Itamar inaugura a oposição parlamentar

Publicado em 25/02/2011 00:21

A sessão desta quarta-feira confirmou que a bancada governista no Senado conseguiu tornar-se mais servil que a domesticada por Lula. Isso não foi surpreendente. A surpresa ficou por conta do único representante do PPS: o trecho exibido pelo vídeo atesta que, com a performance desta quarta-feira, o senador Itamar Franco inaugurou a oposição parlamentar ao governo Dilma Rousseff.

PS: Terminada a sessão, faço o registro necessário: foi especialmente animadora a entrada em campo de Aécio Neves e Kátia Abreu. Jarbas Vasconcelos? Esse nunca negou fogo.

Esse convite parece coisa de inimigo

O colunista Ancelmo Gois informou que a presidente Dilma Rousseff vai oferecer a Lula o posto de embaixador extraordinário do Brasil na África. Se fizesse isso no dia da posse, a afilhada estaria apenas atendendo a um desejo antigo do padrinho. Entre um pedido de desculpas pelos tempos da escravidão e o perdão da dívida de outro caloteiro internacional, Lula vive creditando ao próprio governo o sucesso da aproximação política e econômica entre  os dois continentes. Ou vivia: desde o começo da insurreição popular na Líbia, o silêncio do mais loquaz dos governantes é tão estridente quanto o berreiro das multidões rebeladas.

Ressuscitado agora, o convite parece coisa de inimigo. Se virar embaixador extraordinário ainda neste fevereiro, o iluminado que só não amansou o Irã e resolveu a questão palestina porque os EUA não deixaram terá de passar o carnaval pacificando a Líbia. Caso sobreviva, vai consumir a Quaresma em missões semelhantes na Tunísia e no Egito. E corre o risco de jejuar na Semana Santa no Marrocos, onde a confusão começou. Como Lula nunca deixa de visitar velhos amigos, a agenda terá de incluir jantares com meia dúzia de ditadores de estimação. Tudo somado, dificilmente estará de volta antes de maio.

Ou o neurônio desandou de vez ou a criatura decidiu brigar com o criador mais cedo do que se esperava.

Na novilíngua companheira, o oportunismo incurável virou ‘metamorfose ambulante’

Na discurseira em Dakar, onde baixou no começo de fevereiro para animar a plateia amestrada do Forum Social Mundial, a metamorfose ambulante informou que o Lula do primeiro mandato não tem nada a ver com o Lula do segundo. O presidente de 2003, por exemplo, enxergou no ditador egípcio Hosni Mubarak  “um homem preocupado com a paz no mundo, com o fim dos conflitos, com o desenvolvimento e com a justiça social”. O país demorou oito anos para saber que mudara de ideia.

Com exceção da ONU e dos Estados Unidos, garantiu em Dakar, “todo mundo sabia há muito tempo que era preciso voltar a democracia no Egito”. Vá mentir assim no Senegal, ordena o post de maio de 2009 republicado na seção Vale Reprise. O texto trata do acordo celebrado entre o Brasil e o Egito para transformar em secretário-geral da UNESCO o ministro da Cultura de Mubarak, Farouk Hosni, um antissemita de carteirinha cujo currículo incluía a queima de livros escritos em hebraico.

Para reafirmar a amizade entre Lula e o ditador preocupado com a justiça social, o chanceler Celso Amorim dinamitou a candidatura do brasileiro Márcio Barbosa, até então o franco favorito. “Há um acordo entre nossos países, e isso está acima da nacionalidade dos eventuais concorrentes”, recitou Amorim. O acordo que estava acima do lugar de nascimento determinava que o escolhido seria um candidato nascido no Egito.

A leitura do post prova que em setembro de 2009, quando os dois parceiros choraram juntos a derrota de Farouk Hosni, o governo brasileiro não estava entre os  que sabiam que “era necessário voltar a democracia no Egito”. Há pouco mais de um ano, portanto, continuavam em vigor os elogios feitos por Lula a Mubarak em 2003. Os fatos reiteram que Celso Amorim é apenas um vassalo pronto para executar a mais abjeta das ordens, e que Lula é um eterno candidato sem compromisso com a verdade e a serviço de si mesmo. Metamorfose ambulante é a expressão adotada pela novilíngua companheira para não deixar tão mal no retrato um oportunista incurável.

A rotina do medo imposta à jornalista Márcia Pache acaba de incluir uma bomba caseira

Nesta quarta-feira, a jornalista Márcia Pache, vítima do tapa na cara do Brasil decente, enviou à coluna a seguinte mensagem:

“A bomba de fabricação caseira foi encontrada pelo vigia do Centro de Educação Infantil Oriel Mendes Lucas, aqui em Pontes e Lacerda, pouco antes da chegada dos alunos para mais um dia de aula. São 430 crianças de até 5 anos que estudam na creche. O fato aconteceu por volta das 7 horas desta terça-feira, 22 de fevereiro. Cheguei ao local para fazer a reportagem e me deparei com uma situação desesperadora. Pais, professores e funcionários estavam desesperados. Não tive como separar o lado profissional do lado da mãe que tem um filho estudando na creche. Fiz meu trabalho com um nó na garganta. A Força Nacional de Segurança desarmou o artefato que, segundo os policiais, teria capacidade para atingir pessoas num raio de 50 metros. Assim como os outros pais, ainda estou apreensiva, mas confio no trabalho da polícia. Hoje, Pontes e Lacerda clama por segurança. Na mira dos bandidos, agora estão nossas crianças. Queremos que o autor desse atentado terrorista seja punido. Tenho medo, mas, como disse antes, não vou me acovardar”.

A incorporação de uma bomba caseira às violências que afligem Márcia Pache é um dos espantos narrados por Bruno Abbud, do site de VEJA, na reportagem publicada na seção O País quer Saber. Há oito meses, uma jornalista é obrigada a enfrentar a rotina do medo numa cidade de Mato Grosso. A impunidade endêmica é o anabolizante dos fora-da-lei. É hora de enquadrar a bandidagem.

Agressor da jornalista Márcia Pache é condenado a dormir em casa durante um ano

Nesta quinta-feira, o vereador cassado Lourivaldo Rodrigues de Morais, vulgo Kirrarinha, foi condenado pela agressão à jornalista Márcia Pache. Ponto para a Justiça. Na sentença (veja a íntegra na seção Feira Livre), o juiz Gerardo Humberto Alves Silva Junior determinou que, pela bofetada desferida no rosto do Brasil decente, o agressor deve cumprir a pena de  um ano de detenção em regime aberto. Ponto para os fora-da-lei. Em tese, esse tipo de prisão obriga o condenado a passar as noites numa “casa do albergado”. Como Pontes e Lacerda nem sabe o que é isso ─ existem menos de 100 casas do gênero em todo o país ─, Kirrarinha poderá dormir em casa depois de passar o dia em liberdade.

O réu não compareceu ao julgamento, que começou às 13h10 e terminou meia hora depois. De novo, enviou um atestado médico que o transforma em portador de depressão aguda. O documento foi entregue pelo advogado Waldeci Leles Martins, nomeado pela Defensoria Pública para preencher a ausência do defensor contratado por Kirrarinha. Márcia deixou a sala sob olhares ressentidos de amigos do ex-vereador. Nas horas seguintes, seu celular recebeu várias ligações originárias de aparelhos não identificados. Ao atender, ouviu o silêncio.

Quem assiste a seriados policiais americanos é reapresentado diariamente a uma cena clássica: depois de anunciada pelo juiz a sentença condenatória, o criminoso com as mãos algemadas é imediatamente encaminhado à cadeia. Em países civilizados, é assim na vida real. O desfecho do julgamento de Kirrarinha reafirma que, nos países primitivos, só é assim na televisão. O Brasil moderno e justo ainda é apenas um brilho nos olhos dos homens honestos.

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Fonte:
Blog Augusto Nunes (Veja)

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