Crise aperta margem de frigoríficos que já iniciam movimento de ajuste na capacidade produtiva

Publicado em 08/03/2016 10:40

Ao mesmo tempo em que a arroba do boi gordo apresenta uma escalada de alta neste primeiro trimestre do ano - reflexo da baixa oferta - a redução no poder de compra das famílias brasileiras tem dificultado o repasse nesses reajustes no preço da carne no varejo. Diante desse impasse os frigoríficos realizam o movimento inverso nas margens, saindo de 25,3% em janeiro para 14,7% nesta semana.

Assim, o resultado das indústrias reduziu 10,6% nos primeiros três meses do ano. E vendo com preocupação esse cenário, a JBS divulgou nota na tarde desta segunda-feira (07) informando que dará férias coletivas de 20 dias, para funcionários de cinco unidades frigoríficas a partir desta semana, na tentativa de equalizar a produção de acordo com o volume das vendas no varejo.

Entre as unidades estão Nova Andradina (MS), Alta Floresta (MT), Pedra Preta (MT), Santana do Araguaia (PA) e de um turno de produção de Mozarlândia (GO). “Os motivos para a concessão destas férias são a baixa disponibilidade de matéria-prima, a dificuldade de acesso às fazendas por conta da temporada de chuvas intensas em algumas regiões e a adequação do nível de estoques às necessidades do mercado”, informou a companhia em nota.

A situação é ainda mais grave para os frigoríficos que atendem exclusivamente o mercado interno, sem a possibilidade de aproveitar a competitividade que o dólar proporciona a carne brasileira neste momento.

"Temos que considerar que em 2015 quando isso aconteceu vimos iniciar aquele processo de quebradeira e uma forte pressão se estabelecer sobre a arroba do boi gordo, então precisamos chamar a atenção dos pecuaristas para o risco do mercado", pondera o consultor da Scot, Alex Santos Lopes.

E como conseqüência deste movimento já é possível observar maior pressão sobre a arroba nos últimos dias.  Na semana anterior, frigoríficos em São Paulo chegaram a ofertar até R$ 4,00/@ abaixo da referência, mas sem efetivação de negócios.

No Mato Grosso o cenário não é diferente. De acordo com boletim do Imea (Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária), divulgado nesta terça-feira (08), o preço da arroba do boi gordo caiu 1,10% em apenas um dia, ficando cotada a R$ 130,74/@ na última quarta-feira.

Diante desta desvalorização, a “queda de braço” entre frigoríficos e pecuaristas se intensificou nos últimos dias, e a escala de abate média do Estado chegou a bater o menor valor desde julho/15, ficando em 5,03 dias.

No entanto, no primeiro bimestre, considerando a média dos estados pesquisados pela Consultoria, o preço do boi gordo subiu 4,4%. Em doze meses, a valorização média foi de 9,0%.

Em contrapartida, o mercado atacadista de carne com osso registrou, no igual período, queda de 3,6%. De acordo com levantamento da consultoria o boi casado estava cotado no inicio do ano a R$ 10,6/kg, contra R$ 9,70/kg na primeira semana de março.

Entre a principal causa da retração nos preços da carne está a dificuldade na evolução da demanda interna. O encolhimento do PIB, grande taxa de desemprego, inflação em alta, entre outros fatores que evidenciam a crise econômica do país, traz como conseqüência a redução no poder de compra do brasileiro, que em uma tentativa de conter despesas, reduz o consumo de carne bovina.

"Em termos de demanda para a carne, não temos dúvida de que o cenário pode piorar no curto prazo e, associando isso ao resultado que temos para as indústrias hoje, há possibilidade de que haja mais pressão sobre eles", destaca Lopes.

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Por: Larissa Albuquerque
Fonte: Notícias Agrícolas

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