Fábrica da Nestlé reacende polêmica sobre importação de café no Brasil

Publicado em 23/12/2014 14:26 e atualizado em 24/12/2014 08:59
Empresa pretende usar matéria-prima de outras origens nos blends; veja quem ganha e quem perde com a compra de café verde do exterior

Na última quinta-feira (18/12), Paul Bulcke, presidente global da Nestlé, anunciou o investimento de US$ 200 milhões na primeira fábrica de cápsulas de café da multinacional fora da Europa. O empreendimento será construído em Montes Claros (MG), ao lado da unidade de Leite Moça da empresa, e será destinado à fabricação das cápsulas da linha de máquinas Nescafé Dolce Gusto. Na ocasião, Bulcke afirmou que 90% do café utilizado será do Brasil, mas frisou a necessidade de importar 10% de cafés de outras origens para a elaboração dos blends.

Estes 10% reacenderam a antiga polêmica sobre a importação de café verde de outras origens. A atual legislação brasileira impede a compra do grão cru de outros países com o argumento que o produto poderia trazer novas doenças e pragas aos cafezais nacionais. 

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Os produtores de café são a favor da agregacão de valor à matéria-prima que eles produzem. Ao mesmo tempo, temem uma competição desleal, já que a legislação trabalhista brasileira é muito mais rigorosa que nos outros países produtores, o que torna o custo de produção do grão no Brasil mais alto. Na hipótese desses cafés de diversas origens começarem a ser importados com alíquota zero de importação, que é o pleito da indústria, isso poderá colocar em xeque a cafeicultura nacional. “Abrir as portas é dar um tiro no pé. A indústria não está preocupada com a produção nacional. Ela quer ter opção de comprar de quem estiver vendendo mais barato”, afirma Bressani.

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A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) apoia toda iniciativa de construção de novas fábricas no Brasil e sempre se manifestou favorável à importação de café verde de outras origens. “Estamos numa posição estranha de não permitir a importação de grão verde, mas de importar gigantes quantidades de café torrado e moído que compõem os blends de cápsulas vendidas no mercado brasileiro”, diz Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic.

Segundo estatísticas da o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), de janeiro a novembro, o Brasil importou a cifra US$ 44,1 milhões de café torrado. Em contrapartida, as exportações da categoria no mesmo período foram de US$ 11,2 milhões. Um saldo negativo de quase US$ 33 milhões na balança comercial

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A  Associação Brasileira de Cafés Especiais, BSCA na sigla em inglês, apoia as iniciativas que agreguem valor e promovam os Cafés do Brasil. “Os conselheiros da BSCA entendem como positiva a instalação da fábrica da Nestlé no Brasil, desde que cumpridas à risca as intenções declaradas na carta assinada pela empresa”, diz Vanúsia Nogueira, diretora-executiva da BSCA.

O documento enviado pela multinacional traz itens como: 1) não importar café robusta; 2) iniciar a produção com 65% de café brasileiro e elevar este percentual, através de pesquisas no País, trazendo novas variedades em parceria com Embrapa; 3) exportar pelo menos três vezes o valor da importação; 4) colocar nas cápsulas que as mesmas são feitas com Cafés do Brasil, entre outros.

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A assessoria de imprensa da Nestlé informou que nenhuma decisão foi tomada a respeito da possibilidade de importar café. No entanto, ressaltou que a empresa está trabalhando em parceria com vários agentes da cadeia produtiva e do governo e está confiante em um resultado positivo.

 

Leia a reportagem na íntegra no site do Globo Rural 

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Fonte: Globo Rural

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