Batman, Robin e a Mulher Gato entram na conspiração contra a cópia brasileira da CIA

Publicado em 14/04/2011 06:45 e atualizado em 14/04/2011 16:32
Blogs de Lauro Jardim, Augusto Nunes e Reinaldo Azevedo

Aguardando Lula

A Justiça Federal de Brasília espera até o dia 30 a resposta de Lula à intimação no processo em que é acusado, juntamente com o ex-ministro da Previdência Amir Lando, de improbidade administrativa por uso da máquina pública para promoção pessoal e favorecer o BMG, banco envolvido no escândalo do mensalão.

Desde o fim de março, foi remetido à Seção Judiciária de São Bernardo do Campo o pedido para intimar o ex-presidente. Ele terá de responder o motivo pelo qual foram enviadas 10,6 milhões de cartas contendo propaganda para que assegurados do INSS contraíssem empréstimos no BMG.

Após a defesa prévia de Lula e de Amir Lando, é que a Justiça vai decidir se aceita a ação do Ministério Público contra os dois, tornando-os réus. Também terá de julgar se bloqueia os bens da dupla, para assegurar recursos para uma eventual condenação – o prejuízo estimado pelo MP com as correspondências é de 9,5 milhões de reais.

Por Lauro Jardim

Celso Arnaldo captura a presidente com uma trinca de quinta em Pequim e confirma: o dilmês é mais complicado que o chinês

“Essa resposta eu não respondo”, diz Dilma Rousseff no fim do vídeo que registra os principais momentos da entrevista coletiva concedida em Pequim. “Responder respostas” nem o padrinho Lula consegue. O problema é que a afilhada não consegue responder também a perguntas, como constata o jornalista Celso Arnaldo Araújo em mais uma análise antológica do palavrório presidencial.

Em grande forma, o implacável caçador de cretinices capturou, além de Dilma, a escolta formada por uma trinca de quinta categoria: Aloízio Mercadante, Fernando Pimentel e Edison Lobão. Sozinha, a entrevistada é capaz de deixar pálido de espanto qualquer jornalista. Consultando uma papelada e ouvindo cochichos, ela consegue piorar espetacularmente. O vídeo de 5 minutos adverte: o dilmês é mais complicado que o chinês.

POR CELSO ARNALDO ARAÚJO
O maior tesouro arqueológico da China são os Guerreiros de X´ian, o lendário Exército de Terracota — sete mil figuras de soldados e cavalos descobertas e desenterradas em 1974 ao lado do mausoléu do imperador Qin.

Numa mostra de sua força, a imperatriz Dilma compareceu à entrevista coletiva na China com um exército composto pelas três estranhas figuras, misto de guerreiros e cavalgaduras, que lhe fazem guarda, sombra e ponto neste vídeo – o do meio, Magro Velho, parece ser também de terracota, e, pela aparência mumificada, talvez ancestral em relação aos colegas de X´ian. As rachaduras profundas do rosto, porém, sugerem terra de má origem – ou mal cotada pelos empreiteiros da época. Deve ter faltado laca no acabamento. Na entrevista, não diria uma sílaba, não mexeria um músculo. Os outros dois são de materiais mais flexíveis, moldados à semelhança do soberano da ocasião – mas igualmente ordinários no feitio e na importância histórico-arqueológica.

Impassíveis, como obedientes guerreiros de barro tosco, sem vida e sem alma, obrigados pelo destino a permanecer na mesma posição por milhares de anos, percebe-se seu incômodo quase humano ao ouvir a imperatriz se esforçando para descobrir e desenterrar de sua tumba neuronal as palavras com que procura descrever os achados da expedição brasileira à China.

Na vã tentativa de verbalizar raciocínios próprios do crânio pequeno do primeiro hominídeo, o Australopithecus Afarensis, ela busca ajuda na maçaroca de pergaminhos que manipula nervosamente. Nada encontra, nas mãos e na mente. Diante do apuro da imperatriz, os três guerreiros parecem querer vir à vida – como no filme “Uma noite no Museu” – em socorro da soberana. Só um deles – o de óculos, com dentição pré-histórica – materializa o auxílio, na forma de sussurros auriculares, para corrigir, por exemplo, o cargo do presidente Hu Jintao, que a imperatriz chamou de primeiro-ministro. Cavaco Silva e José Sócrates, na viagem a Portugal, não conseguiram lhe explicar a diferença entre um pastel de nata e outro.

Quando a soberana fala da “importância que para nossa parceria têm mecanismos mais amplos dessa parceria”, o guerreiro de bigode de morcego – único de sua dinastia – lança um olhar ao longe, vazio, pura desesperança e desespero. Nada pode fazer. O mesmo ocorre quando vem à tona o “no que se refere a valor agregado”. O trauma do debate da Band, com um saldo de 32 “no que se refere”, ainda estava bem fresco para o Irrevogável de X´ian.

Em seguida, o guerreiro de óculos, situado estrategicamente atrás do ouvido bom da imperatriz, se torna humanoide pelo átimo de tempo necessário para cochichar a palavra “missão” e socorrer a imperatriz com o nome do grupo chinês que vai ao Brasil — e que ela tenta, sem sucesso, por uns bons segundos, cavoucar com as próprias mãos, no próprio cérebro. Missão impossível. Ponto para o guerreiro de óculos. A imperatriz se empolga com a missão, que então ganha significado mais lato, e de lavra própria: “É o que eles chamam de missão de compra e nós também, aquelas missões que você manda aos países para avaliar quais são as oportunidades de importação em setores manufatureiros”.

Seria “exportação”, mas não vem ao caso. Os guerreiros ficam mais aliviados com esse “setores manufatureiros”, que tem toda pinta de tema de palestra na Fiesp. Mas voltam a se angustiar, incontinenti, com o tropeço seguinte da imperatriz técnica: o “relacionalmento” quase faz os três saltarem sobre o corpo da Protegida para resgatá-la, encoberta e muda, de mais um constrangimento internacional. Contêm-se.

E a imperatriz continua compulsando os pergaminhos, obsessivamente. Mal ouve a pergunta de um dos súditos da mídia sobre o câmbio irreal e perigoso ora em vigência. Se ouviu, sua resposta não é deste mundo: “Sabemos perfeitamente o porquê que nós estamos, todos nós sabemos”. Nem todos, imperatriz: “Nós vamos buscar uma taxa de câmbio, ao longo de meu governo, compatível com as taxas de câmbio, aliás as taxas de juro internacionais. Vamos buscar uma taxa de juro compatível com as taxas de juro internacionais. Eu falei câmbio aí, mas é juros, porque depois cês vão lá e…”

O humor envergonhado da imperatriz faz os três bonecos, ainda perfilados, arriscar um sorriso maroto e devoto, um sorriso de terracota rachada, misturada com pau e lama. Não tinham alternativa – a não ser chorar em silêncio, recolhidos à sua insignificância. Como os guerreiros de X´ian, um dia eles serão recolhidos ao lado da triste imperatriz, no mausoléu da história do Brasil.

Batman, Robin e a Mulher Gato entram na conspiração contra a cópia brasileira da CIA

Em tese, a ABIN é a versão nativa da CIA americana, da defunta KGB soviética ou do M16 dos filmes de James Bond. Na prática, como informa o vídeo, a Agência Brasileira de Inteligência ainda não aprendeu a vigiar os próprios funcionários – ao menos os acampados no Núcleo de Educação a Distância, que assina a peça inacreditável. É difícil saber se a trinca que interpreta Batman,  Robin e a Mulher Gato está querendo ensinar português ou técnicas de negociação em situações de emergência. Não consegue uma coisa nem outra.

Batman precisa perder pelo menos uma arroba. A canastrice do jovem Robin é de causar inveja no pior dos veteranos. A Mulher Gato não consegue pronunciar a palavra “exigência”. Se houvesse uma plateia por perto, o elenco dificilmente escaparia do linchamento. Tudo somado, o vídeo já garantiu uma vaga no Museu da Era da Mediocridade. Em pouco mais de três minutos, mostra que o governo federal, no inverossímil começo do século 21, achava que inteligência é alguma coisa que rima com agência.

As promessas não duraram 100 dias

Três meses bastaram para que a presidente Dilma Rousseff deixasse claro que a presidente não tem nada a ver com o que disse a candidata. Confira os dois vídeos na seção História em Imagens.

O recuo de Marco Maia: a oposição oficial perdeu outra chance de mostrar que existe

O colunista Lauro Jardim acaba de melhorar a terça-feira do Brasil decente com duas boas notícias. Depois de saber que o deputado Romário desistira de viajar até a Espanha para ver o jogo entre o Real Madrid e o Barcelona, o presidente da Câmara, Marco Maia, achou prudente encerrar a farsa. E prometeu pagar com o próprio dinheiro o passeio com o filho de 13 anos.

De novo, a oposição oficial perdeu a chance de mostrar que existe. Os deputados do PSDB, do DEM e do PPS não deram um pio sobre a viagem afrontosa. Nenhum ousou desmontar a versão da “viagem oficial”. Nenhum tentou impedir o passeio indecoroso. Nenhum seestarreceu com o noticiário da imprensa nem endossou a indignação dos jornalistas independentes.

Marco Maia merecia ter ouvido muito mais do que ouviu o presidente do Parlamento Europeu no vídeo abaixo. Desse risco está livre: ele chegou ao cargo com o apoio de governistas e a conivências dos oposicionistas. O que o fez recuar foi a reação dos brasileiros honestos. São milhões, mas continuam sem representantes na Câmara.

Confirmado: o petista desempregado sumiu

O parágrafo que abre a reportagem de Daniel Bramatti publicada noEstadão desta terça-feira faz o resumo da ópera:

O retrato da máquina pública no início do governo Dilma Rousseff revela a existência de 6.689 funcionários não concursados nos cargos de confiança da Presidência e dos ministérios – o equivalente a quase um terço do total de postos preenchidos por nomeações. Destes, quase 500 estão nas duas faixas salariais mais altas do funcionalismo.

Esta coluna foi a primeira a noticiar o excelente ritmo do programa Desemprego Zero para a Companheirada. E a primeira a registrar um dos mais espetaculares milagres operados pela Era Lula, resumido no título do post publicado em 2 de setembro de 2009: O petista desempregado sumiu. Confira na seção Vale Reprise.

Vejam como os terroristas da VAR-Palmares só queriam o bem, o belo e o justo!

Quando se discute ainda hoje o real papel que teve Dilma Rousseff na organização terrorista VAR-Palmares, costumo ironizar: “Ah, ela se encarregava de organizar saraus e tardes lítero-musicais e de dar aula de piano”.  Pensem bem: qual é a tarefa de uma organização voltada para o terrorismo? Cuidar das belas artes! E só uma nota à margem: ela nunca se arrependeu de nada, não! O máximo a que chegou foi afirmar que mudou junto com o Brasil, o que daria pano pra manga. Para mim, isso significa que, se o Brasil não tivesse mudado, ela continuaria com a prática de antes. E, antes, a VAR-Palamares fazia o quê?

Está em curso a instalação da tal Comissão da Verdade. Quisesse ela a verdade, vá lá! Mas isso é mentira! Trata-se apenas de mais um passo para dourar um lado da batalha com novos brocados de heroísmo e satanizar o outro. Leiam o que publica o Estadão de hoje. Volto em seguida.

VAR-Palmares planejou execução de militares

Por Felipe Recondo e Leonencio Nossa:
Documento da Aeronáutica tornado público ontem pelo Arquivo Nacional, após ter sido mantido em segredo durante três décadas, revela que a organização guerrilheira VAR-Palmares, que contou em suas fileiras com a hoje presidente Dilma Rousseff, determinou o “justiçamento” - ou seja, o assassinato - de oficiais do Exército e de agentes de outras forças considerados reacionários nos anos da ditadura militar.

Com cinco páginas, o relatório A Campanha de Propaganda Militar, redigido por líderes do grupo, avalia que a eliminação de agentes da repressão seria uma forma de sair do isolamento. O texto foi apreendido em um esconderijo da organização, o chamado aparelho, e encaminhado em caráter confidencial ao então Ministério da Aeronáutica.

O arquivo, revelado pelo Estado no ano passado e aberto a consulta pública anteontem, faz parte do acervo do Centro de Segurança e Informação da Aeronáutica (CISA). No Arquivo Nacional, em Brasília, novo endereço do acervo que estava em poder do serviço de inteligência da Aeronáutica, há um conjunto de documentos que tratam da VAR-Palmares. Mostram, entre outras coisas, a participação de militares da ativa e a queda de líderes do grupo em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo.

Os nomes dos integrantes do grupo receberam uma tarja preta, o que impede estabelecer relações diretas entre eles e as ações relatadas. É possível saber, por exemplo, que militantes de Belo Horizonte receberam em certa ocasião dez revólveres calibre 38 e munição, mas não os nomes desses militantes.

Na primeira página, o relatório de cinco páginas destaca que o grupo não tem “nenhuma possibilidade” de enfrentar os soldados nas cidades. Sobre o justiçamento de militares observa: “Deve ser feito em função de escolha cuidadosa (trecho incompreensível) elementos mais reacionários do Exército.”

Extermínio
Na época da redação do texto, entre 1969 e 1970, a ditadura tinha recrudescido o combate aos adversários do regime. Falava-se em setores das forças de completo extermínio dos subversivos. Em dezembro de 1968, o regime havia instituído o AI-5, que suprimia direitos civis e coincidia com o início de uma política de Estado para eliminar grupos de esquerda.

A VAR-Palmares surgiu em 1969 com a fusão do grupo Colina (Comando de Libertação Nacional), em que Dilma militava, com a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), do capitão Carlos Lamarca. Dilma, à época com 22 anos, foi presa em janeiro de 1970 em São Paulo. Ela só foi libertada em 1972, após passar por uma série de sessões de tortura.
(…)
O documento tornado público classifica as ordens como contraofensiva. Seria uma resposta aos “crimes” do regime militar contra a esquerda: “O justiçamento punitivo visa especialmente paralisar o inimigo, eliminando sistematicamente os cdf da repressão, os fascistas ideologicamente motivados que pressionam os outros.”

O texto também dá orientações sobre como definir e vigiar possíveis alvos. A ideia era uma fazer uma lista dos oficiais “reacionários” e de pessoas ligadas à CIA, a agência central de inteligência dos Estados Unidos.

A VAR-Palmares tinha definido como alvos prioritários o delegado Sérgio Paranhos Fleury, do Dops, e seu subordinado Raul Careca, acusados de comandar a máquina da tortura nos porões de São Paulo: “Careca, Fleury são assassinos diretos de companheiros também. Trata-se de represália clara. Já outros investigados serão eliminados sob condição, conforme vimos acima.”

Voltei
Ali onde há parênteses, suprimi este trecho:
“Sempre que fala sobre seu envolvimento com a resistência ao regime militar, Dilma costuma ressaltar que sua visão atual da vida não tem ’similaridade’ com o que pensava durante o tempo de guerrilha.”

Destaquei na abertura e reitero: essa não-similaridade, segundo ela mesma, se deve ao fato de o Brasil “ter mudado”; logo, se não tivesse… Isso quer dizer que não reconhece que os grupos terroristas foram, em si, um erro. É importante ressaltar que o Brasil não mudou sozinho, num passe de mágica. Alguém o mudou! E posso assegurar que não foram os terroristas. Mais de uma vez, de resto, Dilma demonstrou gratidão e reconhecimento por seus “companheiros” de luta, verdadeiros “heróis”. Acima, vê-se como eram mesmo humanistas notáveis.

Por Reinaldo Azevedo

14/04/2011

 às 15:51

Negócio da China

O ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) estreou nesta quinta uma coluna quinzenal no Estadão. No artigo, ele diz que o Brasil está se conformando em ser “periferia” de um novo “centro”: a China. O governo brasileiro estaria fazendo escolhas de longo prazo contrárias aos interesses do país. Com exceções, a cobertura da visita da presidente Dilma Rousseff àquele país foi burralda e meio deslumbrada, para não variar. Um pouco de luz na questão.  Sem contar que é sempre uma boa notícia para a democracia um líder da oposição ter o que dizer — e a coragem de dizê-lo.

*
Ao analisar a economia mundial no imediato pós-guerra, o grande economista Raúl Prebisch cunhou a expressão centro-periferia. Apontava para uma divisão internacional do trabalho entre países produtores de matérias-primas e alimentos - a periferia - e países produtores e exportadores de manufaturas - o centro.

Tal divisão desfavorecia os países da periferia, pois a concorrência entre as exportações de produtos primários era maior, refletindo-se em preços mais desfavoráveis. Previa-se, também, que sua demanda cresceria abaixo da renda mundial. Por último, carentes de indústrias, esses países permaneceriam também carentes de bons empregos e dos frutos do progresso técnico.

Essa teoria simplificava muito a realidade, mas valeu como reparo ao teorema de que os ganhos do livre-comércio internacional seriam repartidos de forma equânime entre todas as nações. E deu certo substrato ideológico às políticas de desenvolvimento industrial.

Na “periferia”, o Brasil foi o país que levou a industrialização mais longe, embaralhando a dicotomia prebischiana. A partir dos anos 1980, porém, em razão de fatalidades da política macroeconômica e da transição mal feita para uma economia mais aberta, ingressamos numa fase de lento crescimento que já dura 30 anos.

Na última década, ganharam corpo mudanças impressionantes na economia internacional, com a ascensão da Índia e principalmente da China, países com 37% da população mundial, baixa renda por habitante, com projetos nacionais de desenvolvimento e pouco afeitos a bravatas. Um quarto do crescimento da economia mundial nesse período se deveu à China. A demanda por commodities saltou de patamar, empinando quantidades e preços, num movimento que parece contínuo: mais indústrias e mais infraestrutura exigindo matérias-primas, mais empregos e mais gente consumindo alimentos.

O centro chinês é muito peculiar. A economia é monitorada pelo Estado. O grau de discricionariedade da política econômica é altíssimo. O regime autoritário é eficiente para seus propósitos, e fortemente repressivo quando necessário. Para os de fora fica difícil explorar suas contradições internas. É um regime encarado com complacência por seus parceiros comerciais, incluindo o Brasil.

A caminhada chinesa em direção ao centro da economia mundial chegou a ser saudada como janela de independência da economia brasileira, que passaria a ser menos atrelada às economias desenvolvidas clássicas. A troco de nada, o deslumbramento do governo Lula com a China levou-o a reconhecê-la como “economia de mercado”, dando mais proteção às suas práticas desleais de comércio.

Mais independência? Ledo engano. Como disse Sérgio Amaral, a China é uma oportunidade e uma ameaça. Infelizmente, o Brasil escolheu a ameaça. A incapacidade de aproveitarmos boas condições de comércio para fortalecer a economia nacional está conduzindo o País, rapidamente, à condição de neoperiferia no concerto econômico mundial. “Neo” porque a nação está se desindustrializando, na volta à sua condição de economia primário-exportadora. A China, rumo ao centro, o Brasil, rumo à periferia. Num país continental como o nosso, isso envolve a renúncia a um futuro de suficientes e bons empregos.

As diferenças econômicas Brasil-China são marcantes. O yuan é das moedas mais desvalorizadas do mundo, o que aumenta muito a competitividade de sua economia. Nossa moeda vai exatamente no sentido contrário. Temos ainda a maior taxa real de juros do planeta e a maior carga tributária entre os países emergentes, o dobro da chinesa! A taxa de investimento da China é 2,5 vezes maior do que a brasileira: faltam poupança pública e capacidade para investir os recursos disponíveis e fazer parcerias público-privadas. Sobram tributos e falta uma taxa de câmbio decente para atrair mais investimentos privados.

As exportações chinesas estão varrendo boa parte da nossa indústria. Apenas 7% do que vendemos à China são produtos manufaturados, que representam 97% do que importamos de lá. Importações que vêm em boa medida substituir produção existente, menos competitiva por causa das políticas macroeconômicas, da fragilidade da defesa comercial e da situação calamitosa da nossa infraestrutura. Produzir no Brasil é tão caro que exportamos celulose para a China e começamos a importar o papel que ela produz. Exportamos minério de ferro, compramos aço. Cadê o famoso valor agregado?

A China também nos está deslocando de outros mercados. Dois terços das empresas exportadoras brasileiras perderam clientes para as chinesas no mercado externo, quase metade da indústria brasileira que concorre com a chinesa perdeu participação no mercado interno!

Além das vantagens apontadas, a China protege sua produção doméstica, faz escaladas tarifárias (soja), administra os investimentos estrangeiros no seu território, costuma subfaturar suas vendas ou utilizar países barriga de aluguel para reexportar seus produtos e escapar das esporádicas medidas de defesa comercial que o Brasil adota.

Outra dimensão da dependência brasileira é a rápida expansão dos investimentos diretos chineses voltados para as commodities de que a China precisa. São investimentos que obedecem à orientação do Estado chinês, que, por espantoso que possa parecer no Brasil, tem visão de longo prazo. Incorporaram até mesmo terras e riquezas naturais inexploradas, sob os olhares complacentes do extasiado governo Lula. Como os chineses são espertos, não lhes custará fazer uma concessão aqui ou ali em matéria de investimentos que envolvam maior valor agregado e alguma tecnologia nova. Mas só um pouquinho.

“Negócio da China”, antigamente expressava a possibilidade de alguma pechincha, um ganho extraordinário em cima dos chineses. Hoje, ao contrário, é negócio bom para eles. Nada contra, pois pensam no futuro e sabem defender seus interesses no presente. Nessa peleja, perdemos feio.

Por Reinaldo Azevedo

14/04/2011

 às 15:23

Os reacionários - O Demiurgo Apedeuta falou. E parte da imprensa está feliz como pinto no lixo!

Voltei! E como!

Certa imprensa está feliz como pinto no lixo! Aliás, cabe a metáfora mesmo, não a comparação: É pinto no lixo. Ela estava com saudade do demiurgo; não via a hora de aquela doce e acolhedora boçalidade lhe confortar o espírito. Promoveu uma distorção canalha, absurda, do artigo escrito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para levantar a bola na rede para o Apedeuta — que, obviamente, foi lá e cortou.

Em seu artigo, FHC escreveu o que deveria ser óbvio a qualquer humano que ande com os membros superiores longe do chão: o PSDB — a oposição de modo geral — não tem de disputar o mercado de idéias com o PT, o que não quer dizer abandoná-lo, menosprezá-lo ou coisa assim. Partidos escolhem a “parte” da sociedade com a qual pretendem propor questões gerais para a sociedade. Só o fascismo e o comunismo são totalizantes — o que quer dizer, no caso, que são totalitários. Mais: resta evidente do conjunto que o ex-presidente se refere a mecanismos de cooptação.

Mas quê! A canalha intelectual, moral e ideológica saiu urrando: “FHC não quer saber do povão!” Os mais vigaristas mesmo ainda disseram: “Não é que eu ache isso, mas vão dizer isso…” Ah, bom!

Na Inglaterra, depois de faturar uns R$ 200 paus da Telefônica, o Demiurgo Apedeuta não teve dúvida: deu seqüência ao trabalho iniciado pelas franjas do seu partido nas redações:
“Eu. Sinceramente. não sei o que ele quis dizer. Nós já tivemos políticos que preferiam cheiro de cavalo que o povo. Agora tem um presidente que diz que precisa não ficar atrás do povão, esquecer o povão. Eu sinceramente não sei como é que alguém estuda tanto e depois quer esquecer do povão”.

Eis aí. Tem o padrão Lula na gramática, na fineza de raciocínio e na honestidade intelectual. Um documento que deveria servir ao debate, que não faria mal nenhum ao país, serviu para reforçar posições do establishment. Os reacionários não aceitam debater coisa nenhuma. Hoje, no Estadão, o ex-presidente esclarece, como se precisasse, o que quis dizer em seu artigo.

A boçalidade brasileira é tal, especialmente em áreas da imprensa, REITERO ISSO,  que um artigo precisa agora conter nota de rodapé para explicitar não uma referência teórica, não uma citação histórica, não uma baliza do pensamento. É preciso explicar o óbvio!

Depois de faturar a sua grana em nome do “povão”, Lula foi se encontrar com Hobsbawm, o penúltimo marxista, segundo quem a América Latina, o Brasil em particular, é o único lugar em que ainda se discute política segundo critérios do século 19. É verdade!

Mas Lula ganha um dinheirão segundo a lógica do século 21! Aliás, não fosse a privatização da telefonia promovida pelo governo FHC, ele não estaria lá engordando o caixa com a Telefonica, em Londres. Ele era contra, não é mesmo?

Mas por que teria amor à coerência quem não tem o menor amor à verdade?

Por Reinaldo Azevedo
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