Lula faz amanhã sua primeira palestra paga: mais de R$ 200 mil!

Publicado em 01/03/2011 19:14

Esmiuçando o corte feito por Dilma: sim, atinge investimentos; não, não alcançará a marca anunciada. Resultado: o BC terá de corrigir a farra com juros

Já recomendei aqui o blog do economista Mansueto Almeida, do Ipea (não, não é ele o “meu amigo economista”). Quando o governo havia dito que cortaria R$ 50 bilhões do Orçamento, mas sem prejudicar os investimentos e os gastos sociais, ele foi o primeiro a dizer, de maneira técnica e muito sóbria: impossível. Agora, em seu blog, ele demonstra, mais uma vez, que os investimentos estão sendo, sim, atingidos. Mas não só isso: fez as contas e constata que não há hipótese de haver um ganho fiscal de 1% do PIB, conforme anuncia o Planalto. Vale dizer: estamos diante de uma empulhação — isso, digo eu, não ele>

Reproduzo seu post na íntegra. O título é meu. A muitos, o assunto poderá parecer técnico demais, um pouco chato. Mas é essencial para o entendimento do que está em curso. Mansueto é bastante claro, didático mesmo.
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A divulgação da lista de cortes hoje mostra, sem dúvida, que a equipe econômica está cada vez mais convencida de que é preciso segurar a velocidade de expansão dos gastos públicos. No entanto, como já havia escrito neste blog antes, acho difícil um corte de R$ 50 bilhões que preserve os investimentos e os gastos sociais, e, pelo detalhamento parcial dos cortes divulgados hoje, estou cada vez mais convencido disso.

Gostaria de fazer  três breves comentários.

(1) Os cortes são divulgados de uma maneira que, propositadamente, não permite ao cidadão comum identificar o que está sendo cortado se investimento ou custeio.

Os ministros deveriam ter divulgado os cortes das despesas de uma forma diferente. Ao invés de mostrar os cortes por ministério e por despesas obrigatórias e discricionárias, os cortes deveriam ter sido detalhados por Grupo de Natureza de Despesa (GND) — pessoal, outras despesas correntes, investimentos  — e/ou por função: saúde, saneamento, transporte, educação, habitação etc. Ao detalhar os cortes dessa forma, ficaria mais fácil acompanhar se os ministros iriam manter a promessa de não cortar investimento e gastos sociais. Ao invés de facilitar o acompanhamento do que foi prometido, os ministros ou seus assessores insistem em deixar os cortes menos transparentes.

Por exemplo, o orçamento de 2011 para o Ministério do Turismo foi cortado em R$ 3 bilhões, de um total de R$ 3,65 bilhões de gastos discricionários desse ministério. O que isso significa exatamente? É fácil responder. A tabela abaixo mostra o orçamento para o Ministério do Turismo para 2011. Como se pode ver de forma clara quando se divide os gastos por Grupo de Natureza de Despesa (GND),  70% do orçamento do Ministério do Turismo (R$ 2,6 bilhões) são investimentos. Ou seja, cortar R$ 3 bilhões desse ministério significa cortar quase todo o investimento programado.

Orçamento Autorizado do Ministério do Turismo (LOA 2011)

orcamento-1-orcamento-autorizado-do-min-do-turismoDo total do gasto programado para o Min. do Turismo, apenas o gasto com pessoal e encargos sociais (R$ 56 milhões) e talvez juros (R$ 2,9 milhões) são obrigatórios. Os demais são discricionários, mas quase tudo investimento. Ou seja, o corte será em cima dos investimentos programados.

Se o governo quisesse ser claro, ele deveria ter mostrado essa tabela acima para todos os ministérios. O cidadão tem o direito de saber o que está sendo cortado para se posicionar nesse debate.

Vamos para outro exemplo. O maior corte nominal anunciado foi o do Ministério das Cidades, um corte de R$ 8,5 bilhões. Impresionante!!!! Um momento: por que “impressionante”? Nada de impressionante quando se olha a execução do Orçamento do ano passado.  Em 2010, o Ministério das Cidades teve um orçamento aprovado de R$ 16,2 bilhões. No entanto, o valor de fato executado foi de R$ 6,9 bilhões como detalhado abaixo. Ou seja, poderíamos falar que houve um corte real de R$ 9,3 bilhões no orçamento do Ministério das Cidades no ano passado; maior do que os R$ 8,5 bilhões anunciados agora.

Orçamento do Ministério das Cidades em 2010

orcamento-2-orcamento-do-ministerio-das-cidades-em-20101

O que temos para 2011?
Bom, a tabela abaixo mostra o orçamento do Min das Cidades para 2011 por Grupo de Natureza de Despesas (GND). O orçamento como aprovado na Lei Orçamentária Anual foi de R$ 22 bilhões. Assim, um corte de R$ 8,5 bilhões significa que a execução programada para esse ano é de R$ 13,5 bilhões (R$ 22 bilhões - R$ 8,5 bilhões).

Orçamento Autorizado do Min das CIdades (LOA 2011)

orcamento-3-orcamento-autorizado-do-ministerio-das-cidadesMas se a execução, em 2010, desse ministério foi de R$ 6,9 bilhões; R$ 13,5 bilhões para esse ano (depois do corte de R$ 8,5 bilhões) representam, na verdade, um crescimento de 95% nas despesas desse ministério. É importante saber disso porque a equipe econômica, propositadamente ou não, faz duas grandes confusões:
(a) fala que os investimentos do PAC serão mantidos; e
(b) estimou que a economia no gasto decorrente das medidas detalhadas hoje traz um ganho fiscal equivalente a 1% do PIB, dando a impressão para nós que a despesa pública seria reduzida em um ponto percentual do PIB. Vamos aos detalhes.

(2) Há sim cortes dos programas do PAC e a economia estimada do corte das despesas em 1 (um) ponto percentual do PIB está equivocada.

Já falei antes neste blog e continuo afirmando: não há como preservar os 100% do investimentos do PAC, e uma parcela do PAC, para a minha surpresa,  entra na contabilidade pública como gastos de custeio e não como investimentos como é o caso dos recursos do programa “Minha Casa, Minha Vida”, do Minstério da Cidades.

Da conta de custeio da tabela acima do Ministério das Cidades para este ano, R$ 13,5 bilhões de “outras despesas correntes”  são, na verdade, transferências aoFundo de Arrendamento Residencial (FAR) — R$ 9,5 bilhões,  fundo criado para financiar as compras de casas populares do programa “Minha Casa, Minha Vida”. Assim, o que será cortado do Ministério das Cidades são os recursos do Programa Minha, Casa Minha Vida e parcela dos gastos com investimentos, pois são essas duas contas que importam em termos de valores para esse ministério.

No caso da economia estimada, a despesa primária do governo federal aprovada para 2011 pelo Congresso foi de R$ 767,4 bilhões (já incluindo os R$ 1,6 bilhão de gastos vetados). Com corte de R$ 50 bilhões, essa despesa vai para R$ 717,4 bilhões, R$ 60 bilhões acima do gasto primário de 2010 (excluindo capitalização da Petrobrás). Isso significa que, mesmo com o corte de R$ 50 bilhões, o corte real quando compararmos 2011 com 2010 não será superior a 0,3% do PIB.

De onde então a equipe econômica tirou a economia de 1 ponto percentual do PIB?
A conta foi feita em cima do orçamento aprovado (R$ 767,4 bilhões) e não do gasto real do ano passado (R$ 657,2 bilhões). Por exemplo, olhando para o exemplo acima do Ministério das Cidades, o governo divulgou a economia em cima do corte do orçamento aprovado, não para o orçamento executado de 2010. Dito de outra forma: se o Congresso Nacional tivesse aprovado um orçamento inflado em mais R$ 50 bilhões, R$ 817,4 bilhões, e o governo cortasse R$ 100 bilhões, a economia seria ainda maior (2% do PIB) na conta do governo. Como o que vale é gasto executado (pago) neste ano comparado com o gasto executado (pago) do ano passado, não há corte e sim uma expansão nominal do gasto público primário em R$ 60 bilhões, o que equivale a uma redução do gasto público não-financeiro do governo federal de, no máximo, 0,3% do PIB — isso se o corte de R$ 50 bilhões se materializar.

(3) Orçamento ainda projeta forte crescimento da receita tributária de R$ 70 bilhões.

A revisão da receita administrada e não administrada para menos R$ 18 bilhões torna ainda mais difícil o cenário de cumprir a meta cheia do superávit primário. Vale lembrar que o Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) trabalhava com uma receita primária (exclusive previdência) de R$ 734 bilhões, e o Congresso Nacional aumentou para R$ 750,42 bilhões, um crescimento de R$ 16,4 bilhões. O corte de R$ 18 bilhões resgata o projeto original do governo com um corte um pouco maior.

O governo agora trabalha com uma expectativa de receita de R$ 731,3 bilhões, o que representaria um crescimento perto de R$ 70 bilhões em relação à receita realizada de 2010, de R$ 662,3 bilhões (excluindo a receita extra da capitalização da Petrobrás e a receita da previdência social). Um crescimento de R$ 70 bilhões é um aumento de arrecadação longe de ser irrisório e ainda assim não-garantido.

RESUMO
Continuo achando difícil o governo cortar R$ 50 bilhões. Mas é possível, já que está disposto a reduzir o investimento como mostra o exemplo do Ministério do Turismo.  Essa economia, ainda que mostre uma vontade real do governo de cortar gastos, é pequena frente ao crescimento dos últimos dois anos e já está com seus dia contados. Em 2012, já sabemos que temos um despesas extra de R$ 22,5 bilhões do reajuste do salario mínimo para um valor próximo a R$ 620, e, assim, tudo volta à estaca zero, e teremos, novamente, um novo problema fiscal.

Já afirmei várias vezes nesse blog minha posição sobre o ajuste fiscal. Terá de ser gradual e deveria ser um esforço constante de anos e não apenas de um ano. Infelizmente (ou felizmente), vamos precisar confiar muito mais na política monetária do que na fiscal para reduzir as pressões inflacionarias.

Por fim, não falamos ainda em um novo empréstimo para o BNDES, que o Ministro da Fazenda disse que será decidido até sexta-feira. Se sair um novo empréstimo próximo a R$ 50 bilhões, isso significa que, do ponto de vista de demanda, estamos diminuindo gastos do governo (G) e aumentando investimento (I), e a pressão inflacionária continua. Novamente, vamos precisar da ajuda do Banco Central.

Acho que, de fato, o governo passou a se preocupar com a expansão dos gastos fiscais. Infelizmente, como essa percepção está atrasada em pelo menos um ano, os ajustes, agora, mesmo que na margem, são muito mais difíceis. A propósito, mantenho tudo que escrevi no meu post do dia 10 de fevereiro (O improvável corte do custeio em R$ 50 bilhões), quando falei que seria impossível que a maior parte do ajuste viesse do custeio. Continuo com a mesma opinião.

Por Reinaldo Azevedo

Cortar R$ 6,5 bilhões só em fraudes? Então isso não é um caso de política, mas de polícia!

Publiquei ontem aqui um post um tanto irônico, elogiando Dilma pela “coragem” por meter o facão nos programas sociais. A cobertura política  e a chamada “crônica especializada”, como se dizia antigamente, chegam a ser cômicas. Parece que “corte de gastos” é um valor em si. Ora, só se faz quando necessário, certo? No caso em questão, o que determina o aperto de agora é a farra de antes. Mas a coisa ainda está um tanto confusa. E aqueles que costumam pôr preço na confusão comentavam ontem que:
a) o governo parece estar batendo cabeça;
b) o corte não chega a R$ 50 bilhões nem debaixo de porrete;
c) no que haverá de cortes, PAC e obras sociais serão afetados.

Bem, até aí…

Mas espantoso mesmo é que não se aponte o óbvio: na ânsia de mover os tanques para dar a impressão de estar fazendo alguma coisa, o governo promete fazer uma auditoria em si mesmo. “Ah, Reinaldo, sempre pode aparecer alguma coisa para cortar. É louvável!”

Alguma coisa?

Como apontou aquele meu amigo economista, para o seguro-desemprego, estão orçados R$ 30 bilhões, e o governo pretende cortar R$ 3 bilhões! Há a possibilidade de 10% dos recursos do seguro-desemprego irem para a sem-vergonhice?

O próprio governo considera que o seguro-desemprego, controlado pelo Ministério do Trabalho, é uma cornucópia de fraudes. Informa hoje o Estadão:
“A investigação [do TCU] informa que a ausência de um sistema de cruzamento dos dados fornecidos pelo suposto desempregado com informações oficiais prejudica a fiscalização. A auditoria pede o aperfeiçoamento do software do seguro-desemprego. Os auditores mencionam, por exemplo, a falta de confiabilidade nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), usado pelo governo como ferramenta do seguro-desemprego. “O sistema pode ser baixado da internet por qualquer pessoa e não há necessidade de autenticação, ou seja, não se sabe a origem dos dados cadastrados, o que abre a possibilidade de fraudes nas ações de seguro-desemprego”, diz trecho do relatório de auditoria.”

No total, R$ 6,5 bilhões viriam só do combate às fraudes. Bem, das duas uma: ou esse volume é uma fantasia, ou é preciso chamar a Polícia — no caso, a Federal. E ela deve começar investigando o Ministério do Trabalho.

Por Reinaldo Azevedo

Em meio a corte de gastos, Dilma anuncia reajuste de até 45,5% a beneficiários do Bolsa Família

Parte dos investimentos pode ter ido para o vinagre com o corte no Orçamento,  mas o assistencialismo está recebendo um gás. Leiam o que segue. Volto em seguida:

Por Matheus Magenta, na Folha Online:

A presidente Dilma Rousseff anunciou nesta terça-feira (1º) o reajuste médio de 19,4% aos beneficiários do programa Bolsa Família. O maior aumento, de 45,5%, será dado a crianças e adolescentes de até 15 anos. O reajuste terá um impacto de R$ 2,1 bilhões no Orçamento da União — 0,4% do PIB (Produto Interno Bruto).

Com a correção, o menor valor pago pelo programa passa de R$ 22 para R$ 32 e o maior, de R$ 200 para R$ 242. Segundo o governo, 12,9 milhões de famílias em todo o Brasil recebem o benefício. O sertão baiano foi escolhido pela presidente como palco do anúncio do primeiro reajuste de seu governo no valor dos benefícios do Bolsa Família, principal programa de transferência de renda federal.

O anúncio foi feito durante a visita de Dilma a Irecê, município localizado no Polígono das Secas, a 478 km de Salvador. O reajuste havia sido prometido pela própria presidente, em novembro, logo após sua eleição. “Eu não sei hoje dizer qual é esse reajuste, mas que terá reajuste eu asseguro que terá”, disse na ocasião.

O valor do benefício está congelado desde setembro de 2009. Na época, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu um aumento real (acima da inflação) de 4% ao Bolsa Família.

Orçamento
O anúncio da presidente Dilma, que colocou como prioridade do seu governo a erradicação da miséria, foi feito em meio à definição de cortes de R$ 50 bilhões no Orçamento deste ano, e logo após o aumento do salário mínimo para R$ 545.

Apesar de afirmar que as despesas com os programas sociais e com os investimentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) serão integralmente mantidos, o governo anunciou ontem que o corte de despesas no Orçamento deste ano irá afetar fortemente o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. O programa terá uma contenção de mais de R$ 5 bilhões nos repasses do governo, o que representa 40% de corte –passará de R$ 12,7 bilhões para R$ 7,6 bilhões.

Cortes
Segundo o detalhamento do corte das despesas do Orçamento, os gastos discricionários dos ministérios tiveram uma redução de R$ 36,2 bilhões. Os vetos à Lei Orçamentária respondem por R$ 1,6 bilhão em despesas. Já as despesas obrigatórias tiveram uma redução de R$ 15,7 bilhões, sendo R$ 3,5 bilhões de gastos com pessoal, R$ 8,9 bilhões nos subsídios, R$ 2 bilhões de gastos previdenciários e R$ 3 bilhões em abono salarial e seguro-desemprego. Houve, contudo, um acréscimo de R$ 3,5 bilhões em créditos extraordinários, para o Nordeste e a Amazônia.

Por Reinaldo Azevedo

Faz sentido aumentar Bolsa Família quando se cortam investimentos?

Dilma anunciou o reajuste do Bolsa Família, seguindo já a mudança da coreografia, um dia depois do quase detalhamento dos cortes no Orçamento. Ela o fez no sertão da Bahia, entre os pobres, dentro da chamada intenção de “erradicar a miséria”. Aqui e ali se destaca que ela está cumprindo uma promessa. Sei. É bom cumprir alguma de vez em quando.

Os pobres merecem mais dinheiro? Por mim, merecem o céu, junto com os ricos, diga-se, sem distinção, que eu estou fora desse papo de “escatologia da libertação” de Bettos & Boffs… Mas pergunto: que sentido faz ter de cortar investimentos —  e terá de haver corte caso se queira fazer uma economia real — e aumentar a despesa do assistencialismo na veia?

Quem ganha com isso? O bom samaritano, generoso que é, dirá que é o pobre que precisa da assistência. Com um pouquinho mais de atenção, ele vai perceber que ganha mesmo é o governante. Por quê? Pobres também são beneficiados por investimentos — que, de resto, movimentam a economia de modo sustentado e são o verdadeiro e duradouro benefício. Mas é outro pobre, que não faz a fama dos pais e das mães do povo…

Por Reinaldo Azevedo

Estão reclamando do quê?

Alguns bobalhões estão me torrando a paciência por causa da conta que tenho feito aqui sobre o número de creches, UPAs, UBSs e quadras que a presidente Dilma Rousseff deixa de entregar por dia. Dizem que essas coisas têm um tempo de construção, que a média não se justifica etc.

Ora…

Eu não estou fazendo a conta de tudo o que Dilma prometeu entregar até 2014. Eu me refiro àquilo que ela disse que faria neste 2011: 3.288 quadras; 1.695 creches, 723 postos de policiamento comunitário, 2.174 Unidades Básicas de Saúde e 125 UPAs. Um ano tem 12 meses. Já se foram dois. Só chamo a atenção para o fato de que o tempo está encurtando.

De resto, esse governo não começou ontem, não. Do 1 milhão de casas prometidas no mandato anterior, não entregou nem 20%. Dilma aproveitou para prometer mais 2 milhões. Das 500 UPAs até 2010, viram-se ridículas 71. Mesmo assim, a então candidata acenou com mais 500!

Qual é? A média é importante para que se tenha noção do tamanho das coisas. E, com corte no Orçamento, aí é que a parolagem mesmo ficará só no papel.

Por Reinaldo Azevedo

Dilma ainda é péssima no palanque. E o “Lula, sim; Lula não” da “presidenta”

A Folha Online reproduz um trecho do discurso da presidente Dilma Rousseff em Irecê, na Bahia. O vídeo está (aqui). Se quiser, primeiro assista e depois volte. Transcrevo um trecho abaixo.

Vendo o desempenho da soberana, a gente compreende por que João Santana escolheu o caminho do silêncio eloqüente e das operações controladas, como a participação do programa “Mais Você”, de Ana Maria Braga, que foi ao ar nesta manhã.

Dilma é ruim de palanque pra chuchu. Pode aprender? Não sei. Seu desempenho em entrevistas melhorou bem, embora ainda fraco — a gente chegava a se surpreender durante a campanha só porque ela não era um desastre.  Há um problema de fluência da fala — ela continua a rainha do anacoluto —, mas também de vocabulário. Obrigada a falar sem ler, ela perde o fio da meada, entrega-se a explicações desnecessárias e chega a revelar o que deveria esconder. Marco em “vermelhito” os problemas. Volto depois.

“(…) Por isso, hoje eu estou aqui para dar início ao meu programa deerradicação da miséria. Ele vai ter… Esse programa, ele ainda está sendo elaborado... Mas ele tem, a sua primeira parte, o seu primeiro passo, dado com esse reajuste forte na Bolsa Família, recebida por crianças que ganham até… Aliás, por famílias é… que têm filhos, que têm crianças pequenas,sobretudo… As outras parcelas do Bolsa Família vão sofrer um reajuste, mas será um ajuste menor. No total, nós vamos despenderum total de dois bilhões e cem milhões com esse reajuste. (…) Somos responsáveis por fazer e continuar a transformação que, nos últimos oito anos, o presidente Lula encaminhou. Eu ajudei nesses oito anos, mas, agora, a bola está conosco, com os homens e as mulheres. E, sobretudo, com as mulheres”

Vamos lá
“Erradicação”, “elaborado”, “despender”, “sobretudo”??? E tudo isso para os pobres de Irecê?;
- “Esse programa ainda está sendo elaborado”: quem se importa com o que “está sendo?”;
- “As outras parcelas vão receber reajuste menor”: povo entende a palavra “aumento”, não “reajuste”. O “reajuste que sofre”, especialmente quando é menor, fica parecendo uma coisa meio ruim…
“Aliás, por famílias é… que têm filhos (…)”: perdeu-se; esqueceu detalhes do que tinha decidido;
“despender um total de dois bilhões e cem milhões”…: para a esmagadora maioria dos brasileiros, a diferença entre 2 milhões e dois bilhões não faz diferença! especialmente com o verbo “despender”. Palanque não é lugar para esses números…

A destacar
1 -
 Faz ali o reconhecimento não mais do que formal da obra de Lula;
2 - ao fazê-lo, como é hábito no PT, depreda o passado. O “Bolsa Família” foi criado por FHC; Lula só rebatizou.
3 - reconheceu a obra do antecessor, mas deu um chega pra lá. A “bola”, agora, é dela, das “mulheres”. E Lula, por óbvio, pode ser muita coisa, mas mulher não é.

Por Reinaldo Azevedo

Lula faz amanhã sua primeira palestra paga: mais de R$ 200 mil!

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz amanhã a sua primeira palestra paga. A patrocinadora do encontro, fechado para convidados, é a LG, empresa de eletro-eletrônicos. O evento está marcado para as 18h, no Expo Transamérica, em São Paulo. Estima-se que ele cobre mais de R$ 200 mil pelo show.

“Tá com invejinha de Lula, Reinaldo?”

Os petralhas vivem me acusando disso. Pela primeira vez, a resposta é “sim”, hehe…

Só não invejo o esforço que Lula deve estar fazendo agora para organizar o seu discurso de amanhã. A gente sabe o seu amor obsessivo por números, cifras, detalhes, precisão técnica. Mais: obrigado a se mover no oceano de referências intelectuais, fica ali, coitado!, atormentado pela angústia dessas muitas influências que orientam seu pensamento.

É por isso que, com freqüência, na dúvida sobre a que pensador recorrer para  iluminar suas intervenções, ele acaba citando a si mesmo…

Por Reinaldo Azevedo

Descoberto o “Homem do Barba” que tinha acesso livre ao Palácio do Planalto: o pecuarista José Carlos Bumlai...

O PC do B se sente perseguido pelo PT porque acredita que o aliado está por trás da avalanche de denúncias que colhe o partido. A palavra “denúncia” é ruim. Há mesmo uma avalanche de fatos. De 2003 a 2007, mais de R$ 12 bilhões saíram dos cofres públicos para ONGs. O “amor” pelo estado, no Brasil, não respeita fronteiras ideológicas. Há os “apaixonados” de direita e os apaixonados de esquerda, desde que possam sangrar seus recursos, seja em nome do “bem da nação”, seja em nome do “bem do povo”. Em países em que o estado é pequeno, as empresas privadas disputam o mercado para fornecer serviços públicos; em países em que o estado é gigante, as empresas públicas satisfazem interesses privados, com a mediação dos governantes de turno.

A VEJA desta semana traz uma reportagem impressionante de Rodrigo Rangel e Daniel Pereira. Ela diz respeito a este homem.

jose-carlos-bumlaiQuem é ele. Leiam trechos. Volto em seguida:

O senhor da foto acima se chama José Carlos Bumlai. É um dos maiores pecuaristas do país, amigo do peito do ex-presidente Lula e especialista na arte de fazer dinheiro - inclusive em empreendimentos custeados com recursos públicos. Até o ano passado, ele tinha trânsito livre no Palácio do Planalto e gozava de um privilégio sonegado à maioria dos ministros: acesso irrestrito ao gabinete presidencial. Essa aproximação excepcional com o poder credenciou o pecuarista a realizar algumas missões oficiais importantes. Ele foi encarregado, por exemplo, de montar um consórcio de empresas para disputar o leilão de construção da hidrelétrica de Belo Monte, uma obra prioritária do governo federal, orçada em 25 bilhões de reais. Bumlai não só formou o consórcio - integrado pela Chesf e pelas empreiteiras Queiroz Galvão, Gaia e Contem, estas duas últimas ligadas ao Grupo Bertin, um gigante do setor de carnes - como venceu o leilão para construir aquela que será a terceira maior hidrelétrica do mundo. O homem das missões impossíveis, porém, se transformou num problema constrangedor.

(…)
Ele gosta de contar a amigos que, certa vez, durante um sonho, uma voz lhe disse para se aproximar do então candidato Lula. Na campanha de 2002, por meio do ex-governador Zeca do PT, Bumlai conheceu o futuro presidente e cedeu uma de suas fazendas para a gravação do programa eleitoral. São amigos desde então. Seus filhos também se tornaram amigos dos filhos de Lula. Amizade daquelas que dispensam formalidades, como avisar antes de uma visita, mesmo se a visita for ao local de trabalho. Em 2008, após saber que o serviço de segurança impusera dificuldades à entrada do pecuarista no Planalto, o presidente ordenou que fosse fixado um cartaz com a foto de Bumlai na recepção do palácio para que o constrangimento não se repetisse. O pecuarista, dizia o cartaz com timbre do Gabinete de Segurança Institucional, estava autorizado a entrar “em qualquer tempo e qualquer circunstância”.

Voltei
Lendo a reportagem, vocês verão que o amigão de Lula, com acesso livre ao Palácio do Planalto, foi diversificando seus interesses. No caso de Belo Monte, informa a revista, “o que era para ser uma missão de interesse exclusivamente público começou a derivar para o lado oposto. O governo descobriu que o pecuarista estava usando a influência e o acesso consentido ao palácio para fazer negócios privados. O Planalto foi informado de que Bumlai, por conta própria, estaria intermediando a compra de turbinas para a usina de Belo Monte com um grupo de chineses. A orientação do governo era exatamente contrária: em vez de importar peças, elas deveriam ser produzidas no Brasil, para criar empregos aqui.”

A reportagem informa que o negócio com os chineses foi abortado e que  o atual governo cassou o livre acesso de Bumlai ao Planalto e aos ministérios. Um ministro afirma: “Em diversas ocasiões, Bumlai trabalhou em nome do ‘Barba’. Mas também usou o nome do ‘Barba’ sem que o ‘Barba’ tivesse autorizado”. O “Barba”, por metonímia, é o Apedeuta por epíteto… Há duas semanas, o grupo Bertin caiu fora de Belo Monte. O BNDES não aceitou as garantias oferecidas para conceder o empréstimo. Mas o amigão de Lula sempre contou com a generosidade do banco oficial. Informa a VEJA:

“Até pouco tempo atrás, o BNDES estava longe de ser um entrave para os planos de Bumlai. Alguns dos maiores negócios dos quais participou tiveram financiamento do banco. É o caso da Usina São Fernando, em Mato Grosso do Sul. Em 2008, o BNDES aprovou um financiamento de cerca de 300 milhões de reais para a usina. No papel, o empreendimento tem como proprietários os filhos de José Carlos Bumlai e o Grupo Bertin. A sociedade Bertin/Bumlai também é proprietária de um jato Citation, já utilizado algumas vezes pelos filhos do ex-presidente Lula, e de um apartamento na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, que recebeu o ex-presidente e a família no Carnaval de 2009.”

Leiam a reportagem. Bumlai conseguiu, por exemplo, vender uma fazenda para o Incra com um sobrepreço, acusa o Ministério Público, de quase R$ 8 milhões. Empreiteiras reclamam da sua interferência na Petrobras… E vai por aí. Vejam esta imagem:

jose-carlos-autorizacao

É o cartaz que Lula mandara afixar na portaria do Palácio do Planalto dando acesso irrestrito a seu “amigo”. Os termos são inequívocos:
“O sr. José Carlos Bumlai deverá ter prioridade de atendimento na portaria Principal do Palácio do Planalto, devendo ser encaminhado ao local de destino, após prévio contato telefônico, em qualquer tempo e qualquer circunstância”.
Convenham: nem Marisa Letícia podia tanto! Esse é o tipo de licença que não se concede nem a um testa-de-ferro!

Por isso eles amam tanto um “estado forte”! Porque, num estado forte, a República costuma ser fraca!

Por Reinaldo Azevedo

Por Rubens Valente, na Folha:
A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) contrariou sua área de fiscalização ao ordenar pagamentos a pelo menos 87 empresas suspeitas de envolvimento numa fraude milionária que teria ocorrido em leilões organizados pelo governo para a comercialização de milho. Os fiscais da estatal detectaram a fraude no segundo semestre de 2010. Os pagamentos estavam suspensos desde então, mas foram retomados a partir de dezembro. Cinco dias após o primeiro pedido de informações feito pela Folha sobre o tema, o presidente da Conab, Alexandre Magno de Aguiar, assinou ofício pelo qual determinou que toda suspeita sobre os leilões de milho fosse informada à Polícia Federal.

Aguiar foi indicado pelo seu antecessor, o ministro da Agricultura Wagner Rossi (PMDB), forte aliado do vice-presidente Michel Temer. Documentos obtidos pelaFolha indicam que a suspeita de fraude envolve leilões do PEP (Prêmio para o Escoamento de Produto). É uma subvenção usada pela Conab quando o preço do produto no mercado está abaixo do preço mínimo. Para que o produtor receba o mínimo, o governo banca a diferença. Em 2010 os contratos do PEP foram de R$ 760 milhões, com desembolso até agora de R$ 201 milhões. Os fiscais da Conab apontam que boa parte do PEP está contaminada por fraude. O produtor rural estaria sendo forçado a devolver à empresa arrematante do prêmio concedido pelo governo, por cheque ou dinheiro em espécie, a diferença a que teria direito. Na prática, o produtor continua recebendo apenas o preço de mercado. O produtor Leoci Favarin, de Primavera do Leste (MT), reconheceu que teve que devolver a diferença ao comprador. “Se não fizesse isso, não havia comércio. Isso aí não está certo. A gente era obrigado a devolver”, disse. Aqui

Por Reinaldo Azevedo

Minha Casa, Minha Vida terá corte de mais de R$ 5 bilhões

Por Mário Sérgio Lima, na Folha Online. Comento no post seguinte:

Apesar de afirmar que as despesas com os programas sociais e com os investimentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) serão integralmente mantidos, o governo anunciou nesta segunda-feira (28) que o corte de despesas no Orçamento deste ano irá afetar fortemente o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida.

O programa terá uma contenção de mais de R$ 5 bilhões nos repasses do governo, o que representa 40% de corte –passará de R$ 12,7 bilhões para R$ 7,6 bilhões.

Segundo a ministra Miriam Belchior (Planejamento), a redução de despesa tem relação com o fato de a segunda parte do Minha Casa ainda não ter sido aprovada pelo Congresso. A ministra espera que isso ocorra em abril.

“Ainda assim, o orçamento do programa para este ano está R$ 1 bilhão maior do que ocorreu no ano passado, quando houve a maior parte das contratações do Minha Casa”, afirmou a ministra. “Não cortamos nenhum centavo dos investimentos do PAC nem dos gastos com programas sociais.”

CORTES
Segundo o detalhamento do corte das despesas do Orçamento, os gastos discricionários dos ministérios tiveram uma redução de R$ 36,2 bilhões. Os vetos à Lei Orçamentária respondem por R$ 1,6 bilhão em despesas.

Já as despesas obrigatórias tiveram uma redução de R$ 15,7 bilhões, sendo R$ 3,5 bilhões de gastos com pessoal, R$ 8,9 bilhões nos subsídios, R$ 2 bilhões de gastos previdenciários e R$ 3 bilhões em abono salarial e seguro-desemprego.

Houve, contudo, um acréscimo de R$ 3,5 bilhões em créditos extraordinários, para o Nordeste e a Amazônia.

Concursos públicos
De acordo com a ministra, a redução de despesas com pessoal é referente às contratações em concursos públicos, que não serão feitas. Já os valores referentes ao abono salarial, às despesas previdenciárias e ao seguro-desemprego referem-se ao pente-fino contra fraudes.

No anúncio dos cortes, o ministro Guido Mantega (Fazenda) fez questão de ressaltar que contenção de gastos não significa que a política econômica foi mudada.

“Não vamos mudar o que está dando certo, não nos tornamos ortodoxos. Estamos adaptando para garantir um crescimento sustentável de 5%, pois um crescimento constante acima disso cria gargalos.”

Por Reinaldo Azevedo


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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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3 comentários

  • Flavio Schirmann Formigueiro - RS

    Esta "marolinha " ainda vai dar o que falar! O governo está sem rumo! "Com um pé pisa no freio (aumento da selic) com outro no acelerador (mantendo os investimentos no PAC).A inflação aumenta porque não se cuidou da agropecuária, não se investiu em infraerstrutura como deveria se feito... não tem nada a ver com aumento de consumo. "Bem feito" cada povo tem o governo que merece.Enquanto isso as "Forças Ocultas" assaltam o Brasil, com sempre...

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  • sebastião maria moraes rodrigues Pato Branco - PR

    Com relação a este assunto em pauta, faço minhas as palavras do compositor Alcides Girardi: "Camelô na conversa ele vende algodão por veludo,

    Não tem bronca porque nesse mundo tem bobo pra tudo".

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  • Valter Antoniassi Fátima do Sul - MS

    Tem gente corajosa mesmo! Pagar 200 mil para Lula fazer uma palestra !E o pior de tudo,que há platéia para isto! E depois se dizem seres inteligentes? Fala sério ,seria muito mais interessante ler o recruta ZERO,ou quem sabe ver o programa do CHAVES pela milionésima vez...

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