PPS pede que Ministério Público no DF investigue pasta da Agricultura

Publicado em 08/08/2011 19:41

Rossi, a cara do PMDB - Ministro defende contratação de parentes, diz ter tentado impedir demissão de secretário-executivo e ataca “corporativistas”

Eis o PMDB: Wagner Rossi, o ministro da Agricultura, concedeu uma entrevista coletiva para falar sobre as evidências — e não suspeitas — de lambança em sua pasta. É um espetáculo! O homem que recebeu hoje uma manifestação pública de apoio da presidente Dilma Rousseff disse não ver nada demais na contratação de parentes de subordinados seus — “se forem competentes”, claro! —, atribuiu as denúncias a corporativistas insatisfeitos e afirmou que tentou convencer Milton Ortolon, seu amigo e secretário executivo no ministério, a apenas se licenciar, mas ele teria preferido se demitir.

Ortolon é o homem que introduziu o lobista Júlio Fróes no Ministério da Agricultura, onde ocupa — ocupava? — ilegalmente uma sala, redigia contratos, distribuía propinas… O escândalo está relatado em detalhes na VEJA desta semana. Sem ter como se explicar, Fróes preferiu espancar o editor Rodrigo Rangel. Rossi considera que tudo segue dentro da normalidade. Os descontentes é que atrapalham um pouco.

PPS pede que Ministério Público no DF investigue pasta da Agricultura

Do G1:
O PPS entrou nesta segunda-feira (8) com um pedido de abertura de inquérito junto ao Ministério Público Federal (MPF) no Distrito Federal para que sejam investigadas denúncias envolvendo o ex-secretário executivo do Ministério da Agricultura Milton Ortolan e o lobista Júlio Froés. Ortolan deixou o cargo no último sábado (6) após reportagem da revista “Veja” do último sábado ter denunciado um suposto esquema de irregularidade dentro do ministério da Agricultura, envolvendo o próprio Ortolan e o lobista Júlio Froés.

Segundo a reportagem, Fróes utilizava as instalações do ministério da Agricultura, se apresentava como funcionário do ministério e analisava processos de licitação, cuidando dos interesses de empresas que concorriam às verbas. Tudo teria sido feito, de acordo com a reportagem, com a conivência do então secretário executivo do ministério, Milton Ortolan.

O PPS também deve pedir a convocação do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, para prestar esclarecimentos na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados.

“Queremos saber se há envolvimento direto do ministro com o esquema ou se ele não sabia de nada do que ocorria ao seu redor. Se ouvir indícios de seu envolvimento, vamos acionar a Procuradoria Geral da República”, afirmou Rubens Bueno, líder do PPS na Câmara, segundo documento divulgado no site do partido.

No Senado
O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias, protocolou nesta segunda um requerimento na Comissão da Agricultura para ouvir envolvidos nas supostas irregularidades no Ministério da Agricultura. A oposição quer ouvir, além de Ortolan, Oscar Jucá Neto, ex-diretor financeiro da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e o lobista Júlio Fróes.

Por Reinaldo Azevedo

A sujeira que se varre pra dentro

“Não há razão para ter qualquer questão em relação ao ministro Wagner Rossi. Ele já tomou as medidas, e estamos, sem sombra de dúvidas, reiterando a confiança no ministro.”

É a presidente Dilma Rousseff se manifestando sobre Wagner Rossi, o peemedebista que chefia um dos feudos do PMDB, o Ministério da Agricultura. A presidente demonstra, assim, que esse negócio de faxina tem critério.

Não é toda sujeira que se varre pra fora. Algumas têm de ser varridas pra dentro.

Por Reinaldo Azevedo

Sarney aproveita a aula de Arnaldo Jabor sobre a crise americana e dá a moral da história

Quando um colunista da Folha Online chegou à conclusão de que o que faltou a Barack Obama foi um PMDB, Sarney esfregou as suas mãos antediluvianas e pensou: “Eu sabia! Um dia o meu trabalho em favor da estabilidade seria reconhecido…” E aí o homem pôs para funcionar aquela mente aguda, capaz de análises realmente surpreendentes, que nos conduz a paisagens ignotas do pensamento. Leiam o que informa Gabriela Guerreiro, na Folha Online. Volto em seguida.

Sarney diz que negociações da dívida dos EUA foram “vergonhosas”
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), classificou nesta segunda-feira de “vergonhosas” as negociações nos Estados Unidos que resultaram na elevação do limite da dívida do governo americano. Sarney disse que o país deu um “péssimo exemplo” ao usar politicamente o episódio na disputa entre Democratas e Republicanos. “No momento de uma luta política visivelmente destinada já com olhos nas eleições do ano que vem, eles ofereceram ao mundo esse vergonhoso exemplo de que os partidos políticos sacrificam (…). Foi um exemplo nada construtivo e eles estão pagando caro por isso”, afirmou.

Segundo Sarney, a crise nos EUA é “artificial” e provocou consequências em todo o mundo. “A Europa está com problemas sérios. Em alguns países, há problemas de liquidez, como a Grécia, a Irlanda começa a ter esses problemas, Itália, a Espanha. Isso tudo os Estados Unidos tomando a decisão que tomaram tem repercussão na Europa.” O presidente do Senado disse que a disputa política em meio à crise ganhou força com o crescimento do Tea Party - a corrente mais conservadora do Partido Republicano - nos EUA.

O peemedebista disse não acreditar em impactos imediatos no Brasil nem no Congresso Nacional. “Em todos os momentos de dificuldades do país, temos encontrado um terreno comum no qual protegemos os interesses do país e abandonamos essa luta dilacerante de partidos. Assim foi na Independência, assim foi na República, assim foi em 1930 e assim foi em 1985.” Sarney disse que o Brasil está preparado para enfrentar a turbulência no mercado internacional. “Estamos absolutamente preparados. Isso não significa que não tenha conseqüência no Brasil qualquer grande crise mundial. Mas até o momento, essa crise ainda não está configurada”, afirmou.

Voltei
Sarney concorda com Arnaldo Jabor: “É tudo culpa do Tea Party”. O que faltou a Barack Obama? Ora, um Michel Temer, um Wagner Rossi, um Renan Calheiros, um Romero Jucá, essas expressões do “pensamento moderado” brasileiro, que tanto bem têm feito ao chamado “presidencialismo de coalizão”, com suas disposições para a negociação.

O presidente do Senado e do Congresso brasileiro nem mesmo sabe — talvez finja não saber; de fato, eu acredito na ignorância e no cinismo conjugados de Sarney — que a crise européia tem vida própria e não decorreu da americana, não. Os desacertos são coordenados, sim, mas o Tea party não tem nada a ver com a forma como a Grécia, a Espanha ou a Itália resolveram conduzir suas respectivas economias.

Quanto ao rebaixamento da nota dos EUA, decidida pela S&P, quem leu o relatório sabe que a agência — que também não é a voz de Deus, tanto que os títulos continuaram a ser negociados normalmente — considerou que o corte de gastos aprovado pelo Congresso, no acordo possível entre republicados e democratas, foi considerado pequeno, tímido, insuficiente. Ora, os democratas queriam cortar ainda menos… Ou por outra: se a turma de Obama tivesse vencido a parada e aprovado a sua proposta original, as razões para o rebaixamento seriam ainda mais evidentes. Ademais, na reta final, quem radicalizou o discurso e a posição foram os democratas.

Eu sei que Sarney parece desimportante. Sob muitos aspectos, é mesmo! Mas é o homem que preside o Congresso brasileiro. Ao investir nessa vigarice política e intelectual de acusar o confronto político dos EUA como o responsável pela crise mundial — e, nesse sentido, acaba endossando a análise de muitos bestalhões no Brasil —, investe, se querem saber, contra a VIRTUDE da política americana, não contra o DEFEITO.

De fato, tivesse Obama uns ministérios e umas estatais para distribuir; vigorasse nos EUA o “presidencialismo de coalizão” à moda brasileira, talvez não se chegasse àquela crise da dívida… A corrupção é que já teria levado a economia americana para o buraco. A propósito: foi o excesso de consenso na economia, que vem lá do governo Clinton e vigorou em boa parte do governo Bush, que levou os EUA à beira do precipício. Não fosse o Tea Party uma conseqüência da crise, eu diria que ele apareceu tarde demais. Faltou confronto. De certo modo, a esquerda republicana e a direita democrata, que  estão, na prática, no comando desde o governo Clinton, fizeram o papel de “PDMB”… Deu no que deu!

A fala de Sarney é menos inocente do que parece. Nosferatu está alertando para a importância de ser “prudente”, de se manter o ambiente da “negociação”, de evitar “radicalizações”… Os EUA estariam perdidos, mas o Brasil teria encontrado o caminho, sem “lutas dilacerantes”: na Independência, na República, em 1930… Foi assim que nos tornamos um país governado por uma casta de vampiros.

Por Reinaldo Azevedo

Você sabia que existe um PMDB de extrema-esquerda no governo Dilma?

Caro leitor,
eu sei que você vai considerar o texto abaixo, originalmente publicado no Valor Online e reproduzido na Folha Online, um tantinho chato, um tantinho aborrecido, um tantinho irrelevante. Mas eu digo: você tem de ler. De certo modo, ele é a prova dos noves de uma tese que este blog defende há cinco anos — e que este escrevinhador defende há mais de… 20! Leia. Volto em seguida:
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Após embate no PT, ministra Iriny Lopes ameaça demitir dissidentes

A ministra da Secretaria Especial de Proteção à Mulher, Iriny Lopes, deu prosseguimento à cisão ocorrida em seu grupo petista, a Articulação de Esquerda, e informou a auxiliares de que deve demitir funcionários de sua pasta que integram o grupo que se rebelou contra o comando da corrente. Estão ameaçadas de exoneração três petistas com altos cargos na secretaria: a subsecretária de Planejamento e Gestão Interna, Renata Rossi; a diretora de Programa da Subsecretaria de Articulação Institucional e Ações Temáticas, Luciana Mandelli; e a subsecretária de Articulação Institucional e Ações Temáticas, Angélica Fernandes.

As três integram a ala dissidente da Articulação. Elas deixaram a corrente após um imbróglio envolvendo suspeitas de filiação em massa, manobras regimentais e discussão sobre a prevalência de burocratas ou de movimentos sociais na organização partidária. De um lado, estão Iriny e Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do PT e antigo dirigente do grupo; do outro, o ex-ministro da Pesca José Fritsch, presidente do PT de Santa Catarina, e o deputado federal Valmir Assunção (PT-BA).

Fritsch e Assunção chegaram ao congresso da corrente no último fim de semana certos de que tinham votos suficientes dos delegados para tirar Pomar do comando da Articulação. Antes da votação, porém, Pomar apontou que dos 134 delegados, havia 36 vindos da Bahia que estavam “regimentalmente irregulares”. Propôs, então, que fosse feita a votação sem esses baianos e que depois fosse decidido se eles poderiam ou não votar. O grupo adversário viu aí uma manobra, tendo em vista que, sem os 36, não conseguiria maioria para vencer nem na eleição para dirigir a corrente e nem na que decidiria sobre o credenciamento dos baianos.

“Eles foram eleitos por pessoas que foram filiadas à tendência de maneira irregular. Por conta deste crescimento súbito, fizemos uma auditoria e recomendamos que o credenciamento dos respectivos ‘delegados’ fosse deliberado pelo Congresso. Eles não aceitaram e saíram antes do Congresso começar”, disse Pomar. Segundo ele, havia indícios de irregularidades regimentais, como pagamento coletivo de contribuições, o que o regimento permite em pouquíssimos casos; e militantes que estavam filiados à tendência, mas não ao PT.

Além disso, aponta um “crescimento súbito” de filiados às vésperas do Congresso. “No Estado em questão, havia no dia 28 de junho 193 pessoas filiados. No dia 30 de julho, em apenas 48 horas, esse número cresceu para 794.” Os dissidentes, porém, negam as irregularidades. Afirmam que a Bahia é o Estado em que a Articulação é mais forte no país, com pelo menos um quinto da representação nacional, além de um deputado federal, um estadual e uma secretária estadual. E que essa discussão é apenas uma divergência de fundo para desviar do principal: o desconforto com a liderança de Pomar.

Apontado como “autocrático” e “centralista”, os dissidentes dizem que seu estilo vinha afastando outros militantes do grupo, além de novos filiados egressos dos movimentos sociais, tendo em vista seu posicionamento contrário à predominância dos movimentos sobre os quadros partidários na tendência. “Estamos afastados dos movimentos sociais do campo e da cidade. Precisamos de uma nova perspectiva nesse sentido, mas isso foi visto por parte da coordenação como uma ameaça. Escreve-se bons documentos, boas teses, mas o que isso amplia em espaço dentro do partido? Queremos influir nas decisões do partido e do governo”, afirmou o ex-ministro da Pesca José Fritsch.

“Nossa discordância é quanto ao método que ele [Pomar] implantou. Acreditamos no vínculo com os movimentos sociais e estávamos cada vez mais perdendo isso”, disse o deputado Valmir Assunção, ligado ao MST.

Pomar discorda
Achamos que o partido deva ser de massas e defendemos que as tendências devam ter uma composição distinta, mais restrita mesmo, uma vez que elas têm como objeto disputar os rumos do PT. Em consequência disto, achamos que o processo de adesão a uma tendência interna do PT deve ter critérios mais exigentes.” Com aproximadamente 10% de todo o PT, a Articulação é uma das mais tradicionais correntes internas. Os dissidentes calculam que representam cerca de 60% desses 10%, o que lhes dá, em nível nacional, 6% de representação. Há um encontro agendado para o dia 1º de setembro, onde os dissidentes iniciarão as conversas sobre que rumo tomarão. Parte avalia ser melhor formar uma nova tendência, enquanto outros apostam que é melhor formar uma frente de esquerda que agrupe outras tendências.

Voltei
Viram? Há uma corrente do PT, minoritária, que está em crise. Por quê? Ah, são lá aquelas coisas das esquerdas: um acusa o outro de não ser, sei lá, “puro” ou “popular” o bastante. O povo, o próprio, passa longe da disputa porque nem mesmo entende a linguagem que essa gente fala; tampouco compartilha de suas utopias. Bem, até aí morreu Neves — ou melhor, se formos fazer o resgate da história, morreram muitos milhões de pessoas: por baixo, 150 milhões… Os comunistas nunca pouparam esforços para fazer criar o “outro mundo possível”…

Pois bem… Como a turma da ministra Iriny (de cuja existência o Brasil se deu conta só quando ela ganhou o ministério) e Valter Pomar — um dos chefões do Foro de São Paulo — brigou com a turma de José Fritsch, quem paga o pato? Ora, a Secretaria Especial de Proteção à Mulher, que é um órgão do estado brasileiro, que tem de atender aos interesses dos cidadãos, não da corrente de esquerda à qual foi entregue. Assim como o Ministério da Agricultura é um feudo do PMDB, e o dos Transportes era um do PR, a Secretária das Mulheres “pertence” à Articulação de Esquerda.

E não pensem que a dita-cuja faz coisa muito diferente dos peerristas (?), não! É rigorosamente a mesma coisa. PMDB e PR loteiam a parte que lhes cabem no latifúndio do poder, a exemplo do que faz a Articulação de Esquerda; colocam seus cupinchas em cargos públicos, a exemplo do que faz a Articulação de Esquerda; aproveitam-se das benesses do cargo para reforçar seus representantes, que passam a gozar de benefícios decorrentes não de sua competência específica, mas de suas afinidades partidárias, a exemplo do que faz a Articulação de Esquerda.

Um desses comunistas moralmente tarados logo diria: “Ah, mas peemedebista enfia a mão em grana pública para enriquecer; os esquerdistas pensam na causa”. A causa, no caso, é a revolução social. Bem, em primeiro lugar, não está provado que não enriqueçam pessoalmente, né? Ninguém nunca se ocupou de saber como vive essa gente. A pasta não desperta o interesse  de ninguém. Em segundo lugar, no que concerne aos cofres públicos, pouco importa se o dinheiro está sendo mal usado para enriquecer um larápio ou para fortalecer um grupelho. Dá na mesma. Essa diferença só é moralmente importante para esquerdistas… O povo é roubado do mesmo jeito.

Vejam lá: funcionários da secretaria podem perder cargos de confiança porque a “tendência” a que pertencem “rachou”. Não se pode dizer, pois, que estejam no governo para executar o programa de governo da presidente Dilma — qual programa? Estão lá para reforçar a posição da tendência no partido. Isso significa, meus queridos, que essa extrema minoria manipula, a um só tempo, a política de estado e os ditos movimentos sociais com os quais se relaciona.

Chegamos ao ponto — e alerto para isso, acreditem!, há uns 20 anos quase — em que os petistas recorrem à imprensa para expor divergências entre petistas, como se essas constituíssem a contradição possível no Brasil.

Por Reinaldo Azevedo

Após cair 9,7%, Bovespa fecha em queda de 8,08%, maior queda desde outubro de 2008

Na VEJA Oneline:
Em dia de grande tensão nas bolsas internacionais, o índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) fechou o pregão com queda de 8,08%, para 48.668 pontos. Das 61 ações que compõem a carteira do Ibovespa, nenhuma encerrou os negócios desta terça-feira no terreno positivo. As ações ordinárias do frigorífico Marfrig recuaram 24,83%, cotadas a 9,02 reais, liderando as maiores baixas da bolsa. Na sequência, vieram os papéis da OGX Petróleo, do empresário Eike Batista, com declínio de 16,36%, a 9,20 reais. Em Nova York, os índices Dow Jones, Nasdaq e S&P 500 recuaram 5,5%, 6,9% e 6,6%, respectivamente.

O principal indicador da bolsa brasileira reagiu negativamente ante o pânico instalado nos mercados internacionais com o anúncio do rebaixamento da nota da dívida soberana americana, na última sexta-feira, pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s. Analistas ouvidos pelo site de VEJA apontaram que a notícia escancarou uma realidade que muitos preferiam ignorar: o de que a crise veio para ficar e que as maiores economias do planeta, às voltas com enormes dificuldades para administrar suas dívidas, crescerão pouco e por período prolongado.

Ações desabam - As operações no pregão estiveram perto de serem suspensas, pois, às 15:20, o Ibovespa chegou a atingir queda de 9,73%, a 47.793 pontos - a maior queda desde 22 de outubro de 2008. Caso o índice chegasse a -10%, as negociações teriam de ser paralisadas. É que um mecanismo de proteção chamado de circuit breaker estabelece a parada da bolsa por trinta minutos quando as perdas atingem esse patamar.

A Bovespa abriu o pregão desta quinta-feira já com acentuada retração de 4%. As perdas se avolumaram ao longo do dia, mas as quedas mais acentuadas se verificaram logo após o pronunciamento do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em cadeia de televisão, quando reafirmou que a economia local é livre de risco, apesar do rebaixamento promovido pela S&P.

Risco menor
O vice-presidente do Itaú Unibanco, Marcos Lisboa, comentou nesta quinta-feira o pânico nos mercados. Na avaliação dele, não há risco de a turbulência “transbordar” para a economia real. “Já tivemos movimentos como esse em 2008. O Brasil está preparado”, afirmou em seminário sobre a nova classe média, em Brasília.

O diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Luiz Awazu, também procurou tranqüilizar os investidores. “Estamos 200% atentos ao desenvolvimento (dos mercados). Estamos monitorando isso há algum tempo e o BC tem alertado sobre riscos da conjuntura internacional. O Brasil está mais preparado que em 2008″, declarou.

Por Reinaldo Azevedo

Pérsio Arida: “Crise pode forçar queda nos juros”

Por David Friedlander, no Estadão:
Se a crise da dívida dos países ricos piorar e avançar para um movimento de aversão generalizada ao risco, o Brasil precisará baixar juros em vez de aumentar o gasto público. A opinião é do economista Persio Arida, sócio do Banco BTG Pactual, e ex-presidente do Banco Central e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Um dos economistas mais admirados do País, Arida diz que ainda é preciso avaliar melhor o cenário nebuloso em que se dá o repique da crise mundial, que envolve as dificuldades dos países europeus com suas dívidas e ganhou mais lenha na fogueira na sexta-feira, quando a agência de classificação de risco Standard & Poor”s rebaixou a nota da dívida dos Estados Unidos.

Caso essa onda se transforme num movimento global de aversão ao risco, e as chances existem, a atividade econômica tenderá a diminuir no mundo, afetando o Brasil. “Se isso de fato acontecer, na minha opinião tem que contra-arrestar o efeito negativo diminuindo a taxa de juros e não aumentando o gasto público”, diz Arida. Em 2008, o país fez as duas coisas: baixou os juros e jogou um caminhão de dinheiro na economia.

Quais as consequências do rebaixamento da nota da dívida dos Estados Unidos?
Primeiro há uma questão técnica sobre a nota, que é saber se houve um erro da Standard & Poor”s (S&P), como diz o governo americano, ou não. Do ponto de vista das expectativas dos mercados, a avaliação sobre esse possível erro faz uma grande diferença. Por outro lado, a longo prazo é de se esperar uma piora na qualidade da dívida soberana tanto dos Estados Unidos quanto dos países europeus. A consequência desse fenômeno deve se traduzir numa aversão generalizada ao risco, o que tende a implicar no desaquecimento da economia global.

Então, mesmo que o Brasil não esteja no centro da crise, ela deverá transbordar para cá...
Todo episódio de aversão ao risco afeta a propensão a investimento e, portanto, tem consequência de desaceleração. No Brasil, parte disso já está de alguma forma precificado no mercado futuro de juros. Mas, se de fato houver uma percepção de mercado muito negativa, é de imaginar que se passe a ter no Brasil um impacto negativo na atividade que poderia ser contra-arrestado ou por política fiscal ou por política monetária. O ideal para o País é que fosse contra-arrestado exclusivamente por política monetária.

O sr. está falando em baixar os juros?
Do nosso ponto de vista, o efeito da turbulência de curto prazo é sempre uma aversão generalizada ao risco e a atividade econômica tende a cair. Nesse sentido, entendo que a resposta ideal de política econômica é exclusivamente via política monetária e não via política fiscal, e muito menos de crédito. Tem que contra-arrestar o efeito negativo diminuindo a taxa de juros e não aumentando o gasto público.

É o oposto do que o governo vem fazendo…
O que estou dizendo é o seguinte: se de fato houver uma aversão generalizada ao risco, porque o que houve até agora foi queda de bolsa, muito forte, mas não necessariamente uma aversão generalizada ao risco, como é que o País deveria responder? Na minha opinião, via política monetária e não via política fiscal.

O sr. vê risco de rebaixamento de dívidas em cascata na Europa?
Ao longo do tempo é de se imaginar que toda dívida soberana desses países que resolveram o problema de excesso do endividamento privado transferindo parte da dívida para o setor público tenda a resultar em ratings (avaliações) piores. Portanto, não me surpreende como processo, como tendência de longo prazo.Aqui

Por Reinaldo Azevedo

Os escolhidos do governo

Leia editorial do Estadão sobre o pacote do governo para incentivar a indústria.
*
À decepção que o anúncio do pacote de apoio à indústria causou, pela timidez do conjunto e pela indefinição das regras e da amplitude de muitas de suas medidas, agora se soma a surpresa com a medida provisória e as novas decisões que fazem parte do Plano Brasil Maior, como o governo o denominou. Um programa financiado com recursos públicos, que já cumpriu seu papel e por isso tinha data para acabar, será prorrogado por mais um ano e ampliado. Setores industriais que gozam de benefícios especiais desde a chegada do PT ao governo serão novamente agraciados com vantagens fiscais, mesmo que continuem a apresentar excelente desempenho no que se refere à produção, vendas e geração de emprego. Já o enfrentamento do real desafio da indústria, que é o aumento de sua capacidade de competir globalmente, continua a aguardar medidas concretas.

Embora venha afirmando que faz um severo ajuste de suas contas, o governo decidiu aumentar os empréstimos do Tesouro Nacional ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para que este amplie os financiamentos que concede a juros subsidiados, e prorrogar por mais 12 meses o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que oferece financiamentos em condições ainda mais favoráveis.

Criado em 2008 para evitar que os investimentos sofressem maior redução por causa da crise global, o PSI deveria terminar neste ano. Os resultados da economia brasileira em 2010, quando o PIB cresceu 7,5% e o volume de investimentos teve aumento recorde de 21,8%, não deixam dúvidas de que, se tinha um papel a desempenhar, o PSI o fez bem. Mesmo assim, ele será mantido e, além disso, o BNDES voltará a financiar capital de giro, como fez durante a crise.

No momento em que a expansão do crédito e o aquecimento da demanda continuam a pressionar os preços, empurrando a inflação para muito perto do limite superior da meta inflacionária, a ampliação da oferta de financiamentos com juros fortemente subsidiados tornará os problemas ainda mais agudos.

O BNDES dispõe de um enorme poder financeiro, que, se bem utilizado, pode impulsionar de maneira notável a expansão e a modernização do sistema produtivo nacional, dando-lhe melhores condições para competir globalmente. Esse poder, porém, também lhe permite escolher setores ou grupos aos quais concederá prioridade, e essa escolha nem sempre pode ser coincidente com os interesses do País. Que sentido tem, por exemplo, o financiamento do BNDES a empresas brasileiras para aquisições no exterior, se o efeito mais positivo da operação for a geração de empregos em outros países, não no Brasil, como já ocorreu, ou apenas a recomposição do grupo controlador da nova empresa?

O governo do PT, desde o seu início, também tem feito escolhas pelo menos polêmicas, como, por exemplo, a da indústria automobilística, na qual surgiu, no fim da década de 1970, o novo sindicalismo que, em seguida, deu base para a criação do PT. Estabeleceu-se, então, entre essa indústria e sindicalistas e dirigentes petistas, uma aliança que continua forte. No anúncio do Plano Brasil Maior, o governo falou em “política de incentivo à produção nacional” para o setor automobilístico. Sabe-se agora que é um belo incentivo.

As montadoras instaladas no País, todas multinacionais, terão direito ao mais longo dos benefícios tributários do pacote industrial. A medida provisória editada pelo governo reduz o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para as empresas que elevarem o conteúdo nacional em seus veículos, aumentarem os investimentos e produzirem veículos inovadores. Em outras isenções ou reduções tributárias, boa parte dos ganhos foi transferida para os consumidores. Desta vez, os ganhos irão integralmente para as empresas.

É difícil entender as razões desse benefício, pois, como diria o ex-presidente Lula, nunca antes na história deste país as montadoras venderam tantos carros nos sete primeiros meses do ano como venderam em 2011. Foram 2,03 milhões de unidades, 8,6% mais do que em igual período de 2010. Ainda assim precisam de benefícios tributários?

Por Reinaldo Azevedo

Da coluna de Augusto Nunes, seção Direto ao Ponto

Lula foi à lona em Bogotá

O pastelão encenado no picadeiro do Circo do Planalto por Dilma Rousseff, Nelson Jobim e Celso Amorim acabou ofuscando o fiasco do palanque ambulante em Bogotá, onde fez escala na quinta-feira passada para animar um encontro entre empresários brasileiros e colombianos. Lula estava lá para discorrer sobre as relações entre os dois países. No meio da discurseira, resolveu discutir a relação com Alvaro Uribe. Foi nocauteado no primeiro assalto.

Caprichando na pose de consultor-geral do mundo, com os olhos voltados para o presidente Juan Manuel Santos, Lula cruzou a fronteira da civilidade com a desfaçatez dos inimputáveis. “Estou certo que você e a presidenta Dilma Rousseff podem fazer mais do que fizemos o presidente Uribe e eu”, começou. Pararia por aí se fosse sensato. Nunca será, confirmou a continuação do falatório: “Tínhamos uma boa relação, mas com muita desconfiança. Não confiávamos totalmente um no outro”.

Lula confia em delinquentes, cafajestes, doidos de pedra, assassinos patológicos, sociopatas, ladrões compulsivos ─ e em qualquer obscenidade cucaracha. Hugo Chávez é um bolívar-de-hospício, mas o amigo brasileiro participou até de comícios eleitorais na Venezuela. Evo Morales tungou a Petrobras e anistiou os ladrões de milhares de carros brasileiros, mas Lula tem muito apreço por um lhama-de-franja. Cristina Kirchner não perde nenhuma chance de atazanar exportadores brasileiros, mas Lula não resiste ao charme da inventora do luto de luxo. O único problema do subcontinente é Uribe.

Embora desprovido de razões para desconfianças, Lula foi permanentemente desrespeitoso ─ e frequentemente grosseiro ─ com o colombiano que também conseguiu dois mandatos nas urnas, despediu-se da presidência com 85% de aprovação nas pesquisas e transmitiu o cargo ao sucessor que escolheu. Embora sobrassem motivos para desconfiar de Lula, Uribe sempre o tratou com respeito e elegância. E suportou pacientemente, durante oito anos, as manifestações unilaterais de hostilidade.

A paciência chegou ao fim, avisou a devastadora sequência de mensagens divulgadas por Uribe no Twitter. “Lula criticava Chávez em sua ausência, mas tremia quando ele estava presente”, pegou no fígado o primeiro contragolpe. Outros três registraram que  “Lula se negou a extraditar o Padre Medina, terrorista refugiado no Brasil”, que “Lula procurou impedir que a televisão transmitisse a reunião da Unasul em Bariloche que discutiu o acordo militar entre a Colômbia e os Estados Unidos” e que “Lula jamais admitiu que os integrantes das FARC são narcoterroristas”.

O quinto contragolpe ─ “Lula fingia durante o governo que era o nosso melhor amigo” ─ não seria o último. Mas o nocaute já se consumara quando foi desferido. É compreensível que o viajante ainda estivesse grogue no dia seguinte, como comprovam a forma e o conteúdo da entrevista publicada pelo jornal O Tempo. “Sinceramente, estranhei muito a reação do companheiro Uribe, por quem tenho profundo respeito”, recuou o palanqueiro, que se negou a comentar o teor das mensagens.

“Se ele tem alguma dúvida com alguma coisa que eu disse, seria mais fácil me chamar em vez de tuitar”, queixou-se. O uso do neologismo parece ter induzido o repórter a acreditar que Lula tem intimidade com modernidades virtuais. Pretendia usar o twitter para responder a Uribe? , quis saber o jornalista. “Não, porque é preciso pensar antes de dizer as coisas, e muitas vezes no Twitter a pessoa não pensa, simplesmente escreve”, desconversou.

Como o entrevistador não replicou, pode-se deduzir que não conhece direito o entrevistado. Deveria ter-se informado com Uribe, que sabe com quem está falando. O ex-presidente colombiano sabe que Lula é do tipo que primeiro fala e depois pensa ─ se é que pensa. Sabe que Lula não escreve, em redes sociais ou num guardanapo do botequim, pela simples e boa razão de que não quis aprender a escrever.

Lula comprou a briga usando o microfone. Colidiu com a palavra escrita e acabou nocauteado pelo Twitter.

(por Augusto Nunes).



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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo

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