Eu gosto mesmo é de andar na contramão! Alguns dos que me detestam têm razão! Ou: Cuidado com o poder das vítimas de manual

Publicado em 04/10/2011 11:45 e atualizado em 04/10/2011 19:14
Por Reinaldo Azevedo.

Aprendi que a gente não pode nem ter maus pensamentos — vendo a Shakira rebolar, por exemplo (*) — que o planeta aquece. É um bicho sensível. Quantas toneladas de carbono se produziram, Deus meu!, sustentando que o simples debate sobre o novo Código Florestal aumentou o desmatamento! Os ongueiros, que são os verdadeiros pauteiros da imprensa nessa área, deitaram e rolaram. Tentaram ligar até a tragédia de Petrópolis ao novo texto, como se Sérgio Cabral não tivesse vindo antes…

Pois é… Um dos estudantes da São Francisco que me esculhambaram, tentando defender o indefensável, afirmou que eu só saí em defesa do reitor da USP porque, segundo ele, era “a causa mais difícil”. Ele viu nisso um defeito. Em parte, dou razão a ele, e acho que essa é uma das minhas melhores qualidades. Quando noto que há aquela maioria, festiva ou furiosa, defendendo uma idéia, ligo o meu espírito de porco: “Será que é mesmo assim?” É um mecanismo de defesa. Eu tenho como um dado permanente e um elemento de advertência na minha abordagem do mundo o fato de que os vários fascismos, inclusive o nazismo, foram movimentos de maiorias. COMO SOU INTELECTUAL E VISCERALMENTE ANTIFASCISTA, basta eu notar aquela gentarada toda babando uma mesma verdade, e sinto a incontornável necessidade de desafinar o coro dos contentes — ou o coro dos descontentes.

Aquele rapaz que tentou me atacar, pois, está parcialmente correto. Eu tendo a enxergar um quê de covardia na entusiasmada defesa da “vontade da maioria”. Fazer o quê. “Ah, então quer dizer que, se a maioria é contra a violência, você é a favor?” Não seja ridículo, petralha! Há valores na sociedade que são consensuais, que não estão em debate — e, se querem saber, nem devem mesmo ser debatidos. Eu me nego, por exemplo, a discutir com alguém se a democracia é necessária ou negociável. Se o sujeito quer especular a respeito desse tema, já é um vagabundo desprezível. Eu me refiro, é claro, a embates em que a solução não é óbvia. Sigamos.

Tantas vezes acertei assim, não é?, sugerindo que se tomassem certos cuidados. Vocês se lembram de algumas “teses” difíceis abraçadas por este blog e de alguns questionamentos feitos contra o “clamor” público. O último evento notório foi a tal acusação de estupro contra Dominique Strauss-Kahn. Fui tão óbvio que pareci quase pornográfico: sexo oral forçado, e com, como direi?, conclusão num quarto de hotel, sem que o senhor de 60 estivesse com um revólver ou uma faca muito afiada a ameaçar a moça de 30? Bem, só poderia acreditar na patacoada quem não estava ligando o nome à coisa. Talvez o sexo oral seja menos freqüente do que imaginamos, sei lá… Mas volto ao ponto.

Quando Marina Silva, a Santa Imaculada da Floresta, afirmou que a expectativa do Novo Código Florestal aumentava o desmatamento — e um rebanho de jornalistas fiéis seguiu bovinamente a sua litania —, apontei a falta de lógica da afirmação. Era uma coisa estúpida. O texto não livrava a cara de desmatadores antigos e menos ainda de novos, que não teriam nem sequer a chance da compensação ambiental para reparar o malfeito. A acusação era uma estupidez militante. Ao seguir Marina, a imprensa MILITOU, não INFORMOU.

Eis aí. Houve queda no desmatamento da Amazônia — e não foi pequena, conforme post já publicado. No G1, informa-se: “A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, afirmou nesta segunda-feira (3) que o debate sobre o Código Florestal no Senado não vai estimular o aumento do desmatamento como foi relatado por secretários estaduais de Meio Ambiente no início do ano, quando o projeto foi discutido e aprovado pela Câmara dos Deputados. A discussão dos deputados sobre o texto da lei que estipula regras para a preservação ambiental em propriedades rurais teria criado uma ‘expectativa de anistia’.”

Quando os secretários vieram com aquele bobagem, lembrei neste blog que a acusação era puro achismo; que eles não tinham dados em mãos que comprovassem a afirmação.

Sim, queridos! É claro que seria uma burrice pensar simplesmente: “Ah, se a maioria é contra, então sou a favor; se a favor, então sou contra” Não é isso! Reitero que há consensos necessários para que a sociedade opere com um mínimo de funcionalidade. Eu recomendo que se ligue o desconfiômetro quando há esses embates polêmicos, em que as “vítimas eleitas pelo pensamento politicamente correto” dizem as suas verdades e choram as suas lamúrias. geralmente tentando transformar em poesia seus atos autoritários e até violentos.

POUCAS COISAS EMBURRECEM TANTO O PENSAMENTO COMO O PODER DAS VÍTIMAS.

(*) Mensagem quase cifrada - Weimar, meu amigo lá da Bahia, ombudsman deste blog e conselheiro espiritual do Tio Rei, andou tomando uns cascudos em casa por causa da Shakira. Pois é… Weimar não é do tipo que sente “tesão” castigando adversários, como o professor Sérgio Salomão Shecaira, da Faculdade de Direito da USP. O Shecaira, suponho, continua sem Shakira…

Por Reinaldo Azevedo

Socooorrrooo!!! Fui atingido por uma professora de português analfabeta!!! Ou: “Priscilla, a rainha do deserto intelectual”

A coisa é muito séria, meus amigos! Mais séria do que imaginamos. Recebo um comentário de uma pessoa que se assina Priscilla d. R. (não vou publicar o nome inteiro para poupar a cretina de si mesma, a menos que ela exija…). A Coisa se diz professora de português. É possível. Os jargões que emprega e a sua “pauta” de reivindicações revelam que deve ser uma, como é mesmo que eles chamam?, “trabalhadora da educação”. É o fundo do poço!

Esta é uma daquelas, estou certo, que não ensinam gramática — ela só se dedica a interpretação de textos e debates — porque não sabem, não porque não queiram. Reproduzo abaixo o texto da mulher. É espantoso! Sua redação é incorrigível. O texto teria de nascer de novo. Falta-lhe uma noção mínima de pontuação, por exemplo. Ela ignora o uso do subjuntivo. Sua ortografia é patética. Sua sintaxe é miserável. Leiam. Volto em seguida.

Eu como professora de língua portuguesa explico ao Sr. Reinaldo Azevedo, que,o que faz com que alguém se expresse com clareza não é apenas a aula de língua portuguesa com regras gramaticais, a qual seu pensamento reacionário provavelmente se refere, mas sim, e ATÉ MUITO MAIS, um conteúdo quedesenvolve o pensamento crítico, que só as matérias da área de humanas oferecem. Mas no geral acho essa sua discussão e todos os outros projetos ridículos apresentados pela secretaria da educação são inúteis, já que enquanto não diminuírem o número de alunos em sala de aula, qualificarem os professores com ações de formação, diminuírem a carga horária dentro das salas e aumentarem tempo para preparação; sem contar com a melhoria de nossa sociedade, diminuindo as diferenças de classes e promovendo o direito aos recursos básicos de bem estar a toda população; enquanto essa reforma não for realizada, não adianta nenhum “direitista” como o Sr. falar qualquer abobrinha sem propriedade, por que nada vai mudar. Aliás, acho que um pouco de aula de sociologia iria lhe cair muito bem.

Voltei
Uma professora de português que comete aquele “que” entre vírgulas lá da primeira linha merece mais chicote do que um livro de gramática. Se a tia energúmena soubesse o que é uma oração subordinada adjetiva restritiva, não teria cometido aquele “a qual”. Muitos, sem saber o que é a dita-cuja, teriam escrito “à qual” ou “às quais” (a depender do que tentou dizer a bruta) só porque têm os dois pés no chão e as duas mãos suspensas do ar. Não é o caso da “Pri”… Quando, no entanto, se é professor de português, esse conhecimento é indispensável para não passar este carão; para não ser humilhada por um jornalista de “pensamento reacionário”.

Viram? Ela é analfabeta, mas tem “pensamento crítico”. Escrevi vários textos a respeito desse assunto. É o que quer a petralhada da educação. Vejam lá: Prisicilla, a rainha do deserto intelectual, acha que só é possível ensinar algo que preste aos alunos quando toda a pauta da Apeoesp tiver sido satisfeita. E não só isso: sem diminuir a desigualdade de classes, nada feito! E ela se atreve: “por que (sic) nada vai mudar”. Que medo!

Minhas caras, meus caros, eu sou um entusiasta dos mecanismos de premiação da competência no ensino público porque cavalgaduras como esta senhora têm de ser estimuladas a deixar a área. Já que, infelizmente, o estado — São Paulo ou outro qualquer — não pode promover uma limpa, demitindo os idiotas, é preciso criar mecanismos para estimular os competentes e atrair outros competentes. Qualquer governo que não invista pesadamente no sistema de mérito está cometendo um crime contra a educação, contra as crianças.

Se Priscilla tivesse mais tempo, ela seria menos estúpida? Não! Ela só seria só uma estúpida com mais tempo. Se Priscilla ganhasse o triplo, ela seria menos estúpida? Não! Ela seria só uma estúpida com mais dinheiro. Se Priscilla desse aula para 20 alunos, não para 45, ela saberia empregar o verbo “diminuir” com propriedade? Como se nota, ela tem orgulho da sua ignorância; a sua tolice é parte de sua vocação militante.

Notem que ela é descrente. Sabe que essas coisas todas não virão da noite para o dia. Enquanto isso, vai ficando “na rede” — como gosta de dizer o esquisito secretário de Educação de São Paulo, Herman Voorwald —, ocupando o lugar de quem pretende trabalhar com seriedade. Eis aí, professor Herman: eis uma aliada na sua proposta de cortar a carga horária de língua portuguesa do ensino médio. É essa gente que gosta da sua idéia… Querem apostar que Priscilla é sempre a primeira a entrar em greve e sempre a última a sair?

Priscilla, você é analfabeta, Priscilla! E uma analfabeta perigosa porque está na condição de quem ensina. Faça um favor a si mesma: mude de profissão! Há várias atividades que não requerem intimidade com a língua. Você pode até ser “presidenta” da República, mas professora? Não dá! Faça um favor aos alunos: caia fora! Pegue uma vassoura!

Não! Não é machismo, não! Não é para varrer a casa. Pegue a vassoura e saia voando!

PS - E o mais encantador é que ela, cheia de si, ainda me manda estudar!

Por Reinaldo Azevedo

Os fascistas “do bem” estão assanhados: ou Rafinha Bastos como pretexto

Jamais me esqueço de uma frase do cineasta italiano Bernardo Bertolucci, dita há alguns anos numa entrevista à revista BRAVO!, quando eu ainda trabalhava lá: “O fascismo começa caçando tarados”. Estava ele fazendo a defesa dos tarados? Certamente não! Só alertava para o risco de que nada é tão perverso - e perigoso - como a prática cega do “bem”. Termina provocando um mal que acaba se entranhando na sociedade, na cultura, nas mentalidades, do qual dificilmente nos livramos. O fascismo sempre é um exemplo porque, se nos dedicarmos à leitura de seus princípios e intenções, tudo parece muito aceitável. Esses comunistinhas de meia-tigela que há nas universidades públicas brasileiras vivem citando Mussolini sem saber. A vertente alemã do fascismo, o nazismo, já se mostrava, de saída, escancaradamente autoritário por causa da tara anti-semita. Isso à parte, encantaria, como encantou, alguns humanistas distraídos… O fascismo, felizmente, caiu em desgraça. Mas a sua outra metade, o comunismo, continua como se fosse uma bela promessa do passado…

Por que essas considerações? O destrambelhamento do humorista e apresentador de TV Rafinha Bastos, que falou no ar um troço que considero irrepetível, e ele é reincidente nisso, está sendo explorado por vigaristas intelectuais de esquerda, que decidiram, agora, que chegou a hora de recuperar as virtudes do fascismo politicamente correto. E a canalha não se contenta, naturalmente, em apenas posar de defensora putativa das “minorias” - daqueles “que não têm voz”, diz o mais ridículo deles -; quer também estabelecer uma pauta, de modo que se definam o que é e o que não é aceitável pensar e, sobretudo, falar e escrever. Quer ser a polícia do pensamento.

Bastos, a exemplo de outros que se dedicam à sua linha de humor, já deu sinais de que é um rapaz inteligente. Não estou fazendo ironia, não! Como todo humorista competente, sabe identificar os valores influentes na sociedade, identifica suas fragilidades, desconstrói consensos etc. E ganha muito dinheiro com isso, o que não é pecado, já que há quem pague para ouvir o que ele tem a dizer. Mas cometeu um erro - que já apontei em Danilo Gentili, seu companheiro no CQC da Band, quando fez uma piada estúpida sobre os judeus: achar que o humor é uma categoria que está acima de qualquer outra. E, nesse particular, ele pode ser bastante burro. Fosse assim, haveria um novo ente soberano no mundo, que substituiria, inclusive, a moral e a ética. Seria uma nova divindade, um novo imperativo, em cujo altar as sociedades renderiam todos os seus valores. Ele e outros como ele têm de aprender que essa é uma concepção tola - e também autoritária.

Mas vamos devagar aí! Esquerdopatas estão querendo se apropriar da justa indignação com alguns exageros dessa linha de humor para propor uma espécie de caça às bruxas, num esforço de transformar a bula politicamente correta - a piada de Rafinha que gerou o bafafá, diga-se, nem se encaixava na categoria da incorreção política - numa espécie de Manual Nacional de Redação de jornais, revistas, sites e blogs, de modo a satanizar aqueles que não rezam segundo a cartilha. Assim, eu não poderia mais escrever “apedeuta” para me referir a Lula, por exemplo, porque estaria mangando de sua baixa escolaridade - e não, como é o caso, de sua determinação em fazer a apologia da ignorância. Do mesmo modo, estaria proibido de me opor às cotas raciais nas universidades ou à dita lei contra a homofobia (na verdade, contra a liberdade de expressão e de escolha) porque, afinal, seria o mesmo que combater as minorias que sofrem… Mais: também não poderia fazer restrições à tal Comissão da Verdade ou chamar Carlos Lamarca de assassino porque isso tudo ofenderia o consenso… de uma minoria influente que quer impor sua vontade à maioria.

Abaixo, há um texto em que expresso a minha vocação para andar na contramão. Trato de uma falácia que foi muito difundida, em toda a imprensa, segundo a qual a expectativa do novo Código Florestal havia aumentado o desmatamento. Foi uma invenção de Marina Silva. Eu a combati. Afirmei que era bobagem. Houve certamente quem dissesse: “Ah, o Reinaldo é um desses politicamente incorretos…” Posso até ser. Naquele caso, eu só estava sendo logicamente correto. Os fatos demonstraram que eu estava, também, aritmeticamente  correto. O desmatamento até caiu. Agora é a própria ministra do Meio Ambiente quem assegura que a acusação era falaciosa. Eu não escrevi aquelas coisas para deixar chocados os que babam verde. Escrevi porque era fato e porque era o que eu pensava.

Tantas vezes tomei aqui um caminho quase solitário. Lembram-se do dito “golpe” em Honduras? Ou daquela moça que teria sido vítima de ultradireitistas na Suíça? Ou da privatização de estradas de Dilma, que deixou Elio Gaspari de queixo caído - e agora quebrado? Ou de Strauss-Kahn? Eu não estava tentando chocar ninguém ou fazendo questão de ser politicamente incorreto.

Ah, mas agora há o Rafinha Bastos… A fascistada está assanhada para tirar daí uma lei geral: “Olhem no que dá deixar essa gente falar tudo o que dá na cabeça”. Que “gente”? Não existe um sindicato da incorreção. E que fique claro: não estou aqui dizendo “Ah, pegar Rafinha pode, mas não venham pra cima de mim!” Não virão porque nem tem por onde. Estão querendo confundir a agressão a alguns valores constitutivos da civilidade com a contestação de parcialismos influentes. O combate à discriminação racial é um bem universal a ser preservado até pelos humoristas; política de cota racial é uma escolha ideológica. O combate à discriminação em razão da sexualidade é um bem universal a ser preservado; a tal lei contra a homofobia é uma escolha ideológica. O reconhecimento de que os palestinos merecem um estado é um bem universal a ser preservado. Apoiar a iniciativa de Mahmoud Abbas na ONU é uma escolha ideológica. O equilíbrio ecológico é um bem universal a ser preservado; as teses de Marina são uma escolha ideológica.

Era só o que faltava: agora, um bando de mamadores nas tetas oficiais, uma gente desqualificada, que vive do que consegue arrancar do estado brasileiro - dos pobres -, incapaz de ganhar a vida por seus próprios méritos e meios, decidiu se oferecer para ser a consciência da nação.

A reação negativa às piadas infelizes de Bastos mostra que a liberdade de expressão no país não precisa de policiais. A sociedade reage quando se sente ofendida. De resto, os puxa-sacos juramentados não são seus melhores críticos. Vão se catar, fascistas!

Por Reinaldo Azevedo

Quero ver a Fifa impor o álcool em estádios na terra de Alá! Na terra do Orlando Silva, o comunista sem multidão, é fácil!

“Interrogam-te (Ó Profeta) a respeito da bebida inebriante e do jogo de azar. Dize: ‘Em ambos há benefícios e malefícios para o homem; porém, os seus malefícios são maiores do que os seus benefícios’.” (Corão 2:219)

O consumo de álcool é proibido nos países islâmicos, até mesmo naquele que muito cretino ocidental confunde com uma democracia, o ditatorial Catar, por causa da rede de TV Al Jazeera, o verdadeiro combustível das revoltas árabes - e não o Facebook. Quando a Fifa anunciou que a Copa do Mundo de 2022 seria disputada no país, os bares de Doha explodiram em festa. Bares, entenda-se, onde se toma muito suco, chá de menta e se pode ficar meio trelelé, mas de tanto fumar tabaco aromatizado no narguilé. Uma pergunta: a Fifa pretende mudar o Corão para que o álcool deixe de ser, como disse o Profeta, “a mãe de todos os males”? E não importa se pouco ou muito, já que, “se uma quantidade grande de algo causa intoxicação, uma pequena quantidade também é proibida” (princípio, de resto, errado; o arsênico, por exemplo, em pequenas quantidades, pode ser remédio).

Por que isso? Orlando Silva, o comunista sem multidões, acompanhou Dilma Rousseff a Bruxelas. Enquanto ela dava lições de economia aos países ricos - fica até parecendo que os  emergentes estão numa situação melhor porque descobriram seu próprio jeito de fazer a coisa… -, ele se encontrava com a Fifa - que é, não se esqueçam jamais, uma entidade privada. A federação está inconformada com algumas leis vigentes no Brasil e quer que elas sejam mudadas para a realização do torneio.

Em várias cidades, é proibida a venda de bebidas alcoólica nos estádios. Pode-se achar a lei ridícula, mas não cabe à Fifa dizer se ela serve ou não. Quando escolheu o Brasil para sediar o torneio, deveria saber qual é o arcabouço jurídico vigente aqui. Também vigora a meia entrada para estudantes e idosos.  Eu sou contra essa estrovenga, se querem saber. Isso só serviu para alimentar a indústria das carteirinhas da UNE - hoje os pelegos não precisam mais da graninha porque o governo enche seus cofres. Mas e daí? Será a federação de futebol a declarar que ela não serve?

Qual seria a reação normal de um ministro sério de um governo sério de um país sério? Dizer um “não” inequívoco. Ou o Brasil abriga o torneio com as leis que tem, ou, por outra, a Fifa passa a ser uma entidade supranacional e… neocolonial, que sai por aí impondo a sua vontade. Mais: Silva poderia ter explicado ainda que, no Brasil, não basta um governante meter o porrete na mesa para mudar a lei. Por aqui, há Poder Legislativo, há Poder Judiciário, há Ministério Público, essas coisas…

O ministro prometeu, bom menino, fazer esforços para tornar compatível a legislação brasileira com as exigências da entidade, expressando a sua confiança de que tudo sairá a contento. Disse que o governo pode enviar ao Congresso mudanças na Lei da Copa para compatibilizar as exigências da entidade, do país, dos estados e dos municípios. Lembrou que seria difícil cassar a meia-entrada do idoso porque é lei federal; jogou a batata quente dos estudantes no colo dos estados e disse que a proibição do álcool vale para campeonatos da CBF - uma das entidades que compõem a… Fifa! Vai ver a Copa do Mundo muda o caráter do álcool…

Reitero: sou contra essa patacoada de meia-estrada para estudantes e idosos. Já o álcool em estádios deveria ser mesmo severamente proibido. E ponto! Acho até desnecessário elencar as razões. Fanatismo de torcida não combina nem com água benta. Mas quem tem de decidir essas coisas é o Brasil. É ridículo que um ministro de estado seja assediado por esse tipo de conversa. Uma coisa é a Fifa exigir tais e quais condições de infra-estrutura; outra, diversa, é querer alterar a legislação dos países que não guardam qualquer relação direta com o bom andamento do evento. Por isso perguntei sobre o álcool no Catar. Limitar o consumo de álcool em razão da religião oficial de um país é mais nobre e mais aceitável do que fazê-lo para diminuir as chances de desordem pública?

Junto com a Copa do Mundo, parece que importamos também um conjunto de exceções legais. Para construir as obras, é preciso jogar no lixo a Lei de Licitações; para realizar o evento, é preciso mudar outras disposições vigentes. Pensando bem, é tudo compatível com a metafísica influente do país em que um presidente da República mudou a legislação só para permitir a compra de uma empresa de telefonia por outra - operação financiada com dinheiro público, decisão tomada antes mesmo da “legalização” ad hoc…

No auge da política antiterror dos EUA, o então ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Lafer, tirou os sapatos para passar pelo detector de metais nos EUA. Ele e muitos diplomatas de outros países. Lula transformou aquilo num símbolo de campanha em 2002. Seria o sinal definitivo da nossa submissão aos potentados estrangeiros. Orlando Silva, lamento, tira agora bem mais do que o sapato. E não se trata, exatamente, de uma guerra ao terror… A Fifa está preocupada com a sua grana. E ponto.

Ninguém vai reclamar. Alguns baluartes da consciência jurídica do país estão empenhados em causas mais nobres: defender a sua corporação, votar moções de “persona non grata” para atingir adversários ideológicos… Já alguns oposicionistas se dedicam a sabotar aliados de partido… Não fui tomado de nenhum surto nacionalista, não! Não fiz de Policarpo Quaresma o meu herói. Mas que país é este cujos governantes permitem que suas leis sejam questionadas por uma federação de futebol, enquanto os nativos são obrigados a se haver, como demonstrou reportagem recente da VEJA, com a imbecilidade legiferante que esá à volta?

Por Reinaldo Azevedo

Ainda não há entendimento sobre royalties, diz governador do ES

Leiam o que informa Iara Lemos, do Portal G1 (mais aqui).  Volto ao assunto mais tarde.
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, afirmou nesta segunda-feira ao G1que é preciso seguir tentando uma alternativa para a nova divisão dos royalties gerados com a exploração do petróleo da camada pré-salDurante a tarde, Casagrande disse que telefonou para o senador Wellington Dias (PT-PI), autor de projeto que altera a distribuição, e para o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), pedindo o adiamento da votação da proposta, prevista para ocorrer nesta terça-feira (4). O Espírito Santo, ao lado do Rio de Janeiro, reclama que perderia recursos com a proposta negociada pelo Congresso. “Não chegamos a um entendimento. Sem um entendimento, não teríamos como votar a proposta. É melhor tentar mais um pouco”, disse o governador ao G1.

A decisão pelo adiamento será tomada na reunião do colégio de líderes, convocada pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) para a tarde desta terça-feira. Nesta segunda, Wellington Dias, autor do projeto, defendeu o adiamento da votação em uma semana. Vital do Rêgo, responsável por elaborar o parecer sobre a nova divisão, adiou a entrega do texto final, que estava prevista para o começo da noite desta segunda-feira.Segundo Vital do Rêgo, o parecer foi elaborado mesmo sem acordo entre governadores e parlamentares.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

Fifa quer suspender leis do Brasil para fazer a Copa, e ministro dá uma piscadinha…

Leiam o que vai abaixo. Há aí uma coisa bastante séria. Voltarei ao tema de madrugada. Por enquanto, fiquem com a informação do Portal G1:

O ministro do Esporte, Orlando Silva, disse nesta segunda-feira (3), em Bruxelas, na Bélgica, que o Brasil pode “aperfeiçoar” o texto da Lei Geral da Copa para tornar as regras “mais claras” sobre alguns pontos questionados pela Federação Internacional de Futebol (Fifa).

Silva participou de reunião entre a presidente Dilma Rousseff e o secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, na qual foi discutida a Lei Geral da Copa, enviada pelo governo ao Congresso em 19 de setembro. A legislação traz um conjunto de medidas exigidas pela federação para a realização da competição no Brasil.

Após a reunião, Orlando Silvadisse que o governo federal pode enviar sugestões de mudanças ao Congresso e ajudar no diálogo entre Fifa e estados e municípios, que têm legislações locais sobre temas como proibição da venda de bebidas alcoólicas em estádios e cobrança de meia-entrada de ingressos. A Fifa não concorda com esses dois pontos porque tem compromisso com fabricantes de cerveja que patrocinam o evento. Além disso, quer estipular o preço do ingresso.

“A redação do projeto pode ser aperfeiçoada, de modo que todas as garantias que o Brasil firmou com a Fifa deverão ser cumpridas. (…) Se Fifa sugere que fique mais explícito, acreditamos que não é problema explicitar para que fique mais claro. Brasil e Fifa estão no mesmo barco. Temos o mesmo objetivo que é o sucesso do Mundial. “, disse o ministro em entrevista coletiva após o encontro.

O ministro exemplificou ainda temas que podem ser mudados. “O credenciamento de imprensa, por exemplo, vamos deixar claro que credenciamento de mídia, acesso aos estádios, é tarefa exclusiva da Fifa. Se não está claro, deixaremos claro. “

Orlando Silva informou ainda que no próximo dia 12 dirigentes da Fifa virão ao Brasil para reunião sobre o Mundial. “Esse encontro visa oferecer ao Congresso sugestões para que a redação da lei deixe mais claras as garantias [oferecidas pelo Brasil].” Ele disse que a reunião visa “harmonizar” a relação entre federação e governo brasileiro.

Em relação à meia-entrada para idosos, Silva disse que a Fifa foi informada que o direito será mantido, uma vez que se trata de lei federal. “Sobre o Estatuto do Idoso, informamos à Fifa que não seria suspensa a legislação.”

O ministro voltou a dizer que a questão da meia-entrada para estudantes deve ser tratada com os estados e que a venda de bebidas alcoólicas só é proibida pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em campeonatos da entidade.

Abertura da Copa
De acordo com a Agência Brasil, o secretário-geral da Fifa disse que entre os dias 18 e 20 deste mês a federação anunciará qual cidade vai sediar o jogo de abertura da Copa. São candidatas Salvador (BA), Brasília (DF), São Paulo (SP) e Belo Horizonte (MG).

Por Reinaldo Azevedo

É o caso de os juízes tomarem mais cuidado

Vamos ver. A Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil) pediu ajuda ao ainda poderoso deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para marcar uma audiência com o governador Sérgio Cabral (ver posts abaixo). Pois é…

A Ajufe é uma associação de caráter sindical. A rigor, seus representantes podem e devem mobilizar parlamentares para encaminhar seus pleitos. Ocorre que Cunha é réu em dois processos e move 10 ações que tramitam na Justiça Federal do Rio — e serão julgadas por juízes em favor dos quais ele se mobilizou.

Não se trata aqui de declarar a suspeição de quem quer que seja a priori. Mas como é que fica a mulher de César nessa história? Associações de juízes, e há, que eu me lembre, ao menos três de abrangência nacional, são sempre coisas um tanto complicadas, né?

Se é forçoso mobilizar forças políticas para encaminhar seus pleitos, então é o caso de estudar melhor aqueles que servirão de intermediários das demandas.

Por Reinaldo Azevedo

Os números mostram como Gisele ofendeu as mulheres…

A VEJA desta semana informa que passou de 300 para 650 por mês o número de interessados em abrir franquias da marca de lingerie que a pobrezinha Gisele Bündchen exibe naqueles comerciais que mexeram com os brios da ministra Iriny (que chamei, sem querer, Ira-ny) Lopes. Pois é… Isso dá conta de quão ofendidas ficaram as mulheres que Ira-ny quer proteger. Talvez seja o caso de fazer propaganda com Manual de Instrução…

Por Reinaldo Azevedo

O silêncio dos nada inocentes

É incrível!

Até agora, os “indignados” da São Francisco, que fuzilam um reitor sem direito à defesa — certamente eles concordam que Marcola deve ter um advogado, mas não um ex-diretor da faculdade —, não disseram uma palavra sobre o ato político-eleitoral ilegal protagonizado pelo professor Shecaira, o sem-Shakira, nas dependências da faculdade. Fazem de conta que não aconteceu. Um ex-diretor e reitor, que atua dentro do que lhe confere o Regimento (goste-se ou não de suas ações, essa é outra história), leva uma moção de persona non grata. Um professor que viola Lei Eleitoral, autor da moção, ganha aplauso.

E é uma Faculdade de Direito!

PS - Parem com essa ridicularia de dizer que ataco a faculdade. Eu não! Vocês a atacam! Depredam o seu principal patrimônio, que não lhes pertence: a defesa do estado democrático e de direito.

Por Reinaldo Azevedo

O “capitalismo de Gaspari” ou o “contubérnio incestuoso da burocracia”?

Quando Dilma lançou o seu “novo modelo” de privatização das estradas, Elio Gaspari vibrou na cadeira, com uma retórica condoreiro-administrativa: “Na tarde de terça-feira concluiu-se no salão da Bolsa de São Paulo um bonito episódio de competência administrativa e de triunfo das regras do capitalismo sobre os interesses da privataria e contubérnios incestuosos de burocratas.”

E aproveitou para dar um pau no modelo paulista.

Tio Rei fez cara de tédio na cadeira:
“Demoniza-se um modelo que, efetivamente, deu certo e se exaltam as glórias de uma escolha cujos resultados podem demorar ainda uma década” E elogiei o modelo paulista.

Gaspari pra lá, eu pra cá (escrevi ontem a respeito).

Já sabemos faz tempo que o modelo Dilma deu errado. Ocorre que deu tão errado que há duplicação de estrada que ficou para 2035!!!

É.. Acho que São Paulo não pode esperar tanto, né? Sei lá… Será que devo exaltar os “contubérnios incestuosos da burocracia”, então?

Por Reinaldo Azevedo

“Esse Israel tem de desaparecer”. E ninguém soltou um pio de protesto!

É curioso! Muitos analistas brasileiros atribuem aos palestinos a candura que eles próprios não se atribuem. Imaginem se um diplomata israelense de um recanto qualquer dissesse: “Essa Autoridade Nacional Palestina deve desaparecer…” Seria um escândalo. Na sexta, numa palestra a universitários, Ibrahim Alzeben, embaixador palestino no Brasil, afirmou com todas as letras: “Esse Israel deve desaparecer”.

Para que não pesasse nenhuma dúvida sobre o que ele estava querendo dizer, fez questão de deixar claro: “E não é o embaixador do Irã nem o presidente (Mahmoud) Ahmadinejad quem está falando”. Logo, ficou evidente que ele não estava querendo dizer que Israel tem de desaparecer da Cisjordânia. É desaparecer do mapa mesmo, conforme pregou Ahmadinejad. Mas, claro, muitos dirão: “Ah, ele não manda nada!” Pois é! Ele reflete um debate interno, quem sabe uma estratégia.

Ciente de que o Hamas, que também acha que Israel tem de desaparecer, não vai parar de jogar foguetes contra Israel, Alzeben afirmou: “Israel está preparando provocações para um novo conflito. Duvidem da origem dos próximos foguetes partindo da Palestina”. Afirmou ter informações da contra-inteligência segundo as quais Israel estaria infiltrando agentes em Gaza para disparar mísseis contra o próprio território, entenderam?

Estado judeu
Ao afirmar que “esse Israel tem de desaparecer”, Alzeben escancara a natureza da “luta”, que muitos especialistas, inclusive os nossos, se negam a admitir.

Quando a Autoridade Nacional Palestina se nega a reconhecer Israel como um “estado judeu”, quer deixar a volta dos ditos “refugiados” como uma causa a pautar as gerações futuras. Como não conseguem eliminar “esse Israel” pelas armas, sonham um dia eliminá-lo pela demografia.

Não vai acontecer. “Esse Israel” não vai desaparecer nem de um jeito nem de outro. O anti-semitismo pode estar seguro de que sua luta também não tem tempo para acabar… Arre!

Por Reinaldo Azevedo

Os avós da democracia e os avós da tirania

Um rapaz me pergunta, não sei se estudante da São Francisco, a título de provocação, se os jacobinos também não contribuíram para a democracia. Diz isso porque afirmei que a Faculdade de Direito da USP não pode ser um clube jacobino.

Já que perguntou, então lá vai. Não! Os jacobinos só contribuíram com as cabeças cortadas. No começo, foram as alheias, até que chegou a hora de entregar as próprias. Que é o que sempre acontece com quem se dedica à eliminação do outro.

A democracia moderna é herança da “direita” da Assembléia, nenéns. Os jacobinos — o que fica claro, aliás, na obra do velhote do traseiro furunculoso — são os antecedentes morais,  E CRIMINAIS, do marxismo e do fascismo.

Por Reinaldo Azevedo

E aí, Marina? Desmatamento da Amazônia caiu 38% em agosto, indica Inpe; logo, é mentira que novo Código Florestal seja ruim para a floresta

Uma das teses malucas, irracionais, espalhadas por Marina Silva, a sem-partido, é que o debate sobre o novo Código Florestal aumentou o desmantamento. Não haveria razões lógicas pra isso porque o texto não protege de modo nenhum novos desmatamentos — ao contrário. E também não é leniente com os antigos, diga-se.

Pois é… Não fazia sentido. E não aconteceu mesmo. O desmatamento caiu. Leiam o que informa Débora Santos, no Portal G1 (mais aqui):

O desmatamento na região amazônica teve uma queda de 38% no mês de agosto em relação ao mesmo mês do ano passado, indicam dados divulgados nesta segunda-feira (3) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Ministério do Meio Ambiente, em Brasília.

Analisando imagens de satélite, o instituto detectou a derrubada de 164 km² - o equivalente a cem vezes o Parque Ibirapuera, em São Paulo. Um ano antes, haviam sido 265 km² devastados em agosto. Em relação a julho deste ano, também houde redução, já que naquele mês foram 225 km². A cobertura de nuvens foi a menor da história, com 3%, o que contribuiu para a qualidade dos dados de monitoramento via satélite.

De acordo com o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Câmara, a queda é resultado do esforço de fiscalização feito pelo governo. Depois de registrada a devastação de 477 km² em abril deste ano, um gabinete de crise foi instalado para aumentar a vigilância, em especial no norte de Mato Grosso.

“Instalamos o gabinete de crise e, de lá para cá, conseguimos reduzir e colocar muito abaixo do que era o perfil médio do ano passado”, afirmou a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.

Por Reinaldo Azevedo

O PSDB e o medo de ocupar o seu lugar à direita; se não o fizer, ficará sem lugar nenhum

No Estadão deste domingo, há uma entrevista com Frances Hagopian, professora da Universidade Harvard, que é uma estudiosa dos partidos políticos no Brasil. Segundo ela, o PSDB precisa assumir o espaço da centro-direita se quiser sair do impasse. Afirmei ontem que voltaria ao tema. E, como se vê, estou voltando. Instada a dar uma dimensão prática à sua afirmação, que considero correta como norte, ela afirmou: “Você pode ter um grande projeto, que inclua novas reformas, modernizar portos, atacar de fato toda a infraestrutura. Isso pode ser feito de diferentes maneiras, e uma delas é diminuindo o tamanho do Estado, para recuperar recursos e destiná-los, aí sim, às urgências sociais.”

Pois é. Consta que o PSDB vai realizar um seminário para tentar definir a sua pauta… ou algo assim. Seria um evento para recuperar alguns valores do Plano Real… ou algo assim. E também para definir uma agenda de reformas… ou algo assim. Por enquanto, parece um partido em busca de um discurso. Fico cá imaginando a dificuldade de vender a modernização dos portos como uma “tema quente” no horário eleitoral. Ou, então, a diminuição do estado.

Frances indaga se o PSDB teria a coragem de ocupar esse espaço da centro-direita. Acho que não! Nem com esse discurso que ela sugere nem com o discurso que eu sugiro, que vai por caminho diverso. A minha análise é outra: trata-se de uma disputa em torno de valores. Tratei desse assunto num longo texto na última edição de VEJA do ano passado. É hora de recuperá-lo aqui. Muitos de vocês já o conhecem. Peço que vocês o leiam no 10º mês do mandato de Dilma e depois de sabermos como se comportou a oposição nesse período. Será que ele ainda faz sentido? O texto é longo, sim. Mas acho que ele assume um sentido muito especial neste momento. Vamos lá. Vamos ver se Tio Rei estava com as idéias ajustadas, agora que já conhecemos parte da história.

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“Em nosso país, queremos substituir o egoísmo pela moral (…); os costumes pelos princípios; as conveniências pelos deveres; a tirania da moda pelo império da razão; o desprezo à desgraça pelo desprezo ao vício; a insolência pelo orgulho; a vaidade pela grandeza d’alma; o amor ao dinheiro pelo amor à glória (…); a intriga pelo mérito (…); o tédio da volúpia pelo encanto da felicidade; a pequenez dos grandes pela grandeza do homem; um povo cordial, frívolo e miserável por um povo generoso, forte e feliz; ou seja, todos os vícios e ridicularias da Monarquia por todos os milagres da República.”

As palavras acima são parte de um discurso feito por Robespierre, um dos líderes jacobinos, a corrente mais radical da primeira safra dos revolucionários franceses, e foram pronunciadas no dia 5 de fevereiro de 1794. É grande o risco de o leitor ter ouvido de um professor, em algum momento de sua vida escolar, que ali estava um cara batuta, que queria “liberdade, igualdade e fraternidade”. Quem de nós pode ser contra o horizonte que ele propõe? No dia 28 de julho daquele mesmo ano, Robespierre perdeu a cabeça na guilhotina. Ainda retornarei à França do fim do século 18 depois de passar pelo Brasil do começo do século 21.

De volta para o futuro, pois:

Quem contesta o presidente Luiz Inácio Lula da Silva odeia o país. Quem manifesta contrariedade com a concessão de um prêmio literário a uma celebridade, em um jogo de cartas marcadas, está com inveja. Quem enfrenta a patrulha politicamente correta quer fazer a história marchar para trás. Os dias andam hostis à crítica - a qualquer uma e em qualquer área. Não é a voz do povo que expressa intolerância, mas a dos que se querem seus intérpretes privilegiados. As urnas demonstraram que a massa de eleitores é bem mais plural do que os donos do “Complexo do Alemão” mental da política, da ideologia, da cultura e até de setores da imprensa, que tentam satanizar o dissenso.

Nesse ambiente, fazer oposição ao governo liderado pelo PT, partido que atribui a si mesmo a missão de depurar a história, é tarefa das mais difíceis, especialmente quando a minoria parlamentar será minoria como nunca antes na democracia deste país. Ao longo de oito anos, é preciso convir, os adversários de Lula não conseguiram encontrar o tom e se deixaram tragar pela voragem retórica que fez tabula rasa do passado e privatizou o futuro. O PT passa a impressão de já ter visitado o porvir e estar entre nós para dar notícias do amanhã.

A pergunta óbvia é com que discurso articular o dissenso, sem o qual a democracia se transforma na ditadura do consentimento?

Não existem receitas prontas. Mas me parece óbvio que o primeiro passo consiste em libertar a história do cativeiro onde o PT a prendeu. Isso significa mostrar, e não esconder, os feitos e conquistas institucionais que se devem aos atuais oposicionistas e que se tornaram realidade apesar da mobilização contrária bruta e ignorante do PT. Ajuda também falar a um outro Brasil profundo, que não aquele saído dos manuais da esquerda, sempre à espera de reparações e compensações promovidas pelo pai-patrão dadivoso ou a mãe severa e generosa, à espera da “grande virada”, que nunca virá!

Temos já um Brasil de adultos contribuintes, com uma classe média que trabalha e estuda, que dá duro, que pretende subir na vida, que paga impostos escorchantes, diretos e indiretos, a um estado insaciável e ineficiente. Milhões de brasileiros serão mais autônomos, mais senhores de si e menos suscetíveis a respostas simples e erradas para problemas difíceis quando souberem que são eles a pagar a conta da vanglória dos governos. É inútil às oposições disputar a paternidade do maná estatal que ceva mega-currais eleitorais. Os órfãos da política, hoje em dia, não são os que recebem os benefícios - e nem entro o mérito, não agora, se acertados ou não -, mas os que financiam a operação. Entre esses, encontram-se milhões de trabalhadores, todos pagadores de impostos, muitos deles também pobres!

Esse Brasil profundo também tem valores - e valores se transformam em política. O que pensa esse outro país? O debate sobre a descriminação do aborto, que marcou a reta final da disputa de 2010, alarmou a direção do PT e certa imprensa “progressista”. Descobriu-se, o que não deixou menos espantados setores da oposição, que amplas parcelas da sociedade brasileira, a provável maioria, cultivam valores que, mundo afora, são chamados “conservadores”, embora essas convicções, por aqui, não encontrem eco na política institucional - quando muito, oportunistas caricatos os vocalizam, prestando um desserviço ao conservadorismo.

Terão as oposições a coragem de defender seu próprio legado, de apelar ao cidadão que financia a farra do estado e de falar ao Brasil que desafia os manuais da “sociologia progressista”? Terão as oposições a clareza de deixar para seus adversários o discurso  do “redistributivismo”, enquanto elas se ocupam das virtudes do “produtivismo”? Terão as oposições a ousadia de não disputar com os seus adversários as glórias do mudancismo, preferindo falar aos que querem conservar conquistas da civilização? Lembro, a título de provocação, que o apoio maciço à ocupação do Complexo do Alemão pelas Forças Armadas demonstrou que quem tem medo de ordem é certo tipo de intelectual; povo gosta de soldado fazendo valer a lei. Ora, não pode haver equilíbrio democrático onde não há polaridade de idéias. Apontem-me uma só democracia moderna que não conte com um partido conservador forte, e eu me desminto.

Antes de saber quem vai liderar um dos pólos, é preciso fazer certas escolhas. O Congresso aprovou há pouco, por exemplo, o sistema de partilha para o pré-sal. Não se ouviu a voz da oposição, a exceção foi a senadora Kátia Abreu (DEM-TO). O PT inventou a farsa, amplamente divulgada na campanha eleitoral, de que não passava de “privatização” o sistema de concessão, que conduziu o país à quase auto-suficiência e que fez dobrar a produção de petróleo no governo FHC. Mentiu, mas venceu o embate. Podem vir por aí as reformas. Quais setores da sociedade as oposições pretendem ter como interlocutores? Continuarão órfãos de representação milhões de eleitores que não se reconhecem na ladainha pastosa do  “progressismo”? As oposições têm de perder o receio de falar abertamente ao povo que trabalha e estuda. Que estuda e trabalha. Em vez de tentar dividir os louros da caridade, tem de ser porta-voz do progresso.

Essa oposição tem, em suma, de enfrentar uma esquerda que, se morreu há muito tempo na economia, exerce inquestionável hegemonia na cultura e na política, onde se esforça para aplicar o seu programa, cuja marca é ódio à divergência, que ela entende ser expressão da má consciência. Não houve um só teórico esquerdista relevante cujo objetivo não fosse a superação dos “limites” da democracia. Sem esse horizonte escatológico, inexiste esquerdismo.

Esses libertadores não vêem a si mesmos como expressão de um conjunto de valores em meio a tantos outros, com o quais teriam de competir, mas como a evolução do pensamento, o seu desdobramento superior. Assim, ou se está com eles ou se está com o atraso, com o retrocesso, com a reação. Ora, se o “outro”, o que pensa diferente, não é um adversário, mas um inimigo da civilização, então não merece respeito e tem de ser eliminado. Em um comício em Santa Catarina, Lula defendeu, por exemplo, que o DEM seja “extirpado” da política, como se um governo não fosse legitimado pela oposição, sem a qual ou se tem uma ditadura, ainda que de maioria, ou se tem um concerto de políticos contra a população. Não se enganem: em um regime em que todas as forças estivessem unidas em um grande pacto, sobraria apenas o povo como adversário.

Em uma anedota trágica, a aversão de Lula à oposição é tal que ele combate até a do Irã! Referindo-se aos protestos contra a reeleição fraudulenta de Mahmoud Ahmadinejad, comparou-os à reação de uma torcida de futebol que visse seu time perder. O apedrejamento da democracia é considerado “variante cultural” pelo petismo. Lula tomaria pau no Enem dos direitos humanos.  E não está só. Nesse ambiente, a crítica virou ou sabotagem ou expressão do isolamento ressentido de quem não pertence ao grupo dos “vitoriosos”, onde se encontram políticos, ideólogos, autores, pensadores e até jornalistas. Quem não fala como um deles o faria só por não ser um deles, como se a essência de um regime de liberdades não estivesse justamente no direito de… não ser um deles! Nas ditaduras também é possível dizer “sim”. O que caracteriza a democracia é a possibilidade de dizer “não”. Quando forças vitoriosas, convertidas em falanges do oficialismo, já não se ocupam mais em combater “o que” se diz, mas o direito de dizê-lo  - e, eventualmente, “quem” diz -  instala-e um regime de intolerância, ainda que seja aquela doce “intolerância dos tolerantes”. Como chegamos a isso?

Valores autoritários, considerados hoje em dia inquestionáveis ou incontrastáveis, não alcançaram essa condição apenas por força da militância de seus prosélitos.Seus adversários políticos e intelectuais também recuaram intimidados. Há pelo menos três eleições,  o PT opõe “estatismo” a “privatismo” (se me permitem os neologismos de uma luta velha). Na contramão de todas as evidências da história, o partido assegura as qualidades do primeiro contra os vícios do segundo, embora as melhores virtudes da moderna economia brasileira tenham nascido de escolhas feitas por Fernando Henrique Cardoso, antecessor de Lula, que tirou um pouco de estado da sociedade e pôs um pouco mais de sociedade no estado. As atuais oposições, é fato, têm sido fracas na defesa de suas conquistas e de seu legado. Recuaram diante da guerra promovida pelo PT.

Esse comportamento vexado, assustadiço, gerou outro fenômeno. Os setores da imprensa que não abrem mão de fazer o seu trabalho - e um deles é a crítica ao poder, a qualquer um - são, então, identificados pelos petistas como “o verdadeiro partido” a ser combatido e como o “real inimigo”. Por isso, os poderosos da hora se esforçam para criar mecanismos de censura e se declaram em guerra contra o que chamam “mídia”. No dia 20 de novembro, o Diretório Nacional do PT se reuniu para saudar a vitória de Dilma Rousseff e estabeleceu, numa resolução nacional, quatro objetivos estratégicos: erradicar a pobreza absoluta; reagir à guerra cambial; fazer a reforma política e democratizar os meios de comunicação. No caso desse último intento, pregou a necessidade de um “debate qualificado acerca do conservadorismo que se incrustou em setores da sociedade e dos meios de comunicação”. Ainda que tal “conservadorismo” existisse nos meios de comunicação -  o que, infelizmente, é mentira -, caberia indagar: seria ele ilegítimo, um mal a ser eliminado, uma excrescência a ser extirpada, um atraso a ser vencido? Em uma sociedade em que não houvesse “conservadores”, quem se encarregaria de institucionalizar os eventuais benefícios oriundos das “revoluções”?

A intolerância, que é primariamente política, a identificar no adversário não alguém com idéias eventualmente erradas, mas um sabotador, migra para o jornalismo, para a cultura, para os costumes - para a vida, enfim. Equipara-se então o confronto de idéias a um conflito típico de uma etapa anterior da civilização política, superada pela chegada ao poder daqueles que seriam os reais representantes do povo, do qual Lula se disse a própria “encarnação” em um “comício” realizado no dia 30 de novembro, quatro anos antes das eleições de 2014! A fórmula consagrada pelo presidente - “nunca antes na história deste país” - torna toda a “história deste país” nada mais do que pré-história, mero rascunho daquilo que, agora, seria realização efetiva. A chegada do PT ao poder teria sido o “fiat lux”, o advento, o “Ano I da Civilização Brasileira”.

Em uma manifestação ilegal na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, USP,  em favor da então candidata Dilma Rousseff, a petista Marilena Chaui, que ali leciona filosofia, comentando a vitória do oposicionista José Serra em oito estados no primeiro turno, lançou a teoria de que ele só triunfara nos locais onde predomina o latifúndio. Ora, o latifúndio, que tanta literatura esquerdista de baixa qualidade gerou no Brasil, nem existe mais. Para essa senhora, os votos dados à candidata de seu partido expressam uma vontade legítima do povo, que ela identifica com a dos oprimidos; já o oposicionista teria sido o escolhido ou por opressores ou por eleitores sob o seu jugo e representaria, portanto, uma vontade deformada, que tem de ser corrigida. Um dos blogueiros de Lula - o Planalto criou uma incubadora deles, alimentados com ração oficial paga pelo brasileiro trabalhador - já estimulou os jornalistas a identificar quem são os 3% que consideram, segundo as pesquisas, o governo “ruim ou péssimo”. Só faltou sugerir que os descontentes sejam identificados por algum sinal denunciador de sua condição de minoria ou usem uma tornozeleira eletrônica. A inferência é que o real tamanho da divergência no Brasil não passa de um gueto. Será mesmo?

Estavam habilitados a votar 135.803.366 pessoas; desse total, 29.197.152 decidiram não se apresentar às urnas; 4.689.428 anularam o seu voto; 2.452.597 houveram por bem não escolher ninguém; 43.711.388 preferiram Serra, e 55.752.529 ficaram com Dilma. A petista é a legítima presidente eleita, com 56,05% dos votos válidos, o que corresponde a 41% do eleitorado. Lula empenhou a sua popularidade no triunfo de sua criatura eleitoral. Seus 80% de aceitação, segundo as pesquisas ao menos, não foram suficientes para mover a vontade de quase 60% do eleitorado.

Especular sobre as virtudes e riscos de uma sociedade cindida é inútil aqui, até porque não existe cisão nenhuma. Isso é bobagem! O que temos, felizmente, é um país unido pelo pluralismo, que, à sua maneira, resiste às tentações do partido que se quer “único”. Legendas identificadas com a oposição fizeram o governo em dez estados, onde estão 52% da população e quase 60% do PIB.  É a sociedade brasileira, mais do que as oposições organizadas, que diz “não” à mexicanização da política, alusão ao PRI (Partido da Revolução Institucional), que governou o México por sete décadas, abrigando correntes que iam da direita à extrema esquerda.  Dado o quadro, estamos diante de uma óbvia dificuldade. Ela se define pelo fato de as oposições, um tanto acovardadas, precisarem ter a coragem de enfrentar os monopolistas da esperança.

Vem aí a presidente Dilma Rousseff. Será melhor ou pior? Não sei. Mais do que pessoas, o petismo é um sistema. De todo modo, estou convicto de que ninguém consegue, nem Dilma, emular com Lula nas manhas do auto-elogio; na satanização do “outro” porque outro; na diluição do sentido das palavras; na impressionante capacidade de submeter a história a uma torção tal que seus piores vícios acabam sendo saudados como suas melhores virtudes. O Brasil deixa de ser governado por um mito uspiano e volta a ser governado por um político, cujas ações serão avaliadas segunda a sua eficiência, não segundo as auroras que anuncia.

É chegada, então, a hora de voltar à França de Robespierre.

Suas ambições não eram pequenas. Na seqüência da exortação que abre este texto, ele antevê um país que cumpra “os desejos da natureza, o destino da humanidade e as promessas da filosofia, absolvendo a providência do reinado do crime e da tirania”. Queria um país que fosse “o terror dos opressores e a consolação dos oprimidos”; esperava ver brilhar a “aurora da felicidade universal”. O governo que ele liderou de 1792 até a sua morte ficou conhecido como a fase do “Terror”. Para realizar todos os seus sonhos de justiça, começou por mandar à guilhotina os adversários, até que chegou a hora de liquidar os aliados, destino fatal de toda revolução. O marxismo chinfrim que domina os livros de história, especialmente no Brasil, ensina que uma grande conspiração de reacionários concorreu para separar o corpo de Robespierre de sua cabeça. Falso! Ele próprio havia doutrinado o povo sobre as “virtudes” de um modelo no qual a eliminação física do outro é uma forma de superar os entraves da história, colocando-a em um novo patamar de racionalidade.

Lênin, o líder da revolução russa, assassino meticuloso, levou a lição ao pé da letra. Antes do terror revolucionário robespierriano, a morte do inimigo ou era conseqüência óbvia do confronto dos litigantes ou evidência de que a sociedade precisava de um contrato ou de um estado tirano para controlar os apetites individuais. Robespierre deixou uma herança perversa, abraçada com entusiasmo por Karl Marx e pelos marxistas: a noção de que a eliminação do adversário é uma forma de humanismo e uma expressão do progresso social e da história. Esse princípio é parte do DNA das esquerdas. Ele pode se manifestar com mais ou com menos virulência ainda hoje, movendo-se, muitas vezes, no molde institucional de regimes democráticos, mas sempre empenhado em mudar a sua natureza sob o pretexto de ver brilhar a “aurora da felicidade universal”.

Um país não precisa de oposição porque seu programa é necessariamente melhor do que o do governo de turno. Um país precisa de oposição porque ela é a evidência de que se vive numa democracia e a garantia de que as disputas políticas não acabarão sendo resolvidas pela guilhotina - ainda que uma guilhotina moral. No fim das contas, no Brasil de hoje, é preciso saber onde está o conservadorismo para que ele possa, se preciso, proteger de si mesmos até os “progressistas”. A lâmina começou a descer sobre o pescoço de Robespierre quando ele mandou cortar a cabeça do primeiro “reacionário”.

Por Reinaldo Azevedo
A intolerância dos tolerantes é sempre a mais violenta porque vem embalada pelo direito de reação das supostas vítimas. Isso tem história!


Caros, este texto trata de um debate importante, que vai bem além das míticas “arcadas” da Faculdade de Direito da USP, a São Francisco, que já foram consideradas símbolos da resistência democrática. O assunto de fundo é outro: estamos falando sobre democracia e cultura democrática.

Às vezes, acho que levei algumas borrachadas por nada. Será que enfrentei, nem bem tinha feito 16 anos, um dedo-duro do Dops infiltrado no colégio — como sabem professores meus da época, que, felizmente, estão por aí, bastante lúcidos — para que, chegando aos 50, me veja obrigado a combater a verdade única, a patrulha ideológica, a tática fascista de eliminação da divergência por meio da eliminação do outro? Alguns alunos da Faculdade de Direito da USP tentam, os jacobinos exaltados, ensinar-me agora, em pleno 2011, que todos têm direito à defesa, menos o ex-diretor da faculdade e atual reitor da USP, João Grandino Rodas, que não conheço, com quem nunca falei.

Por iniciativa do professor Sérgio Salomão Shecaira, a congregação aprovou uma moção de “persona non grata” contra Rodas. Ele é acusado de perseguir a instituição que já dirigiu. Tudo visto de perto, trata-se, na verdade, de um confronto entre o atual diretor, Antônio Magalhães Gomes Filho, e o antecessor. Gomes Filho resolveu mobilizar as instâncias da faculdade contra o seu adversário. E foi bem-sucedido. Elas estão se comportando como obediente massa de manobra. Ele se considera o exorcista da herança maldita do outro. Pfuiii…

Não lembro o meu passado de “perseguido do Dops” para reivindicar algum heroísmo e exibir credenciais que seriam importantes “para o lado de lá” — também não pedi nem pedirei indenização. Se eu desse bola para o que dizem a meu respeito, não escreveria boa parte das coisas que escrevo. Eu o faço porque é evidente que muitos dos moços e das moças que me escrevem não têm noção do que é viver num regime discricionário. Tampouco percebem que se pode, em plena democracia, recorrer a instrumentos autoritários, típicos de uma tirania. E o faço ainda porque, mal tinha barba na cara, agi com destemor até irresponsável contra um brucutu; não seria aos 50 que iria temer a gritaria dos que SABEM SATANIZAR SEUS INIMIGOS SEM CORRER NENHUM PERIGO, A NÃO SER A EXPOSIÇÃO DA PRÓPRIA COVARDIA. Mas esse é um risco de natureza ética e moral. Quem sabe se dêem conta mais tarde do papelão que estão fazendo…

Num dos textos que escrevi a respeito, facultei uma facilidade aos que me contestavam. Que eles se considerassem certos; que partissem do princípio de que, de fato, tudo o que Rodas fez para a São Francisco ou faz para a USP é ruim, negativo, errado… Ainda assim, é o caso se votar uma moção de “persona non grata”? Ora, isso equivale a uma sentença de fuzilamento moral; isso corresponde a dizer que Rodas não é mais bem-vindo àquele ambiente nem mesmo para se defender das acusações que lhe fazem. A faculdade que já foi considerada uma espécie de guardiã do estado de direito, mesmo nos piores períodos do Estado Novo e do regime militar, decreta agora a sua “fatwa”. Alunos que se expressam até com razoável clareza dizem coisas assustadoras.

Um deles sustenta que a moção pode ser retirada desde que Rodas, claro!, se retrate. E ele o diz, tenho certeza, para tentar demonstrar que todos por ali são pessoas razoáveis. É o método mao tse-tunguiano dos tempos da Revolução Cultural. Coloque-se o sujeito em praça pública, com um chapéu de traidor, exponha-o às cusparadas do “povo” e se o envie depois a um campo de reeducação, até que ele esteja em condições de fazer a autocrítica — e só nessa hipótese se vai avaliar se será ou não reabilitado. Mas há outras metáforas: “provas” contra Rodas são exibidas ao melhor estilo dos Processos de Moscou. Não há tempo ou espaço para que sejam contestadas. Elas explicam a razão do fuzilamento prévio. E nós estamos falando de uma faculdade de direito que já foi a principal do país. Um dos alunos — acho que aluno… — chegou a citar, eu juro!, que Kurt Waldheim, secretário-geral da ONU entre 1972 e 1981, foi declarado persona non grata em vários países. Caramba! Waldheim caiu em desgraça quando se descobriu seu passado nazista, até então desconhecido. A associação é absurda. Ademais, não sabia que a São Francisco era um país. Já participei de dois debates ali. Esqueceram de me pedir o passaporte.

Praticaram a brutalidade e, agora, exageram nos motivos, tentando se justificar. Como, afinal, explicar que algo semelhante não tenha sido feito nem na ditadura? Eu realmente tenho certo receio do que pode estar acontecendo por lá. Assusta-me a possibilidade de que a São Francisco já não seja mais o ambiente em que os diferentes concordam em discordar. Se eu pudesse sintetizar o pensamento dos que me escrevem me contestando — e a maioria é incapaz de fazê-lo sem agregar à defesa de sua tese uma ofensa —, seria mais ou menos esta: “Nós somos as vítimas. Rodas nos magoou muito. Ele é o culpado. Nós só estamos exercendo o direito ao uso legítimo da violência, que foi a arma que ele próprio nos forneceu”.

Deus do Céu! Parece-me estar relendo “Os Condenados da Terra”, de Frantz Fanon, que fazia a defesa do terror e da violência dos negros africanos contra o colonizador como uma espécie de afirmação de identidade do oprimido que foi conferida pelo próprio opressor. Ora, isso implicava uma auto-anulação moral; tudo o que fizessem, inclusive contra o inimigo, seria sempre responsabilidade do… próprio inimigo! Jean-Paul Sartre, que não perdia uma só chance de abraçar um equívoco, adorava. E escreveu o prefácio do livro. Albert Camus, que era argelino, deu uma descompostura no vesgo maluco (o próprio Sartre escreve sobre sua cara “de terreno baldio”, antes que algum idiota acuse este supermíope de “preconceito”). Como lembrou o sempre pertinente Paul Johnson, não ocorria a Fanon —  nem a Sartre, emendo eu — que a violência que ele defendeu como método contra os brancos, atribuindo-a ao próprio inimigo, seria um dia usada pelos negros contra… os negros. Quem acertou? Sartre ou Johnson?

Chega a ser assustador que se esteja debatendo isso na São Francisco em pleno 2011. E causa espécie, reitero, que a proposta aprovada tenha sido feita por Sérgio Salomão Shecaira — ele declarou ter sentido “tesão” ao ver a moção aprovada. Ele foi um dos comandantes de um ato ilegal, realizando na faculdade, em defesa da candidata do PT à Presidência. A Lei Eleitoral diz que isso é crime. Não se ouviu, no entanto, um pio na São Francisco. Dias antes, a faculdade havia impedido que se lesse nas suas dependências um “Manifesto em Defesa da Democracia”, que não citava candidatura nenhuma. Como já relatei aqui, “aos amigos tudo, menos a lei; aos inimigos nada; nem a lei”. Ou por outra: se preciso, ignoram-se as leis que punem aos amigos e as que protegem os inimigos. Doravante, sempre que vir no vidro de um carro o adesivo “Consulte sempre um advogado”, completarei mentalmente: “A menos que você já tenha sido condenado no tribunal da São Francisco”.

Outras afirmações mimetizam a cultura ditatorial. Alguns bobalhões enchem a boca para afirmar que critiquei “a São Francisco”, que agredi “a São Francisco”… Lembram o tempo em que não se podia falar mal de governo porque se dizia que aquilo era contra o Brasil. Não! Insisto: eu saí em defesa da faculdade, de sua história, de sua tradição, de sua cultura democrática, que não são patrimônio dos alunos da hora, dos professores da hora, da direção da hora; é um patrimônio dos paulistas e dos brasileiros.

Perdida em ridicularias
O país assiste um debate importantíssimo, como todos sabem, que diz respeito às atribuições do Conselho Nacional de Justiça e sua competência para investigar e punir a conduta irregular de juízes. Ao STF caberá a palavra final. Uma afirmação de Eliane Calmon, corregedora do CNJ, segundo quem “há bandidos que se escondem na toga”, gerou uma reação corporativa das mais detestáveis — como se isso não fosse verdade. Há bandidos em todas as profissões, mas não são todos os profissionais que têm o poder de um juiz. Eis uma questão que, em outros tempos, mobilizaria a São Francisco. Em vez disso, Shecaira anda sentindo tesão porque conseguiu votar uma moção contra um adversário, sob o aplauso da “congregação”, que decidiu sentir “tesão” junto com ele.

O tempora! O mores!

Por Reinaldo Azevedo
Eis o MEC de Fernando Gugu-Dadá Haddad - Ministério aprova contas de municípios que desviam verba da merenda e do transporte escolar


No Globo (mais (aqui):
Órgão responsável pelo grosso dos repasses do Ministério da Educação (MEC), o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) avaliza contas e autoriza liberação de verbas para municípios que fraudam licitações, não comprovam despesas e aplicam incorretamente dinheiro que deveria financiar a merenda e o transporte escolar. Mesmo quando a Controladoria Geral da União (CGU) aponta as irregularidades, enviando alertas públicos, a autarquia ligada ao MEC dá carimbo de aprovadas a gestões postas sob suspeita ou não se mexe, deixando os casos sem análise.

Não existe legislação obrigando o FNDE a suspender os repasses e seguir o que diz um relatório da CGU, mas o órgão do MEC, segundo auditores, deveria rever seus pareceres ao ficar sabendo que há irregularidades. Só no Rio, a CGU encontrou problemas nas contas de 35 cidades entre 2003 e 2009, que em alguns casos provocaram falta de comida para os alunos. O FNDE afiançou ou manteve sem apreciação a documentação de 34 delas. Só em uma (Miguel Pereira) houve diligência para verificar a situação.

Em 2008 e 2009, uma das poucas contas aprovadas foi a do transporte escolar de Lagoa do Piauí (PI), cidade de 3,8 mil habitantes. Após um pente-fino, a CGU apurou que a licitação para oito rotas foi forjada. Propostas apresentadas pelas empresas traziam os mesmos erros de português. Os serviços prestados estavam longe de cumprir exigências de resoluções do FNDE. Os alunos eram transportados como carga em caminhões e os ônibus eram guiados por motoristas inabilitados.

Somados, os programas de apoio à alimentação (Pnae) e ao transporte escolar (Pnate) - ambos voltados ao ensino básico - transferiram a estados e municípios R$ 15,28 bilhões entre 2005 e setembro de 2011. O primeiro recebeu a maior fatia (R$ 12,79 bi), contra R$ 2,49 bilhões do outro. Apesar das cifras e do elevado índice de irregularidades na educação, é significativo o lapso de tempo entre a transferência do dinheiro e a avaliação, pelo FNDE, da regularidade das contas.

Menos de um terço dos relatórios do transporte escolar, referentes aos exercícios de 2008 e 2009, já foi escrutinado; no caso da merenda, 90% esperam análise. Em setembro, a Polícia Federal mandou prender o prefeito da cidade alagoana de Traipu, após desbaratar um esquema que desviou ao menos R$ 8,2 milhões dos cofres da educação, sendo que parte do dinheiro serviria ao transporte. Fraudes que ocorreram entre 2007 e 2010. Se a prestação de contas desse pistas das irregularidades, o FNDE não as farejaria: o último ano analisado foi 2006.
(…)

Por Reinaldo Azevedo
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Blog Reinaldo Azevedo

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