Minas Gerais responde por 50% da produção brasileira de café

Publicado em 10/12/2014 10:56

Com mais de um milhão de hectares plantados, Minas Gerais produz mais de 50% de toda a safra brasileira de café. A principal commodity de exportação do agronegócio mineiro, o café é vendido para mais de 60 países do mundo. Segundo a Conab (Set./2014), os cafeicultores de Minas produziram, em 2014, 22,6 milhões sacas de café, das quais 10,7 milhões são provenientes do Sul e Centro-Oeste do Estado; 5,8 milhões do Cerrado Mineiro (Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e Noroeste); 5,3 milhões da Região da Zona da Mata, Rio Doce e Central; e 762 mil do Norte de Minas, Jequitinhonha e Mucuri.

Tais números são reflexo dos esforços dedicados à pesquisa cafeeira em Minas, como o da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – EPAMIG, e ainda da Universidade Federal de Viçosa – UFV e Universidade Federal de Lavras – Ufla, três instituições mineiras das dez fundadoras do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café. O agronegócio café, além de expressivo economicamente para o Estado, tem ainda grande importância social, pois gera em torno de 4 milhões de empregos diretos e indiretos (FAEMG-2012).

A EPAMIG – Há mais de 40 anos desenvolve estudos fundamentais para a tecnificação das lavouras, aumento da produtividade e melhoria da qualidade de vida dos cafeicultores. Nesse período, a média de produtividade aumentou no estado: saltou de 11 para 22,6 sacas por hectare. Os resultados de pesquisa incluem temas como preparo do solo; desenvolvimento de novas cultivares resistentes a pragas e doenças e com maior produtividade; indicação de cultivares selecionadas; controle químico e biológico de pragas e doenças; cuidados pós-colheita, entre outros.

Em conjunto com instituições do Consórcio e parceiros, a EPAMIG desenvolveu 15 cultivares de café e outras sete estão à espera de registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Mapa. As cultivares são resultado do Programa de Melhoramento Genético do Cafeeiro, o qual se baseia em cruzamentos de diferentes materiais genéticos de interesse do agronegócio café. Elas produzem mais, sem aumento da área de cultivo, são adaptadas às mudanças climáticas, desenvolvem-se bem em regiões secas e montanhosas e, o que é fundamental, são resistentes às principais doenças do cafeeiro. Os estudos de melhoramento genético do cafeeiro na EPAMIG começaram na década de 70, após a ferrugem ser constatada na cafeicultura brasileira.

Para falar sobre esses avanços da pesquisa e outros temas relacionados com a EPAMIG, a Embrapa Café entrevistou César Elias Botelho, pesquisador da Empresa. Botelho possui graduação (2001), mestrado (2003) e doutorado (2006) em Agronomia pela Universidade Federal de Lavras - Ufla. Atualmente, atua nas áreas de melhoramento e manejo do cafeeiro e conduz projetos do Consórcio Pesquisa Café.

 

Embrapa Café: Em que ano e contexto a EPAMIG foi criada? Qual é a missão da Empresa?

César Botelho: Primeiramente, em 3 de dezembro de 1971, foi instituído o Programa Integrado de Pesquisa Agropecuária do Estado de Minas Gerais – PIPAEMG, fruto do trabalho conjunto da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais – Seapa, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Universidade Federal de Viçosa - UFV e Escola Superior de Agricultura de Lavras (atualmente Ufla), articulado com o setor produtivo. E a EPAMIG foi criada em 1974. Inspirada nos fundamentos do PIPAEMG, manteve o arranjo cujo mérito permanente foi o de prospecções em torno de prioridades e das formas inteligentes de tratá-las, fazendo florescer abrangentes propostas de pesquisas e a conclusão de relevantes trabalhos.

 

Embrapa Café: Quando e de que forma a cultura do café começou a fazer parte do conjunto de pesquisa da Empresa? Quais as principais linhas de pesquisa e os principais resultados alcançados?

César Botelho: A cultura do café faz parte do conjunto de pesquisas da EPAMIG desde sua criação. As principais linhas de pesquisa são melhoramento genético, manejo de pragas e doenças, adubação/nutrição do cafeeiro, manejo de plantas daninhas e cafeicultura agroecológica. Os principais resultados são 15 cultivares registradas no sistema de Registro Nacional de Cultivares – RNC, do Mapa, sendo 10 resistentes à ferrugem. Nove dessas cultivares (Acaiá Cerrado MG 1474Araponga MG1Catiguá MG1Oeiras MG 6851Paraíso MG H 419-1Pau-Brasil MG1Rubi MG 1192,Sacramento MG1 e Tapázio MG 1190) estão descritas no portal do Consórcio Pesquisa Café. Pode-se citar também como resultados recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes; estabelecimento de curvas de progresso da ferrugem e seleção de produtos, doses e épocas de aplicação para seu controle; epidemiologia e controle de outras doenças do cafeeiro, como Phoma sp. e Cercospora coffeicola; caracterização dos micro-organismos associados a grãos de café e sua relação com a qualidade. Além disso, há o monitoramento do bicho-mineiro do cafeeiro e da broca do café, inclusive com definição de níveis de controle e avaliação de novos produtos no controle das principais pragas do cafeeiro.  

 

Embrapa Café: De que forma o Consórcio Pesquisa Café contribuiu e ainda contribui para a pesquisa cafeeira da EPAMIG?

César Botelho: Contribui diretamente no apoio à pesquisa, tanto por meio da alocação de pesquisadores da Embrapa Café na Empresa, como no financiamento de recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira – Funcafé/Mapa para custeio de projetos, aquisição de equipamentos e construção de infraestrutura. Além disso, foi e é muito importante na formação e integração das equipes, tanto dentro da instituição como em conjunto com instituições consorciadas e parceiras de pesquisa, extensão e ensino.

 

Embrapa Café: Quais foram os principais resultados tecnológicos obtidos com essa união de esforços dessas entidades com o Consórcio Pesquisa Café?

César Botelho: A definição de novas doses de fósforo para a lavoura cafeeira e demonstração de resposta positiva do cafeeiro a altas doses desse elemento; lançamento de 10 novas cultivares de café; avanços em epidemiologia e controle de doenças do cafeeiro, como Phoma sp. e Cercospora cofeicola; caracterização dos micro-organismos associados a grãos de café e sua relação com a qualidade; monitoramento com definição de níveis de controle e avaliação de novos produtos para o controle das principais pragas do cafeeiro; estudos de bioecologia e manejo integrado de cochonilhas do cafeeiro, entre muitas outras tecnologias.

 

Embrapa Café: Quais os principais projetos em andamento na área de café na EPAMIG? Que outros projetos terão de ser desenvolvidos para enfrentar os desafios que estão por vir, como as mudanças climáticas, sustentabilidade da produção e alimentos funcionais?

César Botelho: Os grandes projetos são os de desenvolvimentos de novas cultivares com resistência a pragas e doenças, principalmente aquelas emergentes, a exemplo dos nematoides. Há também o projeto de geoprocessamento (mapeamento) para cafeicultura do estado de Minas Gerais. Para enfrentar os novos desafios citados, são desenvolvidos projetos para sustentabilidade da cafeicultura familiar e de montanha, visando ao aumento de renda, e projetos que resultem em alternativas para enfrentamento do cenário de mudanças climáticas. Esses projetos devem ter foco em desenvolvimento de cultivares mais adaptadas ao estresse hídrico e a temperaturas elevadas; arborização de cafezais; manejo da lavoura para melhor uso da água; estudos do comportamento de pragas e doenças diante das mudanças climáticas. Também há estudos relativos à agregação de valor ao produto (certificação e selo de origem) e ainda aplicação de ferramentas de sensoriamento remoto para o georreferenciamento. 

 

Embrapa Café: De que forma a EPAMIG trabalha com transferência de tecnologia, com quais parceiros e para que públicos?

César Botelho: Por meio da participação em eventos (apresentação de trabalhos e palestras), promoção de dias de campo e reuniões técnicas, elaboração de material escrito (livros, boletins técnicos, circulares técnicas e da Revista Informe Agropecuário). A EPAMIG tem como parceiros a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais - Emater-MG, universidades, cooperativas e fundações não-governamentais. O público-alvo é composto de produtores e técnicos ligados à extensão rural.

 

Embrapa Café: A EPAMIG tem também tradição em estudos na área de controle biológico do cafeeiro e manejo de pragas e doenças. Poderia nos contar um pouco mais sobre esse trabalho?

César Botelho: Em relação ao bicho-mineiro do cafeeiro, a EPAMIG tem trabalhado com controle biológico conservativo por meio de manipulação do ambiente, favorecendo a atração e/ou manutenção dos inimigos naturais no agroecossistema cafeeiro, como é o caso da manutenção de plantas atrativas de parasitoides e predadores nas ruas do cafeeiro e também de estratos vegetais próximos às áreas de café, onde ocorre a formação de ninhos de vespas predadoras. Em relação ao controle biológico dos ácaros-pragas do cafeeiro, Olygonychus ilicis (ácaro-vermelho-do-cafeeiro) eBrevipalpus phoenicis (Ácaro-da-mancha-anular), há estudos de levantamentos dos ácaros predadores nos cafeeiros do Sul de Minas Gerais, onde há a presença importante de espécies predadoras da Família dos Phitoseídeos. Ainda com relação ao controle biológico dos ácaros, estudos têm sido realizados na identificação de inseticidas que controlam os ácaros-pragas e são seletivos aos ácaros-predadores, ou seja, mata a praga sem afetar os seus inimigos naturais, importante ferramenta na hora de decidir qual acaricida utilizar.

 

Embrapa Café: Como alternativa para controle da broca de café, depois da proibição do uso do Endosulfan, o que a EPAMIG está pesquisando ou validando como alternativa para oferecer aos cafeicultores?

César Botelho: Atualmente o inseticida recomendado pela pesquisa para controle da broca de café é à base do princípio ativo cyantraniliprole. Em experimentos realizados por pesquisadores da EPAMIG Sul de Minas, o cyantraniliprole mostrou-se estatisticamente igual ao padrão Endosulfan. Esse inseticida estará disponível no mercado brasileiro a partir da safra de 2014/2015, já que seu uso emergencial foi autorizado pelo Ministério da Agricultura. Será o substituto do inseticida Endosulfan no controle da broca-do-café. Seu uso emergencial poderá ser prorrogado até que seja efetivado seu registro definitivo no Mapa. O controle químico da broca-do-café pode ser feito em conjunto com adubos foliares e fungicidas, reduzindo custos.

 

Embrapa Café: Também há tradição na EPAMIG de pesquisa de adubação, manejo do mato e sistemas orgânicos e agroecológicos. Poderia resumir parte dos estudos e resultados já alcançados nessas áreas?

César Botelho: Há recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes (tabelas de recomendações) para a lavoura cafeeira. Essas tabelas foram elaboradas baseados em vários experimentos e exigência nutricional conduzidos pela Empresa no estado. E ainda estudos de viabilidade do uso gesso agrícola para o cafeeiro e definição de novas doses de fósforo para a lavoura cafeeira e demonstração de resposta positiva do cafeeiro a altas doses desse elemento. Na área de manejo, a manutenção do cafeeiro livre de mato com herbicida de pré-emergência contribuiu para aumento de produtividade e para uma bebida de qualidade superior a 80 pontos (a escala da Specialty Coffee Association of America – SCAA varia de 0 a 100). E o uso de roçadora, prática comum no manejo da lavoura cafeeira, contribuiu para uma produção baixa, próxima da sem capina, devido à compactação que ocorre graças ao número alto de passagens com solo úmido. Em relação aos sistemas agroecológicos, há recomendação de cultivares de café arábica para sistemas orgânicos a pleno sol em diferentes condições edafoclimáticas (solo e clima) e calibração da adubação do cafeeiro utilizando fontes de matéria orgânica e racionalização do uso de insumos.  

 

Embrapa Café: O café produzido em Minas Gerais tem qualidade reconhecida mundialmente. Poderia destacar algumas tecnologias desenvolvidas no âmbito do Consórcio Pesquisa Café que asseguram a qualidade?

César Botelho: Além das outras tecnologias citadas anteriormente, como o desenvolvimento de várias cultivares, há ainda pesquisas que estudam o potencial de cultivares para obtenção de cafés de melhor qualidade, como a Catiguá MG2, e resgaste de Bourbons. Também estudos que visam à caracterização dos micro-organismos associados a grãos de café e sua relação com a melhoria da qualidade. Outro destaque é o controle do risco de ocorrência de Ocratoxina A (OTA) em café, por meio de microrganismos toxigênicos, que contaminam os grãos. Há ainda estudos de boas práticas agrícolas e de gestão, além de transferência de tecnologias de pós-colheita para melhoria da qualidade do café, entre outros.

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Fonte:
Embrapa

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