O remédio contra Lula. Ou: Ameaças de morte, por Reinaldo Azevedo

Publicado em 18/08/2011 19:19 e atualizado em 18/08/2011 22:39
nos blogs de Reinaldo Azevedo e Augusto Nunes, em veja.com.br

O remédio contra Lula. Ou: Ameaças de morte

Há muito tempo não recebia tantas ameaças de morte — acontece todo dia, saibam — como voltei a receber hoje, por causa daquele texto da madrugada. Leitores me enviam comentários publicados em alguns blogs, sites e afins que são de arrepiar. É claro que alguns ditos “colunistas” estão dando corda, como sempre. A eliminação do adversário, considerado um inimigo, passou a ser um valor no país. Lula ajudou a cultivar esta, digamos, metafísica. Sua prática política é pautada por um permanente assassínio da história e da biografia política de seus opositores. Note-se à margem que ele também tem o dom de ressuscitar moribundos, como sabe José Sarney.

E por que essa gente fala em “morte” com tanta desenvoltura? Bem, porque sua moral comporta — não faz tempo, um desses “intelectuais” de esquerda escreveu um texto em que o terrorismo era tratado como expressão política legítima. Embora sejam bestas morais e éticas, têm ao menos conhecimento do certo e do errado. Ameaçam-me, mas atribuem a mim a responsabilidade pelo molestamento, entenderam? Afinal, dizem, no texto da manhã, eu teria defendido golpe de estado e, o que é espantoso!, até mesmo a eliminação física de Lula. Logo, quem tem de ser eliminado sou eu! Não é fantástico?

O remédio contra Lula é a democracia e a democratização da sociedade. Acreditam na morte como resposta para conflitos os que mataram Celso Daniel, os que mataram Toninho do PT, de Campinas, os que mataram milhões de adversários história adentro. O meu papo é de outra natureza. Alguns bostalhões que vêm me dar aula de democracia nunca levantaram a bunda do sofá para combater a ditadura, enquanto eu tomava algumas borrachadas. Abordo pouco essa questão porque isso, por si, não torna ninguém certo ou errado. Mas há as pessoas que têm uma trajetória comprometida com as liberdades públicas e há as que não têm; há as que estão sempre alinhadas com a defesa da liberdade de expressão, e há aquelas que modulam essa defesa segundo os interesses a que atendem na hora.

O petismo empobreceu dramaticamente o debate político no Brasil, inclusive no terreno da esquerda. Se digo que Lula é o nome da doença política, é evidente que não bastaria eliminá-lo, ainda que isso fosse moralmente aceitável (não é!), para que tudo estivesse resolvido. Ele não se resume ao homem que é; representa um conjunto de procedimentos; simboliza uma forma de ver a política; expressa uma visão das relações do estado com a sociedade. Fez-se um emblema, cheguei a usar esta expressão, do não-republicanismo.

Lula é o símbolo da farsa moral — e ética — segundo a qual, em nome da promoção da igualdade, tudo é permitido. E não é!

Não! Eu não imagino qualquer outra maneira de combater o lulo-petismo que não seja pela via eleitoral. Eles podem, ainda que apenas retoricamente (tomara que seja só isso!), me querer morto; eu só os quero derrotados nas urnas. Mas também cobro que as LEIS DEMOCRÁTICAS QUE ESTÃO EM VIGÊNCIA SEJAM APLICADAS. Quando lembro que Lula, na presidência da República, mudou uma lei só para permitir a fusão de duas empresas de telefonia e que o BNDES decidiu financiar a operação antes mesmo da existência da tal lei — comprometendo-se, pois, com uma operação ainda ilegal —, eu me dou conta do grau de esculhambação legal e institucional a que chegamos.

As próprias instituições foram contaminadas pelo “espírito companheiro”. E isso tem de ser permanentemente denunciado. Lula é o nome da doença porque é o fundador de uma espécie de nova aristocracia, à qual tudo é permitido, com privilégios que se estendem à descendência. Renovou o que há de mais nefasto entranhado na cultura política brasileira: a desigualdade dos homens perante a lei — com a diferença de que essa desigualdade que ele cultiva seria uma forma de resistência. Essa cultura já chegou ao Supremo!

Qual o remédio contra o que Lula simboliza? O aprimoramento dos mecanismos da democracia representativa e a aplicação das leis previstas na democracia, tudo o que os vagabundos dos mais diversos matizes ideológicos, hoje pendurados nas tetas do estado, não querem: no capital, no trabalho, na academia, no subjornalismo, na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapé (é a variante paulista, também admitida, de “sapê”).

Eu quero é democracia. E combato a canalha que decide usar o regime democrático para solapá-lo. O nome da doença é Lula.

Por Reinaldo Azevedo
Eu não sou a supernanny disso a que chamam “povo”. Ou: de novo uma doença chamada “Lula”

Escrevi nesta madrugada um texto (ver abaixo) em que afirmo que o nome da doença da política brasileira é Luiz Inácio Lula da Silva. Está dando o que falar. E está porque tenho milhares de leitores. É assim mesmo. Quem escreve só pra si não tem ninguém a espiá-lo a não ser o silêncio, e o texto vira um exercício de expiação da própria irrelevância. Deve ser difícil. Um leitor ou outro me enviam ataques de fúria desse ou daquele: “Você viu o que disse fulano, como reagiu Beltrano?” Não vi. Eles me lêem; não os leio. Não enviem os links porque não lerei. Não tenho tempo. A opinião de bem pouca gente da imprensa — ou da subimprensa — me interessa. Meu diálogo é com OS MEUS LEITORES, não com quem tenta usar os meus textos para conseguir leitores. Faltam horas no meu dia para ler  o que presta. Por que desperdiçar as que tenho com quem não presta? Faz tempo que me atacar é uma boa forma de tentar aparecer. A torcida é para que eu reaja. Mas essa decisão é minha. Às vezes, decido me divertir um pouco.Ponto. Parágrafo.

Escrevi aquele texto de madrugada, ainda estava meio escuro. Agora eu o reli à luz de um sol um tanto pálido que entra pela janela — saudade de todos os verões, Deus Meu!, do verão ancestral! Sim, agora que o releio sob nova luz, concluo: o nome da doença da política brasileira é Luiz Inácio Lula da Silva. É ele quem comanda hoje a RESISTÊNCIA — no seu partido, na base aliada, nos setores pouco salubres da imprensa  a isso a que chamam (eu jamais o fiz de própria pena) “faxina” na administração. A exemplo de Dilma, também eu não gosto muito da palavra. Faz supor que é só uma questão de espanar a poeira, pôr pra fora o lixo e passar um lustra-móveis. Não é! Há mudanças de natureza estrutural que precisam ser feitas. Tenho tratado delas. O voto distrital, por exemplo, representaria um ganho formidável de qualidade.

Sim, eu afirmei que Lula escapou do mensalão, entre muitos fatores, porque tinha maioria no Congresso, destacando outro elemento: a “sem-vergonhice docemente compartilhada por quem votou nele”. E emendei: “Não dá para livrar os eleitores de suas responsabilidades.” E não dá mesmo! Não sou a supernanny do “povo”. Aliás, eu nem mesmo reconheço a existência dessa categoria. Quem gosta de especular sobre o “espírito do povo” são os descendentes intelectuais e políticos do fascismo, seja o fascismo de direita, seja o de esquerda. É aquela turminha esquerdopata do que chamo “Complexo Pucusp” (é bem possível que “Pucusp” seja uma palavra criada por Bruno Tolentino, mas não estou certo). Eu reconheço a existência de pessoas. Quem votou em Lula, mesmo sabendo do mensalão e do esquema que era comandado pelo seu partido — e, exceção feita a alguns bolsões de ignorância extrema, era impossível não saber  endossou aquelas práticas, entregou-se à “sem-vergonhice docemente compartilhada”. A democracia é o regime de responsabilização disso a que chamam “povo”  e que eu chamo “pessoas”.

Foi só isso? Claro que não! Não dá para escrever todos os textos num só. Há centenas deles neste blog cobrando a responsabilidade das oposições, por exemplo, os erros cometidos, a falta de combatividade e de clareza ao longo dos quatro primeiros anos do governo Lula, com repeteco nos outros quatro etc. Mas essa entidade sacrossanta a que populistas dos mais variados matizes classificam como “povo” é responsável pelos governos que elege, ora essa! E se torna co-responsável por seus métodos. Se a maioria do eleitorado tivesse achado o mensalão grave o bastante, não teria dado um segundo mandato a Lula. “Ah, para a população, os benefícios que ele representava eram superiores aos malefícios”. Não seria difícil contestar tal afirmação no terreno dos argumentos objetivos. Mas digamos que tenha sido essa a percepção. Não só não muda o que escrevi como referenda: fez-se uma escolha. E essa escolha compreendia acolher a lambança.

Eu não me considero superior a isso a que chamam “povo”; não sou seu intérprete, seu psicanalista, seu educador ou o que seja. Por isso mesmo, não preciso vê-lo com compreensiva e compassiva generosidade. Acima da linha da sanidade, qualquer homem da rua é meu igual, é meu irmão. Tenho asco do paternalismo de qualquer natureza. Dei aula durante muito tempo. Meus alunos estão por aí, alguns deles na imprensa. Nunca fui um professor “gugu-dadá”, “cúti-cúti”… Tenho horror a essa postura. E, como sabem os que me lêem, não puxo o saco nem mesmo dos leitores. Mais de uma vez contrariei algumas expectativas. Lê quem quer.

Se alguém está tentando desestabilizar o governo Dilma Rousseff, esse alguém é Luiz Inácio Lula da Silva, que se apresenta como o condestável da República e que exerce uma coordenação paralela da aliança que conduziu Dilma ao poder. O recado é mais do que claro: ou ela joga segundo as regras que ele estabeleceu que supõem aquela penca de malefícios que elenquei no texto anterior  ou ele se apresenta como a alternativa, que é o que tem feito de maneira sistemática, organizada, metódica.

E encerrei aquele post assim: “Lula é o nome da doença. É para ela que precisamos de remédio.”

Mas qual é o remédio?

Por Reinaldo Azevedo
O nome da doença que assola o Brasil é Luiz Inácio Lula da Silva

Quatro ministros caíram em menos de oito meses de governo Dilma. Se considerarmos que Luiz Sérgio deixou a coordenação política para não fazerborra nenhuma na pesca, são cinco, três deles porque não conseguiram explicar o inexplicável no terreno ético: Antônio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes) e Wagner Rossi (Agricultura). Nelson Jobim (Defesa) foi demitido porque falou demais. As demissões se deram de junho pra cá, à média, portanto, de mais de uma por mês. São os sintomas. Afinal, qual é a doença que acomete a política brasileira? Chama-se Luiz Inácio Lula da Silva, o homem que hoje atua de modo claro, desabrido e insofismável para desestabilizar o governo da presidente Dilma Rousseff, sua criatura eleitoral.

Esse modelo de governo necrosado, que recende a carniça, não chega a ser uma criação genuína de Lula. Ele não cria nada. Mas é o sistema por ele reciclado, submetido ao aggiornamento petista. Este senhor é hoje o maior reacionário da política brasileira. De fato, é o maior de todos os tempos: nunca antes na históriadestepaiz um líder do seu porte — e os eleitores quiseram assim; não há muito o que fazer a respeito — atuou de forma tão determinada, tão clara, tão explícita para que o Brasil andasse para trás, desse marcha a ré nas conquistas do republicanismo, voltasse ao tempo da aristocracia dos inimputáveis. Enquanto Lula for uma figura relevante da política brasileira, estaremos condenados ao atraso.

O governo herdado por Dilma é aquele que seu antecessor construiu. Aqui, é preciso fazer um pouco de história.

No modelo saído da Constituição de 1988, o presidente precisa do Congresso para governar. Se o tem nas mãos, consegue transformar banditismo em virtude, como prova o mensalão. É impressionante que Lula tenha saído incólume daquela bandalheira — e reeleito! Há diversas razões que explicam o fenômeno, muitas delas já conhecidas. O apoio do Congresso foi vital — além da sem-vergonhice docemente compartilhada por quem votou nele. Não dá para livrar os eleitores de suas responsabilidades.

Fernando Henrique Cardoso governou com boa parte das forças que acabaram migrando para o lulo-petismo — o PMDB inclusive. Surgiram, sim, denúncias de corrupção. Não foi certamente um governo só com vestais. Mas era uma gestão com alguns propósitos, boa parte deles cumprida. Era preciso consolidar as conquistas do Plano Real, promover privatizações essenciais à modernização do país, tirar o bolor da legislação que impedia investimentos, criar bases efetivas para a rede de proteção social. FHC percebeu desde logo que essa agenda não se cumpriria com um alinhamento do PSDB à esquerda. E foi buscar, então, o PFL, o que foi considerado pelos “progressistas” do Complexo Pucusp um crime de lesa moralidade. Em boa parte da imprensa, a reação não foi diferente. Falava-se da “rendição” do intelectual marxixta — o que FHC nunca foi, diga-se — ao patrimonialismo. Um “patrimonialismo” que privatizava estatais… Tenha paciência!

FHC venceu eleição e reeleição no primeiro turno e implementou a sua agenda, debaixo do porrete petista. Teve, sim, de fazer, muitas vezes, o jogo disso que se chama “fisiologia”. O modelo saído da Constituição de 1988, reitero, induz esse sistema de loteamento de cargos. O estado brasileiro, infelizmente, é gigantesco. Quanto mais cargos há a ocupar, pior para a ética, a moral e os bons costumes. Mas, repito, o governo tinha um centro e uma agenda das mais complexas.

Lula surfou no bom momento da economia mundial, manteve os fundamentos herdados do seu antecessor — é faroleiro e assumidamente bravateiro, mas não é burro  e foi muito saudado por jogar no lixo o programa econômico do PT (até eu o saúdo por isso; sempre que algo do petismo vai para o lixo, é um dever moral aplaudir). Procedam a uma pesquisa: tentem encontrar um só avanço estrutural que tenha saído de sua mente divinal; tentem apontar uma só conquista de fundo, que tenha contribuído para modernizar as relações políticas no país; tentem divisar um só elemento que caracterize uma modernização institucional.

Nada!

Ao contrário. Lula fez o Brasil marchar para trás algumas décadas nos usos e costumes da política e atuou de maneira pertinaz para engordar ainda mais o balofo estado brasileiro, o que lhe facultou as condições para elevar a altitudes jamais atingidas o clientelismo, o fisiologismo, a estado-dependência. E aqui é preciso temperar a história com características da personagem,

Déficit de credibilidade
Lula e seu partido chegaram ao poder em 2002 com um déficit imenso de credibilidade. Muita gente pensava que eles próprios acreditavam nas besteiras que diziam sobre economia. Daí a especulação enlouquecida na reta final da eleição e no começo de 2003. O modelo, insisto, requer uma base grande no Congresso. E Lula, por intermédio de José Dirceu, foi às compras. A relação do PT com os outros partidos passou a sere mais ou menos aquela que existe no mercado de juros: se o risco oferecido pelo tomador do empréstimo é alto, a taxa sobe; se é baixo, desce. Os petistas eram considerados elementos um tanto tóxicos. Eles haviam se esforçado durante anos para convencer disso seus adversários. Logo, os candidatos à adesão levaram o preço às alturas.

Lula aceitou lotear o governo como nenhum outro havia feito antes dele. Os ministérios eram oferecidos de porteira fechada — prática que continuou e se exacerbou no segundo mandato; nesse caso, já não era déficit de credibilidade, não. Lula, o sindicalista, que fazia discurso radical para as massas e enchia a cara de uísque com a turma da Fiesp, viu-se feliz como pinto no lixo quando passou a ser o doador das benesses oficiais. Ele se encontrou. Descobriu seu elemento. Gostava mesmo era daquilo. E não foi só com os políticos, não!

Parte importante do empresariado e do mercado financeiro viu nele o lampejo do gênio. Com ele, sim, era fácil negociar, dizia-se a pregas largas, não com aquele sociólogo metido… Com Lula, tudo podia, tudo era permitido, tudo era precificável. Políticos e empresários se surpreenderam coma a facilidade com que ele fazia concessões. Não! Nada de tentar baixar carga tributária, por exemplo. O modelo consolidado pelo PT é outro: é o dos incentivos a setores escolhidos, o dos empréstimos subsidiados a rodo, o da escolha de “vencedores”. Lula não formava a sua clientela apenas com os miseráveis do Bolsa Família (que ele não criou;  só lhe deu viés politiqueiro). Os tubarões também passaram a ser clientes do lulo-petismo. Tinha bolsa pra todo mundo.

O grande gênio
Surfando num momento formidável da economia mundial, Lula pôde, então, se dedicar à sua obra: revitalizar o clientelismo; profissionalizar o aparelhamento do estado; comprar apoios loteando ministérios, estatais e autarquias. Mas para fazer qual governo mesmo? Para deixar qual herança de fundo, destinada às gerações futuras? O homem transformou-se num quase mito agredindo alguns dos fundamentos do republicanismo, que foram duramente construídos ao longo dos oito anos de seu antecessor. Lula avançou contra a herança bendita de FHC para deixar uma herança maldita a seus sucessores e a várias gerações de brasileiros. Nessas horas, os petralhas sempre entram para provocar: “Ah, mas só uma minoria acha isso; o povão apóia”. E daí? “Povões” já endossaram gente até mais nefasta do que Lula história afora.

Essa gente asquerosa que se demite ou é demitida e faz esses discursos patéticos, em que sugerem que só estão deixando seus cargos porque pautados pela mais estrita decência e por uma competência inquestionável, é expressão do modo lulista de governar. Eu, pessoalmente, ainda não estou convencido de que estamos diante da evidência da incompatibilidade de Dilma com esse padrão moral. Afinal, ela era a “gerente” do governo anterior, certo? Mas estou plenamente convencido de que ela não tem a devida destreza par comandar isso que se transformou NUMA VERDADEIRA MÁQUINA CRIMINOSA de gestão do estado.

A rataiada com a qual Lula governou o país durante oito anos tinha certo receio dele, de sua popularidade — até as oposições evidenciaram esse temor mais de uma vez —, mas não reverencia Dilma. Para se associar, mais uma vez, ao PT, o PMDB, por exemplo, exigiu participar efetivamente do governo, e isso quer dizer liberdade para executar a “sua” política nos ministérios. O mesmo se diga dos demais partidos. A infraestrutura já foi à breca há muito tempo, mas o país que se dane. Os “aliados” têm de cuidar dos seus interesses porque assim combinaram com Lula.

Em 2010, o prêmio exigido para a  adesão foi alto não porque o PT padecesse daquele déficit de credibilidade de 2002. A candidata é que se mostrava difícil. A costura da aliança, por isso, elevou o preço de novo. A tal “base” está revoltada porque o modelo de Lula não comporta a ingerência do poder central nos feudos dominados por partidos. Afinal, quem Dilma pensa que é? O acordo não foi feito com ela. Os patriotas se dizem, sem qualquer constrangimento, traídos. “Lula pediu para a gente apoiar essa mulher, e agora ela acha que pode se meter no nosso quintal?” Eles se consideram credores da presidente e acham que o governo os trata como devedores.

Nostalgia
Eles todos estão com saudade de Lula. Querem retomar a tradição. Consideram que roubar dinheiro público é uma paga natural pelo apoio, é parte das regras do jogo. Não deploram em Dilma a sua falta de projeto, de norte, de rumo. Estão inconformados é com o que a “falta de apoio” do governo contra esta maldita imprensa, que insiste em apontar irregularidades. Cadê o Apedeuta para pedir o controle dos meios de comunicação? Cadê o Franklin Martins para articular a “resistência”? Até o secretário de Imprensa do Planalto parece cobrar um “confronto” com a “mídia”. Eles querem Lula. E Lula quer de volta o lugar que acha que lhe pertence.

Encerro voltando aos tais intelectuais e àquela parte do jornalismo que ajudou a fundar o quase-mito Lula. Quando FHC fez a coligação com o PFL, falaram em crime de lesa democracia. Quando Lula se juntou à escória mais asquerosa da política, saudaram o seu pragmatismo. O pragmatismo que transformou a cleptocracia numa categoria progressista de pensamento.

Lula é o nome da doença. É para ela que precisamos de remédio.

Por Reinaldo Azevedo

Eles escondem a verdade? Eu mostro.

Eu não vou desistir da verdade. Em seu discurso, a presidente Dilma Rousseff fez o óbvio: foi grata à “herança bendita” de Lula etc e tal. Alguém esperava algo diferente? A pauta do dia hoje, neste blog, foi esta: o nome da doença política do Brasil é Luiz Inácio Lula da Silva. Pois bem. O homem que editou uma MP reunindo sob o nome-fantasia “Bolsa Família” programas criados por FHC era radicalmente contrário a esse mecanismo de transferência de renda. Ele achava que não passava de “esmola” e que as pessoas que recebiam bolsas ficavam vagabundas.

Em abril de 2003, Lula ainda insistia no seu estúpido “Fome Zero”. Num discurso no dia 9 daquele mês, atacando os programas de bolsas numa solenidade na presença de Ciro Gomes, afirmou que quem recebia aquele dinheiro não plantava macaxeira:

Eu, um dia desses, Ciro [Gomes, ministro da Integração Nacional], estava em Cabedelo, na Paraíba, e tinha um encontro com os trabalhadores rurais, Manoel Serra [presidente da Contag - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura], e um deles falava assim para mim: “Lula, sabe o que está acontecendo aqui, na nossa região? O povo está acostumado a receber muita coisa de favor. Antigamente, quando chovia, o povo logo corria para plantar o seu feijão, o seu milho, a sua macaxeira, porque ele sabia que ia colher, alguns meses depois. E, agora, tem gente que já não quer mais isso porque fica esperando o ‘vale-isso’, o ‘vale-aquilo’, as coisas que o Governo criou para dar para as pessoas.” Acho que isso não contribui com as reformas estruturais que o Brasil precisa ter para que as pessoas possam viver condignamente, às custas do seu trabalho. Eu sempre disse que não há nada mais digno para um homem e para uma mulher do que levantar de manhã, trabalhar e, no final do mês ou no final da colheita, poder comer às custas do seu trabalho, às custas daquilo que produziu, às custas daquilo que plantou. Isso é o que dá dignidade. Isso é o que faz as pessoas andarem de cabeça erguida. Isso é o que faz as pessoas aprenderem a escolher melhor quem é seu candidato a vereador, a prefeito, a deputado, a senador, a governador, a presidente da República. Isso é o que motiva as pessoas a quererem aprender um pouco mais.

Pois não é que este senhor passou para a história — a história contada por vigaristas, que Alckmin, na prática, contestou na tarde desta quinta — como  o criador daquilo com que ele queria acabar? Mais tarde, Lula passou a dizer que aquilo que ele próprio afirmava era coisa de “gente imbecil, de gente ignorante”.  Como discordar? Vejam de novo este filme. Volto em seguida.

O nome da doença da política brasileira é Luiz Inácio Lula da Silva.

Por Reinaldo Azevedo
Na presença de Dilma e FHC, Alckmin lembra que a miséria começou a ser erradicada com o fim da inflação e com programas sociais do governo… FHC!

Como passei boa parte da tarde debatendo questões que dizem respeito aos fundamentos da democracia e do estado de direito, a agenda do dia ficou um pouco prejudicada. Tanto os leitores do blog que gostam de mim como os que não gostam (ainda mais fiéis!!!) me pedem que comente a solenidade de hoje, em que tucanos e petistas anunciaram uma parceria no trabalho de erradicação da miséria absoluta. Já recebi aqui links de sites e blogs petralhas pra todo gosto: há alguns que sugerem que Dilma está traindo Lula, afirmando que os tucanos vão se apoderar de programas petistas… Quanta mistificação! E há aqueles que vêem em Dilma a fina estrategista, que estaria engolfando o PSDB de São Paulo. E, sim, há os inconformados em ver tucanos e petistas num mesmo ambiente, o que é institucionalmente inevitável. Dilma é presidente da República. Geraldo Alckmin é governador do estado. Adiante.

Eu estou aqui, como procuro fazer sempre, para ir um pouco além do óbvio. Segue o discurso feito por Geraldo Alckmin. Tenho quase certeza de que muita gente vai acabar jogando fora o miolo para comer a casca da banana. Vou me esforçar para fazer o contrário. É um discurso oficial, com todas aquelas saudações etc e tal. Se estiverem meio assoberbados, procurem o trecho que  está em negrito (ou azulito...)

Bom dia a todas e a todos. Estimada presidenta da República Federativa do Brasil, Dilma Rousseff; presidente Fernando Henrique Cardoso; governadores do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral; de Minas Gerais, Antônio Anastasia; do Espírito Santo, Renato Casagrande; ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello; ministros e ministras aqui presentes; vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos; do Rio de Janeiro, Luiz Fenando Pezão; deputado Barros Munhoz, presidente da Assembleia Legislativa do nosso Estado; senadores da República por São Paulo Marta Suplicy e Eduardo Suplicy; governador Paulo Maluf; secretário de Estado, quero abraçá-los, cumprimentando aqui o Rodrigo Garcia; presidente da Câmara de São Paulo, vereador José Police Neto; João Coser, prefeito de Vitória, no Espírito Santo; presidente da Frente Nacional de Prefeitos; parlamentares; lideranças municipais; beneficiários do programa; lideranças sociais; amigas e amigos. É uma alegria, com a minha esposa, a Lu, recebermos a todos hoje aqui, na sede do Governo de São Paulo.

Identifico aqui, neste ato, um momento de avanço do Brasil, um momento em que a política, tantas vezes aviltada, cumpre a sua função primordial, a de zelar pelo bem-estar das pessoas, de abrir portas, criar oportunidades para que cada um se supere e encontre o seu caminho. Identifico aqui um marco. Ultrapassamos um período de disputas para unir esforços em prol dos que mais precisam no Brasil. Senhora presidenta, isso se deve em grande parte ao seu patriotismo, à sua generosidade, a seu espírito conciliador. Sob seu protagonismo, Governos Estaduais, Municipais e Federal se aproximam ainda mais, reunindo o mesmo esforço, programas sociais complementares.

Em São Paulo, vamos unificar em um só cartão - aliás, para disputar aqui com o Sérgio Cabral, o cartão aqui eu não sei, acho que é mais bonito ainda hein?! Vamos unificar o Bolsa Família e o Renda Cidadã e, com isso, nós vamos poder atender mais 300 mil famílias, ou seja, um milhão de pessoas que ainda estão abaixo da linha da pobreza. E, acima de tudo, avançarmos em uma agenda da família, nessa busca, e às Prefeituras, aos municípios que têm um papel extremamente importante, nós vamos levar o Banco do Povo, que é o microcrédito. Levar os programas do EJA, que é a escola de Jovens e adultos, para que, quem não teve oportunidade de estudar possa ter o seu diploma do Ensino Fundamental, do Ensino Médio. O Via Rápida para o Emprego, que são os programas rápidos de qualificação profissional, as ETECs, as FATECs, o Ensino Técnico, Tecnológico, enfim, fortalecer uma agenda de emprego e de renda junto a todas essas famílias.

O trabalho focado na erradicação da miséria é uma obrigação do Estado Brasileiro para com os mais pobres, e nós estamos avançando. Por isso, presidenta Dilma, a senhora faz um acerto histórico ao aceitar a experiência daqueles que vieram antes de nós, e nos legaram saberes e experiências. Foi a estabilidade da economia nos anos 90 que permitiu que o Governo e a sociedade começassem a se organizar para atender os que mais sofrem. Atingida a estabilidade, sob o Governo Fernando Henrique Cardoso, começamos esse processo com o Bolsa Escola; com o programa nacional de renda mínima, chamado Bolsa Alimentação; depois veio o programa Auxílio Gás. Esses programas de transferência de renda, voltados aos muito pobres, chegavam, ao fim de 2002, a cinco milhões de famílias. Em 2003, uma inteligente medida provisória do Governo Lula juntou todos esses programas no Bolsa Família e deu a eles unicidade e notável expansão.

Vamos repetir as experiências bem-sucedidas para consolidá-las; vamos inovar para avançar. A erradicação da miséria é uma das formas de ser da ética na política. Por isso, hoje, com a presença de todos vocês, lideranças, prefeitos, governadores, parlamentares, ministros, presidente Fernando Henrique, presidente Dilma Rousseff, São Paulo se orgulha em recebê-los aqui nesse novo capítulo ambicioso de combate à miséria. O bem-estar das pessoas é a obra-prima do Estado, é a razão de sua existência. Muito obrigado!

Voltei
Na presença do presidente Fernando Henrique Cardoso, sempre tratado a pontapés pelo Apedeuta, e de governadores de estado, Alckmin repôs a verdade histórica insofismável. O fundamento básico dos programas de combate à miséria foi dado no governo tucano: o fim da inflação, a pior de todas as injustiças que se podem cometer contra a pobreza, e os programas sociais, que foram criados por FHC. Querem uma prova? Reproduzo abaixo o  texto da Medida Provisória que criou o Bolsa Família, em outubro de 2003. Prestem atenção aos programas que ele reúne e às datas de sua criação:

(…) programa de que trata o caput tem por finalidade a unificação dos procedimentos de gestão e execução das ações de transferência de renda do Governo Federal, especialmente as do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Educação - “Bolsa Escola”, instituído pela Lei n.° 10.219, de 11 de abril de 2001, do Programa Nacional de Acesso à Alimentação - PNAA, criado pela Lei n.° 10.689, de 13 de junho de 2003, do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Saúde - “Bolsa Alimentação”, instituído pela medida provisória n.° 2.206-1, de 6 de setembro de 2001, do Programa Auxílio-Gás,instituído pelo Decreto n.° 4.102, de 24 de janeiro de 2002, e doCadastramento Único do Governo Federal, instituído pelo Decreto n.° 3.877, de 24 de julho de 2001.

Alckmin foi cordial com Dilma, como deve ser, mas repôs, na presença de FHC e da presidente, a verdade histórica, tantas vezes aviltada pelo petismo e, em especial, por Lula. E lembrou outra evidência factual: em 2002, os programas sociais atingiam 5 milhões de famílias. E sem exploração eleitoreira, é bom lembrar.

Assim, peço vênia aos críticos de um e de outro lado, para afirmar: não havia rendição nenhuma no ato. Ao contrário. Tanto é assim que boa parte do PT ficou furiosa com o evento. O que FHC fazia ali? Ele é o presidente de honra do PSDB e, como está documentado e só pode ser questionado por delinqüentes morais, foi quem deslanchou os programas de erradicação da miséria. Ainda volto ao tema.

Por Reinaldo Azevedo
Lula se comporta como pré-candidato com oito meses de mandato de Dilma e diz que é um desserviço discutir sucessão agora

Luiz Inácio Apedeuta da Silva não se emenda. Parte da suposição de que os outros são idiotas — e, em muitos casos, é bem-sucedido. Aliás, ponham “bem-sucedido” nisso! Dilma não completou oito meses de governo, já demitiu quatro ministros e vive numa crise permanente com a base aliada. O PT discute abertamente a sua sucessão.

O Babalorixá fez chegar à imprensa que ele desaprova essa conversa — a exemplo do que fez Paulo Bernardo em entrevista ao UOL. Quanta generosidade! Quem é o primeiro a se apresentar na área, sempre sugerindo que ele, sim, sabe como conduzir uma coalizão política?

Parte importante da crise que vive a sua sucessora tem nome: Luiz Inácio Lula da Silva. Ele está cumprindo o que prometeu: é um ex-presidente como nunca antes na história destepaiz. Tenta tutelar a sua sucessora como se fosse seu dono.

Por Reinaldo Azevedo
“Corrupção atinge níveis inimagináveis”, dizem delegados

Por Fausto Macedo, no Estadão:
Delegados da Polícia Federal, inconformados com ataques que a corporação recebe a cada operação, lançaram manifesto por meio do qual lamentam que “no Brasil a corrupção tenha atingido níveis inimagináveis”. Destacam que “milhões de reais, dinheiro do povo, são desviados diariamente por aproveitadores travestidos de autoridades”.

“Quando esses indivíduos são presos, por ordem judicial, os padrinhos vêm a público e se dizem “estarrecidos com a violência da operação da Polícia Federal”", afirma o documento, subscrito pela Associação Nacional dos Delegados da PF, uma das principais entidades da classe que detém atribuição constitucional para presidir inquéritos sobre desvios de recursos do Tesouro.

“No Ministério dos Transportes, toda a cúpula foi afastada”, assinala o protesto. “Estourou o escândalo na Conab e no próprio Ministério da Agricultura. Em decorrência das investigações no Ministério do Turismo a Justiça Federal determinou a prisão de 38 pessoas de uma só tacada. Mas a preocupação oficial é com o uso de algemas.”

Eles ponderam que “em todos os países a doutrina policial ensina que o preso deve ser conduzido algemado, porque a algema é instrumento de proteção ao preso e ao policial que o prende”.

Os delegados recorrem ao criminalista Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça no governo Lula, que um dia declarou: “A Polícia Federal é republicana e não pertence ao governo nem a partidos políticos”. Aqui

Por Reinaldo Azevedo

Assim se comporta um intelectual do regime. Ou: Lula, “o guia genial” de um intelectual esquerdista no combate ao… Centrão! Ou: O nosso Máximo Gorki

Queridos, o texto é longo, sei. Hoje acordei disposto a ir fundo, hehe. Mas é um dos mais importantes publicados neste blog. Não por causa de fulano ou beltrano, mas por causa da desmontagem de uma tese politicamente vigarista, que, como diria Chico Jabuti, anda nas cabeças e nas bocas dos esquerdistas do complexo “UNICAMPUCUSP”, os justificadores intelectuais de uma doença política chamada “Luiz Inácio Lula da Silva”. É evidente que há bons pensadores na USP, PUC ou Unicamp. Tenho amigos nas três.

Não dá tempo de ler tudo o que sai por aí. Às vezes, batemos olho num título, lemos o nome do entrevistado e pensamos: “Não vale a pena; deixa pra lá”. Durante algum tempo, sei lá, umas quatro ou cinco colunas que ele escrevia na Folha, li um rapaz chamado Marcos Nobre, “professor de filosofia política na Unicamp”. O título comporta certa pompa natural. Não é que ele ensine “ciência política”, o que faz supor um trabalho mais descritivo, de análise: as correntes de pensamento, as ideologias, as afinidades eletivas deste ou daquele. Não! Sem trocadilho, a tarefa dele é mais nobre: é “filosofia política”, o que já nos leva a supor algo mais elaborado, que transcende o terreno da descrição para entrar na floresta escura do pensamento. Logo deixei o dito-cujo de lado. Quando não estava justificando o petismo, cobrava um adernamento à esquerda. Admita-se que se pode fazer isso de modo inteligente. Não era o caso. Por isso bati o olho numa entrevista que ele concedeu ao Estadão no domingo e fui fazer outra coisa. Nem lembro o quê. Qualquer coisa.

Mas um amigo — da academia, diga-se — insistiu: “Você tem de ler!” Ainda protestei: “Porra! Não é coisa que um amigo nos cobre…” Ele insistiu. Li. A que ponto pode descer um “pensador”! Antes que entre no mérito, uma lembrança. Não havia intelectual no Ocidente que ignorasse a tirania de Stálin, os assassinatos políticos, a morte de milhões durante a coletivização da agricultura, a censura, o horror. No entanto, a verdade foi sistematicamente negada pelas esquerdas porque, afinal, julgavam ter uma tarefa mais importante e mais urgente: o combate à contra-revolução, ao imperialismo, ao fascismo… E havia os que simplesmente negavam que houvesse violência na URSS. O escritor francês André Gide, por exemplo, denunciou a tirania já em 1934, depois de uma viagem ao país — “Retour de l’URSS” — e foi tratado como escória pelos intelectuais de esquerda. Como era homossexual, sua crítica foi tomada apenas como chiliques de um pederasta… Ainda voltarei aos intelectuais e a Stálin, vocês verão.

Na entrevista ao Estadão — íntegra aqui —, de maneira oblíqua, o professor expressa a sua insatisfação com a “faxina” promovida no governo Dilma e, claramente, alerta a presidente para os riscos. O cerne do “pensamento” marcosiano está nesta reposta:

E como combater o que o sr. chama de peemedebismo?
De fato, precisamos de uma pequena revolução política. Já tivemos uma pequena revolução econômica e uma pequena revolução social. Se vai ser a Dilma quem vai fazer isso não sei. O peemedebismo tem que acabar.
 
O problema é que a política da queda de braço da Dilma está organizando o peemedebismo. Fernando Henrique dizia que tinha uma base desorganizada, Lula também. A característica do peemedebismo é ser desorganizado, fragmentado. Dilma está ameaçando organizar o peemedebismo. E a organização do peemedebismo tem um nome: chama-se “centrão”. O centrão é um poder autônomo em relação a partidos e ao governo. O poder de chantagem do centrão é muito grande. Este centrão está sendo reorganizado pelo PMDB - se chama hoje “bloco informal” (anunciado nesta semana por PR, PMDB, PTB, PP e PSC). Este sempre foi o medo do Lula: uma organização do Legislativo independente do Executivo. A organização do peemedebismo significa um travamento como tivemos no governo Sarney e no governo Collor. É muito grave.

Comento
Nem vou discutir essa história de “pequena revolução” disso ou daquilo porque os próprios termos já definem o pensamento. “Pequena revolução” é o correspondente político de uma “pequena gravidez”. Também na filosofia política, as palavras fazem sentido, pois não? Sigamos. O leitor poderá dizer. “Pô, Reinaldo, mas não entendi o que há de mal aí; parece até razoável”. Eu sei. O capeta também parece razoável até a assinatura do contrato… Releiam. Na prática, Nobre está afirmando que a ação política de Lula, no que concerne à base aliada, em especial ao PMDB, consistiu em controlar “o Centrão”.

Um “pensador” de esquerda, como Marcos Nobre, quer-se um “dialético”. A dialética é a alegoria de mão dos justificadores do mal. Consiste basicamente em extrair o bem da essência do mal; em demonstrar que aquilo que vemos, que é escancaradamente eloqüente, é só uma etapa de um Bem futuro.

A dialética é uma das religiões dos ateus. Acham a hipótese de Deus irrealista, estúpida mesmo. Mas estão certos de que o mal acaba levando a um salto de qualidade que o transforma no bem.

Para este senhor, a melhor maneira que Lula encontrou de “neutralizar” o Centrão foi fazer tudo o que o PMDB (e outros patriotas) queriam, entenderam? Não é que ele compactuasse com a sacanagem, com a lambança, com a sem-vergonhice. Nada disso!  Estava apenas sendo estratégico. Ao supostamente neutralizar essas forças, conseguiu, então, implementar seu programa. A síntese do pensamento marcosiana poderia ser esta: “Lula fez tudo o que as forças do Centrão queriam para neutralizar as forças do Centrão”. É mais ou menos como, ao perceber que se vai ser assaltado, entregar tudo ao ladrão antes que ele saque a arma. Para todos os efeitos, foi uma doação voluntária, não uma chantagem.

Assim, resta a Marcos Nobre censurar — de modo um tanto vexado, claro! — o suposto comportamento moralizador de Dilma. Ele estaria conduzindo a uma regornização do Centrão, que seria o que de pior pode acontecer na política brasileira. Como as palavras fazem sentido e como a lógica já existia antes de Nobre entrar na floresta escura do pensamento, ele está dizendo que Dilma, e não Lula, atua como um agente de regressão política, ainda que não queira. Marcos Nobre chegou, depois de alguns livrinhos, aonde José Dirceu e Lula chegaram sem ler borra nenhuma! É a obra mais evidente de todo intelectual do regime: a inutilidade do conhecimento.

Falei que voltaria a Stálin. Os bate-paus do stalinismo explicaram o acordo Stálin-Hitler como a mais genial e formidável decisão estratégica de seu líder. O tirano só estaria tentando ganhar tempo para organizar a máquina de guerra. Ainda hoje, professores de história repetem essa farsa em sala de aula. Não é que fascismo e socialismo fossem, afinal, farinhas do mesmo saco original e que os dois totalitarismos tivessem a democracia liberal como adversária comum. Nada disso! Stálin só estava dando um jeito de enganar Hitler… Assim como Lula passou oito anos enganando o PMDB, o PR e afins… E como os enganou? Ora, entregando-lhes ministérios de porteira fechada. Foi a face mais doce e mais rentável do ludíbrio.

Nobre está alertando Dilma para os ricos. Leiam isto:
Mas esta estratégia não é livre de riscos, certo?
Não só é arriscado como também tem data de validade. Ela não pode fazer isso por quatro anos porque, desta forma, o sistema político como um todo aparece como vilão. Não dá para levar esta situação além do primeiro semestre de 2012. É em 2012 que o político fará sua base para uma candidatura em 2014. Não se pode apoiar um candidato num contexto em que todo e qualquer político é corrupto. A tática da Dilma até agora deu certo porque ela consegue se apresentar como alguém que luta contra o sistema político por dentro do próprio sistema. Também deu certo porque ela conseguiu ampliar o cordão sanitário. O cordão sanitário vem desde o governo FHC - são aquelas áreas consideradas intocáveis pelo peemedebismo, geralmente saúde, educação e política econômica. Dilma queria estender este cordão aos Transportes, por causa das obras de infraestrutura. Até o momento, deu certo. Mas tem limite, porque o sistema político se volta contra ela.

Vamos ver. Dilma não está pulando por boniteza, mas por necessidade. Não promove uma faxina, ou como queiram chamar, de moto próprio, mas porque os escândalos estão vindo à tona. Fazer o quê? Não dispõe da popularidade — e da cara-de-pau — de Lula para fazer de conta que nada aconteceu. Prestem atenção a isto: “Não se pode apoiar um candidato num contexto em que todo e qualquer político é corrupto. A tática da Dilma até agora deu certo porque ela consegue se apresentar como alguém que luta contra o sistema político por dentro do próprio sistema.” Quem está dizendo que “todo e qualquer político é corrupto?” Ninguém! Dilma tampouco. Ele tem razão numa coisa: ela também é cria desse ambiente, mas só haveria alguma contradição em sua ação se estivesse atuando por iniciativa própria. Não está!  Nobre, com seu fatalismo blasé, nos informa que nada há a ser feito. O esforço moralizador da política expõe o líder à reação do sistema. O corolário: melhor condescender com a bandalheira, preservando os bons propósitos.

Ah, os fatos
Há outra coisa que filosofia política nenhuma consegue anular: o peso dos fatos. Lei isto, e já começo a caminhar para a conclusão.

E se o Executivo tentar governar sem o Congresso?
Seria a chave para a formação do centrão. Dilma tem três espadas apontadas para sua cabeça: a Emenda 29 (que regulamenta os gastos com saúde), a PEC que estabelece o piso para policiais civis e os royalties do petróleo. Todas estão na mão do Congresso. O governo pode não depender do Parlamento - se não quiser fazer grandes reformas, o que é o caso da Dilma -, mas não pode contorná-lo.

Que coisa! Vamos, então, às três espadas. Está em todos os arquivos. A candidata Dilma Rousseff prometeu, em campanha, aprovar a Emenda 29, que garante mais verba para a Saúde. Não vou entrar no mérito de cada “espada” porque o texto ficaria quilométrico. O fato é que ela prometeu. No caso da PEC 300, a que iguala o piso dos policiais ao do Distrito Federal, este pobre escriba (snif, snif…) já deu a cara ao tapa algumas vezes, criticando-a. Está tudo em arquivo. E não é só o piso de policiais civis, não. Na prática,  o dos militares também. Como quebraria os estados, aprovou-se uma emenda ao texto original: o que cada unidade da federação gastar a mais, se aprovada a proposta, será coberto pelo Tesouro. Sabem o nome do político que mais se comprometeu com ela e que deu a maior força para que ela prosperasse? Michel Temer! Quanto à divisão igualitária dos royalties do petróleo, dizer o quê? Para não perder apoios regionais importantes, fundamentais para a eleição de Dilma Rousseff, o governo Lula não moveu uma palha para derrotar a proposta, nada! A própria candidata ficou de bico calado. Só para registro: o tucano José Serra deixou claro que era contra.

Assim, o dito “Centrão”, se existisse, não estaria impondo a Dilma nada com que ela não tivesse se comprometido, direta ou indiretamente, quando candidata. A “filosofia política” de Marcos Nobre não resiste aos arquivos.

Nas décadas de 30, 40 e 50, Nobre estaria buscando as razões estratégicas que justificavam a brutalidade stalinista: o combate aos contra-revolucionários, ao imperialismo, ao fascismo… Como Nobre é Nobre, e não Máximo Gorki, ele justifica Lula  em nome do combate ao… Centrão!

Como se diz em Dois Córregos: “Vorrrta, ruela!” Eu nunca entendi a origem da expressão (“vorta” é do verbo “vortá”, que é o contrário de “ir”). Sei que quer dizer isto: “Credo! Que nojo! Que coisa mais asquerosa!” É o latim que a gente fala lá de vez em quando. Traduzo: “Vade retro!”

Por Reinaldo Azevedo

Da coluna  Direto ao Ponto, de Augusto Nunes:

Sobram vagas no mausoléu dos corruptos

Um post de 3 de julho registrou que, ao contrário do que imaginam vários amigos da coluna, nem tudo está dominado. Ressalvei que é compreensível a sensação de impotência provocada pela impunidade institucionalizada, pela cumplicidade ativa ou passiva dos três Poderes, pela voracidade da aliança governista, pela pilhagem sistemática dos cofres públicos, pela mansidão bovina da maioria do eleitorado ─ enfim, pela paisagem política desoladora. Mas a frase que dá por consumado o triunfo dos fora-da-lei será apenas um verso derrotista enquanto existirem imprensa livre e milhões de brasileiros capazes de indignar-se com denúncias consistentes.

O texto se amparou no despejo de Antonio Palocci e no desbaratamento da quadrilha em ação no Ministério dos Transportes. Se dependesse de Dilma Rousseff e, sobretudo, de Lula, o reincidente incurável continuaria na Casa Civil. Depois de 20 dias de resistência, o Planalto teve de render-se. Em 3 de julho, Alfredo Nascimento ainda era ministro. Não teria perdido o emprego dias depois se os brasileiros honestos se dessem por satisfeitos com a demissão dos subordinados fora-da-lei.

Passados 45 dias, multiplicaram-se as evidências de que nem tudo está dominado. Além de Nascimento e seus gatunos, o mausoléu dos corruptos inaugurado por Palocci acolheu, em um mês e meio, o lobista homiziado no Ministério da Agricultura, o irmão de Romero Jucá que colecionava patifarias na Conab, o secretário-executivo do ministério e meia dúzia de defuntos de segunda classe. Nesta tarde, enfim, ali foram alojados os restos políticos de Wagner Rossi.

Não foi um enterro qualquer. O ex-ministro é mais que o primeiro figurão do PMDB incorporado ao jazigo. É o primeiro amigo de fé do vice-presidente Michel Temer abatido pela reação do país que presta. É a prova definitiva de que a opinião pública não vai respeitar imunidades partidárias.

Há uma semana, a presidente Dilma Rousseff replicou em dilmês a jornalistas interessados em saber se era para valer a faxina ensaiada no Ministério dos Transportes: “Não vamos abraçar a corrupção, mas não serei pautada pela mídia”, decolou o neurônio solitário. Dilma continua abraçando corruptos, comprovaram a discurseira falaciosa sobre algemas e fotos de topless, as declarações de apoio a Wagner Rossi e as notas de solidariedade a meliantes do PT. Mas não escapou de ser pautada não pela mídia, mas por fatos divulgados pela imprensa independente. Jornais e revistas informam. Quem pressiona são os brasileiros cansados de ladroagem.

“O barbudo tem de voltar”, lamuriou-se Alfredo Nascimento no discurso em que se despediu dos cofres do governo. Tradução: os prontuários demitidos sonham com o regresso do Padroeiro dos  Companheiros Bandidos. Para implodir o sonho do clube dos cafajestes, os brasileiros decentes devem exigir o prosseguimento da dedetização indesejada pelo Planalto. O alvo do momento é o Ministério do Turismo. É preciso levantar o diminuto tapete que encobre parcialmente o ministro Pedro Novais. Sobram vagas no jazigo dos assaltantes de cofres públicos.

Confiscar-lhes empregos e gazuas, convém lembrar, é só o começo. O mausoléu dos corruptos deve assinalar o quilômetro zero da estrada que termina na cadeia.

Que tal um acordo com a bandidagem?

A cena se repete em quase todos os capítulos das séries policiais da TV. Numa sala do tribunal, o promotor propõe ao bandido e seu advogado um acordo conveniente para ambas as partes. Se o personagem prestes a ser julgado assumir a autoria do crime, ou fizer revelações que incriminem delinquentes de patente superior, escapará de punições mais severas ou terá reduzido o tempo de cadeia.

O Brasil acaba de saber que, para os quadrilheiros federais e seus defensores, nada é tão terrível quanto algemas nos pulsos e fotos de topless nos jornais. O que espera o Ministério Público para colocar em prática o modelo americano? A multidão de assaltantes de cofres públicos, é verdade, não cabe num tribunal inteiro. Mas o doutor José Eduardo Cardozo poderá representá-los nas negociações. É ele o advogado de defesa de todos os bandidos de estimação.

Se os culpados confessarem tudo o que andaram fazendo e pagarem seus muitos pecados numa cela de cadeia, os brasileiros honestos toparão abrandar-lhes o sofrimento com duas concessões: as algemas de metal serão substituídas por argolas  fabricadas pelos índios do Xingu e todos os gatunos só poderão ser fotografados de terno e gravata.

É um acordo vantajoso para todos. Eles se livrarão do martírio. E nós nos livraremos deles.

(por Augusto Nunes)

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo

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