dia 31, segunda-feira, publiquei aqui o seguinte post:
Alguns gostam de falar sobre ilusões. Outros preferem fatos. Vamos ver. Mohamed Ghanem, um dos líderes da Irmandade Muçulmana no Egito - ele vivia na Inglaterra até outro dia - concedeu uma entrevista à TV iraniana Al Alam em que convoca o Egito a interromper a venda de gás para Israel. Diz ainda que o país deve preparar o Exército para uma guerra com o vizinho.
Ele acusa na entrevista o governo de Hosni Mubarak de ser apoiado por Israel e diz que a polícia e o Exército não conseguiram brecar as ações da Irmandade Muçulmana.

Que eu saiba, fui o único a publicar essa notícia por aqui. Boa parte das pessioas estava ocupada em tentar provar que o Facebook faz revolução. Sabem o que aconteceu hoje? Uma explosão atingiu uma estação compressora de gás e se espalhou para um dos principais gasodutos da cidade de Arish, na península egípcia do Sinai, a cerca de 70 quilômetros da Faixa de Gaza. Vem a ser o gasoduto que leva o gás para Israel.

Segundo a Rádio Israel, as explosões não afetaram o suprimento de gás, mas ele foi suspenso por media de segurança. O ataque teria atingido apenas a outra tubulação, que segue para a Jordânia.

Moderados!

Por Reinaldo Azevedo

05/02/2011

 às 15:31

Facebook não funciona contra ditadura que financia terroristas… Estranho, né?

Vejam o que está no Estadão Online, segundo informe da AFP. Volto em seguida:
Uma manifestação organizada na Síria para protestar contra “a monocracia, a corrupção e a tirania” não ocorreu como o planejado nesta sexta-feira, 4, por falta de adeptos, informou a agência de notícias AFP. As ruas da capital, Damasco, permaneciam tranquilas após o período de orações da sexta-feira. As grandes praças da cidade, onde os manifestantes se reuniriam, estavam desertas. Mesmo assim, havia mais membros das forças de segurança nas ruas que de costuma.

Um grupo do Facebook com milhares de membros havia organizado a passeata, batizada de “Revolução Síria 2011″. A página na rede social chamava a população a se reunir depois do período de orações na “grande primeira jornada da ira do povo sírio e da rebelião civil em todas as cidades do país”. O grupo se dizia contra “a monocracia, a corrupção e a tirania”. Atualmente, a página está bloqueada pelas autoridades síria, mas os usuários do site conseguem acessá-la graças a programas específicos. Ainda assim, poucos membros do grupo atenderam ao chamado.

A tentativa de manifestações na Síria seguem-se às revoltas da Tunísia e do Egito, onde jovens e opositores se organizaram pela internet para protestar contra o governo. Na Tunísia, o ditador Zine El Abidine Ben Ali foi derrubado, enquanto no Egito as marchas entraram no 11º dia nesta sexta.

Comento
Que coisa, não? Então quer dizer que o Facebook, sozinho, não faz uma revolução? E notem que não é por falta de ditadura, né? Nesse quesito, a Síria bate o Egito com méritos. Vai ver a Irmandade Muçulmana não tem interesse na queda do ditador Bahsar Assad, filho do ditador anterior.  Ali, a dinastia ditatorial deu certo.

Que povo, né!? Um protesto contra o governo sírio, que financia o Hamas, o Hezbollah e terroristas no Iraque, não deu certo! Por que eu não estou absolutamente espantado com isso?

Perguntem pro Arnaldo Jabor por que o Facebook só funciona contra aliados dos EUA… Essa história de revolução da Internet é uma das maiores boçalidades dos últimos anos. O nome da “rede social”  que fez o levante egípcio é “Irmandade Muçulmana”, e seu “book” é o Corão. Pode-se achar isso bom ou mau - eu acho péssimo -, mas é o que é. E só par encerrar este post: se sou da Irmandade, também peço “democracia” e “eleições livres”. No dia em que a Irmandade impuser o seu programa, extinguem-se os dois porque eles se tornam desnecessários. A sociedade não mais precisará desses expedientes antigos.

Por Reinaldo Azevedo

05/02/2011

 às 14:01

Um apagão de vergonha na cara

Ontem, republiquei aquele vídeo impagável em que Dilma Rousseff tenta explicar o apagão de 2009. Ninguém entendeu nada, e ela própria, como ficou óbvio ali, não tinha a menor idéia do que tinha acontecido. Veio a público 21 horas depois para engrolar aquelas palavras. No fim da contas, culparam um certo raio que nunca aconteceu. E tudo ficou por isso mesmo.

Ficou claro que o ministro Edison Lobão, o mesmo de 2009, não sabe do que fala. Chega a dar pena! Histérica, Dilma insistia que “blecaute, minha filha, não é apagão; apagão é coisa de incompetentes”. Vai ver a rotina de blecautes, então, é coisa de… competentes!

Olhem aqui: a agora rainha Dilma Primeira manda no setor elétrico há oito anos. É a gerentona, a poderosa, a que sabe tudo, a que manda soltar e prender na área. Não obstante, um setor de fato estratégico - este sim! - foi terceirizado e está entregue à oligarquia mais bocó e mais atrasada do país: a da família Sarney.

Tentando explicar o ocorrido, Lobão resolveu tomar emprestado a Delúbio Soares a inclinação para os eufemismos e declarou que “não houve apagão, mas uma interrupção temporária no fornecimento de energia”. Entendi: a “interrupção temporária” é um “apagão não-contabilizado”.

Aí o marketing da Dilma Primeira entrou em campo - e a imprensa repete bovinamente o ardil - para deixar claro que ela ficou muito preocupada, chamou o ministro e cobrou uma explicação. Huuummm… Ele, convenham, saiu-se um pouquinho melhor do que ela em 2009. Ademais, coitado!, está lá apenas como estafeta da família Sarney. Poderia dizer à presidente: “É pra mim que a senhora vem perguntar o que aconteceu? E desde quando eu estou aqui para cuidar de energia? Eu cuido é do latifúndio de Sarney no governo federal.” Estaria só falando a verdade.

Não deixa de ser irônico que parte do país tenha ficado às escuras no dia em que a presidente nomeou Flávio Decat, mais um afiliado de Sarney, para a presidência de Furnas.

Assim que o jornalismo parar de se comportar, com as exceções de sempre, como castelão de Dilma Primeira, talvez volte a seu trabalho e ilumine os gargalos na infraestrutura da economia brasileira. É um escárnio que o setor elétrico esteja entregue a tipos como Lobão e Sarney, tendo um Eduardo Cunha no banco de reservas…

O apagão no Brasil é de vergonha na cara!

Por Reinaldo Azevedo
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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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