Dilma decidiu censurar o pecador, mas abrigar o pecado. É uma opção desastrosa!, por Reinaldo Azevedo

Publicado em 04/07/2011 19:17 e atualizado em 04/07/2011 22:06
dos blogs de Reinaldo Azevedo e Augusto Nunes, em veja.com.br

Dilma decidiu censurar o pecador, mas abrigar o pecado. É uma opção desastrosa!

Uma das boas máximas do cristianismo é  combater o pecado, mas não o pecador; é censurar o vício, mas abrigar aquele que se deixou seduzir pelo diabo… Mas há uma condição: é necessário que ele não peque mais - se não for assim, o perdão se torna um fator de corrupção moral. Dito isso, leiam o que informa Luciana Marques na VEJA Online. Volto em seguida:

A presidente Dilma Rousseff sinalizou nesta segunda-feira que manterá no cargo o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, apesar dos casos de corrupção na pasta, mostrados na edição de veja desta semana.Dilma se reuniu pela manhã com o ministro em Brasília e mandou o seguinte recado, por meio de nota oficial: “o governo manifesta confiança no ministro, que será responsável pela apuração das denúncias.” No sábado, a presidente afastou quatro integrantes da pasta envolvidos em um esquema de pagamento de propina para caciques do Partido da República (PR) em troca de contratos de obras. Manteve, no entanto, Alfredo Nascimento no cargo, ocupado por ele desde 2004. Dilma exigiu que o ministro apurasse os fatos revelados por VEJA.

Voltei
Dilma é, sim, a chefe dos sacerdotes, mas de uma religião chamada “bem público”, que repudia certas acomodações. Quando a presidente afasta toda a cúpula do Ministério dos Transportes, está combatendo os corruptos - e faz muito bem! Quando mantém o ministro Alfredo Nascimento, com nota pública de apoio, está passando a mão na cabeça da corrupção, ainda que ele seja inocente como as flores. Nesse sentido, faz o contrário do que recomenda a ética cristã: condena apenas os pecadores, mas flerta com o pecado. Quando Dilma põe na rua os larápios, faz uma aposta na moralidade; quando mantém o ministro, pensa apenas na sua base de apoio. Se manter a base de apoio vira o oposto da moralidade, então a presidente está com um grave problema - e o país mais ainda.

Depois daquela desastrada e desastrosa nota do patriota Valdemar da Costa Neto (ver posts abaixo), não há menor dúvida. Ele confessou que o ministério serve principalmente aos interesses do partido; que reuniões entre servidores que deveriam atender ao público são mantidas com quadros partidários para satisfazer os interesses da legenda. Há muito eu não via uma confissão tão descarada de uso da máquina pública em favor de um grupo. No Brasil, o chefe da tropa é Valdemar; no ministério, Nascimento.

Dilma agiu com rapidez ao demitir a cúpula da pasta. E tomou uma decisão lastimável ao manter o ministro. Vamos ver até quando ele se segura no cargo.

Por Reinaldo Azevedo

Ainda bem que PSDB decidiu não ficar em cima da ponte… Ou: Quem é de confiança de quem?

A oposição decidiu cumprir o seu papel - que não é ficar namorando Dilma em cima da ponte (ver post desta manhã) - e agir. Informa a VEJA Online:
“Nesta terça-feira, o PSDB encaminhará uma representação ao Ministério Público Federal (MPF) e à Polícia Federal (PF) solicitando a abertura de investigações sobre o caso, um pedido de auditoria especial para o Tribunal de Contas da União (TCU) e um requerimento de convocação do ministro da  Controladoria Geral da União (CGU), Jorge Hage, para depor na Câmara dos Deputados. “Se ela não tiver confiança nele, já deveria ter o tirado do cargo. Agora, o que nos surpreende é a proximidade quase umbilical dessas quatro pessoas afastadas com o ministro. Certamente ele não desconhecia o aumento do orçamento das obras”, afirmou o líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP).”

É o mínimo, não?, dado o que já se sabe. Políticos do PR  saíram em defesa de Nascimento. Na Folha Online, lê-se o que segue:
Os senadores do PR Magno Malta (ES) e Clésio Andrade (MG) defenderam a apuração das denúncias, até mesmo por meio de uma CPI, mas pouparam sempre a figura de Nascimento.  ”O ministro Alfredo Nascimento é de toda confiança nossa, do PR. Não podemos misturar algumas possíveis situações que possam ter ocorrido abaixo dele como [sendo] responsabilidade dele”, afirmou Andrade.

Malta disse que é preciso “apurar tudo” e afirmou que às 17h desta segunda-feira terá uma reunião com o ministro. Na condição de líder do PR no Senado, ele vai emitir uma nota pedindo que a Procuradoria-Geral da República e o Tribunal de Contas da União investiguem as denúncias.  ”O ministro para nós é um sujeito digno e tem o nosso apoio, até que se prove o contrário. Agora, penso que o próprio ministro, de punho, ou todos os outros, devem se manifestar para as autoridades, pedindo que investigação seja feita”, afirmou Malta. A fala do senador não esclarece quem são “todos os outros”.

Voltei
Eu não tenho a menor dúvida de que Nascimento é uma pessoa corretíssima para os padrões do PR. Ninguém põe isso em dúvida. Se não fosse, o secretário-geral do partido não seria Valdemar da Costa Neto, que, segundo a Procuradoria-Geral da República, praticou formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção passiva.

Reitero: Valdemar já entregou o serviço. Os patriotas do Ministério dos Transportes se reuniam com representantes do partido para tratar de assuntos que eram do interesse da legenda. Sob o comando de Nascimento. Ele é de confiança do PR, sim; não merece é a confiança do país.

Por Reinaldo Azevedo

Não tentem saber quais são as nossas fontes; trabalhem!

Este blog se dedica a alguns temas de maneira especial. Um deles é a reflexão sobre o próprio jornalismo, suas implicações, manias, adernamento ideológico etc. Desde que sou leitor da VEJA, jamais li qualquer texto na revista tentando especular sobre as fontes de outros veículos. Nunca! Desde que meu blog está hospedado no site da revista, jamais recebi qualquer estímulo nesse sentido. Já o que alguns coleguinhas gostam de especular sobre as fontes de VEJA é uma coisa fabulosa! Nunca vi isso! Daqui a pouco teremos repórteres especializados em fazer reportagem sobre as reportagens de VEJA. Ah, tenham paciência!

A tese do momento é que a celeridade com que Dilma fulminou a cúpula do Ministério dos Transportes indica que a fonte da revista pode ter sido o próprio governo. Huuummm… Vão morrer na curiosidade. A Constituição protege o sigilo da fonte. Parece-me, e espero que assim seja ao menos, que uma presidente da República não precisa da ajuda de uma revista para fazer a coisa certa - ou nem tão certa assim: enquanto Alfredo Nascimento continuar nos Transportes, já escrevi aqui, Dilma combateu pecadores, mas adulou o pecado.

Há duas semanas, VEJA noticiou que o petista Expedido Veloso, peça-chave no tal esquema dos aloprados, afirmara em conversa com petistas que Aloizio Mercadante havia sido um dos comandantes da lambança. A VEJA Online pôs a gravação no ar. Pois não é que alguns jornalistas  se referiam à fala de Veloso como “suposta afirmação” e “suposta acusação”? Suposta??? Agora, no caso do Ministério dos Transportes, dada a celeridade com que a presidente reagiu, ninguém se aventurou a pôr a coisa em dúvida. Parece que há uma parte da imprensa que precisa de um visto dado por alguma autoridade petista para admitir que o problema existe. De resto, os acusados são  ligados ao PR, né?, uma gente que parece compatível com o ilícito. Já a reportagem dos aloprados envolvia pessoas éticas como Aloizio Mercadante e Ideli Salvatti, petistas…

VEJA é o que é e por isso tem a importância que tem. Atuou com a mesma responsabilidade nesse caso como naquele envolvendo Mercadante e Ideli - ou num outro, sobre Erenice; ou naquele mais antigo, sobre o grampo no Supremo; ou naquele outro ainda, sobre… Escolham aí.

Por Reinaldo Azevedo

Marina Silva já compete com Pelé e Sílvio Caldas. Ou: O messianismo narcisista

A despedida de Marina Silva do PV ainda acabará sendo mais longa do que a de Pelé do futebol e a de Silvio Caldas da música. A diferença nada ligeira é que um era Pelé, e o outro, além de ser Caldas, chama-se Silvio Narciso… Não sei se entenderam o chiste…

Leio no Estadão o que segue. Volto depois:
Por Daiene Cardoso:
A ex-senadora Marina Silva anunciará oficialmente sua saída do PV na próxima quinta-feira, 7, em São Paulo. Os “marineiros” começaram a receber nesta segunda-feira, 4, os convites para o “Encontro por uma nova Política”, que deve reunir, além da ex-presidenciável, os empresários Guilherme Leal e Roberto Klabin, o ex-candidato ao Senado por São Paulo Ricardo Young, o ex-candidato ao governo de São Paulo Fábio Feldmann, o deputado federal Alfredo Sirkis (RJ), o ex-candidato ao governo do Rio de Janeiro Fernando Gabeira, o ex-coordenador da campanha do PV à Presidência da República João Paulo Capobianco e o ex-presidente do diretório do PV paulista Maurício Brusadin. O anúncio estava previsto inicialmente para acontecer na última terça-feira, 28, mas Marina foi convencida a adiar seu pronunciamento para o retorno de sua viagem à Alemanha, onde participou do congresso do Partido Verde alemão. Para alguns interlocutores, a participação da ex-senadora num evento do PV internacional poderia fortalecê-la no Brasil e forçar um acordo com a ala do presidente do PV nacional, o deputado federal José Luiz Penna (SP). Nós últimos meses, o grupo de Marina vem travando uma guerra interna com os aliados de Penna pela democratização interna da sigla.

“Hoje temos o sentimento de que nós tentamos de tudo. Desejaríamos que o PV mudasse. Agora temos que respeitar os colegas que vão continuar lutando lá. Mas também há um sentimento de muito otimismo, tem muita gente nos procurando para participar deste debate”, contou Brusadin. Embora tenha saído das urnas com 20 milhões de votos e ajudado a eleger 14 deputados federais, poucos (entre eles Alfredo Sirkis) devem acompanhar Marina Silva. O motivo, de acordo com Brusadin, é o calendário eleitoral de 2012 e o fato de terem sido eleitos pelo PV em 2010 e não se sentirem seguros para deixar o partido. “É natural que eles tenham que ficar, nós não estamos dando uma alternativa para eles agora (nova legenda). É evidente que a grande maioria tinha de ficar. Agora eles precisam fazer um cálculo eleitoral olhando para o calendário”, justificou.

Eleições
Há dúvidas também se, mesmo apoiando o ato político de Marina, Fernando Gabeira vai anunciar sua saída do PV. Gabeira tem pretensões eleitorais para 2012, assim como Eduardo Jorge (secretário municipal do Verde em São Paulo), que é cogitado pelo PV para disputar a Prefeitura de São Paulo. Ambos precisam de uma legenda para disputar as eleições municipais. “O Eduardo (Jorge) tem o mesmo problema do (Fernando) Gabeira. É complexa a situação deles”, comentou Brusadin. “Mas os que vão ficar, ficarão de forma crítica”, ressaltou.

Comento
Fico muito impressionado com a inimputabilidade de Marina, especialmente na imprensa. Ainda bem que ela é tão narcisista, mas tão narcisista, que, diante de uma vontade não-satisfeita, cai fora. Fosse um temperamento mais tolerante, um dia o Brasil teria problemas… Marina está minando a reputação do PV, de forma sistemática, há uns três meses. O seu desligamento do partido, por exemplo, já dura um mês. Não basta sair: é preciso queimar e salgar o solo.

Se vocês pensarem um pouquinho, verão que foi isso o que ela fez com a reputação verde do petismo, até então o partido mais identificado com  a causa. Ela privatizou a questão; passou a ser a dona da agenda. E se transformou no aiatolá Khomeini do “verdismo”. Ou as coisas são como ela quer, bagre por bagre, batráquio por batráquio, ou nada feito! Ainda bem! O comportamento “egótico” (se me permitem…) de Marina livra-nos, como diria o poeta, de “diabólicos azares”. Esta senhora mobiliza fiéis, não aliados - e isso não é uma alusão velada à sua condição de evangélica; estou entre aqueles que consideram a sua religião a sua maior qualidade. Curiosamente, é o único aspecto que a imprensa, que é anticristã na média,  censura nela

Marina só pode ser a dona de um partido; qualquer outro que lhe desse abrigo sabe que ou se submete às suas vontades ou será depredado, com a simpatia explícita do jornalismo, que jamais se interessou em saber se as idéias de Marina são viáveis, O que importa é saber que são idéias de uma pessoa boa, que só quer o nosso bem.

O nome disso é messianismo. E se trata de um estranho messianismo porque vigora entre indivíduos que, em outros assuntos, são até bem-informados. Estava outro dia num grupo de pessoas com formação universitária, gente competente em sua área. Lá pelas tantas, o Código Florestal começou a ser debatido. É impressionante! Os presentes tinham a certeza de que as florestas do Brasil estão acabando (mais de 60% do nosso território é coberto por elas; 70% conservam o bioma original) e que a agropecuária e as cidades tomam a maior parte do Brasil - só ocupam 27,5% do território.

Lancei os dados certos na conversa. Olharam-me céticos. O mais convicto insistia que eu estava errado. Eu posso ser chato às vezes. Arranquei o iPhone do bolso e pedi que fizesse uma pesquisa na Internet. Ele não insistiu. Mas tenho a certeza de que nem se convenceu nem vai procurar se informar melhor.

Marina é a responsável pela popularização de mentiras grosseiras sobre o meio ambiente brasileiro. Seus fiéis saem hoje por aí demonizando as usinas nucleares, as hidrelétricas e as termelétricas. No lugar, com o ar mais parvo do mundo, falam sobre energia eólica, como se fosse coisa fácil, barata e viável economicamente. Logo vão pedir que os brasileiros acendam a luz soltando “pum”. A campanha para fazer xixi no chuveiro já é um sucesso! Algumas pessoas que preferem ser boas a ser justas, dizem: “Ah, mas, ao menos, ela ajudou a popularizar a causa verde”. Uma coisa é tornar popular a idéia de preservação da natureza, o que é, em si, coisa boa; outra, distinta, é demonizar o desenvolvimento, coisa que os marinistas dizem não fazer… enquanto fazem…

Definitivamente, não gosto de sua abordagem. Toda vez que a vejo, é como se liderasse uma espécie de séquito de pessoas anunciando, com ar grave, o fim do mundo, a menos que sigamos as palavras da profeta.

Por Reinaldo Azevedo

FHC: “Eu devo a Itamar; foi ele quem abriu espaço para o obscuro político, que era sociólogo, não era economista”

Do Portal G1:

Políticos e autoridades acompanham o velório do senador e ex-presidente Itamar Franco na tarde desta segunda-feira (4) no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte. A presidente da República, Dilma Rousseff, chegou ao velório por volta das 13h45 e saiu às 14h25. A visitação, que começou por volta de 12h30, foi interrompida por conta da chegada da presidente, mas foi retomada por mais alguns minutos após a saída de Dilma e acabou encerrada definitivamente às 14h45. Entre as autoridades, estavam presentes o governador de Minas, Antonio Anastasia (PSDB); o senador e ex-governador mineiro Aécio Neves (PSDB); o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB); o atual governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB); o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB); o senador Eduardo Suplicy (PT-SP); o ex-deputado Ciro Gomes (PSB-CE) e o prefeito de Belo Hozironte, Márcio Lacerda (PSB).

Fernando Henrique afirmou que Itamar “não se deixou fascinar pelo poder”. “Minhas primeiras palavras são de saudade. Foi um choque que eu tive ao saber da morte dele. Ele sempre foi um homem simples no modo de viver, falar e relacionar. Ele não se deixou fascinar pelo poder. A ética dele vai fazer falta. Eu devo ao Itamar porque foi ele quem abriu espaço ao obscuro político, que era sociólogo, que não era economista. Eu choro de saudade dele e o Brasil também chora”, disse FHC.

O senador Aécio Neves afirmou que Itamar foi “exemplo de retidão de moral e princípios”. “Os mineiros o homenagearam nas últimas eleições levando ao Senado. Ele sempre teve uma posição de lealdade para com o Brasil”. Anastasia disse que “Minas Gerais perde a sua grande reserva moral”. “Minas está de luto porque perdeu a sua terceira personalidade na política. Foi o ex-vice-presidente José de Alencar, o senador Eliseu Rezende e, agora, Itamar Franco.”

José Serra disse que “o país, o Senado e o Congresso Nacional perderam um grande parlamentar”. Alckmin afirmou que o ex-presidente deixa “exemplo de caráter, de coragem, de destemor e inovação”.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

Da coluna  Direto ao Ponto, de Augusto Nunes:

Na China, a nova ponte do Guaíba seria o caminho mais curto entre o Ministério dos Transportes e a penitenciária

Há uma semana, o governo da China  inaugurou a ponte da baía de Jiaodhou, que  liga o porto de Qingdao à ilha de Huangdao. Construído em quatro anos, o colosso sobre o mar tem 42 quilômetros de extensão e custou o equivalente a R$2,4 bilhões.

Há uma semana, o DNIT escolheu o projeto da nova ponte do Guaíba, em Ponte Alegre, uma das mais vistosas promessas da candidata Dilma Rousseff. Confiado ao Ministério dos Transportes, o colosso sobre o rio deverá ficar pronto em quatro anos. Com 2,9 quilômetros de extensão, vai engolir R$ 1,16 bilhões.

Intrigado, o matemático gaúcho Gilberto Flach resolveu estabelecer algumas comparações entre a ponte do Guaíba e a chinesa. Na edição desta segunda-feira, o jornal Zero Hora publicou o espantoso confronto númerico resumido no quadro abaixo:

Se o Guaíba ficasse na China, a obra seria concluída em 102 dias e custaria cerca de R$ 170 milhões. Se a baía de Jiadhou ficasse no Brasil, a ponte não teria prazo para terminar e provavelmente seria calculada em trilhões. Como o Ministério dos Transportes está arrendado ao PR, o País do Carnaval abrigaria o partido mais rico do mundo.

Depois de ter ordenado o afastamento dos oficiais, aí incluído o coronel do DNIT, Dilma Rousseff parece decidida a preservar o general. “O governo manifesta sua confiança no ministro Alfredo Nascimento”, avisou nesta segunda-feira uma nota da Presidência da República. “O ministro é o responsável pela coordenação do processo de apuração das denúncias feitas contra o Ministério dos Transportes”. Tradução: em vez de demitir o chefe mais que suspeito, Dilma encarregou-o de  investigar os chefiados.

Corruptos existem nos dois países, mas só o Brasil institucionalizou a impunidade. Se tentasse fazer na China uma ponte como a do Guaíba, Alfredo Nascimento daria graças aos deuses se o castigo se limitasse à demissão.

O Bolsa Família dos Bilionários

A reação negativa provocada pela notícia de que o BNDES resolveu abençoar com R$4 bilhões a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour pode ter matado, ainda no berço, o mais audacioso programa social entre todos os que ajudaram a construir o Brasil Maravilha registrado em cartório.

Como Lula acabou com a pobreza, como Dilma já começou a acabar com a miséria, como a classe média existe para pagar as contas do governo, só faltava o programa que ─ aperfeiçoado depois do teste bem sucedido com Sílvio Santos ─ seria lançado oficialmente com a entrega do dinheiro e de um diploma a Abílio Diniz.

É o Bolsa Família dos Bilionários.

Eles acharam que estava tudo dominado

“Está tudo dominado”, costumam lastimar-se muitos comentaristas da coluna. É compreensível a sensação de impotência provocada pela impunidade dos corruptos, pela cumplicidade ativa ou passiva dos três Poderes, pela voracidade da aliança governista, pela pilhagem sistemática dos cofres públicos, pela mansidão bovina da maioria do eleitorado ─ enfim, pela paisagem política desoladora. Mas não está tudo dominado.

A frase que dá por consumado o triunfo dos fora-da-lei será apenas um verso derrotista enquanto existirem imprensa livre e milhões de brasileiros capazes de indignar-se com denúncias consistentes. Se tudo estivesse dominado, Antonio Palocci, por exemplo, ainda seria chefe da Casa Civil. O governo fez o que pôde para proteger o reincidente incurável. Acabou por render-se aos homens honestos inconformados com a nova safra de patifarias.

Se estivesse consumado o triunfo dos vilões, a quadrilha que age há meses no Ministério dos Transportes não começaria a ser desbaratada horas depois que seus integrantes foram identificados por uma reportagem de VEJA. Nomeados pelo ministro Alfredo Nascimento, presidente do PR, e sob o comando do deputado Valdemar Costa Neto, um dos mais gulosos protagonistas do escândalo do mensalão, os quadrilheiros instalados na cúpula do ministério abasteceram o caixa do partido e as próprias contas bancárias com bilhões de reais desviados dos cofres públicos.

Certamente por achar que está tudo dominado, o bando abusou dos métodos de sempre ─ obras sem licitação, contratos superfaturados, barganhas com empreiteiros e empresas fantasmas, fora o resto. Na manhã deste sábado, quatro chefões souberam que estavam desempregados numa conversa por telefone com Alfredo Nascimento, o ex-ministro de Lula que recuperou a vaga no primeiro escalão por ter naufragado na disputa do governo do Amazonas. Veterano frequentador do noticiário político-policial, ele continua a fazer de conta que não sabia de nada. A pose de inocente não combina com o prontuário. E colide com depoimentos que amparam a denúncia de VEJA.

Há dias, Nascimento alegou “compromissos inadiáveis” para ausentar-se da reunião em que Dilma quis saber dos figurões do ministério por que todas as cifras que administram estavam “insufladas”. (Insuflar: é isso o que faz, na novilíngua do Planalto, quem acumula um himalaia de bandalheiras. Mas isso é tema para outro post). A presidente foi dispensada por VEJA de convocar outro encontro para cobrar as respostas: a edição desta semana desvendou o claro enigma.

Com argumentos de sobra para livrar-se dos “insufladores”, Dilma tem o dever de prosseguir a faxina com a imediata demissão do ministro. Ainda convalescendo da afronta estrelada por Palocci, o país não merece ficar outros 20 dias esperando que Alfredo Nascimento se anime a gaguejar algum álibi, ou tente explicar o inexplicável.

(por Augusto Nunes)

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Fonte:
Veja.com.br

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