Produção de bovinos tem de se adaptar a uma nova realidade

Publicado em 19/05/2011 08:37
Por JOSÉ VICENTE FERRAZ

A bovinocultura de corte tem tradicionalmente seu processo produtivo dividido em três etapas: cria, recria e engorda ou terminação.
A cria corresponde à etapa que vai do nascimento do bezerro até a desmama; a recria, da desmama até quando o animal atinge cerca de 300 quilos/vivo (machos) e a engorda ou terminação, desse ponto até que os animais atinjam o peso de abate.
Existem pecuaristas especializados em apenas uma dessas etapas do processo produtivo, há aqueles que se dedicam a duas dessas etapas e há os que fazem o ciclo completo (do nascimento até quando o animal está pronto para o abate).
As características da etapa da cria, ao exigir normalmente mais cuidados, mais tecnologia e por ter naturalmente um período de comercialização mais estreito, determinavam, com exceções típicas decorrentes do ciclo pecuário, que essa etapa fosse considerada a menos lucrativa entre todas (pelo menos para os criadores de gado comercial, já que os criadores de gado de elite participam quase que de um mercado à parte).
Embora para se desenvolver uma atividade de cria com qualidade (uma das exigências crescentes do mercado) seja necessário dedicar mais atenção e tecnologia do que comparativamente às outras etapas de produção, os preços dos animais de cria estão se mantendo em patamares elevados e existem fortes indícios de que permanecerão acima das médias históricas, mesmo depois de superado o atual ciclo de alta dos preços pecuários.
Essencialmente se acredita que os preços dos animais de cria se manterão relativamente mais elevados que o dos das demais categorias animais porque ocorre um crescimento da atividade de confinamento e também dos ganhos de produtividade serem mais intensos e mais rápidos nas etapas de recria e engorda, sendo esses dois fatores fortes impulsionadores da demanda por animais de cria.
Ao mesmo tempo, a oferta de animas de cria, notadamente aqueles de melhor qualidade, crescerá relativamente de forma mais lenta, pois os ganhos de produtividade na etapa de cria são naturalmente mais lentos até pelo fato de existirem nessa etapa prazos incomprimíveis, como o período de gestação de um animal.
Deve-se também observar que o mercado de bezerros e bezerras deve se manter razoavelmente pulverizado, ao contrário do que acontece com o mercado de animais para abate, o que, no caso, favorece os vendedores.
Essa perspectiva de mudança na bovinocultura de corte sinaliza para toda a cadeia produtiva uma necessidade de adaptação a uma nova realidade e, para os consumidores em geral, se não preços mais acessíveis, pelo menos ganho na qualidade do produto consumido.

JOSÉ VICENTE FERRAZ é engenheiro-agrônomo e diretor técnico da Informa Economics FNP.
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Fonte:
Folha de S. Paulo

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