A fantasia está pronta. Só falta o trono, por Augusto Nunes

Publicado em 23/07/2011 16:52
da coluna Direto ao Ponto, no blog Augusto Nunes, e do blog Reinaldo Azevedo, em veja.com.br

A fantasia está pronta. Só falta o trono

Em 30 de março deste ano, quando foi promovido pela Universidade de Coimbra a doutor honoris causa, a pose de Lula com o capelo informou  que, a partir daquele momento, a Presidência da República seria pouco para o maior dos governantes desde Tomé de Souza.

Nesta sexta-feira, a fantasia de monarca africano usada na festa em que virou doutor também pela Universidade Federal de Pernambuco desvendou de vez o enigma: assim que a Odebrecht acabar de construir o trono, o ex-presidente vai proclamar-se Imperador do Brasil.

O abismo que separa um democrata exemplar de um caudilho vocacional

Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva travaram nesta sexta-feira um duelo involuntário na internet. Lançada cinco dias antes com um vídeo de 4 minutos em que Lula exalta os próprios feitos, a página do Instituto Cidadania festejou os três títulos de doutor honoris causa obtidos no Nordeste e seguiu destacando a agenda do palanque ambulante. Na estreia doObservador Político, FHC resumiu num vídeo de menos de 3 minutos os objetivos do site: estimular a participação da sociedade no debate de questões políticas e de temas como democracia digital, meio ambiente ou drogas.

Vejam e comparem. As diferenças vão muito além do traje sóbrio e da fantasia de monarca africano. Escancaram com penosa nitidez o abismo que separa um democrata exemplar de um caudilho vocacional.

Lula capricha na pose de inocente enquanto trata de afastar-se do local do crime

Desde a descoberta da quadrilha em ação no Ministério dos Transportes, o ex-presidente Lula imita o punguista que capricha na pose de inocente enquanto se afasta da vítima para descer do ônibus no primeiro ponto. A expressão de culpado sem culpa não convence nem passageiros que estão cochilando. Até um bebê de colo sabe que a parceria com o PR é mais uma das incontáveis obras repulsivas que compõem a verdadeira herança maldita.

Foi Lula quem doou a Valdemar Costa Neto, ainda em 2002, o Ministério dos Transportes. Na infame reunião sigilosa que deu origem ao esquema do mensalão, o candidato ganhou o vice José Alencar em troca dos direitos de exploração da usina de contratos superfaturados e negociatas multimilionárias. Foi Lula quem descobriu, em 2004, que Alfredo Nascimento era o homem certo para o comando do território sem lei. Ficou tão satisfeito com a performance do ministro meliante que o reinstalou no cargo no segundo mandato e exigiu de Dilma Rousseff que ali o mantivesse.

Só agora, muitos dias depois de desbaratado o bando, o animador de auditório criou coragem para murmurar platitudes sobre mais um escândalo. Primeiro, balbuciou que a sucessora está agindo direito e mudou de assunto. Nesta quinta-feira, subiu o tom de voz dois ou três decibéis para fazer de conta que não tem nada com isso. ““Se as pessoas agirem com honestidade e com decência, todo mundo poderá ser absolvido”, recitou o Padroeiro dos Companheiros Pecadores. “Se cometeram erros, as pessoas devem ser punidas. Isso vale para a presidente Dilma, valia para mim e vale para qualquer um”.

O cinismo que jorra do palavrório é tão nauseante quanto previsível. Haja estômago para suportar um Lula discorrendo sobre honestidade e decência sem temer que um raio bíblico lhe caia sobre a cabeça. Mas nada tem de surpreendente ouvi-lo qualificar de “erros” os assaltos aos cofres públicos que se repetem em ritmo de Fórmula-1 há oito anos e meio, com as bênçãos do Planalto, e não têm data para terminar. Caso use as palavras certas ─ ladroagem, corrupção, roubalheira, fora o resto ─, Lula terá de admitir que nunca antes neste país um presidente da República juntou tantos bandidos no mesmo governo.

O Ministério dos Transportes é só mais um entre quase 40. O PR é apenas uma ramificação da imensa quadrilha federal.

(por Augusto Nunes)

O crime como uma categoria política

Os petistas dizem se preocupar tanto com a desigualdade social não por humanismo ou por senso de justiça, mas porque ela oferece um excelente pretexto para o estado autoritário e confere certo sentido moral às ilegalidades praticadas para a construção da hegemonia partidária. As misérias humanas — e a conseqüente necessidade de criar o novo homem  são o fundamento dos dois grandes totalitarismos do século passado: fascismo e comunismo. Ambos têm mais em comum do que gostam de admitir fascistas e comunistas.

Não existe regime de força que não tenha se instalado prometendo promover o bem comum. Aliás, as tiranias precisam esvaziar os indivíduos de todas as suas verdades e necessidades “egoístas” em nome da coletividade, que será representada por um partido ou por um condutor das massas  em certos casos, por ambos.

Todos nos fartamos do discurso de Luiz Inácio Apedeuta da Silva, que se apresentou como o “pai” do povo, saindo, como anunciava a propaganda eleitoral petista, para deixar em seu lugar a “mãe de todos os brasileiros”. Ditadores e candidatos a tiranos gostam da idéia de que são chefes de uma grande família, da qual esperam uma ativa e entusiasmada obediência. Afinal, “eles” sabem o que é melhor para “nós”, mergulhados que estamos em nosso egoísmo, comprometidos com uma visão parcial de mundo, sem entender, muitas vezes, as decisões que são tomadas para nos salvar… Quem de nós nunca discordou, afinal, a seu tempo, de uma decisão do pai ou da mãe? Impossível, no entanto, supor que agissem para nos prejudicar. Tampouco imaginávamos tomar para nós o lugar da autoridade. Pais e filhos não são  e nem devem ser  uma comunidade democrática, certo?

O PT se consolidou com a fantasia de que um partido  e, dentro desse partido, um homem, o pai  seria o porta-voz dos excluídos, que, afinal, estariam reivindicando a sua cidadania. De modo emblemático, Lula passou várias antevésperas de Natal em companhia dos catadores de papelão, tornados “cidadãos-recicladores”. Estava anunciando, diante de uma imprensa freqüentemente basbaque, que excluídos também são cidadãos, ainda que dentro de sua exclusão. Um líder e um partido, ungidos pela necessidade de “mudar o Brasil”, podem atropelar leis, moralidade, costumes, valores, tudo… Estão imbuídos de uma missão.

Apurem bem os ouvidos. Ouve-se já certo sussurro. Talvez se torne um alarido. Mas o que é isso? O que será que será que andam suspirando pelas alcovas e sussurrando em versos e trovas? O que será, que será que andam combinando no breu das tocas, que andam acendendo velas nos becos e já estão falando alto pelos botecos? O que será, que será que não tem conserto nem nunca terá? O que não tem tamanho… Cito este plágio que Chico Buarque fez de Cecília Meireles (Romanceiro da Inconfidência) para emprestar, assim, certa grandeza poético-dramática a mais uma conspiração dos petistas contra a moralidade, o dinheiro público, a decência e tudo o mais que vocês julgarem adequado a homens de bem.

Lula já fez saber ao mercado político que ele não concorda com a “execução sumária” dos patriotas do PR. E fez chegar a sua avaliação na forma de uma “preocupação”. Estaria temendo o isolamento de Dilma Rousseff. José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, afirmou ontem que vai avaliar se há motivos suficientes para a Polícia Federal abrir um inquérito para apurar as sem-vergonhices no Ministério dos Transportes. Já foram demitidas 16 pessoas da cúpula da pasta e do Dnit, mas ele está cheio de dúvidas. Tarso Genro (PT), atual governador do Rio Grande do Sul e chefe da Polícia Federal (era ministro da Justiça) quando se deu boa parte da bandalheira, saiu ontem em defesa de seu amigo Hideraldo Caron, um dos chefões do Dnit, mantido até agora no cargo. Ele é petista. Tarso deixou claro: se o homem fez algo de errado, não foi em benefício pessoal.

É a primeira vez que se ouve voz assim no PT? Claro que não! Nem é necessário remontar ao mensalão. Durante a crise que colheu Antonio Palocci, Gleisi Hoffmann, hoje sua sucessora, mas senadora à época (PT-PR), deixou claro que não conseguia defender o então ministro por uma razão simples: ele tinha agido apenas em defesa do próprio interesse. Ou seja: no caso do mensalão ou dos aloprados,  crimes foram cometidos em benefício do… partido! Nesse caso, tudo bem…

Setores do PT estão pedindo, em suma, que tudo fique como está. Seu esforço em favor da impunidade, no entanto, teria, sim, uma raiz ética, entendem? Insistir na investigação pode prejudicar o partido, a convivência com os aliados, a agenda que o governo tem pela frente, incluindo, obviamente, os pacotes sociais destinados a combater a miséria. Tarso chegou a indagar por que essas notícias só apareceram agora… Conhecedor da arte de desestabilizar governos (como experimentou Yeda Crusius), ele conspira em favor da impunidade ao sugerir que há uma conspiração contra os patriotas do Ministério dos Transportes…

Foi-se o tempo “esse-dinheiro-não-é-meu”, de Paulo Maluf! Mesmo para ele, o errado era “errado” e, por isso, negava tudo. Não há nada a favor desse emblemático político a não ser uma coisinha: nunca tentou chamar crimes de virtudes  negando, claro!, que os tivesse cometido. Com o petismo, é diferente: o roubo e a lambança em nome da causa têm um propósito superior. Fazer sacanagem para enriquecer é reprovável; para construir o partido, bem, aí é não só aceitável como pode distinguir o militante com uma medalha de “Honra ao Mérito”.

À medida que a lei é afrontada com tal vigor e que o malfeito vira um instrumento corriqueiro da ação política, os brasileiros têm expropriada a sua cidadania. Se para eles, todo excluído é cidadão, que mal há em considerar todo cidadão um excluído?

Por Reinaldo Azevedo
Tarso Genro ressuscita, na prática, a tese de que crimes cometidos por petistas são virtudes. Ou o Brasil acaba com o PT, ou o PT acaba com o Brasil!

Sempre, leitor, mas sempre mesmo!, que você julgar que ainda não se atingiu o paroxismo do absurdo, que uma avaliação amoral ainda não ultrapassou o limite do asqueroso, do detestável, do nefando, então é o caso de saber o que pensa Tarso Genro, ex-ministro da Justiça e agora governador do Rio Grande do Sul. Se não se lembra, estou a falar da supernanny do homicida Cesare Battisti.

Quem saiu hoje em defesa de Hilderado Caron, o petista do Dnit, tão responsável pela bandalheira que vigora naquele órgão como qualquer amigo de Valdemar Costa Neto? Tarso Genro, é claro! Caron é do PT do Rio Grande do Sul, amigo do governador.  E, curiosamente, ainda não foi demitido! Leia o que informa o Estadão Online. Volto em seguida:
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O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), fez uma defesa contundente do diretor de Infraestrutura Rodoviária do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Hideraldo Caron, durante entrevista à imprensa nesta quarta-feira, 20, na sede da Associação Gaúcha das Emissoras de Rádio e Televisão (Agert). “Eu conheço ele (Caron) há 30 anos e duvido que tenha cometido alguma ilegalidade por motivo doloso ou por interesse próprio”, afirmou o governador, que, no entanto, sugeriu que o petista deixe o cargo. “Eu digo mais: eu, se fosse ele, eu saía de lá para ajudar a presidente (Dilma Rousseff) a criar um novo ambiente.”

Caron está sob ameaça de perder o cargo por pressão do PR, que exige que todos os nomes colocados sob suspeita de irregularidades sejam afastados, assim como foram alguns dos filiados ao partido que estavam no Ministério dos Transportes e no Dnit. Segundo a revista VEJA, o diretor-geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot, disse a correligionários que o petista se empenhava para viabilizar “estranhos reajustes” de preços de obras.

Tarso também considerou estranho que as denúncias tenham aparecido agora. Lembrou que investigações feitas pela Polícia Federal (PF) quando era ministro da Justiça não detectaram nada. “Para evitar que se crie uma situação de denuncismo generalizado, é preciso separar o que é corrupção, o que é denúncia de alguém que não está satisfeito e o que é denúncia política.”

Comento
Prestem atenção ao que vai em negrito. Se Caron cometeu alguma ilegalidade, foi por motivo apenas, digamos, culposo, sem intenção. Então, entende-se, o homem deve ser perdoado. Mas não só por isso: Tarso assegura que, se isso aconteceu, não foi “por interesse próprio”.

É o PT falando. O crime em nome do partido se justifica, como sabemos; o crime em nome da causa é aceitável; o crime em nome de um projeto de poder é, no fundo, um ato revolucionário. Tarso está dizendo, em suma, que um malfeitor do PT não deve ser misturado a malfeitores de outras legendas porque são pessoas de naturezas distintas. Um tem o direito natural de ser criminoso; os outros não.

Notem que, na sublinha, sobra censura até para a presidente Dilma Rousseff. Tarso desconfia das denúncias; ignora que a própria presidente chamou Alfredo Nascimento e a cúpula dos Transportes e lhes passou uma descompostura, inconformada com a estupidamente cara ineficiência da pasta.

O ex-ministro da Justiça — ALIADO DO ATUAL, JOSÉ EDUARDO CARDOZO, É BOM LEMBRAR — também atesta a sua competência, não é? Segundo diz, a Polícia Federal, subordinada ao ministério de que ele era o titular, não havia “detectado nada”. Pois é…
A própria Dilma “detectou”, mas a PF de Tarso não viu problema nenhum…

Questiono, num dos posts abaixo, por que a polícia não agiu, nesse caso, com os mesmos métodos empregados contra o cleptogoverno de Arruda. Esbocei uma hipótese: aos amigos tudo, menos a lei; aos inimigos, nada, nem a lei.

Tarso demonstra que o meu pior juízo a respeito do PT e dos petistas é mesmo o melhor. Ou o Brasil acaba com o PT, ou o PT acaba com o Brasil.

Por Reinaldo Azevedo
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Fonte:
www.veja.com.br

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2 comentários

  • Valter Antoniassi Fátima do Sul - MS

    Que beleza! Muito bem ,Sr. GERALDO MAGELA,quando vejo um comentário como o seu,que tenho a convicção que teria a aprovação de 96 % da população chego sempre a mesma conclusão,que merecemos os líderes" maravilhosos e eficientes" que temos...E VAMOS EM FRENTE...

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  • GERALDO MAGELA DA ROCHA São João Nepomuceno - MG

    Quando vejo comentários como este, que só poderia ser relacionado a Revista VEJA, GLOBO, FOLHA DE SÃO PAULO e ETC, que agem como PARTIDOS POLITICOS e não como IMPRENSA, fico desacreditado na Imprensa e não no País. Antes que tambem me julque e me condene, informo que não sou ligado a nenhum partido político. Solicito o obséquio a este cidadão que escreve estes artigos, que tenha atitudes de Jornalista e não de Militante Político. Será que só o PT erra ?

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