Concedi uma entrevista ao “Novo Jornal”, de Natal, sobre aquela vigarice intelectual e ideológica que o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) fez com um texto meu. É aquela entidade federal que atribuiu a Camões o que o poeta português nunca escreveu. Até agora, não há nem mesmo uma correção na sua página oficial na Internet. Segundo resposta da pró-reitora de educação ao Novo Jornal, o IFRN aguarda uma resposta do MEC para decidir o que fazer. Que resposta? Por acaso o maiúsculo Fernando Haddad agora decide o que Camões escreveu ou deixou de escrever?
Seguem as perguntas e as respostas da entrevista, publicada neste domingo.
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NJ: VOCÊ VAI PROCESSAR O IFRN PELOS ERROS QUE CITA EM RELAÇÃO AO TEXTO QUE O INSTITUTO USOU NUMA PROVA PARA A CONTRATAÇÃO DE PROFESSORES?
REINALDO AZEVEDO: Não! É irritante um autor constatar que lhe atribuem aquilo que não escreveu, contra a letra expressa do seu artigo, mas tenho mais o que fazer do que processar um instituto incompetente. Acredito que os candidatos eventualmente prejudicados devem fazê-lo. Os erros ou a má fé ideológica do instituto podem interferir na sua vida. Eu tenho como me defender da maledicência.
POR QUE VOCÊ ATRIBUI OS ERROS NAS PROVAS A PERSEGUIÇÃO IDEOLÓGICA?
Não é perseguição. Eu não me sinto perseguido por ninguém. O perseguido é alguém acuado. Ninguém me acua porque eu não deixo. A melhor expressão é “patrulha ideológica mesmo”. Basta ler as alternativas para constatar que tentam me caracterizar como um reacionário, que não aceita mudanças. Aí, como não gostam de mim, tentaram me desqualificar apontando o que seria um erro meu ao comentar a sintaxe de Os Lusíadas. Só que eu estou certo, e eles, errados. Faço questão de registrar: eles podem achar de mim o que lhes der na telha; não dou a mínima, mas não podem me atribuir o que não escrevi e prejudicar candidatos por isso.
PARA VOCÊ, O PT ESTARIA POR TRÁS DISSO?
O PT cuida do Ministério da Educação; responde por uma política de nivelamento por baixo no que respeita à qualidade. Quanto ao exame em particular, pouco me importa se é PT, PC do B, PSOL, PCC ou Comando Vermelho. Que é patrulha “esquerdopata”, disso não tenho dúvida. O “esquerdopata”, para deixar claro, é um sociopata de esquerda.
NATAL VIVEU NOS ÚLTIMOS DIAS UMA MANIFESTAÇÃO INÉDITA. ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS ACAMPARAM NA CÂMARA MUNICIPAL E PEDIRAM O IMPEACHMENT DA PREFEITA MICARLA DE SOUSA. COMO VOCÊ VIU ESSE MOVIMENTO?
São as esquerdas de sempre disfarçadas de povo. É uma violência contra a ordem democrática. Se existem problemas, que se busquem os caminhos legais, o que não prevê a invasão de prédios públicos. Alguns bananas no Brasil estão achando que vivemos sob uma ditadura egípcia e que é preciso ocupar a Praça Tahir.
QUAL ANÁLISE VOCÊ FAZ DO GOVERNO DILMA ROUSSEFF PÓS-SAÍDA DO PALOCCI?
Acho que as indicações recentes, todas elas, evidenciam um governo perdido, sem eixo e sem senso de prioridade. Ainda não decidi se as Relações Institucionais são uma derivação do Ministério da Pesca ou se o Ministério da Pesca é que é uma derivação das Relações Institucionais. Foi uma tentativa do marketing, caracterizando o governo como o Clube da Luluzinhas Decididas. É uma bobagem.
A VEJA É CONSIDERADA PELA ESQUERDA UM VEÍCULO QUE ESTARIA A SERVIÇO DA DIREITA. A QUE VOCÊ ATRIBUI ESSAS CRÍTICAS E COMO VOCÊ E OS DEMAIS PROFISSIONAIS DA EMPRESA REAGEM A ISSO?
Se é que isso existe, a resposta está dada na sua pergunta. Eu não me importo com o que a esquerda e a direita dizem a meu respeito. Também nunca notei qualquer preocupação da VEJA nesse sentido.
COMO VOCÊ VIU A LIBERAÇÃO DAS MARCHAS DA MACONHA PELO STF E A POSIÇÃO DO EXPRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO PRÓ-LEGALIZAÇÃO (*) DA DROGA?
Começo por FHC: eu o considero o presidente mais importante da história do Brasil - já expliquei por que está acima de Getúlio Vargas, para citar um mito. No que diz respeito às drogas, a divergência é grande. E também já expus os meus motivos. Quanto ao Supremo, tomou-se uma decisão em desacordo com o Artigo 287 do Código Penal, que considera crime a apologia de um ato caracterizado como crime. Decidiram os ministros: “Defender a mudança da lei não é apologia”. Bem, se a marcha se limitasse à defesa do debate, não seria mesmo. Mas isso é falso. A apologia é descarada. É a segunda vez que o Supremo vota por unanimidade - havia apenas 8 ministros; unanimidade dos presentes - contra o que está disposto num código legal. A Constituição diz que união civil é aquela celebrada entre homem e mulher. Ressalvadas as disposições de natureza subjetiva, homem tem pênis, e mulher, vagina - ainda que não gostem disso, mas esse é outro problema. Eu sou favorável à união civil e até à adoção de crianças por pares homossexuais. Ocorre que o Supremo jamais poderia ter reconhecido a igualdade da união civil, dada a Constituição que temos. Aquele é um tribunal constitucional. Tem de se ater à Carta. O mesmo vale para o Código Penal.
REINALDO AZEVEDO É A FAVOR DA OBRIGATORIEDADE DO DIPLOMA PARA O EXERCÍCIO DO JORNALISMO?
Absolutamente não! Sou favorável a jornalista alfabetizado, com ou sem diploma. Eu tenho dois. Os que me detestam não devem atribuir os meus defeitos a eles. Os que gostam de mim não devem, igualmente, atribuir aos diplomas as minhas eventuais qualidades. Diploma deve ser exigido de profissões de natureza técnica, que requeiram uma perícia que o indivíduo não pode adquirir por sua própria conta: medicina, engenharia, odontologia etc. Eu não permitiria que alguém que não tivesse estudado medicina abrisse a minha barriga, mas posso ler com prazer um texto de alguém que nunca tenha freqüentado uma faculdade de jornalismo ou letras. Ninguém deve aprender a operar abdômenes na base da tentativa e erro. Esse negócio de diploma foi, inicialmente, uma imposição da ditadura para tentar fazer uma peneira ideológica na imprensa e, depois, virou uma agenda da esquerda para continuar a fazer peneira ideológica, só que, no caso, com sinal invertido, já que as escolas de jornalismo estão coalhadas de esquerdistas incompetentes, incapazes de escrever um lead compreensível, mas que adoram satanizar a “grande imprensa.
(*) Registre-se, só para que as coisas fiquem nos termos exatos, que FHC se disse favorável à descriminação da maconha, não à legalização das drogas.