A permanência de Palocci no governo enfraquece Dilma e o governo; chegou a hora de sair
Palocci deveria ser a solução. E hoje ele é o problema.
Palocci deveria ser a estabilidade. E hoje ele desestabiliza.
Palocci deveria ser o que cobra explicações. E hoje ele é incapaz de se explicar.
Palocci deveria ser o negociador. E hoje outros negociam a sua sobrevivência.
Palocci deveria ser a voz de Dilma. E hoje é Dilma quem tem de falar por ele.
Palocci deveria ser o que sugere demissões. E hoje sugerem a sua saída.
Por isso tudo, ele deveria cair fora. Um grande futuro o aguarda. Já chego lá.
O ministro, em suma, já é carne queimada. Sua agonia paralisa a administração; sua demissão certamente seria um tanto traumática, mas muito pior para o governo, não tenham dúvida, será a sua eventual sobrevivência. O ministro que está vagando em busca de alguma explicação verossímil, já que as tais cláusulas de confidencialidade o impedem de dizer a verdade, não será, nessa hipótese, nem sombra daquela figura a um só tempo mundana (e como!) e hierática, que encarnava múltiplas garantias. Para os mercados, ele era o anteparo contra os arroubos intervencionistas do PT; para os democratas, ele era a proteção de civilidade contra as esquerdas do partido e Zé Dirceu; para os que cultivam os bons costumes na política, ele era o fator de contenção dos apetites do PMDB; para os que estão certos — e estão certos! — de que Dilma Rousseff não é do ramo, ele era, em suma, a melhor possibilidade de que pudesse haver um governo.
Para tanto, no entanto, Palocci teria de ser Palocci no melhor de sua forma, depois de ter renascido das cinzas, num caso raro de político que consegue ressuscitar ainda mais poderoso do que quando morreu. Mas ele, a gente percebe, gosta de ser ousado com a própria sorte. Continuasse deputado, a revelação de seu formidável desempenho como “consultor” geraria certamente estranhamento, mas a pressão, por razões óbvias, seria muito menor. Passaria depresa. Ocorre que ele está no coração do poder. E está de uma forma que não chega a ser nada lisonjeira com Dilma e diz muito sobre a estatura da presidente: PALOCCI É O GOVERNO.
Por isso mesmo, esse governo, que já não era exatamente um exemplo de dinamismo, parou. Dilma luta desesperadamente para retomar a tal “agenda positiva”, mas as rodas do carro patinam, e a máquina não anda; fica ali, “palocciando” no mesmo lugar. E não porque, como quer o ministro Paulo Bernardo (Planejamento), a imprensa tenha agenda. E não porque a oposição lidere uma grande conspiração — convenham, ela não urdia planos maquiavélicos nem quando era maior. Desta feita, as armas celebrizadas por Franklin Martins não surtiram efeito.
Palocci aposta a sua sobrevivência num parecer do Procurador Geral da República, dado como certo, de que nada há a investigar. Pretende usar essa avaliação como evidência de sua lisura. Vai colar? É o que lhe resta, já que ele não explica nada porque nada há a explicar sem a exibição da lista de clientes para os quais trabalhou. Seu silêncio não é uma escolha, mas uma necessidade.
O que mais ele tem a dizer que já não tenha dito com a sua mudez? No máximo, pode acusar a oposição de fazer uma “exploração política” do caso, como se isso fosse impróprio ou ilegal. Em todo o mundo democrático, oposições fazem exatamente isto: exploração política dos erros cometidos pelo governo e pelos governantes.
Eu não tenho simpatia nenhuma pelo governo Dilma, como sabem, mas entendo que a paralisia é ruim para o país e para o conjunto dos brasileiros. Eliminar o fator da instabilidade é uma obrigação do governante, tarefa indeclinável de quem ocupa a cadeira presidencial. A manutenção de Palocci concorre para fragilizar a figura da própria mandatária, como se ela fosse uma espécie de refém do seu homem forte. A Dilma tão disposta a endurecer com os pequenos proprietários rurais, chamados de “desmatadores”, dever demonstrar autoridade no caso Palocci e deixar claro que está no comando. E a única maneira de fazê-lo e demitindo aquele que não tem mais o que explicar sem nunca ter se explicado.
Quanto ao ainda, um belíssimo futuro o aguarda na iniciativa privada. Ele já provou que seus conselhos valem ouro. A primeira demissão de Palocci lhe rendeu muitos milhões. A segunda tem potencial para dobrar a sua fortuna. Que ele faça justiça com os seus herdeiros e com o conjunto dos brasileiros e permita que o país caminhe.
Afinal, o Brasil parou só porque Palocci não pode divulgar a lista de seus “clientes”.