Mercado do Boi: Alta dos grãos estimula alta do confinamento

Publicado em 30/07/2012 15:32 e atualizado em 30/07/2012 16:04
Por Lygia Pimentel, médica veterinária, pecuarista e analista de commodities
Desculpem-me pela ausência, pessoal. Tivemos luto na família e algumas outras complicações. Por isso, serei breve e a partir de agora escreverei apenas quando tiver tempo, mas prometo voltar ao ritmo normal assim que possível.

A questão é que o custo do confinamento subiu. Esse recente rally vivenciado pelos grãos por complicações climáticas concomitantemente com a queda brusca dos preços do boi tirou a margem da atividade. A grande maioria que negocia hoje sem proteção financeira entrou no vermelho, definitivamente.

O valor do boi no mercado físico atingiu um patamar que não se via desde agosto de 2010, na casa dos R$ 89,00 com base São Paulo! Os abates aumentaram e as escalas estão longas historicamente.

E a pergunta que temos feito é: se o pessoal está tomando tinta agora, será que se arriscarão a girar o segundo turno?

Na semana passada, ouvi um comentário dizendo que o pessimismo do mercado não seria suficiente para comprometer  o volume de animais confinados no segundo giro. O argumento é que os grandes confinadores estão protegidos pela Bolsa entre 103,50 e 104,00 e que isso seria capaz de manter a oferta de animais confinados.

Tudo bem, mas vamos lá: o que a Bolsa representa frente ao total confinado no Brasil? E ainda, frente ao que temos em Bolsa, qual a participação de produtores hedgers nisso, ou seja, aqueles que procuram proteção financeira? Observem a tabela 1.


Na tabela acima, temos o número de contratos futuros em aberto, o número de contratos de CALLs, PUTs e a soma de tudo junto. Também calculamos o número de arrobas negociadas em Bolsa e o volume de animais que essas arrobas representam. Ainda, calculamos qual é a participação desses contratos frente ao total confinado no Brasil. 

Também consideramos os contratos futuros vendidos pela pessoa física (PF), os lotes de CALLs e PUTs comprados por esse mesmo tipo de participante e novamente, comparamos com o total confinado no Brasil.

Respondendo à primeira perguntafeita anteriormente, hoje temos uma estimativa de 4,18 milhões de cabeças confinadas para 2012. Diante deste cenário, consideraremos os contratos em aberto de futuros e opções somados, que nos dá um total de 73.708 contratos. 

Como cada contrato representa 330 arrobas, ou aproximadamente 20 animais, e considerando uma média de peso ao abate de 17@, temos que a Bolsa representa hoje um efetivo de 1,43 milhão de animais. Lembrando, consideramos futuros, CALLs e PUTs.

Em outras palavras, o total da Bolsa hoje representa 34% do confinamento brasileiro, sem considerarmos o boi de pasto.

Considerando apenas os contratos futuros em aberto, temos um total de 24,6 mil contratos, o equivalente a 478 mil cabeças, ou 11% do confinamento brasileiro estimado para 2012.

Obviamente, sabemos que o mercado futuro não é constituído apenas por hedgers. Aliás, eles representam uma menor parte deste mercado. Mesmo assim, só para fins de comparação, simularemos que o pecuarista é representado pela Pessoa Física na posição vendida. Também sabemos que a PF não é 100% constituída por pecuaristas, mas apenas para termos uma ideia, fiz a comparação.

Então, considerando os contratos futuros vendidos pela PF, temos uma representatividade de 0,07% protegido frente ao total confinado, que é de 4,18 milhões. O volume é pífio!

Quando consideramos opções, a situação fica ainda mais inconsistente. 

Temos 1,4 mil CALLs compradas pela PF, o que representa 0,03% do total confinado, e 806 (!) PUTs detidas pela PF, o que representa 0,02% do total confinado.

Se considerarmos o total de contratos em aberto de opções, temos 12% de representatividade para as CALLs e 11% para as PUTs, como sugere a tabela acima.

Como já disse, sabemos que a Bolsa não é composta exclusivamente por produtores. Aliás, longe disso! Na melhor das hipóteses, teríamos 34% da produção em confinamento protegida em Bolsa e os outros 66% vulneráveis à desvalorização do preço do boi e da valorização dos insumos.

Assim sendo, vejo que muitos dos pecuaristas que estão no prejuízo com o primeiro turno poderão ser desencorajados a confinar no segundo tuno por não terem conseguido a oportunidade de segurar a peteca através do hedge. E isso, definitivamente, poderá complicar a oferta no futuro. As chances são grandes. Pensemos nisso com base em números concretos! Abraços a todos e até breve.

“Não teme nem desanima quem se convence que é mantido pelo poder divino e tem a certeza que Deus o auxiliará em todas as suas necessidades. Quem ama Deus nada lhe falta.” Santa Teresa de Jesus. 

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Fonte: Agrifatto

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